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BALADAS I
Os opostos se atraem, bem
simplesmente
e até parece que a jovem mais
sensível
bem facilmente ama mais o desprezível
do que alguém que a ame
integralmente.
Na verdade, esse amor não vem da
mente,
nem da voz que ao coração se torna
audível
e nem sequer ao julgamento é crível,
tal sensação que deixa a alma
indiferente.
Esse amor que é gerado pelo olhar,
que brota mais na luz que vem do
olfato,
que é regado por saliva em cada
beijo.
Por isso, é rápido em seu germinar
e mais veloz estiola, triste fato,
durando menos que do vento o adejo...
BALADAS II
Dizem durar sete dias o sofrimento
pungente e agudo das penas de um amor
que a si mesmo se queimou no seu
calor
e se extinguiu na safra de um momento.
Dizem que amor é só estremecimento
de todas as membranas e em rancor,
mui facilmente, emurchece o seu
rubor,
quando se encontra sozinho em seu
tormento.
Ocorre assim com tanto amor comum,
deixando apenas um ressaibo de limão,
certo vinagre no lugar do vinho...
E tal ocorre quando em tempo algum
o ritmado bater do coração
segue do outro um idêntico caminho...
BALADAS III
E quando o coração ama demais
e se lança inteiramente, de cabeça,
sem que as consequências sequer meça,
em seu mergulho de ritmos fatais,
a compassos que não são seus
naturais,
melhor seus planos iniciais esqueça
e que à esperança qualquer ideal não
peça,
porque embarcou na caravela do
jamais.
De fato, existe amor e até se avista,
porém não na inconsequência da
conquista
e sim no coração que bate igual
e cujo amor ao nosso amor se apega.
Contudo, é tão comum... O olhar
se cega
ante qualquer aparência triunfal...
BALADAS IV
"Quem ama o feio, bonito lhe
parece",
por mais que ao olhar alheio seja
estranho.
Mas esse belo aparente, não é
tacanho? --
torna-se feio depois que se
conhece...
Não é amor o sexor que só te aquece
o corpo e nalma deixa um frio
tamanho...
Não existe amor em tal amor de
assanho,
como tampouco há amor somente em
prece.
O problema é que a alma não se
enxerga:
os olhos tendem ao belo desprezar
quando se encontra no manto do
invisível.
E é tão comum que a bela mente se
erga
sob um físico difícil de se amar
ou sob uma aparência de insensível...
BALADAS V
Antigamente, se a mulher queria um
lar,
quando o trabalho, em geral, lhe era
vedado,
era forçada, por costume já
arraigado,
com amor ou sem amor, a se casar...
O ideal romântico veio a derrubar
essas muralhas de um social fechado.
Hoje a mulher constrói seu ninho
ansiado
pelos meios de seu próprio trabalhar.
Assim o amor tornou-se mais ideal
e por igual razão, inalcançável
dentro dos termos que se põe a
imaginar.
Para o poeta, um amante do irreal,
isso é até bom, embora o mais
saudável
seja escolher quem tenha igual
pensar.
BALADAS VI
Não é preciso que amor seja completo
para sentir no peito, permanente,
uma emoção integral e
independente
de a quantas emoções se tenha
afeto...
Nem é preciso que amor seja discreto
e só rebrote, igual que uma semente,
bem fundo ao coração, por complacente
aceitação do que deva ser secreto...
Mas é preciso que amor seja negado,
para que brote, mais pleno de
energia,
estuante de vigor, rico e gigante,
o sentimento que é apenas revelado
pelo poeta, em toda a sua agonia
nessa paixão que nem queria
triunfante.
DETERMINAÇÃO I
O galo chefe em cada galinheiro
é o senhor incontestado em seu harém.
Quando um frango vai crescendo, ele
também
procura um ponto mais alto no
poleiro.
Dentro da tela que protege seu
terreiro
é o senhor inconteste do que tem
e se esse frango se submeter não vem,
em mil bicadas lhe demonstra vir
primeiro.
Marcha imponente pelo exíguo espaço,
quem nem capim se atreve a invadir...
Passa ciscando, a ver se
desentoca
um vermezinho, uma raiz ou qualquer
traço
de alimento a reforçar o seu nutrir,
ansiando a carne saborosa da
minhoca!...
DETERMINAÇÃO II
E o galo se comporta qual sultão
ou como rei de divinal direito:
todo galinho menor lhe é sujeito,
toda galinha lhe faz submissão...
Julgam imenso o território e lá estão,
entre os limites do galinheiro
estreito.
Aves sem voo, seu único proveito
é o milho que lhes joga avara mão!
Sempre à espera dos ovos que porão
e que percebe uma galinha choca,
que poderá aumentar-lhe a criação...
E assim lhe traz alimento em separado
e até lhe ajeita o ninho em que se
entoca,
até que surjam dez pintinhos sem
pecado...
DETERMINAÇÃO III
Há tanta gente como essas galinhas!
Veem do governo a mão, jogando
milho...
Já estão acostumados nesse trilho
e até acreditam do crédito nas linhas...
E há tanto homem que do galo é filho!
Muito orgulhoso das posses
pequeninhas,
determinado a te agredir, se te
avizinhas,
a pavonear da cauda o intenso
brilho...
Enquanto impõe sua pequena
autoridade,
outros olhos o observam, com
sarcasmo:
que ao ficar velho, vira
sarrabulho...
Cheio de si, em sua mediocridade,
que mal consegue manifestar seu
pasmo,
quando percebe a extensão de seu
esbulho!
DETERMINAÇÃO IV
É imponente esse um galo no
terreiro,
a defender harém e território...
Na verdade, seu dever é meritório,
caso o invada qualquer aventureiro...
Mas e se for uma raposa que primeiro
vier a invadir e, em gesto inglório,
o agarrar pela garganta, que
vanglório
cacarejo solta ele, em derradeiro?
E assim nós vemos os industriais,
os banqueiros e tantos governantes,
como defendem seus belos privilégios!
Contudo, ao ver problemas
mais sociais,
nada resolvem, que em breves
instantes,
viram raposas em puro sortilégio!...
DETERMINAÇÃO V
Durante os meses antes de eleições
não são sequer os galos, são
franguinhos,
pedindo ao povo proteção, carinhos,
e lhe mostrando as melhores
intenções...
Mas tão logo os apoiaram
multidões
e conseguiram os votos dos vizinhos,
já levantam as cristas e os
torvelinhos
das promessas esquecem em suas
ações...
E no momento em que firmaram pé
e com os colegas travaram relações,
em pelo as penas vão-se
transformando...
E os galináceos que tiveram neles fé
vendem depressa, por lugar em
comissões,
suas caras de raposas
demonstrando!...
DETERMINAÇÃO VI
E quem nos diz não ser um galinheiro
o nosso lar, seja um casebre ou uma
mansão?
Quem pode mais, oprime a seu irmão,
prende a mulher e os filhos no
poleiro...
E mesmo esses, que se vendem por
dinheiro,
a demonstrar, em sua determinação,
por seus patronos total admiração,
não são mais do que galos no
terreiro...
Galo cercado por arame ou tábuas
velhas,
nada brotando em sua terra lamacenta,
com que imponência à luz da aurora
canta!
Talvez tu mesmo em tal galo te
espelhas,
confiando nessa mão que te apascenta
e um dia te passa a faca na
garganta!...
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