domingo, 12 de agosto de 2012

BALADAS & DETERMINAÇÃO



                                           
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BALADAS I

Os opostos se atraem, bem simplesmente
e até parece que a jovem mais sensível
bem facilmente ama mais o desprezível
do que alguém que a ame integralmente.

Na verdade, esse amor não vem da mente,
nem da voz que ao coração se torna audível
e nem sequer ao julgamento é crível,
tal sensação que deixa a alma indiferente.

Esse amor que é gerado pelo olhar,
que brota mais na luz que vem do olfato,
que é regado por saliva em cada beijo.

Por isso, é rápido em seu germinar
e mais veloz estiola, triste fato,
durando menos que do vento o adejo...

BALADAS II

Dizem durar sete dias o sofrimento
pungente e agudo das penas de um amor
que a si mesmo se queimou no seu calor
e se extinguiu na safra de um momento.

Dizem que amor é só estremecimento
de todas as membranas e em rancor,
mui facilmente, emurchece o seu rubor,
quando se encontra sozinho em seu tormento.

Ocorre assim com tanto amor comum,
deixando apenas um ressaibo de limão,
certo vinagre no lugar do vinho...

E tal ocorre quando em tempo algum
o ritmado bater do coração
segue do outro um idêntico caminho...

BALADAS III

E quando o coração ama demais
e se lança inteiramente, de cabeça,
sem que as consequências sequer meça,
em seu mergulho de ritmos fatais,

a compassos que não são seus naturais,
melhor seus planos iniciais esqueça
e que à esperança qualquer ideal não peça,
porque embarcou na caravela do jamais.

De fato, existe amor e até se avista,
porém não na inconsequência da conquista
e sim no coração que bate igual

e cujo amor ao nosso amor se apega.
Contudo, é tão comum...  O olhar se cega
ante qualquer aparência triunfal...

BALADAS IV

"Quem ama o feio, bonito lhe parece",
por mais que ao olhar alheio seja estranho.
Mas esse belo aparente, não é tacanho? --
torna-se feio depois que se conhece...

Não é amor o sexor que só te aquece
o corpo e nalma deixa um frio tamanho...
Não existe amor em tal amor de assanho,
como tampouco há amor somente em prece.

O problema é que a alma não se enxerga:
os olhos tendem ao belo desprezar
quando se encontra no manto do invisível.

E é tão comum que a bela mente se erga
sob um físico difícil de se amar
ou sob uma aparência de insensível...

BALADAS V

Antigamente, se a mulher queria um lar,
quando o trabalho, em geral, lhe era vedado,
era forçada, por costume já arraigado,
com amor ou sem amor, a se casar...

O ideal romântico veio a derrubar
essas muralhas de um social fechado.
Hoje a mulher constrói seu ninho ansiado
pelos meios de seu próprio trabalhar.

Assim o amor tornou-se mais ideal
e por igual razão, inalcançável
dentro dos termos que se põe a imaginar.

Para o poeta, um amante do irreal,
isso é até bom, embora o mais saudável
seja escolher quem tenha igual pensar.

BALADAS VI

Não é preciso que amor seja completo
para sentir no peito, permanente,
uma emoção integral e independente
de a quantas emoções se tenha afeto...

Nem é preciso que amor seja discreto
e só rebrote, igual que uma semente,
bem fundo ao coração, por complacente
aceitação do que deva ser secreto...

Mas é preciso que amor seja negado,
para que brote, mais pleno de energia,
estuante de vigor, rico e gigante,

o sentimento que é apenas revelado
pelo poeta, em toda a sua agonia
nessa paixão que nem queria triunfante.

 DETERMINAÇÃO I 

O galo chefe em cada galinheiro
é o senhor incontestado em seu harém.
Quando um frango vai crescendo, ele também
procura um ponto mais alto no poleiro.

Dentro da tela que protege seu terreiro
é o senhor inconteste do que tem
e se esse frango se submeter não vem,
em mil bicadas lhe demonstra vir primeiro.

Marcha imponente pelo exíguo espaço,
quem nem capim se atreve a invadir...
Passa ciscando, a ver se desentoca

um vermezinho, uma raiz ou qualquer traço
de alimento a reforçar o seu nutrir,
ansiando a carne saborosa da minhoca!...

DETERMINAÇÃO II

E o galo se comporta qual sultão
ou como rei de divinal direito:
todo galinho menor lhe é sujeito,
toda galinha lhe faz submissão...

Julgam imenso o território e lá estão,
entre os limites do galinheiro estreito.
Aves sem voo, seu único proveito
é o milho que lhes joga avara mão!

Sempre à espera dos ovos que porão
e que percebe uma galinha choca,
que poderá aumentar-lhe a criação...

E assim lhe traz alimento em separado
e até lhe ajeita o ninho em que se entoca,
até que surjam dez pintinhos sem pecado...

DETERMINAÇÃO III

Há tanta gente como essas galinhas!
Veem do governo a mão, jogando milho...
Já estão acostumados nesse trilho
e até acreditam do crédito nas linhas...

E há tanto homem que do galo é filho!
Muito orgulhoso das posses pequeninhas,
determinado a te agredir, se te avizinhas,
a pavonear da cauda o intenso brilho...

Enquanto impõe sua pequena autoridade,
outros olhos o observam, com sarcasmo:
que ao ficar velho, vira sarrabulho...

Cheio de si, em sua mediocridade,
que mal consegue manifestar seu pasmo,
quando percebe a extensão de seu esbulho!

DETERMINAÇÃO IV

É imponente esse um galo no terreiro,
a defender harém e território...
Na verdade, seu dever é meritório,
caso o invada qualquer aventureiro...

Mas e se for uma raposa que primeiro
vier a invadir e, em gesto inglório,
o agarrar pela garganta, que vanglório
cacarejo solta ele, em derradeiro?

E assim nós vemos os industriais,
os banqueiros e tantos governantes,
como defendem seus belos privilégios!

Contudo, ao ver problemas mais sociais,
nada resolvem, que em breves instantes,
viram raposas em puro sortilégio!...

DETERMINAÇÃO V

Durante os meses antes de eleições
não são sequer os galos, são franguinhos,
pedindo ao povo proteção, carinhos,
e lhe mostrando as melhores intenções...

Mas tão logo os apoiaram multidões
e conseguiram os votos dos vizinhos,
já levantam as cristas e os torvelinhos
das promessas esquecem em suas ações...

E no momento em que firmaram pé
e com os colegas travaram relações,
em pelo as penas vão-se transformando...

E os galináceos que tiveram neles fé
vendem depressa, por lugar em comissões,
suas caras de raposas demonstrando!...

DETERMINAÇÃO VI

E quem nos diz não ser um galinheiro
o nosso lar, seja um casebre ou uma mansão?
Quem pode mais, oprime a seu irmão,
prende a mulher e os filhos no poleiro...

E mesmo esses, que se vendem por dinheiro,
a demonstrar, em sua determinação,
por seus patronos total admiração,
não são mais do que galos no terreiro...

Galo cercado por arame ou tábuas velhas,
nada brotando em sua terra lamacenta,
com que imponência à luz da aurora canta!

Talvez tu mesmo em tal galo te espelhas,
confiando nessa mão que te apascenta
e um dia te passa a faca na garganta!...           



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