SANTA JOANA & MAIS
William Lagos 22/31 MAR 2018
SANTA JOANA I – 22
março 2018
Joana D’Arc pegou fama
de santa,
só por ter contra os
ingleses combatido;
não foi canonizada, ao
que é sabido,
mas muita gente de
santidade a imanta.
Não obstante o que sua
lenda canta,
nenhum milagre foi por
ela intercedido
a quem quer que favor
seu tenha pedido
que intercedesse, seus
soluços na garganta.
Dizem que é santa pelo
impulso que a levou
a procurar o rei em
seu castelo,
afirmando ter dos
santos a mensagem;
quando o Delfim ser
quem era negou, (*)
ela insistiu, vigor no
rosto belo:
“Sois vós o rei!” em
ato de coragem.
(*) Delfim era o título
do Príncipe-Herdeiro da coroa da França.
SANTA JOANA II
É até possível que
houvesse inspiração
na exultação ao
príncipe afirmada,
ao ver França já quase
derrotada,
ela se apresta a
defender a sua nação.
Talvez um toque da
divina mão
sobre a assembleia ali
escandalizada,
que enfim concorda em
dar à jovem exaltada
forte armadura para a
sua proteção
ou simplesmente foi
questão de tática:
uma mulher cavalgando
de armadura
transmitiria às tropas
entusiasmo,
com sua aparência de
carisma enfática,
as suas prédicas em
convicção pura,
soldados simples a
envolver em simples pasmo!
SANTA JOANA III
Mas é preciso
destrinchar a lenda,
que certamente às suas
tropas inspirou,
mas a estratégia que a
vitória preparou
nessas batalhas, é
necessário que se atenda,
foi de Gilles de
Rais. Não se pretenda
que os regimentos ela
mesma comandou;
Joana D’Arc
simplesmente rebrilhou,
mas era Gilles a
planejar a senda,
espertamente num
segundo plano,
a lhe indicar a tática
escolhida
para aos hostís causar
o maior dano;
e assim cada batalha
foi vencida,
pequena França a
crescer em cada afano
dessa donzela inculta
e desabrida!
SANTA JOANA IV
Ela afirmava que
escutava “vozes”
que aos santos e
arcanjos atribuía,
um claro exemplo de
esquizofrenia,
de surtos a sofrer
constantes doses!
Capturada, sofreu as
mais atrozes
torturas a que a
fogueira sucedia:
eram as vozes de
demônios que ela ouvia,
foi afirmado enfim por
seus algozes.
Contudo inútil foi a
morte da donzela:
Gilles de Rais a
ocasião a aproveitar
para o desejo de
vingança aprimorar
e finalmente, venceu a
França bela,
porém nunca por divina
inspiração,
mas pela força das
balas de canhão!
SANTA JOANA V
Nesta chamada “Guerra
dos Cem Anos”
predominaram os
“Direitos Desumanos”,
os prisioneiros nos
suplícios mais insanos,
que à nobreza e
soldadesca divertiam!
Enquanto alguns
sofriam, os demais riam;
atrocidades ambos
lados cometiam;
Papa e prelados não se
intrometiam,
Talvez temendo sofrer
os mesmos danos.
Foi o Arco Longo
inglês o vencedor
nas batalhas de
Azincourt e de Crécy,
os cavaleiros
massacrados por plebeus
e após cem anos, esse
vão louvor
a Joana D’Arc nas
prédicas que li,
como se os méritos, de
fato, fossem seus!
SANTA JOANA VI
Mas nessa época o
canhão foi inventado,
fatalidade para as
fortalezas:
troncos furados de
grandes incertezas,
canos de couro por
aros reforçado;
Mas após alemães terem
forjado
canhões de ferro para
tais proezas,
empregados pelos
turcos em suas presas,
foi o invento por
franceses empregado,
demolidas as defesas
dos ingleses,
suas possessões tendo
de abandonar,
de volta à Inglaterra
em seu embarque;
melhor que os arcos
tais canhões franceses,
pólvora e balas a
vitória a conquistar,
anos depois que
queimassem Joana D’Arc!
Por que Gilles de Rais
é tão pouco lembrado? Em primeiro
lugar, os franceses endeusaram Jeanne D’Arc e não estavam nem estão dispostos a
abrir mão desse símbolo. Gilles de Rais era um aristocrata e Marechal
de França, tendo adquirido muito poder e maior inveja. Foi acusado e condenado por homossexualismo e
pedofilia. A primeira acusação sendo
verdadeira, a segunda era forjada. O
homossexual sofria penas só da Igreja, penitências, pagamentos,
peregrinações... Mas pedofilia era crime penal e Gilles de Rais foi decapitado,
devido à sua condição de nobre, seu nome caindo em execração.
Quanto aos canhões,
que de fato concluíram a Guerra dos Cem Anos, inicialmente surgiram as
bombardas, com canos de couro reforçados por aros de ferro ou bronze, que
lançavam pedras de maneira errática; eram até menos eficientes que as antigas
catapultas. Mas logo começaram a escavar
troncos de carvalho, com melhores resultados, mas curta duração, visto que os
troncos rachavam e explodiam, até que mercenários alemães a serviço dos turcos
efetivamente inventaram o canhão de ferro e as balas do mesmo material,
permitindo à Turquia conquistar metade da Europa, até serem detidos diante de
Viena por tropas vindas da Polônia sob o comando de Jan Sobieski. A invenção logo chegou à França, destruindo
as defesas dos acampamentos e demolindo as grandes fortalezas medievais, que se
tornaram inúteis.
ALMAS INCONSTANTES 1 – 23 março 2018
Nem sempre amor merece Ações de Graças,
Mesmo que seja, no geral, bem sucedido;
O coração por Eros malferido
No antigo sentimento encontra jaças;
Esse corpo querido ainda enlaças,
Mas o desejo inicial já foi nutrido;
Surgem suspeitas de que o ser escolhido,
Por qualquer perversidade com que nasças,
Não era, realmente, o ser ideal
E se amor foi confundido com desejo,
Vem a suspeita a tornar-se mais real...
Ações de Graças por quê? Se alguma fresta
Vai trincando o espelho desse beijo,
Simples rotina a empanar a antiga festa.
ALMAS INCONSTANTES 2
Mas que se entenda bem que, por desejo,
Não se define tão só o amor sensual
Ou a transiente atração de um carnaval,
Nesse sabor impertérrito do beijo...
Existe a ânsia pelo raro ensejo
De achar um par de igualdade espiritual,
Que pense como nós; ou emocional
Numa partilha que espero e que não vejo.
Existe ainda a simples gana material
Que tal consorte nos conduza ao ganho
De alguma situação ou de riqueza
E o desgosto dessa face consensual,
Inadequados seus traços ao tamanho
Desse íntimo conceito de beleza.
ALMAS INCONSTANTES 3
Existem ainda tantos desejos mais;
Sua maioria o consciente nem percebe,
Mas há uma falha aqui, outra a sucede
E adaptações devem ser feitas naturais.
E tantas vezes, nem há motivos materiais,
É só o desdém que a própria alma imbebe:
Perfeito é o par, ao ponto que se mede,
Por que então tais desditas conjugais?
O que nos leva a render “Ações Desgraças”,
Qualquer pretexto provocando desconfiança,
Quaisquer palavras a nos roer quais traças,
Enquanto o amor de nós escorre como água,
Não mais a mágica que nossa mente alcança...
Por que a magia se transmutou em mágoa?
ALMAS INCONSTANTES 4
Algumas vezes em nós mesmos procuramos
Essas faltas que não podemos encontrar
Na pessoa que não mais se quer beijar,
Que ainda afirma o amor que lhe inspiramos!
E cresce a culpa, nos sentimos desumanos,
Na ingratidão em nós mesmos a brotar.
Por que deixamos tal desdém nos dominar,
Por que do amor assim nos afastamos?
E realmente, se há culpa, está em nós,
Mas sem que exista motivo de remorso:
É a natureza das brumas do inconsciente,
Nosso cérebro triturando igual que mós,
Qual abantesma montado em nosso dorso,
A se nutrir desse carinho decadente...
PREGAÇÃO
I – 24 março 2018
A
gota pinga sobre a água do copo,
A
cada vez originando breve cruz,
No
resplendor que parte desse foco,
Crescentes
círculos salientados pela luz.
Por
breve instante o concêntrico reluz;
Se
de outra gota pingar então me poupo,
Voltam
da beira em painel que me seduz
As
ondas de retorno em seu escopo.
Talvez
visão igual tenha inspirado
A
construção da cruz com esplendor
Ou
a cruz celta, aberlemno tão antigo, (*)
Igual
que a mim inspira esse ondulado,
Cada
gota a dissolver-se no perigo,
Nesse
refluxo em que perde seu vigor.
(*)
Que se supoe ser um sextante primitivo.
PREGAÇÃO
2
De
igual modo se difunde a pregação
Do
Evangelho ou qualquer outra religião
Ou
ideologia de material conotação,
Ondas
concêntricas a partir de uma só gota,
Cada
círculo alcançando maior quota,
Nessa
pequena onda que se embota,
Mas
de um ideal a muitas mentes dota,
Igual
se espalha qualquer conspiração.
Porque
o fantasma da gota, quando chega
No
limite desse copo expectante,
Sofre
um retorno qual contra-maré,
Que
de novo à Boa Nova original se apega
E
os seguidores, em tropa delirante,
Reforça
em rebelião da nova fé.
PREGAÇÃO
3
Contudo,
o vaivém dessa revolta,
Mais
solidez conferindo à sua expansão,
Tal
qual líquido das mentes a emoção
Que
as prende por inteiro e não mais solta.
Pois
uma fé não se difunde por razão,
Nem
sequer na ideologia circunvolta,
Mas
em lavagem cerebral de larga escolta
Dos
seguidores da primeira geração.
E
ninguém pode abandoná-la facilmente,
Pois
pregação penetra igual que prego,
Fundo
cravado na mentalidade,
Que
só dela se liberta, realmente,
Mantendo
o raciocínio em forte rego,
Sem
sequer suplicar por liberdade.
SOL DE LESBOS I – 25 MAR 18
Isso que hoje já se faz abertamente
por muitos séculos se fez às escondidas;
não foram lésbicas, em geral, submetidas
à execração homossexual frequente.
As primas e as irmãs constantemente
dormiam juntas, sem serem perseguidas;
quaisquer suspeitas por poucos concebidas
que seu prazer provocassem mutuamente.
E certamente, nos conventos ocorria
constante relação mais fescenina,
revelada ao confessor, como se quer;
e desse modo, algumas vezes se dizia:
“Mulher alguma pode ser mais feminina
do que mulher que é mulher de outra mulher.”
SOL DE LESBOS II
Hoje, contudo, chegou-se no outro extremo,
abertamente pregado o lesbianismo
e até seremos acusados de fascismo,
caso enxerguemos em tal conduta seu veneno.
É a lei do ciclo.
Pecadilho tão pequeno
era aceito, se guardado num mutismo,
na intimidade, até no romantismo,
quando descrito, não mais que breve aceno.
Em nossos dias, geralmente em desafio,
até meninas se beijam pelas praças,
do mesmo modo que os que se dizem gays
e estranhamente, contempla-se este cio
na ironia de um sorriso, que desfaças,
senão de homófobos acusados ficareis.
SOL DE LESBOS III
Porém limites existem, certamente,
motivo aberto para a pornografia...
Mas não se acusa de pedofilia
essa mulher que a qualquer adolescente
ou menina, a se crer mais inocente,
a senda lésbica em que aos poucos a inicia,
tão facilmente que ela assim seduziria,
nessa tendência pouco a pouco mais frequente.
Quando é um homem que molesta uma criança
ou que difunde alguns vídeos pornográficos
que inspirarão tão só masturbação,
rapidamente severa lei o alcança,
mas não se escuta punir os vídeos sáficos,
mulher alguma tendo igual condenação.
SOL DE LESBOS IV
E ao mesmo tempo, se aprovam leis severas
A condenar, vis-à-vis “Maria
da Penha”
qualquer frase mais aberta que alguém tenha
proferido, galanterias apenas meras...
Uma coisa são estas bestas-feras
que atacam e estupram a quem venha
ou quem seguro do cargo que mantenha,
seduz as jovens com promessas insinceras.
Há outra coisa, porém, que é inegável
e não depende de formação social,
isso que o corpo feminino é atraente
e assim criado por razão saudável,
pelos impulsos oriundos do hormonal,
a raça humana conduzindo para a frente.
SOL DE LESBOS V
O organismo inteiro da mulher
é assim voltado para a reprodução,
para à semente conservar em proteção
na gravidez que coroa o seu mister,
sem contingência social neste prazer,
dores do parto tendo longa duração,
mas a alegria da final contemplação
desse serzinho que pôde conceber.
E se a mulher não quer ser importunada,
que não se exponha escancaradamente,
do masculino avanço não se queixe,
nem que seja pelos homens cobiçada,
pois esse impulso de copular frequente
será contido caso a mulher não deixe.
SOL DE LESBOS VI
Já muitos homens sentem até excitação,
ao verem duas mulheres em abraços;
quem não deseje suscitar tais traços
que desfrute seu amor com discrição;
é bem mais rara a heterossexual ação
em praça pública, conservando os laços
na intimidade, sem exibir tais passos
aos transeuntes tal qual provocação.
Mas não me entendam mal. Pleno direito
tem a mulher à sua sexualidade
e o seu corpo a adornar como quiser;
não vejo em lesbianismo algum defeito,
mas bem queria mais contida essa vaidade
de demonstrar que a deseja outra mulher...
COMENTÁRIOS I – 26 MAR 18
Eu não me oponho ao
homossexualismo:
só me repele o “amor intestinal”;
se limitado ao buco-genital,
mais aceitável me seria esse
modismo.
Entre os helenos o bissexualismo,
entre os romanos atitude muito
igual
se tolerava como coisa natural,
do mesmo modo que de atletas o
nudismo.
Porém portar-se como homens
deveriam,
sem travestir-se em roupas de
mulher
ou sem passear a exibir algum
trejeito;
tais indivíduos as leis condenariam
ou os que negassem seu paternal
mister:
gerando filhos, que agissem de seu jeito!...
COMENTÁRIOS II
Eram, de fato, sociedades militares
e um exclusivo homossexual
comportamento
conduziria a seu enfraquecimento,
pois precisavam de jovens aos
milhares,
muitos deles perecendo nos azares
dos combates e no envilecimento
das ferimentos, das pestes no
tormento:
não se negassem os deveres
familiares!
Provavelmente, no interior dos
gineceus
o lesbianismo alcançaria vasta voga,
mas sem que isso impedisse a
gravidez,
filhos gerando pelos partos seus
para a armadura ou para o uso de
uma toga...
Bem diversa essa atitude, como vês.
COMENTÁRIO III
Mas hoje em dia há menor natalidade
e alguns falam de suicídio até
racial;
menos crianças, menos contribuição
social,
já a Previdência a passar necessidade!
Sempre existiu maior fertilidade
na sociedade camponesa e é natural.
Filhos ajudam no trabalho e, como
tal,
são desejados com maior facilidade.
Bem diferente na sociedade urbana,
em que filhos serão fonte de
despesa,
bem ao contrário de serem capital
e a relação homossexual irmana
dois parceiros e a gravidez não
pesa,
com mais conforto próprio no total.
COMENTÁRIO IV
Não obstante, alguns casais, por
mais que tentem,
nao conseguem ter os filhos
desejados,
enquanto os outros ficam empenhados
em evitá-los, pois tal dever não
sentem.
Que as lésbicas então juntas se
assentem,
porém seus óvulos cedam aos
cuidados
desses laboratórios, para ser
aproveitados
e aos estéreis heterossexuais
alentem.
Também os homens ceder podem sua
semente,
mas vejo com leniência a adoção
por gays ou lésbicas dos abandonados
ou a gravidez em proveta, hoje
frequente
entre as lésbicas, a cumprir essa
função,
seus organismos assim menos
contrariados.
GESTALT INESPERADA
I – 27 MAR 18
A periférica
visão é perigosa
e não somente
quando a afeta catarata,
pois com
frequência uma surpresa acata,
uma imagem a
formar, feia ou graciosa;
os cílios
podem enganar-nos como rosa,
que de algum
modo ao ver-se nos abata,
alma penada
de algum consolo à cata
ou até mesmo
visão mais tenebrosa!
Bem
certamente já ocorreu contigo,
muito
especial nos momentos de cansaço,
quando ao
sono antecipa o devaneio,
nessa visão
transitória de um perigo
ou do cônjuge
que te venha dar abraço,
nesse assomo
de prazer ou de receio...
GESTALT
INESPERADA II
É coisa bem
comum. Tanto fantasma
da visão
originou-se periférica,
de terror
sobressaltando a alma histérica,
que por
momentos é assombrada e pasma!
No
entretanto, normalmente este miasma
se desfaz
ante qualquer luz mais feérica,
quando teu
rosto, numa volta semi-esférica,
desfaz o
imaginar de teu quiasma!... (*)
Pontos
apenas, reunidos juntamente
e
interpretados por esse núcleo ótico;
logo
desfeitos, quando te alivias
e te reprovas
pelo impertinente
pulsar, da
adrenalina mais despótico,
e dessa breve
tolice então te rias!...
(*) Centro
nervoso atrás da testa que controla a visão;
o núcleo
supraquiasmático controla o mecanismo do sono.
GESTALT
INESPERADA III
Fico a pensar
quanta visão divina
de algum
santo, algum anjo, até Maria,
lançou de
joelhos a pessoa que assim via,
revelação a
julgar que se aproxima.
E quanto
sociopata assim se inclina
a acreditar
na chacina ou agonia
que só irá
causar porque o exigia
qualquer
demônio a dominar-lhe a sina!
Por isso é
perigosa essa visão
que nos
invade a esparzir já quantos males,
alimentando
de alguém pura vaidade,
por imediata
se desfaça a “concepção
maculada”,
sendo inútil que lhe fales
ser ilusão
tal demônio ou tal deidade!...
imagem
de escultura (prólogo)
“Moisés descia do Sinai,
nos braços
Tendo da Lei as tábuas,
junto ao peito;
Mas de repente, ali detém
os passos
Vendo o bezerro, todo de
ouro feito!
“Diante da ingratidão do
povo eleito,
Do austero rosto
alteram-se-lhe os traços:
As tábuas ergue e, em
fúria, contrafeito,
As roja ao chão,
fazendo-as em pedaços!
“Há no seu gesto uma
lição contida
A quem levanta e ao culto
até destina
Outros bezerros de ouro
nesta vida,
“Que neste mundo
incrédulo e bizarro
Têm tantas vezes quebrado
a Lei Divina
Aos pés de outros ídolos
de barro!”
imagem
de escultura 1 – 28 mar 18
este
soneto do conterrâneo Ziver Ritta
é
realmente um dos melhores que conheço;
ao
Santo Espírito inspiração eu peço,
correspondente
a essa obra tão bonita.
e
se me atrevo a retomar essa bendita
imageria
por que sinto tal apreço,
da
difusão de seu trabalho não me esqueço,
e
a comentá-lo um impulso de concita.
após
quebrar as tábuas contra o chão
e
aos infratores decretar fero castigo,
ainda
assim tornou Moisés ao monte,
que
Deus de novo lhe estendesse a mão
e
reescrevesse novas tábuas, bom amigo,
que
entre o homem e a deidade fazem ponte.
imagem
de escultura 2
e
quem nos diz se as tábuas iniciais
não
foram alteradas por Moisés,
após
tê-las arrojadas a seus pés,
mesmo
que escritas por dedos divinais?
quarenta
dias, quarenta noites nos totais,
é
compreensível que abalassem fés
e
que a um bezerro fizessem rapapés;
escravos
foram e cederam cabedais
para
que Aarão fundisse a criatura
a
quem pudessem ver e adorar;
afinal,
essas jóias e arrecadas
eles
haviam extorquido com fartura
desses
egípcios desejosos de enviar
para
o deserto tantas hordas libertadas...
imagem
de escultura 3
mas
por que foi que o fundiu o sacerdote
que
sempre fôra de Moisés o portavoz?
talvez
sofrendo então temor atroz
de
apedrejado ser, dobrou o cangote.
a
escritura revela o triste lote
desses
escravos submissos a algoz,
sem
ser guerreiros, a marchar empós
um
visionário, aguardando o dote
de
uma terra prometida... e por quarenta dias,
quarenta
anos viveram no deserto,
até
morrer toda aquela geração;
filhos
e netos, sem maiores agonias,
curtidos
pela vida em tal aperto,
a
terra a conquistar por sua missão.
imagem
de escultura 4
o
certo é que o segundo mandamento
é
bem explícito e tem claro teor,
a
prometer castigo em grande ardor
para
quem aja em seu quebrantamento.
seu
deus descrito como sendo ciumento,
para
três e quatro gerações, em seu furor,
visitar;
porém tratando com amor
mil
gerações em seu contentamento...
este
é o primeiro mandamento com promessa
e
não o quinto, sobre honrar os pais,
como
o próprio São Paulo mencionou.
que
a adoração ao deus supremo cresça
e
não aos anjos e tantos santos mais,
cujo
poder qualquer papa proclamou!
FIDELIDADE 1
Amor é coisa eterna e passageira
Que na alma dos sinceros, justa e pura,
Por toda a eternidade ali perdura
Ou sobre a Terra, até a hora derradeira;
Na alma romântica que à emoção se abeira,
Além da morte alcança a eterna jura,
Mas para os céticos é bem diversa agrura,
Que a Morte chega e o Amor leva certeira.
Se tudo então termina e for assim,
A eternidade tem da vida a duração,
Perfeito o amor que dura até a morte,
Fidelidade a praticar-se até o fim,
Quando ocorrer tal final separação,
Qualquer que seja – ao depois – a nossa sorte.
FIDELIDADE 2
Mas caso a morte seja apenas transição,
Deve após ela haver fidelidade?
Foi Jesus interrogado, na verdade,
Sobre o destino após haver separação
Dessa mulher que se casou, em sucessão,
Com vários homens, na viuvez de tenra idade.
Qual seu marido pela eternidade,
No reino eterno a que os poetas vão?
E respondeu Jesus Cristo com clareza
Que só entre corpos existe casamento
E não há na eternidade a obrigação
De qualquer matrimônio ou sutileza,
Quando os espíritos, após seu passamento,
A Deus apenas fiéis serem deverão.
FIDELIDADE 3
O Romantismo, porém, não quer assim,
Não aceita como justo o julgamento:
Quando é perfeito o amor nesse momento,
Haverá de perdurar até o fim.
É sobre o sexo a jurisprudência, enfim,
Pois sempre há de perdurar o sentimento,
Sem que de reprodução exista evento,
Só da aliança aprovada pelo Sim.
Mas a essas almas que não se reproduzem
Nada impede de manterem seu amor,
No Paraíso até multiplicado,
Onde os amores de tantos mais induzem
Visão perene de tal resplendor,
Após o amor da carne descartado.
FIDELIDADE 4
Mas esse amor que sente a maioria
E que aqui mesmo se mostra passageiro
É o resultado tão somente desse arqueiro
Que flecha os corações em sua ironia...
Por isso, não perdura o que se cria,
Não sendo o amor perfeito e verdadeiro,
Mas arrebatamento mais brejeiro
Que, como tal, se esvai numa folia...
Contudo, eu creio também no amor eterno
Do qual se espera seguimento após a morte
Ou que se envolve na total escuridão,
A perdurar, todavia, no olhar terno,
Após o amor sexual sofrer um corte,
Mas não do eterno amor a pulsação.
sol inútil 1 – 30 mar
2018
há pouco tempo, li
comentário de criança,
de que a lua era
importante, já que iluminava
durante a noite, quando a
treva dominava,
tranquilidade a conceder-nos
e esperança.
porém o sol, tanto quanto
a mente alcança,
inútil era, pois somente
se mostrava,
durante o dia, quando a
luz brilhava,
desperdiçando assim a sua
pujança!...
criança afirma cada coisa
surpreendente!
esse sol foge quando
seria mais preciso,
deixando a lua a pratear
em seu lugar,
tornando a treva branda e
mais dolente,
enquanto o sol nos encara
em puro riso,
somente após dourada luz
nos dominar!
sol inútil 2
é de fato compreensível
tal noção,
confundindo causa e
efeito tanta gente!
seu julgamento assim
ineficiente,
conduzindo a tanta
errônea conclusão.
que uma criança exponha
tal afirmação,
enquanto explora o mundo
indiferente,
nós traz, às vezes,
sensação pungente
sobre as tolices de tão
longa duração
que facilmente permitem
se domine,
no entusiasmo de um
discurso, a multidão,
que do seu raciocinar
logo abdica
e para o demagogo então
se incline,
seguindo cega nessa
aberração
até o abismo que tal
prédica lhe indica!
sol inútil 3
existe na escritura
afirmação
de que jeová uma tenda
levantou
na extremidade da terra e
se tornou
um argumento de maior
conotação,
de que essa terra não
possuía rotação,
mas que era ao sol que o
senhor determinou
nascesse sempre no lugar
que demarcou
da terra plana, em sua
translação!
e por blasfêmia quantos
foram condenados
ao afirmarem a redondeza
do planeta
ou defendessem um sistema
heliocêntrico,
de copérnico os escritos
publicados
somente após a morte, na
secreta
condenação do sistema
geocêntrico!
PEDRAS SEM PREÇO I – 31
MAR 18
São os instantes pequenos
de minha vida
que me inspiram a poesia;
não a fé
nos momentos portentosos,
pois até
um pio de pássaro
projeta-me em tal lida.
Mas quando algum
entusiasmo tem guarida
ou violência ou pasmo, eu
sei que é
gasta neles a emoção,
tornam-se a sé,
neles se esgotam estímulo
e ferida.
Dependo assim dos
plácidos momentos,
qualquer palavra ou
sentença inesperadas,
desse véu de sombras
mornas do diário,
pois é então que vêm à
terra sentimentos
que eu nem sabia ter,
dessas moradas
submarinas de nácar
multifário...
PEDRAS SEM PREÇO II
Todas as pedras que
encontrei na vida
surgem num átimo e vejo
ao meu redor
as em que me assentei; as
que uma dor
me causaram por topada ou
por ferida.
Porém dar à pedraria essa
incontida
lembrança de seu frio ou
seu calor,
os choques e arranhões de
seu ardor
é o mesmo que lembrar
toda a sofrida
desesperança que me
revista em mágoas,
que essas pedras são
amores desabados
e não um trono em que me
sente alegremente;
são as jóias derretidas
dessas águas
brotadas de meus olhos em
passados
que já nem mais recordo
claramente.
PEDRAS SEM PREÇO III
Mesmo assim, eu entesouro
esses momentos
e nunca amaldiçoo tais
calhaus,
enfeitando desse modo os
dias maus
com esses mil subitâneos
sentimentos,
jamais ficando em tal
aguardo de portentos,
nem de transpor torrentes
por seus vaus;
pedras se quebram ao
brandir de paus,
mas em versos se fazem os
fragmentos.
Cada poema a brotar
desses argueiros
e não de rocha que possa
me esmagar:
caso chegasse, escrever
não poderia...
Mas vejo a luz dos momentos
corriqueiros,
justamente os que procuro
conservar
nessas vinhetas que
outros chamam de poesia...