quinta-feira, 30 de maio de 2019




ABELHAS CARNIVORAS (31/12/2010)
Duodecaneto de William Lagos

ABELHAS CARNÍVORAS I  (31-12-2010)

O Sol me molha lentamente a pele,
com dedos de criança, no começo:
é tão gentil que mais carinho eu peço,
numa carícia que minhas costas vele;

mas, aos poucos, a pressão dos dedos dele
se torna mais premente e logo penso
que são dedos de mulher e então me aqueço
de uma forma sensual que os rins me sele;

mas se perdura por mais tempo a exposição,
viram dedos de homem, com massagem,
tornam-se logo de torturas os esboços

e busco a fuga dessa queimação,
procuro abrigo, sem fingir coragem,
enquanto a luz do Sol me molha os ossos.

ABELHAS CARNÍVORAS II

Pressinto então um sonho, de repente,
não sonho de ouro, como tantos tenho,
não um presságio que me franza o cenho:
um desses sonhos que controla a gente.

Já li em alguma parte, certamente,
que se percebe ser de um sonho o engenho
por não poder recordar, com todo o empenho
como chegamos em tal ponto consequente.

De repente, nos achamos já em ação,
nesse ponto de qual nos recordamos,
por efeito, quiçá, de um mecanismo

de controle mental, em proteção,
sem perceber por que nos entregamos
a esse mundo estranho de idealismo.

ABELHAS CARNÍVORAS III

Bem diferente de um sonho planejado,
quando a gente se entrega ao devaneio,
imaginando a situação ou o meio
de vivenciarmos algum fato desejado.

São assim as fantasias, plano airado
que atende à frustração, acalma o anseio
dos bens não alcançados de permeio,
ação mental masturbatória do isolado.

Não que sejam tão só de inspiração
sexual ou até social, tão só desejo
de qualquer coisa que possuir queremos,

quando não uma feroz satisfação,
quase um castigo, por roubar alheio beijo
de um ser amado a quem não pertencemos.

ABELHAS CARNÍVORAS IV

Estes sonhos são mais calmos, controlados,
nós decidimos quando iremos começar
e interrompemos o seu desenrolar,
se pela vida real somos chamados...

No meio destes também estão contados
os sonhos de ouro, por glória se alcançar,
sempre é possível dentro deles planejar
alguma forma de torná-los realizados.

Mas os sonhos oníricos nos mordem
de maneira ardilosa e subitânea,
são carnívoras abelhas que nos picam

e mal se sabe donde provém a ordem
para vivermos nesta forma sucedânea
dos fragmentos que na memória ficam.

ABELHAS CARNÍVORAS V

Como são vastos os sonhos dos anseios!
Esses que a vida não permite realizar,
justo aqueles que mais queremos alcançar:
só assim os usufruímos em outros meios...

Talvez seja o mais comum dos devaneios:
o que faríamos, no caso de ganhar
na loteria...  (mesmo até sem apostar!)
Coisa igual que descobrir de ouro os veios

aos arrancarmos umas raízes no quintal;
ou então herança a receber de algum parente
que nem ao menos sabíamos existir...

São sonhos inocentes, não têm mal,
sem pretensão de se matar a qualquer gente,
somente o gênio da lâmpada descobrir...

ABELHAS CARNÍVORAS VI

E como está esse ideal bem entranhado
no inconsciente coletivo brasileiro!...
Então, na falta desse gênio lisonjeiro,
busca-se um jeito de aos outros enganar...

Sempre um emprego público alcançado,
qualquer esquema de se juntar dinheiro
de forma desonesta e bem ligeiro,
sem se importar com quem vá prejudicar...

Não sonham ouro, têm sonhos de latão:
“Mas, afinal, por que Deus a loteria
não concedeu a nós, já que apostamos?”

Desde modo, tendo chance, à tentação
cedem fácil; e a consciência nem lhes chia:
“São os otários apenas que enganamos!”

ABELHAS CARNÍVORAS VII

Assim vivemos numa nação de abelhas
voltadas contra os interesses da colmeia;
nem se consegue inserir nessa alcateia
novas abelhas; à exemplo das mais velhas,

umas às outras devoram; são centelhas
que a pretexto de algum fogo que incendeia,
tiram mil gotas de sangue da assembleia,
com um sorriso e um arquear de sobrancelhas.

São carnívoras abelhas, com certeza,
sempre dispostas ao canibalismo
e as canibalizadas até lhes batem palmas!,,,

E assim prossegue a vida, sem nobreza,
na tirania de um presidencialismo,
com seu louvor de corrompidas almas!...

ABELHAS CARNÍVORAS VIII

Quanto a mim, nunca busquei um sonho igual:
meus devaneios (muitos e frequentes!)

nunca planejam enganar as gentes,
só me dão satisfação meio irreal

de quem não busca o brilho artificial
de festas ou política, sequer os aparentes
louvores, promoções, impermanentes
glórias ou fama ou essas fardas de “imortal”. (*)
(*) Alusão à Academia Brasileira de Letras.

Meus devaneios são bem mais comedidos
e na verdade, revelados só pra mim;
de fato, foram sonhos tão secretos

que de mim mesmo uns ficam escondidos,
pois nem sei se me encontra um sonho assim
quando alguém me vem mostrar os seus afetos.

ABELHAS CARNÍVORAS IX

Talvez, de fato, tenha sido apenas sonho,
esse em que encontro carnívoras abelhas,
que a cada vez que se acendem as centelhas
de qualquer esperança em véu bisonho,

logo me roem, com seu ardor medonho,
reencarnações das esperanças velhas.
como se as novas olhassem às esguelhas,
em maus ciúmes do meu viver tristonho.

Pois eis o fato:  essas abelhas me devoram
os resultados, por mais sendo trabalhados
ou após um longo tempo elaborados.

Tal qual se o que ganho com a direita,
com a esquerda entregasse aos que me exploram,
eternamente do meu caminho à espreita!

ABELHAS CARNÍVORAS X

O que se encontra por baixo das calçadas,
sob as camadas da amarelada argila?
Talvez lá habitem assombrações em fila,
que se perderam das ossadas enterradas,

à espreita e de tocaia, almas penadas
que nos invejam a luz e o movimento;
pelos sapatos ascendem, num momento,
para esperanças roerem, esfaimadas!...

Melhor, portanto, não culpar deuses quaisquer
por esta mística e contínua zombaria,
quando a mão dá, para a outra mão tirar;

talvez não seja por rancor nem ironia,
só por sedenta a entidade que nos quer
e o que devamos é mais depressa andar!

ABELHAS CARNÍVORAS XI

Em emboscada estão, por sob as tijoletas
essas abelhas por carne e alma famintas,
de um desespero secular retintas,
a invejar as esperanças mais diletas,

que se revestem das mais escuras tintas
e cada vez que do amor espreitam setas,
nas sanguissedências mais completas,
vêm te roubar sem permitir que o sintas!

Isso acontece, algumas vezes, quando
com os amigos ficamos a prosear,
nessas ruas de pequeno movimento;

mas em geral, é por onde encontram bando
de seres descuidados a passear,
aos quais assaltam no maior atrevimento!



ABELHAS CARNÍVORAS XII

Contudo, não te apresses a sentar
na frente de tua casa, no verão;
sabe-se lá o que brota do teu chão,
para teus planos todos devorar...?

Quando o sol forte ainda está a molhar
as tuas costas, chegando até o pulmão,
em modorra se acalma a multidão
desses calungas que desejam te sugar.

Porém mais tarde, nas noites de luar,
quando se espalham nos pisos as cadeiras,
a chusma inteira já começa a despertar

e a sola de teus pés, meigo o beijar,
invadem em estratégias bem certeiras
para o futuro, naco a naco, te furtar!...


William Lagos
Tradutor e Poeta – lhwltg@alternet.com.br
Blog:
www.wltradutorepoeta.blogspot.com
Recanto das Letras > Autores > William Lagos





Escolha múltipla
Novas séries de william lagos, 2-11/10/2018



Escolha Múltipla (IV) – 2 out 2018
Sentinela da Galáxia (VI) – 3 out 2018
Crime Organizado (III) – 4 out 2018
Sinos a Rebate (IV) – 5 out 2018
Pêndulos (IV) – 6 out 2018
Reação – (IV) – 7 out 2018
Larvas de Miosótis (III) – 8 out 2018
Feiticismo (III) – 9 out 2018
Em Celibato Alheio (III) – 10 out 2018
Enfarto do meu Cárdio (VI) – 11 out 2018

ESCOLHA MÚLTIPLA I – 2 OUT 2018

Muito em breve chega o dia da eleição,
Provavelmente votarei em Bolsonaro,
Embora de fato, não me pareça claro
Qual o motivo desta predileção.
Em muitos pontos concordo com a opinião,
Porém em outros funga mal meu faro,
A matutar certos instantes paro:
Até que ponto permitirá a oposição,
Já tão versada em sua corrupção,
Que ele possa realizar quaisquer projetos?
Vários outros candidatos preferia,
Mas as pesquisas peremptórias são
Que nenhum deles obteria os afetos
E contra Haddad não se elegeria.

ESCOLHA MÚLTIPLA II

Não que acredite em pesquisas de opinião,
Mesmo que honestas, sempre são indutivas,
Na formação de preferências muito ativas
E em nada gosto de acompanhar a multidão,
Mas me revolta essa atual corrupção
E mesmo sendo tais pesquisas progressivas
No conclamar das camadas inativas,
Não me parece existir outra opção.
Não votaria jamais nesse Infernando,
Representante da geral Malddad,
Continuador que será da iniquidade,
Mas tanta gente seu voto vai negando
A candidatos de maior ponderação,
Sem um carisma que lhes confira distinção.

ESCOLHA MÚLTIPLA III

Além do mais, o Petê abriu o jogo,
Clara aliança com os comunistas,
De sua própria natureza dando pistas,
Por tanto tempo a renegar tal rogo;
Qualquer pessoa que estudou o fogo
Das ideologias nacional-socialistas,
Mais conhecidas enfim como nazistas,
Seu próprio método já compreendeu logo,
Porque o Adolfinho aprendeu a organizar
O seu próprio partido ao combater
Os comunistas, mas seu sistema foi copiar,
Mas como o Estalinho foi os nazis enfrentar
Recusa-se a esquerda a reconhecer
Que o nazismo com eles faça um par!

ESCOLHA MÚLTIPLA IV

Acho a Manuela muito bonitinha,
Que me recorda a espanhola Passionária,
Com a mesma oratória libertária,
Mas só imagine, se ela virar rainha
Do Brasil, mesmo por hora bem curtinha,
Se o Haddad eleito fizer viagem vária
A Cuba e à China, atitude bem contrária,
Quando as visitas condenando vinha!
Provavelmente vai indultar o Lula
E certamente pôr um fim na Lava-Jato
E até o Moro condenar por desacato,
Já que contra a propriedade o povo açula,
Já que onde quer que comunistas governaram
Os bens alheios para si mesmos conquistaram!

AVE MANUELA, ESBELTA E SEM GRAXA,
O SENHOR LULA É CONVOSCO,
BENDITA SOIS VÓS ENTRE OS PETISTAS,
BENDITO O FRUTO DE VOSSO VENTRE,
O COMUNISMO.
SANTA MANUELA, MÃE DO HADDAD,
ROGAI POR CUBA E PELA VENEZUELA,
AGORA E NA HORA DE NOSSA MÁ SORTE.
AMÉM, CARLINHOS MARQUES, AMÉM!

SENTINELA DA GALÁXIA I – 3 OUT 2018

Da Galáxia a Sentinela adormeceu
e no seu sonho de altivez alpina,
ao invés de sentinela, foi sentina:
a intensa graça que possuía perdeu.

Depois que a competição esmoreceu,
nenhum dos lados mais para lá se inclina;
bonita é a Lua para os olhos da menina
e até mentem que ali o homem não desceu!Eu, realmente, que me criei lendo ficção
científica, com brilhantes prognósticos,
fico assombrado, ao ver esses pernósticos
a dizer que verbas para a NASA são
um desperdício, que se deveria gastar
nesses programas que desejam apoiar!

SENTINELA DA GALÁXIA II

Se alguém parar para pensar, percebe
que tais alegações são só falácia;
pois me tornei a Sentinela da Galáxia
e pelo cosmos o sonho ainda me embebe!

Qualquer pessoa que raciocinar, concebe
que esse dinheiro não vai parar no espaço,
mas em salários se dispende grande traço
e a maior parte é a indústria que recebe!

Essas verbas não se queimam nesse passo,
inversamente, estimulam a economia,
quem isto nega é tolo ou mal-intencionado,
querendo a tais subsídios dar abraço,
que de algum modo com certa parte ficaria,
enquanto o resto seria, sim, desperdiçado!

SENTINELA DA GALÁXIA III

A nossa Terra já está superlotada
e apesar das fomes e da guerra
ou epidemia que tanta gente enterra,
continuará em tal pendor desordenada.

A ecologia ainda está mal orientada,
o aquecimento global já nos encerra,
não há lugar para os animais na Terra,
população ali a crescer desenfreada.

É ilusão que se consiga pôr um freio
no crescimento dos povos africanos,
mesmo métodos aplicando desumanos;
de anticoncepcionais essa gente tem receio;
quem sabe, param de ser vacinados
por organismos tão bem intencionados?

SENTINELA DA GALÁXIA IV

Nosso destino se encontra nas estrelas,
já cresce rápida a tecnologia,
que planetas terraformar conseguiria
se ali não existem ainda terras belas.

Mesmo na Lua, se no exterior congelas
ou te queimas onde o Sol mais brilharia,
no subsolo muita gente caberia,
a hidropônica alimentando muitas delas.

Porém confesso que estou desapontado:
por muitos anos aguardei pelo Dois Mil,
pensando ver a realização das profecias,
mas o programa lunar foi encerrado
pelos políticos de estupidez senil,
buscando votos por imediatas vias.

SENTINELA DA GALÁXIA V

Nunca esperei realmente que eu pudesse
participar de uma viagem sideral,
mas enquanto havia uma corrida espacial,
muita esperança no coração tivesse

de assistir outra pessoa que descesse
sobre Marte, Io ou Ceres, em inicial
exploração, com o seguimento natural:
assentamento que da Terra ali crescesse.

E após ver dezenas de astronautas
na superfície da Lua alunissar,
em minha alma crescia essa esperança,
mas lideranças políticas incautas
decidiram por tais programas encerrar,
martirizando meus sonhos de criança!

SENTINELA DA GALÁXIA VI

Presentemente, ainda assisto a exploração
por essas sondas tão só robotizadas,
sem precisar das proteções tão delicadas
que requeriria qualquer tripulação.

Setenta e cinco anos se completarão
no fim do mês, minhas quimeras tão frustradas!
Seria que ainda hei de ver realizadas
quaisquer promessas de tão longa duração?

De Asimov, de Heinlein ou de Symak,
de H. G.  Wells as propostas pioneiras
(mas que a Guerra dos Mundos não ocorra!)
ou a minha vida sofrerá seu final baque
sem o hiperespaço de viagens altaneiras
ser inventado antes que eu mesmo morra?

CRIME ORGANIZADO I – 4 OUT 2018

Se alguma coisa faz mal a meu país
é a imensa força de disseminação,
alimentada e a alimentar a corrupção
dessas quadrilhas com seus projetos vís;
não são os gangsters, ternos risca-de-giz,
que idealizados pelos filmes são,
mas um governo alternativo em que estão
tribunais organizados, consoante a imprensa diz,
pena de morte a decretar constantemente,
a conservar o povo pobre temeroso
ou os milicianos que dele têm cuidado,
por boas contribuições, naturalmente...
Mas por mais que me acusem de guloso,
sempre prefiro o CREME organizado!

CRIME ORGANIZADO II

O monopólio do poder teria o governo
e o poder de polícia a ele só pertenceria,
mas em quatorze anos de esquerda se veria
para os comandos repassar poder superno!
Diziam os Romanos: Facilis descensus Averno,
ou que ao Inferno alguém fácil desceria...
Por que um governo assim permitiria
competição de poder em seu interno?
Muitas denúncias já ouvi que financiaram
os reis da droga numerosas eleições
e que os eleitos bem souberam retribuir!
E também há os que igualmente desconfiaram
que há no Congresso claras representações
que o crime elege abertamente e sem fingir!

CRIME ORGANIZADO III

Nem sei porque entrei agora nesta linha,
talvez influência destas eleições,
sempre os melhores a sofrer amputações
só nos restando os extremos desta vinha;
não se reelegeu muita gente que antes tinha
o rabo preso por suas corrupções,
mas como posso confiar nas formações
desse Congresso que agora se avizinha?
Tenho certeza de que em Segundo Turno
será eleito Jair Messias Bolsonaro,
ficando o partido derrotado mais soturno,
mas sempre pode algum Crime reagir,
qualquer projeto a custar bastante caro,
num digladiar rancoroso e diuturno!

SINOS A REBATE I – 5 OUT 2018

Hoje escuto o sofrer dos carrilhões
que só espancados se sabem expressar,
em brônzeo gongo pelo mundo a espalhar
os sons desamparados de orações.

De fato a rebater minhas emoções,
só o meu sangue nos ouvidos a pulsar;
não sei se irá democracia se instalar
ou se é fator a desencadear revoluções.

Os que defendem os direitos humanos
dos assassinos e dos apenados,
que batem palmas para policiais assassinados

que os descendentes de europeus e de africanos
buscam lançar uns contra os outros sem motivo,
rancor difuso afogueando para ativo.

SINOS A REBATE II

Há anos essa estratégia gramsciana
vem em nossa nação sendo aplicada,
uma revolta artificial sendo criada,
que nas universidades se proclama,

delações a sugerir, de forma insana,
não contra a corrupção desenfreada,
mas que a família seja destroçada,
feito ocorria na feição staliniana,

a insuflar os afrodescendentes
com uma “dívida histórica” inventada,
referida a exploração dos ascendentes,

como se apenas esses tivessem sido escravos
e não os avós dos eurodescendentes,
por dois mil anos a sofrer piores cravos.

SINOS A REBATE III

De boca cheia a falar em ditadura
e ao mesmo tempo defendendo a Venezuela,
a opressão cubana achando bela
ou lá na China ainda presente a escravatura.

E tantos dizem que ocorreu tortura,
os que em criança contemplavam da janela,
quantos nascidos depois dessa procela,
que na Coreia do Norte ainda perdura.

Mais certamente o que lastimam é ter perdido
aqueles ossos que haviam abocanhado
e vão tentar por qualquer meio imaginado

impedir que se instale uma igualdade,
qualquer união nacional o seu partido
a recusando na mais hipócrita vontade!

SINOS A REBATE IV

Certo em política eu nunca me envolvi
e muito menos adotei ideologias,
todos os “ismos” não mais que fancarias,
mas olhos tenho para ver e muito eu vi,

os falsos grupos sociais eu assisti,
suas invasões recebendo as elegias
desse governo por diversas vias
do Desarmamento a intenção bem compreendi,

como uma forma de tornar inerme o povo,
de tal modo que tais grupos bem armados
facilmente alheias posses conquistassem;

não que exista nisso algo de novo,
são os mesmos métodos tanta vez usados
por demagogos para que ao poder se alçassem.

PÊNDULOS I – 6 OUT 2018

TANTO SE FALA EM DIVIDIR AMOR,
TANTO SE IMPELE À PARTILHA DA ESPERANÇA,
SEGUNDO DIZEM, MAIS AMOR ALCANÇA
QUE DA ESPERANÇA O INDEFINIDO ARDOR.
JÁ ESTÁ EM TEMPO DE RETOMAR OUTRO TEOR,
QUE SEJA UMA EMOÇÃO GENTIL E MANSA,
QUE ASSIM DESFAÇA ESSA SOTURNA TRANÇA
DOS ÚLTIMOS DIAS REFUTANDO SEU PENDOR.
PREFIRO MESMO SÓ FALAR DO QUE APRECIO
E A EMBATES POLÍTICOS ME FURTAR,
MAS ME PARECE QUE ME DEIXEI INFLUENCIAR,
ACOMETIDO TALVEZ POR IGUAL BRIO,
QUANDO ACREDITO REALMENTE QUE A POESIA
NÃO DÊ PRETEXTO À DIFUSÃO DE IDEOLOGIA.

PÊNDULOS II

PARA MIM DEVE A POÉTICA CRIAR-SE PURA,
SEM APOIAR QUALQUER POLÊMICA OPINIÃO,
MOSTRAR-SE ALHEIA A CENSURA OU OPRESSÃO,
QUER DA MORAL OU POLITICAMENTE BURRA,
QUE ARTE DEVA SER ARTE E NÃO TORTURA,
MAS VEJO TANTO AO DERREDOR MALVERSAÇÃO,
USANDO VERSOS NO ATIÇAR DE UMA EMOÇÃO,
QUE FELIZMENTE, BEM POUCO TEMPO DURA,
POIS A POESIA NUNCA DEVE SER ANCILA,
ISTO É, CRIADA, DE QUALQUER FILOSOFIA,
NEM TAMPOUCO A DIFUNDIR A TEOLOGIA,
SALVO AQUELA QUE UM CORAÇÃO ATILA
A ESPICAÇAR OS ANSEIOS QUE JÁ TINHA,
SEM PRETENDER IMPOR PALAVRA MINHA.

PÊNDULOS III

PORTANTO, SÓ IREI DIVIDIR MINHA ESPERANÇA,
DESDE QUE ALGUÉM, APÓS LER ISTO, SE DISPONHA
E NUM CANTINHO DO CORAÇÃO DEPONHA
QUALQUER MENSAGEM ARCOIRISADA DE BONANÇA.
QUE NO MEU PRÓPRIO CORAÇÃO VIVE A CRIANÇA
QUE A MARAVILHA EM TANTA COISA PONHA,
QUE NUM FUTURO DE OUROPEL AINDA SONHA,
MESMO NA VIDA A PERDER CERTA PUJANÇA.
MAS ACREDITO NESTE POVO DO BRASIL
QUE TANTA GENTE APRECIA DESPREZAR
E TANTOS MAIS CONSEGUEM ILUDIR
E AINDA ACREDITO NESSE “AMOR FEBRIL”,
QUE A UNS QUANTOS DE NOS AINDA CONGREGA,
EM PATRIOTISMO CONTRA O MAL QUE TANTOS CEGA.

PÊNDULOS IV

TANTOS DIZIAM QUE O ANTIGO PRESIDENTE,
PASSADOS OITO ANOS, VOLTARIA;
EU SEMPRE DISSE QUE ISTO NÃO OCORRERIA:
UM PRESIDIÁRIO A GOVERNAR A NOSSA GENTE?
TANTOS DIZIAM QUE SERIA INUTILMENTE
QUE A LAVA-JATO A CORRUPÇÃO COMBATERIA;
EU, AO CONTRÁRIO, ATÉ SEM CRER, DESEJARIA
QUE TAIS CASSANDRAS AINDA ERREM TOTALMENTE.
TENHO ESPERANÇA NESTA NAÇÃO VALENTE
E NESTE POVO QUE EM NADA É PREGUIÇOSO,
POR MAIS QUE TENHA DE LUTAR CONTRA A POBREZA
E AINDA ACREDITO NESSE AVANÇO SURPREENDENTE
DA RELIGIÃO, EM CRESCIMENTO TÃO VIÇOSO
QUE UNA AS FAMÍLIAS CONTRA O MAL QUE TANTO AS LESA!

REAÇÃO I – 7 OUT 2018

No rugir da tempestade de tua mente,
Por teus ouvidos a estrondar em cataratas,
Que essa miséria do mal assim combatas,
Que tanto dano causou à nossa gente.

Sobre amor já redigi antes frequente,
Não é preciso que este tema me rebatas,
Ainda estou afivelado nestas datas,
Sem da influência libertar-me totalmente.

Mas a esperança é a última que morre.
Segundo dizem (mas espero sobreviva!)
Razão não vejo para que pereça,

Nenhum motivo para tal concorre:
Que permaneça no teu peito altiva
E seu vigor dentro da alma permaneça.

REAÇÃO II

Nada pior haverá que a desistência,
Por mais que seja a espera dolorosa;
Quem sabe encares um botão de rosa,
A esperar que se abra em inocência.

Não esperas que murche em impotência,
Antes que brote a flor esplendorosa;
Alguém dirá que mesmo a mais viçosa
Pode morrer, devorada sem clemência

Por qualquer verme que no interior se instale;
Mas mesmo que aconteça essa tristeza,
Quem sabe é borboleta essa lagarta?

Que a rosa morra e seu perfume cale,
Mas que dela surja vida em sua beleza
Numa esperança que nunca se descarta!

REAÇÃO III

E caso seja a borboleta devorada
Por feio sapo ou belo passarinho,
Sua pequena morte encara com carinho,
Que a esperança da vida é continuada,

Porque essa rosa não morreu por nada
E a borboleta completou o seu caminho;
Talvez exista algum ovo pequeninho,
Nova esperança num ninho a ser deixada.

Porém a rosa, quem sabe, frutifique
E possa assim viver a sua semana,
Na esperança de manter seu roseiral.

Quem sabe abelha o seu ferrão aplique,
Levando o néctar à colmeia em que se irmana,
Nova esperança gerando outro fanal!

REAÇÃO IV

E a tempestade que se desata na tua mente
Não é em vão que nela então se embata,
Quem sabe ideia floresça nessa mata,
Débil neurônio que esperança te alimente.

Quem sabe o medo ou a tristeza descontente
Sejam varridos pelo vento que se abata,
Pequena esperança então ali se engata,
Crescendo aos poucos de forma permanente.

Caso tua mente só tranquila se mostrasse,
Nunca haveria a esperança de melhora,
De uma bonança a brilhar em nova hora

E essa luz finalmente se apagasse,
Sem que qualquer resquício te restasse
Do relembrado amor do teu outrora.

LARVAS DE MIOSÓTIS I – 8 OUT 2018

Nessa caixinha secreta de teus sonhos
Talvez penetre um dia algum besouro,
Pretendendo devorar o teu tesouro,
Ali deixando somente os mais tristonhos.

Se larva for de escaravelhos mais medonhos,
Algum ovo ali botando de desdouro,
Ou então larva de berne que teu couro
Talvez perfure em círculos bisonhos.

O que é certo é que maus pensamentos
Em ti penetram como vivas criaturas,
Pois “emprenhar pelo ouvido” já escutaste,
Talvez a causa de muitos sofrimentos,
De depressão, melancolia e outras agruras,
Das quais dificilmente te escapaste.

LARVAS DE MIOSÓTIS II

Ou, quem sabe, é uma larva de joaninha,
A carochinha de quem dizem: “Voa, voa,
Joaninha, que teu pai foi pra Lisboa!”,
Uma gentil, inofensiva criaturinha.

Talvez te conte Lendas da Carochinha,
Contos felizes que a tristeza não destoa,
Todo perigo a ser vencido em ação boa,
Qual tantas vezes te narrou a tua avozinha!

Pois nem todo o pensamento que te invade
Em si mesmo possui má intenção,
O que importa é a forma que reages,
Algum gerando, talvez, felicidade
Ou qualquer plano para tua progressão
Ou alicerce para ti de fortes lages!...

LARVAS DE MIOSÓTIS III

Também meus versos constituem pensamento
Que em ti talvez penetrem sem notar,
Sem intenção de nada te roubar,
Mas de deixar algum feliz pressentimento.

São larvas de miosótis, puro alento
De uma esperança azul a te mostrar,
Flores gentis que não vão te pressionar,
Que aceitarás conforme o julgamento,

Ou que podes, simplesmente, rejeitar,
Porque meus versos não vão te devorar,
Talvez apenas te contar uma historinha
Que nunca ouviste ou, quiçá, já esqueceste,
Alguma velha esperança que perdeste,
Já que à Lisboa um dia voou a tua joaninha!

Feiticismo 1 – 9 outubro 18

Igual que fada em folclore adulto
São os beijos de amor que me devotas,
Em cada ânsia de espera que denotas,
Tal qual de feiticeira sem indulto.
Quando contemplo a sedução do vulto,
Pois teu encanto só renova e não o esgotas,
Cada carícia com que tu me dotas
Qual deusa antiga impele-me a teu culto.

Nessas histórias contadas a crianças,
A intervenção das fadas é bem pura:
Os maus castigam e produzem cura
De algum herói ferido em tais andanças;
Não há de fato conotação sexual,
Só a beleza feminina ainda sensual.

Feiticismo 2

Já nos contos de fadas mais modernos
Surge uma fada como a diva sedutora,
Em perfeição sexual encantadora,
Seus dotes físicos permanentes e eternos;
Mas na verdade esses poemas ternos
Só nos retornam, após longa demora:
São as deusas e as ninfas de um outrora,
Um dia banidas pelos padres aos infernos.

Assim as fadas substituem as musas
E em alguns países de católico rigor,
Até as fadas, encaradas com temor,
Substituídas em ecléticas eclusas
Por avatares de Nossa Senhora,
Como vigária da Grande Mãe do outrora.

Feiticismo 3

Mais facilmente será chamada feiticeira
Qualquer mulher de mais ardente sedução
Do que essas ninfas da antiga geração,
De quem as fadas retomaram a dianteira,
Mas pouco importa qual seja a maneira
Com que refiro esta minha exaltação,
Essa senhora do meu coração
É a feiticeira e a minha fada companheira.

Quando eu adoeço, ela vem a me curar
E se do coração foge a esperança,
Ela a restaura com seus beijos de bonança,
Aqui o fádico e o feiticismo a misturar,
No seu antigo e inocente paganismo
Que me protege de meu próprio cabalismo.

Em Celibato Alheio 1 – 10 outubro 2018

Eu bem queria, ai, como eu queria
Arreganhar novamente essa paixão
De meu primeiro beijo, a exaltação
A pular dentro do peito em doce orgia.

Eu bem queria, ai, eu pretendia,
Trazer de novo a pureza da emoção
Que me envolveu em reciprocação,
Naquele mesmo sentimento de euforia.

Mas não se pode, restando só a memória,
A vida passa como um trem ao vento,
Seus trilhos predispostos de antemão,

Que o amor une, mas empalidece a glória,
Novos beijos se repetem, sem portento,
Como o carinho esfaimado da ilusão.

Em Celibato Alheio 2

Porque eu desejo, ai, como eu desejo
Conservar-me neste clima de verdade,
Sem me deixar macular pela vaidade
De gozar às escondidas de outro beijo.

Porque eu desejo, ai, ter outro ensejo
De te encontrar e então quebrar a castidade
Contigo mesma em real necessidade
De um beijo teu, bem mais  forte que um adejo.

Mas para outrem, manterei o celibato,
Sabendo controlar qualquuer impulso,
Porque conheço bem meu coração

E se qualquer outra beijasse, triste fato,
Dentro do sangue explodiria o pulso,
Na mesma sombra gris da exaltação.

Em Celibato Alheio 3

Contudo eu sei de fato, ai, como eu sei
Que à paixão se substitui sinceridade,
Amor composto de carinho e lealdade,
Amor que em beijos só não sentirei.

Porque eu sei, ai, sei bem como direi
Essa frase, “Eu te amo”, em igualdade
Com a dos tempos da primeira iniquidade,
Quando minha própria vida desprezei.

E mesmo que hoje me atinja outra paixão,
Terei cuidado de em tal não me prender,
Por mais delícia a encontrar nessa emoção,

E saberei bem fiel permanecer,
Mesmo mantendo o celibato alhures,
Meu celibato para ti nenhures!

Enfarto do meu Cárdio 1

Quando paixão é só o que nos une,
Ela logo se queima, se incinera,
Sempre que amor se constitui em mera
Ânsia total que dói e que nos pune.
Mas quando há algo mais que nos reúne,
Quando se sabe que em casa nos espera,
Um abraço, um sorriso, mais se gera
Um sentimento que de ardor nos mune;
Porque amor é um sabor de permanência,
De ter amor em perfeita segurança,
Desse amor feito de perfeita lealdade,
Mesmo que a vida se vá em evanescência,
Esse amor velho, adulto, amor criança
Que nos protege de nossa própria humanidade.

Enfarto do meu Cárdio 2

Amor paixão é sempre coisa perigosa,
No seu controle inteiro do organismo,
Que o abismo do amor chama outro abismo
A própria alma conquistada e temerosa,
Que não consegue resistir à onda viciosa,
Em doação, porém não em altruismo,
Inevitável, ao se aceitar protagonismo,
Que nem se aceite, mas cadeia portentosa;
É jaula rubra que engloba o coração,
Nesse momento de total vigoração
Do corpo inteiro sobre a mente inquieta,
E então, nessa quimera de ilusão.
Que a gente sente etérea e bem concreta,
Quebra-se a grade e nossa dor completa.

Enfarto do meu Cárdio 3

O coração então se perde nessa parte
E o corpo segue avante, anestesiado,
O coração a seguir descontrolado,
Da paixão a suplicar não ter descarte,
Porque esse coração de alheia arte
Está preso nesse amor desarvorado
Que a ser interrompido é destinado,
Depois que a tal paixão dele se farte;
E ao coração se diz, que se quiser
O nosso passo venha a acompanhar,
Caso não queira, que fique para trás,
Porquanto a vida prossegue em seu mister
E uma paixão sempre terá de abandonar
Em quarto escuro, com tantas preces más.

Enfarto do meu Cárdio 4

Então o coração, no seu despeito,
Nos ameaça de provocar enfarte,
O miocárdio de frio a sofrer quarte,
Todo arranhado no interior do peito
E a alma diz ao coração que tem direito
De se manter de nossa mente aparte,
Mas é o cérebro que controla seu destarte,
Não pode impor-nos seu transitório jeito,
Que enfartar o miocárdio apenas serve
Para o corpo conduzir ao hospital,
Quem sabe ali contraíndo bactéria!
E nessa raiva em que o cárdio ainda ferve
Então se jogue, vagabundo, no caudal,
Que seguiremos, sem emoção mais séria!

Enfarto do meu Cárdio 5

De fato, é triste abandonar o coração,
Órgão pulsante de toda a nossa vida,
Sempre que a mente já está desiludida
E não aceita mais sua intervenção;
Por algum tempo, os hormônios suprirão
A sua ausência vermelha e presumida,
Alguma artéria à tarefa cometida,
Só a adrenalina não controla a pulsação!
Mas é preciso que abandone essa paixão
Em qualquer escaninho do passado
E recupere sua inicial função,
Mantendo o sangue em seu fluxo apressado,
A mente em zen a controlar toda a emoção,
De seu orgulho sendo o órgão assim podado.

Enfarto do meu Cárdio 6

E finalmente se conforma o coração,
Encaixotanto seus momentos de loucura,
A nos pedir perdão pela ânsia impura,
Pois sem ter sangue não nutrirá paixão
E então recebe esse integral perdão
E torna ao peito, a prestar solene jura
Que em sua função precípua nos perdura
Só impulsionando nossa circulação,
Pois só a mente deve controlar o amor,
A lealdade mantida em segurança,
Do amor antigo a conservar calor.
Porém no quarto escondido da ilusão,
Ainda vive em sua desesperança
Aquela inútil, mas perenal paixão!

William Lagos
Tradutor e Poeta – lhwltg@alternet.com.br
Blog:
www.wltradutorepoeta.blogspot.com
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