terça-feira, 28 de fevereiro de 2023


 

 

NASREDDIN-HODJA E ZALINA XI – 3 JUL 2022

 

Claro que era uma briga sem motivo,

que aquelas aves nem pretendiam caçar,

mas Zalina insistiu no mesmo crivo:

“O primeiro é meu e não vou te dar!...”

“Não, mulher, serei nisso incisivo,

o primeiro é meu, eu que vou determinar!”

Levaram horas nessa tola discussão,

Há muito os gansos no céu já não estão!

E como a noite já se aproximasse,

a teimosa, ao se ver desapontada,

sem conseguir, por mais que ela berrasse,

pelo marido sua insistência contrariada,

fechou os olhos, como se desmaiasse:

“Já percebi que deixei de ser amada

e se o primeiro não posso hoje obter,

vou me deitar agora até morrer!...

Nasreddin continuou, tranquilamente,

a fumar o seu cachimbo, descansado

e também se foi deitar, eventualmente,

sem pela falsa morta sentir-se perturbado.

Ela passou a noite inteira ali dormente,

porém adormecida, havia respirado;

Nasreddin escutou seu calmo ressonar,

sem a menor intenção de o atrapalhar...

Mas no outro dia, quando foi se levantar,

Zalina estava imóvel novamente,

Sua respiraçãoo de novo a controlar...

Nasreddin observou-a, calmamente.

“Ouve, mulher,” – se decidiu a falar,

“Se tu morreste, eu vou chamar urgente

as tuas vizinhas para o corpo te lavar

e em seguida o teu enterro preparar.”

“O primeiro é meu?” – a teimosa lhe indagou.

“Não, não é!... – lhe respondeu o marido.

“Pois então,” – a obstinada continuou,

“Chama as vizinhas, sem hesitar, querido,

que me lavem e me enterrem!” – lhe afirmou.

“Que vais fazer depois que eu tiver morrido?”

“Ora,” troçou Nasreddin, “vou me casar de novo,

Há muita mulher disponível neste povo!...”

 

NASREDDIN-HODJA E ZALINA XII – 4 JUL 2022

 

“Já entendi que não me amas, portanto já morri,

mas não vais achar ninguém melhor que eu!”

“Menos teimosia será a outra que escolhi

e é até capaz de ter um filho meu!...

Quando a cegonha apareceu, bem que eu ouvi:

‘Leva para outra esse nenê, que é teu!’

Se não conhecesse tua teimosia medonha,

teria até chamado de volta essa cegonha!...”

“Mas não adianta discutir, eu já estou morta,

a não ser que o primeiro ganso seja meu!”

“Tua teimosia então não mais importa,

eu não consinto que aquele ganso seja teu!”

Zalina a respiração de novo corta

e Nasreddin ao seu desejo obedeceu:

foi chamar três vizinhas, que a lavaram

e para o sepulcro então a prepararam!

Elas chegaram e a julgando morta,

pois não fazia o menor movimento,

lavaram o corpo da teimos torta

e a vestiram, sem o impedimento.

Nasreddin do mesmo modo se comporta:

“Ora, Zalina, levanta desse assento,

senão vou ter de ir avisar a autoridade

de que te encontras morta de verdade!”

“O primeiro é meu?” – de novo ela indagou.

“Claro que não, larga de ser pretensiosa.”

“Pois então, avisa!” – mas logo se calou,

vendo uma vizinha a trazer pratos, prestimosa

e logo o carpinteiro ali chegou,

para tomar as medidas da asquerosa.

Foi à oficina preparar seu ataúde,

já perto estava o seu destino rude!

Nasreddin novamente lhe falou:

“Levanta de uma vez daí, Zalina,

daqui a pouco o ataúde já chegou!”

“O primeiro é meu?” – com voz bem fina.

“Não, não é!  Nessa tolice não pensou?”

Logo o carpinteiro com o caixão se aproximou

e Zalina foi posta ali, amortalhada,

muito quieta continuando ali deitada!

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023


 

 

UNDA FLUXIT ET SANGUINE I

(Correu água e sangue)  --  22 fev 2023

 

Discorre a lenda da Lança Sagrada

que quem a brande sempre irá vencer,

porém somente até o ponto de a perder,

para outra mão tal magia a ser levada.

 

Seria a Hagia Lankhê  no Iran forjada,

inicialmente para a Xerxes pertencer,

de fato numerosas vitórias a obter,

até a Hélade ser por suas tropas atacada.

 

Segundo a lenda, a lança foi perdida

em certa batalha travada com coragem,

às mãos de Agesilau enfim chegada,

 

que os inimigos levou sempre de vencida,

porém deixou-a para trás em uma viagem

até o Egito, enfim sua morte ali encontrada.

 

UNDA FLUXIT ET SANGUINE II

 

Pelópidas de Thebas teria dela se apossado,

a Guerra do Peloponeso assim vencendo,

mas a perdeu e acabou também morrendo,

igual destino para todos sendo achado.

 

Às mãos de Alexandre o prêmio foi passado,

sempre vitorioso enquanto combatendo,

mas por veneno ou doença perecendo

e a Pirro do Épiro teria então chegado.

 

Eventualmente sua haste se quebrou,

nessas batalhas contra Roma travadas

e algum legionário dela se apossou.

 

Com nova haste a César alguem depois a deu,

ambas as Gálias por ele conquistadas,

mas que à traição finalmente pereceu.

 

UNDA FLUXIT ET SANGUINE III

 

Teria a herdado enfim aquele centurião,

chamado Marcellus Longinus, o qual presidiu

a crucifixão de Jesus e a contragosto a impeliu

contra Seu lado, sem saber bem a razão.

 

Água e Sangue teriam jorrado na ocasião,

quando Dele sequer um osso se partiu

e o corpo inteiro José de Arimatéia conduziu

ao próprio túmulo que fora escavado de antemão.

 

Surgiu dali a religiosa convicção

de que esse golpe cravado no Seu Lado

à velha lança teria enfim santificado.

 

Carlos Magno a teria recebido em ocasião,

seu Reino Franco imenso conquistado,

até sua morte a conservá-la em possessão.

 

UNDA FLUXIT ET SANGUINE IV

 

Teria depois tido um destino incerto,

até William, o Conquistador a ter usado

e a maior parte da Grã-Bretanha conquistado;

mas de todos nós morte será destino certo.

 

O seu destino ficou então em aberto,

até por Napoleão ter sido dominado,

em algum ponto da Alemanha a ser deixado

ou em Waterloo ou em qualquer ponto deserto.

 

Até que a Hitler alguém a entregou,

com a qual a Europa inteira conquistou

e enfim para a Antártida a teria enviado,

 

com cinco mil casais arianos, que deveriam iniciar

o Quarto Reich, o seu poder a empregar,

seu ideal que até hoje não tendo sido realizado!...

 

A LANÇA DO DESTINO I – 23 FEV 23

 

Muitos lugares já se afirmaram conservar

a Santa Lança ou o Lança do Destino.

A Basílica de São Pedro em duplo tino,

desde o século Sexto sua posse iria afirmar.

 

Ou os Templários a teriam ido buscar,

na Basílica do Monte Zion ou em gesto fino

Mehmet de Istambul a enviou por peregino,

para a boa vontade do então papa preservar.

 

No Monte Zion afirmou Cassiodoro poder vê-la,

depois levada para Hagia Sophia ou Santa Sofia,

onde o sultão conquistador pôde obtê-la,

 

embora outra tradição fale da França:

Louis XI na Sainte Chapelle a entronizaria,

para a seu reino prodigalizar bonança.

 

A LANÇA DO DESTINO II

 

Também na Armênia afirmava-se encontrar,

em um mosteiro chamado Echmiadzin,

nome mudado para Vabharshapat assim,

Stalin para Tiflis mandando-a transportar.

 

Porém da França para Nürnberg a foram levar,

dali para Viena sendo levada enfim;

Hitler ordenou buscá-la para o fim

de vitorioso em suas guerras se tornar.

 

No Kunsthistorisches Museum de Viena

ainda é mostrada a lâmina sagrada,

mas exames científicos nela a se realizar,

 

afirmam não ser anterior ao século VII sua cena.

Pode uma dessas réplicas enfim ser adotada,

ou para a Antártida um submarino a foi levar?

 

A LANÇA DO DESTINO III

 

O Evangelho de São João menciona só o soldado

que cravou a lança no corpo de Jesus,

estando este ainda pregado na sua cruz,

porém seu nome não se encontra registrado.

 

Só pela tradição e por um Apócrifo revelado,

Marcellus Longinus por tradição reluz,

 como São Longuinho sua santidade se produz,

mas nem se sabe se em cristão foi transformado.

 

À Hora Nona (Três da Tarde) imensa tempestade

teria em noite transformado o dia,

quando Longinus em alta voz proclamaria:

 

 “Este era um Filho de Deus na realidade!”

E um relâmpago então a lança acenderia,

o original Fogo de Santelmo criando na verdade!

 

A LANÇA DO DESTINO IV

 

Porém é estranho que fosse um centurião

a comandar essa guarda do Calvário,

talvez castigo por qualquer ato nefário,

ou quem sabe? fosse somente um decurião.

 

Quatro legionários menciona a tradição,

que o manto de Cristo disputaram ao erário

de um jogo de dados, para destino vário...

Qual seria afinal sua graduação?

 

Crucificados morriam de sufocação:

o corpo pendia, oprimindo seu pulmão,

contra o escabelo então seus pés firmavam.

 

Quebradas as pernas por pura compaixão

ou porque da espera os soldados se cansavam.

Por que em Jesus foi diversa essa atuação?

 

CONTROVÉRSIA I – 24 FEV 2023

 

Por mais que tanto hoje se fale de machismo,

a maioria dos homens é perfeitamente dispensável,

o sacrifício de mulheres sempre mais condenável,

numa atitude de racional protecionismo.

 

Os exércitos formados em tal racionalismo

só por homens, por serem perda reparável,

não ocorrendo assim real perda apreciável,

mulheres férteis os substituiriam em realismo.

 

Mesmo hoje em que o exército e a marinha

mulheres adicionam em seu contingente,

raramente as colocam em arriscadas posições,

 

reconhecendo que mais valor mantinha

qualquer mulher em menstruação potente

para das mortes garantir as reposições.

 

CONTROVÉRSIA II

 

Deviam as mulheres tomar conta só do lar

e presidir à educação de suas crianças,

enquanto os homens enfrentariam as andanças,

com seu trabalho suas famílias sustentar.

 

Em Esparta sistema diverso a praticar,

só até os sete anos sob as governanças

femininas e a seguir perante as lanças

de um estrito preparo militar.

 

Mas não havia realmente a sujeição:

quando Pirro tentou Esparta conquistar,

estando os homens ausentes numa guerra,

 

tomaram as esposas da defesa a direção

e conseguiram aos Epirotas enfrentar,

a defesa assegurando de sua terra.

 

CONTROVÉRSIA III

 

Os homens, em geral, morriam cedo

e as mulheres que de parto não morressem

dariam à luz homens que os sucedessem,

da sobrevivência da cidade o seu segredo.

 

Mas em períodos de paz o arcano medo

de que inteiros povos se extinguíssem

perdeu a razão de ser e se perdessem

tais preconceitos, a se lançar para o degredo.

 

E se alguns homens são ainda violentos,

é porque sabem, mesmo inconscientemente,

que continuam sendo dispensáveis,

 

do sexo frágil a ser os veros elementos,

ainda nutrindo em si temor latente

de serem fracos ao demostrarem-se amoráveis.