quarta-feira, 6 de dezembro de 2023


 

A MOCHILA MÁGICA (Folclore irlandês, em versão poética de

WILLIAM LAGOS, 8 OUT 13 (BRITISH SOLDIERS)

 

A MOCHILA MÁGICA I

 

Era uma vez um soldado irlandês

que combatera nas guerras do rei,

contra a França, a Espanha e a Dinamarca;

nunca recuara no chegar sua vez

de avançar, em cumprimento à lei:

a pé, em geral; em outras, numa barca,

mostrando sempre o mais real valor

sem jamais desonrar seu uniforme,

embora, às vezes, se sentisse desconforme

com o Rei da Inglaterra, seu dominador.

 

Aos quinze anos, ele fora convocado,

mais quinze anos até chegar a paz,

sem que nunca seu soldo fosse pago;

porém agora, ao ser desmobilizado,

fez as contas de cabeça o bom rapaz...

Para pequena granja, junto ao lago,

em que pudesse plantar umas batatas,

trigo e cebolas, ter uma vaquinha

e arranjar uma esposa bonitinha

daria o dinheiro, calculando as datas...

 

Certamente, teria mais de quatrocentas

libras no bolso à sua disposição,

mesmo que o soldo fosse um pouco baixo:

dois xelins por semana e os sustentos,

menos de libra por mês a sua porção,

mas tinha quinze anos nesse facho...

Ficou assim a aguardar no acampamento,

até chegarem os tenentes pagadores,

com livros grossos e penas tais senhores

e de sacos de moedas provimento.

 

Chegado o dia, tomou lugar na fila,

esperando seu nome ser chamado.

Uma ficha recebeu e, novamente,

entrou na linha, como ovelha em esquila,

na espera de se ver recompensado

por tantos anos obedecendo fielmente...

Os pagadores eram dez, cada mesinha

trazia dois números, as fichas indicando.

O bom soldado foi sua fila procurando

E entre 2001-2500 então se alinha...

 

A MOCHILA MÁGICA II

 

Ficou a olhar o movimento, distraído,

batendo papo com seus camaradas...

Fazia um belo dia, certamente:

com aquela rapaziada havia corrido

muitas batalhas e muitas invernadas;

saudade iria sentir de muita gente...

À própria aldeia não pensava retornar;

a mãe morrera, seus irmãos dispersos,

imigrados para os países mais diversos,

sua velha casa a ventania a derrubar...

 

Por que, então, haveria de voltar?

Salvo se houvesse uma granja ali por perto

que, com seu soldo, pudesse adquirir...

E distraído no seu calcular,

seu cuidado mal e mal era desperto

pela voz de camaradas a discutir...

Até chegar-lhe uma certa inquietação

que ao longo de sua fila perpassava...

Muita gente percebeu que reclamava,

insatisfeita com o pagamento na ocasião.

 

Porém Brian, como era o nome do soldado,

não demonstrou grande preocupação

até chegar à cabeceira de sua linha.

Percebeu serem conduzidos do outro lado

os que haviam sido pagos de antemão,

resmungando protesto em ladainha...

E reparou numa tropa bem armada,

composta apenas por soldados ingleses,

enquanto as armas haviam entregue os irlandeses,

antes da fila ser toda organizada...

 

Prestou atenção e viu que protestavam

por receberem menos que o esperado,

mas acabavam as contas aceitando.

Destacamentos os pagadores apoiavam,

tranquilamente era tudo argumentado

e os soldados terminavam assinando.

Eram então conduzidos até a estrada,

após passarem pelo alojamento,

em que ganhavam um pacote de alimento

e uma garrafa de uísque ainda fechada...

 

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