Imagem: http://harikrishnanp.wordpress.com/
ENVOLVIMENTO I
EU BUSCO A ORLA
subjacente a meus ideais secretos,
a meus anseios tolos, mas diletos
DE ESTAR CONTIGO.
BUSCO A BAINHA
dessa espada afiada que avizinha,
brincando, da maneira mais mesquinha,
COM MINHAS ARTÉRIAS.
PROCURO A FÍMBRIA
desses teus lábios cheios de ternura,
um coágulo de amor na comissura:
BASTA-ME A ORLA.
PROCURO A MARGEM,
sem que jamais me encha de coragem,
sem me esforçar por ter qualquer vantagem,
AO LADO TEU.
E ENTÃO ALCANÇO
tão somente o amor do meu fantasma,
dessa mulher interna que me orgasma
E ESTOU CONTIGO.
ENVOLVIMENTO II
EU FUJO A TI
nessa doçura morna que me expande,
nesse amargor saudável, delirante
DE MAL-ESTAR.
NÃO TE PROCURO
por não querer enfrentar teu olhar duro,
porque me sinto, afinal, tão inseguro
DE CONQUISTAR.
APENAS PENSO
nesse palor que me reclama, imenso,
em como poderia um som intenso
ENGAIOLAR.
TENHO PALAVRAS
desde o fundo da garganta retinindo,
que teus ouvidos não ficarão ouvindo,
PORQUE ME CALO.
POIS ENGASGADAS
no meu palato sempre ficarão,
sem serem ditas, porque recearão
OUVIR TEU NÃO.
ENVOLVIMENTO III
EU BUSCO A NÁUSEA
subjacente à minha busca ausente,
à multidão de recuos, tão frequente,
À DESANIMAÇÃO.
EU BUSCO O ENJOO
que se encontra em cada dia que eu escoo,
em cada noite em que abandono o voo,
SEM MAIS MOTIVAÇÃO.
BUSCO A SANDICE
que me faz recolher-me em minha tolice,
antes que o tato aflore tua ledice,
EM PERSPIRAÇÃO.
BUSCO O MARASMO
que me envolve nas nuances desse pasmo,
que me emaranha na mulher que só fantasmo,
NA IMAGINAÇÃO.
NA ARQUEOLOGIA
de todo vaivém, que em mim fazia,
se corredores mortos percorria
DA AUTO-ESCAVAÇÃO.
ENVOLVIMENTO IV
AFLORA AO PEITO
o coro triunfal de meu despeito,
as lavras longas desse extenso eito
EM DESAPONTAMENTO.
OLHO PALAVRAS
redigidas por mentes semiescravas,
que se rebelam ao se sentirem parvas
DE ESGOTAMENTO.
TERMINA O ASSUNTO:
a ponta de meus dedos assim unto
com suores de meu sonho defunto
DE ATURDIMENTO.
LAMBO MINHAS UNHAS
com o sangue escorrendo sobre as cunhas,
o ordálio sob o qual me testemunhas
RESSENTIMENTO.
RESTAM OS OVOS
fervidos sobre a chapa desses povos,
que se sublevam nos instantes novos
DO ALUMBRAMENTO.
ENVOLVIMENTO V
ÉS GALATEIA
a sombra do cinzel, branca epopeia,
esculpida por minhas cinzas, assembleia
ÉS AFRODITE
imaginada por quem mais te acredite,
perturbadora a quem teu corpo incite,
DE ESPUMA ROSA
ÉS DIANA AINDA
a caçadora de virgindade infinda,
a lua de prata com sua foice linda,
PUNDONOROSA
PALLAS-ATHENA
guerreira coroada de verbena,
a padroeira insensível de minha pena,
DEUSA GLORIOSA
MAS TE QUERIA JUNO
com quem me poderia tornar uno,
por cuja ausência eu a mim mesmo puno:
DOR RANCOROSA
ENVOLVIMENTO VI
NEM MESMO EU SEI
até que ponto te lancei encantamento
ou até onde foste tu que me lançaste:
SEQUER PENSEI
ATÉ JULGUEI
que esse encanto real fosse sentimento,
quando o sorriso sobre mim deixaste:
OU ESPEREI
ACHEI, TALVEZ,
que brotaria de ti algo concreto
e não fosse somente imagem minha
QUE O SONHO FEZ
SEM QUE ME DÊS
nem a centelha de um amor secreto,
nem a sombra mais tênue e mais mesquinha
NISTO QUE LÊS
E ASSIM EU FICO
amando a imagem que criei em mim
e que não poderá sair, enfim,
DO CORAÇÃO
ENVOLVIMENTO VII
OUTROSSIM
da vida é parte a geral reminiscência:
não se pode viver em liberdade,
NEM TER UM FIM
EU SEMPRE VIM
carregado de fatal inadimplência:
dos sonhos que troquei por saciedade,
SEM TER ASSIM
O GOSTO APENAS
de uma só vez ter chegado às minhas estrelas,
de uma só vez ser acolhido pelas fadas,
MÁGICAS CENAS
POIS HÁ DEZENAS
de descaminhos que conduzem até elas,
mas me faltou combustível nas jornadas
E A DURAS PENAS
PUDE ATINGIR
o cume das montanhas que alcancei,
no qual não sei por quanto tempo durarei,
ATÉ CAIR
ENVOLVIMENTO VIII
E EU PREFERIA
ter conservado apenas a ilusória
percepção que um passado amortecia,
QUE MAIS QUERIA
NÃO SENTIRIA
traída assim a centelha da memória,
na prata azul que a dor satisfazia,
QUE ME ILUDIA
E AGORA É TARDE:
pois a imagem superpôs-se toda à antiga
e nem recordo meu desejo e é isto
QUE ME ARDE
ASSIM ME ALBARDE
as montarias um fictício auriga
e então me afaste da memória o quisto
QUE ASSIM ME ENCARDE
A GENITAL TERNURA
que foi antes tão doce na lembrança,
mas que agora enxovalhou-me a esperança
ANTES TÃO PURA
ENVOLVIMENTO IX
QUEM FARIA
morta lembrança retornar à vida?
após um terremoto de vivência oculta,
QUEM NOS DIRIA?
QUEM NOS DARIA
reincidência real desta perdida
saudade inglória que a tanto nos indulta,
QUEM SABERIA?
E ENTÃO, RETORNA
e a vida se faz luz iridescente,
no rosicler intermitente da esperança
DA AURORA MORNA.
E SE CONFORMA
com o véu escuro, apenas transiente,
com o véu escuro, apenas transiente,
que a vida nova não é mais lembrança
E ENTÃO SE ESTORNA
DE FORMA TAL
que essa memória que à vida retornou,
já se diluiu, no momento em que mostrou
SEU ROSTO ATUAL.
ENVOLVIMENTO X
SEM TI
minha vida é feita de aridez somente,
mas sei que existe e isto é quanto basta
NO MEU AQUI.
POR TI
eu queimarei a vida indiferente,
destroçarei quanto de ti me afasta,
POIS TE PEDI
FICASSES
sempre a meu lado até chegar o fim
e mataria os teus dragões com a lança,
SE ASSIM ME AMASSES.
E SE CANSASSES
de me escutar a dizer coisas assim,
se apagaria o quanto a vista alcança,
SE ME DEIXASSES.
PORÉM
sinto tua mente comigo neste dia
e do casto candor canto a elegia,
HOJE TAMBÉM.
ENVOLVIMENTO XI
HOJE NEM SEI
se tua presença alegria me traria.
pássaros mortos no rubor da espera
JÁ NEM SONHEI.
MAL ME ACORDEI
com toda a falsa luz da melodia,
vendo a esperança uma esperança mera
QUE NEM TENTEI
CONCRETIZAR
em lágrimas de cor o meu talento,
desperdiçado em rumas de papel,
SEM MAIS LUGAR.
SEM REPASSAR
a consequência vã do apropriamento,
adjudicado no teor de um só cartel
DO IMAGINAR.
EM CONSEQUÊNCIA
a vida toda transformada em anel partido,
por mais que o sonho tenha perseguido
COM IMPACIÊNCIA.
ENVOLVIMENTO XII
QUANDO EU TE VIR
toda vestida do rosado de tua pele,
(mas que somente teu sorriso te desnude)
E TE SENTIR;
QUANDO EU OUVIR
um sussurro que à morte minha apele,
(sem nenhuma barreira que me escude)
E ME ESVAIR;
A MENTE DÓI,
só de pensar que nunca aconteceu
matar por ti o mais feroz dragão,
SEM SER HERÓI.
A MENTE RÓI
de misturar o teu perfume com o meu,
de te inserir bem fundo ao coração,
QUE O TEMPO MÓI
ESSA LEMBRANÇA
da flor azul que transplantei um dia
e que no fundo de ti cresceu esguia,
QUAL A ESPERANÇA.
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