segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

TOLICE DE FIM DE ANO



TOLICE DE FIM DE ANO I (10 DEZ 11)

A cada ano renova-se a esperança
de dias melhores pela nossa frente,
como se algo se tornasse diferente
e o representam como uma criança,

enquanto o ano velho, que descansa
é mostrado como ancião velho e doente,
após só doze meses, quando a gente
bem mais que um ano no geral alcança...

Por que então, tão só porque termina,
deveria o ano antigo envelhecer,
bem ao invés de se tornar adulto?

Ou ser guardado em imortal cantina,
em que goles se pudesse ainda beber
dos dias bons conservados em seu vulto?

TOLICE DE FIM DE ANO II

Talvez seja porque, mais raramente,
recordamos os dias de prazer
e pelas costas o queiramos ver,
com a indiferença que nos fez descrente.

Talvez que o Ano Velho se apresente
como um Papai Noel a se esquecer
de qualquer benfeitoria nos trazer:
cresce a criança e não ganha mais presente...

E então esse ano antigo desprezamos,
em rancoroso desapontamento:
não nos trouxe aquele beijo que pedimos.

E desse modo decrépito o julgamos
e deixamos para trás o seu tormento,
enquanto a novas esperanças nos abrimos.

TOLICE DE FIM DE ANO III

Isso é mais claro no viver da Europa,
quando o final do ano traz a neve
e rara é a árvore que então se atreve
a nos dar proteção sob sua copa.

No fim do ano, mais tristeza emboca,
enrolada contra o frio do dia breve,
sem qualquer aconchego ou brisa leve:
é branca a estrada sob a branca touca.

Traz geada e traz saraiva e à lembrança
vêm os cabelos brancos da velhice.
Por sobre a neve o passo é mais difícil

e facilmente o imaginar alcança,
no passo trôpego e na memória físsil
a tal imagem de que um velho então se visse...

TOLICE DE FIM DE ANO IV

Mas é verde o fim do ano no Brasil,
feito de chirca roxa e de alecrim,
de camomila, de trevo e de jasmim,
cálida a brisa sob um céu de anil.

Não se enxerga nas janelas o buril
da geada a esculpir o seu cetim.
É só o rocio que pinga para mim
e para ti, em seu fluir gentil...

Por que então representar por velho
esse tão forte e augusto semeador,
que os prados enche ainda de mais vida?

E por que mostrar janeiro nesse espelho
de uma criança de fraldas, sem pendor
para colher o que deixou na despedida?

TOLICE DE FIM DE ANO V

Nosso Ano Velho se mostra ainda robusto
e o ano entrante já é um adolescente:
colhe o milho e o azevém mais redolente,
enquanto o rega com o suor do busto.

Talvez devêssemos criar, a nosso custo,
um Ano Velho em Maio, já impotente
para conter o granizo mais pungente,
gastas as forças no rosto mais vetusto...

E em Junho, um Ano Novo bem vestido
e não somente de fraldas ou de cueiros,
capaz já de enfrentar as tempestades...

Pelos frutos do verão fortalecido,
nessa aguardança dos Setembros seresteiros
da primavera de amores e saudades...

TOLICE DE FIM DE ANO VI

Passa o solstício e se encurtam mais os dias,
no desperdício incontido de uma infância.
Esse contraste reflete a mesma instância
dos sorrisos pueris nas manhãs frias...

Mas entre nós, quantas vezes te iludias
com os suspiros envoltos em intrigâncias
desse verão de quentes alianças...

Dezembro canta diversas melodias,
sem revelar que em Janeiro chega o estio
e a relva verde transforma em amarela,
só interrompido por trovão e tempestade.

Quem sabe sejam seus gritos o pavio
da vela acesa solitária em tua janela
e que tais choros te recordem mocidade.

TOLICE DE FIM DE ANO VII

Porque, de fato, até sei por que Janeiro
deva ser jovem, logo após Dezembro...
Como veríamos velhice no Setembro
da primavera de caráter alvissareiro?

E certo existe mocidade em Fevereiro,
nos carnavais que desde a infância lembro,
enquanto Abril já é do outono membro
e Junho já pertence ao inverno inteiro.

Embora saiba que todo esse alvoroço
que se renova a cada fim de ano,
é mais reminiscência do passado...

Desse inverno europeu, atribulado,
que tanto lembra o lento desengano
do rei que entrega o trono ao rei mais moço.

TOLICE DE FIM DE ANO VIII

Mas para mim, esse final de ano
não me enche de tristeza ou de esperança.
Não espero por desastre ou por bonança:
só mais um dia de ilusório engano.

Mesmo porque o calendário gregoriano
já se encontra defasado e não alcança
os equinócios em sua gentil mudança:
sua precessão causou-lhe lento dano...

Portanto, meu amigo e minha amiga,
Não te desejo nada de especial,
salvo o que já te auguro a cada dia...

Que seja o amor teu dote natural,
corpo saudável em mente bem sadia
e que teu passo à luz do Sol prossiga...



Veja também minha "escrivaninha" em Recanto das Letras > Autores > W > Williamlagos e o site Brasilemversos > Brasilemversos-rs, em que coloco poemas meus e de muitos outros autores.
Edição e postagem: Andréia Macedo

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