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ALFARRÁBIOS I
Este é o problema com o conhecimento:
que sempre é insuficiente e quanto
mais
se percebe obtido, é que jamais
nos satisfaz inteiro o pensamento.
Foi a insatisfação do julgamento,
tal qual se encontra escrito nos
anais,
que provocou as decisões fatais:
e o Paraíso perdemos num momento...
Pois conhecemos tão só
imperfeitamente:
é muito fraca a luz destes fanais
e tal saber não passa de inexato.
E não busco mais saber, honestamente,
pois quero conhecer, mas não demais,
por não saber quão pouco eu sei,
de fato.
ALFARRÁBIOS II
Contudo, saber pouco é perigoso,
pois se pensa que se sabe muito mais:
não se admite não saber jamais...
O ignorante mostra-se orgulhoso
desse pouco que sabe e até vaidoso,
por enganar a si mesmo e aos demais.
Pois sabe que não sabe, mas naturais
são as desculpas para quem é
ardiloso...
Pois quem não sabe, pode até
reconhecer
para si mesmo como sabe pouco,
porém racionaliza que ninguém
pode, de fato, mais que ele saber...
E quem sabe um pouco mais, então
é louco
e não lhe dá mais valor do que ele
tem.
ALFARRÁBIOS III
Assim é que se embasa na experiência
que diz possuir. Cursou
"a faculdade
da vida", no que mostra sua
vaidade,
esfarrapada no crivo da
consciência...
Antigamente, afirmavam, tal sapiência
vinha da "escola da vida",
em realidade.
Os tempos mudam, hoje é a
universidade
que afirmam ter cursado, sem
frequência...
Mas quase todos, em geral, se
iludem:
porque a vida igualmente me
mostrou
quão pouca gente aprende com sua
vida.
Porque seus próprios erros não
entendem
e se percebe que nenhum deles mudou,
pois sua experiência quase nunca
é ouvida...
ALFARRÁBIOS IV
Mas olhando o meu passado, agora eu
sei
que adquiri algum conhecimento,
que aos poucos transmutei em
julgamento,
que em certos pontos, ao menos, eu
mudei.
Vivi meus erros e, aos poucos,
aceitei
essas lições colhidas num momento.
Meus erros repeti, a meu contento,
mas em acertos, passo a passo, os
transmutei.
Eu sei que me transformo pela vida,
enquanto os outros vejo sempre
iguais,
pois faço hoje o que antes não
fazia...
E a coisas que já fiz, dei despedida,
mas no fundo, não difiro dos demais,
pois se assim fosse, nada mais
transformaria.
ALFARRÁBIOS V
Pois tal conhecimento não ganhei
de conseguir parar de transformar-me.
Talvez descubra, para meu alarme,
ser este o erro maior por que passei.
Minha experiência não foi que
transformei
em crivo ou em padrão para adequar-me
ou em modelo ao qual possa comparar-me:
olhando para trás, sempre mudei...
E quem me diz que mudei para melhor?
Erros antigos parei de cometer,
talvez somente em câmbio de erros
novos...
Restos ficaram em mim do que é pior,
que me esforcei em vão por combater
e que arrancados, crescem em renovos...
ALFARRÁBIOS VI
E reconheço assim o impedimento
para obter-se real sabedoria.
Só consegui desposar a ironia
que está por trás de um falso
julgamento.
Sempre a encarar cada
acontecimento,
por pior que fosse o que me acometia,
com uma mescla de sarcasmo e zombaria
pela desgraça ou triunfo de um
momento.
Pois do triunfo sobrou só o
conhecimento
de tal instante que relembrar já sei:
logo a seguir se deseja outro começo.
Mas das derrotas há constante
pensamento,
cada uma delas mil vezes relembrei,
muito mais do que queria e nada
esqueço...
COCLEIAS E QUIASMAS I
Eu vou pedir passagem por teus olhos
e bater, discretamente, em tuas
pupilas,
que são da mente as mais fiéis
ancilas,
pois quero entrar de tua mente nos
refolhos.
Serão tuas lágrimas iguais aos santos
óleos
da minha extrema unção.
Extensas filas
de serafins, vivendo em simples vilas
nos canais lacrimais, cujos escolhos
já tantas vezes me naufragaram a
entrada.
Mas de novo insistirei, para tua alma
transformar em minha perene habitação.
Percorrerei o córtex, na longa
caminhada
e em teu tálamo me deitarei, em plena
calma,
a regular-te, gentilmente, o coração.
COCLEIAS E QUIASMAS II
Porém, se nas tuas órbitas me apego,
sou irritante de teus dutos lacrimais
e tuas lágrimas me expelem,
discordiais,
pois não me dão acesso nem
sossego!...
Pelas tuas faces, levemente, esfrego
meus pensamentos em lentos festivais;
teus sentimentos não aquecem meus
fanais
e as ilusões que eu queria não te
lego.
Porque teus olhos, que eu amava
tanto,
centelham anticorpos para mim,
a rejeitar-me, fluindo em plena
calma...
E assim percebo, para meu espanto,
quantos venenos que me dás assim,
igual que fungos a devorar minha
alma!
COCLEIAS E QUIASMAS III
Pois então, me ocultarei em teus
ouvidos,
protegido por teus róseos pavilhões,
a escutar de teus ecos multidões,
até os tímpanos, de vibrações
feridos...
E assim eu me exporei aos golpes
tidos
por três ossículos, em constantes
mutirões.
Fujo ao martelo e à bigorna, em
percussões,
porém me abrigo nos estribos mais
queridos.
E neles, trapezista, me balanço
para o interior desse teu labirinto,
em que talvez me perca eternamente...
Mas se a cocleia finalmente alcanço,
eu subirei por teus nervos, pois me
sinto
qual um sussurro enrodilhado na tua
mente.
COCLEIAS E QUIASMAS IV
Como um sussurro, na cocleia me
apresento,
como um lampejo apenas no quiasma.
O meu murmúrio, de leve só, te
espasma;
numa centelha, em teu olhar me
adentro.
Sobre teu córtex eu tomo o meu
assento,
qual obsessão perene de um fantasma.
Mas só tua mente racional se pasma
e minha impressão esvai-se como o
vento.
Como eu queria chegar ao mais
profundo
desses teus sentimentos e me instalar
como perene e fúlgida emoção!...
Mas entre as redes neurais eu me
confundo,
por mais constante que seja em
conquistar,
uma por uma, tuas grutas de
ilusão!...
COCLEIAS E QUIASMAS V
Talvez devera ter seguido outro
caminho
e te invadir os centros hormonais...
Ou pela hipófise ou nas suprarrenais,
para te abrir o coração, devagarinho...
E de endorfinas te encheria, com
carinho,
e acionaria tuas percepções neurais,
de dentro para fora, em naturais
canções de amor, a
descrever sozinho
visões de amor para teus olhos
cegos...
E desse modo, o labirinto acionarei,
a provocar em ti qualquer tontura,
que no futuro não te dará sossegos...
Seres tonta por mim te obrigarei,
na mais completa e mais real ternura.
COCLEIAS E QUIASMAS VI
E assim passagem não mais te pedirei,
por me encontrar em ti inteiramente.
Todas as glândulas eu te influenciarei,
serás escrava minha, totalmente.
Porém não te revoltes, que estarei
inserido em teu ser completamente.
Sair nunca jamais conseguirei,
só brotarei de teu seio qual
pingente.
E assim, eu nunca mais te perderei,
porque a mim mesmo nunca perderás,
já que em tua alma serei
profundo cravo,
pois quanto existe em mim eu te darei
e para sempre te conservarás
escrava minha, de quem me fiz
escravo.
Veja
também minha "escrivaninha" em Recanto das Letras > Autores > W
> Williamlagos e o site Brasilemversos > Brasilemversos-rs, em que coloco
poemas meus e de muitos outros autores.
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