At the Edge. Arte de Bryce Herrington
PARQUE DE DIVERSÕES I
Montanha russa foi minha vida toda:
altos e baixos, sempre inesperados...
Os outros a meu lado, apavorados
e eu só pensando em como a vida
engoda.
Altos e baixos, sem completar a roda
da sansara sem fim, corpos usados
por décadas apenas e então
lançados
de volta à terra... ou nessa tola
moda
de engavetar os restos, circo inútil:
festins e funerais, quanta sandice!
Se apenas giram sempre
iguais esferas...
De há muito já rachada a vida fútil,
girando sem parar, pura tolice,
no carrossel das mais breves
esperas...
PARQUE DE DIVERSÕES II
Ou talvez tenha sido outro brinquedo:
um barco, seja viking ou pirata
ou uma roda gigante em que se abata
toda a coragem esfumada pelo medo
de uma simples brincadeira sem segredo,
já controlados, desde longa data,
velocidade e o vento que se esbata,
contra meu rosto qual gélido dedo.
Há muitas variações da fantasia
dos giroscópios de toda a sociedade:
nada mais são do que alienações,
que para mim não têm qualquer valia,
sem me causar qualquer felicidade
e muito menos propiciar satisfações.
PARQUE DE DIVERSÕES III
É preciso lembrar que seus padrões,
tendo começo, fim terão bem
certamente.
Tudo o que nasce, morre... É ter
presente
que são da vida marés de
imitações.
Apenas nos controlam as durações
por um espaço limitado e
impermanente.
Os carrinhos se movem velozmente,
sobem e descem sem mais continuações.
E quando acaba o tempo desse mito,
surge um novo brinquedo pela frente,
que por instantes nos leva até as
alturas
para depois nos rebaixar até o
infinito,
por nossa vida não mais que
indiferente:
jogos apenas, mas de
ilusões bem duras...
PARQUE DE DIVERSÕES IV
Assim, eu não me abalo, se a maré
torna-se baixa em presentes
circunstâncias
ou se faz alta em mais outras
instâncias,
que um vaivém constante a vida é.
Pois muitas vezes no retêm no rodapé
e noutras nos eleva até as
fragrâncias
da glória e do poder, em
inconstâncias,
pois tanto faz estar no píncaro ou
sopé.
As coisas mudam e quanto sobe, desce;
tudo o que desce, um dia há de subir.
Como Kipling falou, são impostoras...
Mas não se afastam por esforço ou
prece,
já que somente com paciência há de
luzir
nossa alforria destas duas senhoras.
PARQUE DE DIVERSÕES V
E há uma coisa mais: na baixamar
é quando os barcos o alto mar
alcançam,
aproveitando que as águas mais se
lançam
na direção que buscam encontrar.
Enquanto em maré alta, há que gastar
muito mais energia. E assim
descansam,
até que as águas novamente avançam
e em direção ao mar alto irão zarpar.
Se tudo então te parece ser
contrário,
é quando tens a real oportunidade
de para o alto mar te projetares...
Que o destino é um disfarçado
perdulário:
mil portas te abre, com generosidade
e só de ti dependerá as
atravessares...
PARQUE DE DIVERSÕES VI
E não te esqueças: qualquer roda
gigante,
um barco viking ou mesmo um carrossel
de cavalinhos a pular sob um dossel,
só se pagares te irão levar avante...
Após comprares a entrada, num
instante
a entregas a um porteiro, que ergue o
anel
dessa corrente que ao futuro dá
quartel:
tens a escolha do brinquedo a teu
talante.
Pois pelo teu viver, és tu que pagas,
com o teu tempo, afetos, pensamentos,
com o constante palpitar do coração.
Mas vivencias até o final as sagas
que escolheste por teus consentimentos,
que a vida inteira é um parque de
ilusão!
ECTOPLASMA I
Nomes, nomes, nomes, quantos nomes
me passam pela rua ser ter rostos!
E quantos rostos repassam-me
desgostos,
por serem rostos que não têm mais
nomes.
Quantos rostos se escondem sob nomes
escritos nessas lápides, expostos
à luz do sol, os nomes pressupostos
daqueles rostos consumidos pelas
fomes
de males e doenças... Quantos comes,
oh vida, irmã da morte, depois
postos
nos ataúdes enfiados em gavetas!...
Quantos rostos recordo que me somes,
perdidos pelos nichos mal dispostos,
em tristes nomes de paixões secretas!
ECTOPLASMA II (30 JUN 11)
Que nomes têm, afinal, esses
fantasmas
que perambulam, sem nome, pelas ruas?
Seres astrais somente ou almas nuas,
perante cujo frio tu mesmo pasmas?
Que nomes têm, afinal, quando te
orgasmas,
essas imagens fesceninas, cruas,
as tuas súcubos vagando sob as
luas,
filhas geradas à luz de teus miasmas?
Que nomes têm, afinal, os fragmentos
de tua imaginação, correndo a mil,
horrendas coisas nas máscaras mais
belas.
Que nome então darás a teus
portentos,
já em seu nascer com aspecto senil,
alimentados pela luz de quatro velas?
ECTOPLASMA III
Sombras sem nome e sem sequer ter
face,
que avistas pelas ruas da cidade...
Nem pensam sombras serem, na verdade,
os infelizes por quem tua sombra
passe.
Andas nas ruas e deixas te ultrapasse
tanta sombra felina e sem saudade...
Que te atravessa na obscuridade,
sem que concreto seja o seu repasse.
E de onde vêm os seres da neblina?
Vieram realmente de outras vidas
ou são somente ectoplasma vomitado?
Que cruzam, sem pensar, pela tua
sina,
mil imagens de si desiludidas,
ainda a vagar pelas ruas do
passado...
ECTOPLASMA IV
Rostos sem nome são, porém concretos,
que por ti passam com indiferença...
Nenhum rosto ser sombra de si pensa,
nomes conservam desde que eram fetos.
E como o nome se prende a seus
afetos!
Pobres das almas que perderam crença
e andam por aí, sua mente tensa,
enquanto ambulam na busca de seus
tetos,
que dão abrigo aos rostos, mas os
nomes
não passam de etiquetas transitórias,
destinados ao total esquecimento...
Porque a lembrança dos nomes que lhes
tomes
não lhes preservam sequer essas
histórias
que desfiaram na meada de um momento.
ECTOPLASMA V
E te dás conta da responsabilidade
que tens por esses rostos indecisos?
Fazem parte de ti, prantos e risos,
depois que os viste em
tal realidade.
Porque os reflexos da visibilidade
sugaste para ti, esgar, sorrisos...
Eles se foram, mas momentos indivisos
gravados são em ti, desde essa idade
em que tiveste olhos para ver
que o mundo inteiro não te pertencia,
mas que te moves num oceano de
memórias,
deixadas após si, sem as reter,
por tanta gente que só então vivia
e já encerraram cem vidas
inglórias...
ECTOPLASMA VI
Não são os mortos que te assombram
tanto,
mas devoraste, de passagem, seus
reflexos
e nunca dos novelos desses nexos
conseguirás te libertar, portanto...
Lá estão eles, nas dobras de teu
manto,
nomes sem rostos, rostos sem ter
sexos,
guardados de tua alma nos amplexos...
Outros de ti guardaram todo o pranto.
E assim, por essas ruas enevoadas,
a ti mesmo te projetas em mil nadas,
que só podiam viver dentro de ti.
E que nome então darás às revoadas
dos teus fantasmas, a pairar aqui,
até que sejam tuas memórias
dispersadas?
Veja também minha "escrivaninha" em Recanto das Letras > Autores > W > Williamlagos e o site Brasilemversos > Brasilemversos-rs, em que coloco poemas meus e de muitos outros autores.
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