terça-feira, 5 de março de 2019






AS JOVENS DE ROMA XI
 CYNTHIA

SINTO NA BOCA O GOSTO DO PERFUME:
OLOR ALADO DE ESPLENDOR FUNESTO...
O TATO DE TEU BEIJO, QUAL INCESTO
DE UM SONETO A FECUNDAR, SÓ POR CIÚME,

OUTRO SONETO, SEU IRMÃO DE SANGUE ---
UM CRIA O OUTRO, FORMAM NOBRE RAÇA,
QUE LIVRA DE IMPUREZAS, CLARA TAÇA,
NOVO FUTURO DE AMARGOR EXANGUE...

E, NESSE LEITO DE VERSOS REVOLVIDO,
DO SABOR DE TEU BEIJO JÁ ESQUECIDO,
JÁ NEM RECORDO MAIS O QUE SENTIA...

SOMENTE SEI QUE A LÂMPADA SE APAGA
E É ENTÃO QUE ENXERGO A LUZ, QUAL UMA CHAGA,
NESSA ALVORADA DE UMA DOR MACIA...
 

AS JOVENS DE ROMA XII
 OVÍDIA

EU REALMENTE PASSO TODA A NOITE,
OU QUASE A NOITE INTEIRA A DELIRAR;
EU SINTO POR MEUS DEDOS, NUM AÇOITE,
FRASE APÓS FRASE DOIDA A DESLIZAR:

QUE SÃO RECORTES DALMA, ESSES POEMAS,
ME DOEM AO SAIR, POIS ME RETALHAM...
O TEMPO ME ESFATIAM, ESSAS GEMAS,
A CARNE É O PÃO E É SANGUE QUE ME ESPALHAM. 

NÃO SÃO APENAS PRODUTOS DE MINHA MENTE,
SÃO NERVO E OSSOS, GRÂNULOS DE LINFA,
SÃO ARTICULAÇÕES FEITAS SURDINA... 

E EU NÃO DESCANSO, NESSE AFÃ FREQÜENTE:
AO VENTO E PELA CHUVA, ESCUTO A NINFA,
NESSA INCORPÓREA VOZ QUE ME FASCINA... 


AS JOVENS DE ROMA XIII
 LIVILLA

DEPOIS DE TANTO AMOR, TANTA DOÇURA,
ENTREMEADAS, AINDA ASSIM, DE AFASTAMENTOS,
DE RUSGAS E DE ABRAÇOS VIOLENTOS,
DE MOMENTOS RECAMADOS DE TERNURA,

DEPOIS QUE ME EMPOLGASSE, COM POTENTES
INCENTIVOS A SER QUEM MAIS QUISERA,
E A VEJO ENSIMESMADA; E NÃO PUDERA
COMPREENDER TAIS MUDANÇAS, TÃO FREQÜENTES,

AO CONTEMPLAR SEU ROSTO INDIFERENTE,
EU ME PERCEBO FLÁCIDO E IMPOTENTE,
JÁ NEM SEQUER COMPREENDO POR QUE INSISTA;

MAS EU SÓ SEI QUE, EM TERMOS DE POESIA,
JÁ SUPEREI EM MUITO A MAIORIA
E NEM SEQUER SE IMPORTAM QUE EU EXISTA!...


AS JOVENS DE ROMA XIV
 ZARXINIA

TU ME ENXUGASTE A LUZ QUE EU TINHA AOS OLHOS,
LAVASTE-ME A AUDIÇÃO, EM VÃO SUSPIRO;
MEU TATO NÃO ENXERGA E TRISTES GIROS
FAZEM MEUS DEDOS, A LAMBER ESCOLHOS.

DE PESO MULTICOR, DOCES ORVALHOS,
QUE RESPIRO EXAURIDO, NA TENSÃO MAIS DENSA;
MEUS PÉS MARCHAM DESNUDOS POR CASCALHOS,
NAS FÉS ESMAECIDAS DE TAIS CRENÇAS... 

POIS SE OS DEUSES TAIS CORTES PERMITIRAM,
A MEU PUDOR, QUE A TANTO ME EXPUSESSE
E REVELASSE A TANTOS MEU SENTIR, 

OU NÃO SE IMPORTAM, OU ENTÃO, NADA SENTIRAM,
INDIFERENTES AO SANGUE QUE SE ESQUECE,
NA ÂNSIA DESSE AMOR, DE REFLUIR... 


AS JOVENS DE ROMA XV
VIRGÍNIA

NÃO ACHAS QUE É TARDE, QUE É INÚTIL AGORA?
QUE MESES ATRÁS RETORNARES DEVIAS,
QUE A VIDA PROSSEGUE, SE ESVAI NOSSA HORA,
SE ESVAI TEU LAMENTO, QUANDO ANTES PODIAS

DAR LUZES AO SONHO, DAR CORES À AURORA,
DAR MARGENS AO VENTO, DAR VISTAS À CHUVA,
DAR CHEIROS À NOITE, DAR PRESSA À DEMORA,
DAR OLHOS AO CRÂNIO, DAR DEDOS À LUVA?

E LUZES NÃO DESTE E ESVAI-SE MEU SONHO;
E CORES NEGASTE E A AURORA APAGOU-SE;
E AO VENTO INCONTIDAS BARREIRAS NÃO PONHO;

E A CHUVA ESTÁ CEGA E A NOITE É ESTRANGEIRA...
TORNOU-SE A DEMORA MAIS LENTA; E ENCERROU-SE
EM MEUS DEDOS VAZIOS, SECOS OSSOS QUE TE EXPONHO.

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