domingo, 17 de março de 2019



MUNDO EMARANHADO & MAIS
Novas Séries de William Lagos, 26/4-5/5/2018
Descrição: C:\Users\Windows7\Documents\NEW PICTURES\BERNSTEIN STONES.jpg
MUNDO EMARANHADO I – 26 ABRIL 2018

Amor me dói durante a madrugada,
ao vê-lo hirto e sem perspectiva
de qualquer reciprocidade mais ativa,
busco entre os dedos e não encontro nada.

Amor se foi qual caprichosa fada
que ao coração agudos cravos criva,
cada sorriso outra armadilha esquiva,
em cada gesto outra veia deslocada,

nesse amor poeira que me pulveriza,
tão ao alcance da mão e tão distante,
na graça impura do manto que me envolve,

amor perfume que me perfuma a brisa,
tão permanente em seu ser inconstante,
como um beijo já fruído e que não volve.

MUNDO EMARANHADO II

Fato é que tudo neste mundo é transitório
e ao mesmo tempo um labirinto permanente,
chumaço de mil fios, onipresente,
um carretel emaranhado em seu cursório;

amor se esconde ao fundo, peremptório
e só se mostra em cintilar contente,
cada mulher uma fita reluzente,
cada homem um cordão mais irrisório;

tais fitas, para o mastro destinadas
se enovelam, embaralhado seu apoio,
já os cordões em metálica navalha;

umas se expandem, em tiaras reveladas,
outros se espalham como grosso joio:
cumprida a dança, todo ardor se talha.

MUNDO EMARANHADO III

“E por multiplicar-se a iniquidade,
esfriará o amor em muitos corações,”
presos nos peitos, sem grandes proteções,
sempre sujeitos à menor casualidade;

por isso é fácil, nessa amoralidade,
que os amores se façam invenções,
sem permanência as breves intenções,
tão perdulária tal eternidade!...

Assim, um corpo noutro se emaranha,
pernas e braços depressa a separar,
fica a semente, se não for contida,

seguida em breve por outra ação tacanha,
já separada até antes de iniciar,
sem ser a alma nem ao menos iludida.

MUNDO EMARANHADO IV

Não obstante, o suor é permanente,
nessa mistura de óleos corporais,
esses fluidos que a água não faz mais
sumir da pele após o ardor ausente,

porque a memória da carne é delinquente
e por momentos nos torna a dominar,
beijos no corpo de novo a recordar,
súbito raio de fulgor potente!...

Assim, não há como sair do emaranhado,
mesmo que seja a mais vazia comunhão,
ele é perene em seu vezo heterogêneo,

que contraria o suflar do oxigênio,
mesmo ocultado, retornando em emoção,
qualquer que seja o instante recordado.

            COISIFICAÇÃO I – 27 ABRIL 2018

         Até que ponto o sexo casual,
                   hoje que são os costumes diferentes,
                   em transitórios abraços aparentes
         não traz em si um reflexo imortal?

         Prossegue a raça pelo amor carnal
                   em quantas gerações subjacentes,
                   para esse amor tão só indiferentes,
         nao fora o ensejo de ardor mais material...

         Isso de amor romântico é recente:
                   dois séculos apenas, pouco mais,
         já houve tempo em que era mesmo proibido

         que a mulher fosse mais que complacente,
                   submissa a seus deveres maritais,
         seu coração mal e mal sendo ferido.

         COISIFICAÇÃO II

                   Mas este ato, muitas vezes repetido,
                            inteiro perde o sabor de uma aventura,
fica vulgar, por mais que haja ternura,
                   um pouco às claras, porém mais escondido;

mas sendo coisa, que não seja esquecido,
sempre alguma caridade nessa agrura;
ao solitário, um rasgo de ventura,
                   ao desprezado, consola o ardor ferido.

                   No geral, será a dama que concede
                            esta virtude ao coração plebeu,
                   que masculina é a maior necessidade;

                   mas em outras vezes, tristeza é a que pede
                            do coração que outrem já esqueceu,
                   abraço simples, mas eivado de bondade.

         COISIFICAÇÃO III

                            O romantismo era mais para as batalhas,
                                     esses feitos de honra e de combate,
                                     nos romances mais antigos que se cate,
                            desculpa a dama para essas longas talhas,

                           a encobrir as masculinas falhas:
                                     que junto à roca a jovem se recate
                                     e seu desejo num bordado engate,
                            a sua tristeza no traçar das malhas...

                           O romantismo ao amor não se ligava,
                                     mas aos atos de valor e de bravura,
                            a ser cantados depois por menestréis

e o cavaleiro para a noiva retornava,
                  para possuir sem carinho a carne pura,
os ventres sendo da raça os carretéis...

COISIFICAÇÃO IV

         Para a linha comum dessa semente,
                   a dama dava ao nobre a descendência,
                  sua prova viva da máscula potência;
         seda em bordado, qual em torçal frequente,

         a vida curta, breve morrer-se ingente,
                   no amor dos filhos a inteira contingência,
                   para o marido tão só a complacência,
         em novo parto chega a morte permanente,

que mais não era que coisificação
         esse sexor a cumprir-se por dever,
sem um desejo real de parte a parte;

e então se achava, no final, reprovação
         dos confessores por momento de prazer,
que ao paraíso essa infeliz até descarte!

         COISIFICAÇÃO V

         Assim, no ato moderno, sem pudor,
                   mas cumprido também sem falsidade,
se encontrará, talvez, menor maldade
         que no ato antigo cumprido sem ardor,

         que nesse encontro casual, coisa de amor
                   sempre se acha, escondida na verdade,
                   sem compromisso nessa promiscuidade,
         sem confessar que se queria outro valor...

         Mas não sómente sendo coisa material,
                   não é concreta tal coisificação,
         traço de sonho permeia esse delírio,

         algo se doa, sem sofrer martírio,
                   por um átimo a respirar o espiritual,
         que é uma coisa, afinal, do coração!

TRISTE AMOR I – 28 ABRIL 18

Em sendo apenas um encontro passageiro,
amor se faz, num momento, coisa fútil;
não manifesta a pujança do inconsútil,
nada de eterno neste amor de desespero

de quem outra mulher queria primeiro,
para ela o coração, em sonho dúctil,
nesse brilho estelar, vibrante e rútil,
amor trocado pelo amor que não espero,

fervor substituto, ardor vazio,
favor ersatz, sem nada permanente,
um momento de prazer para esquecer;

pura ilusão de estar com outra eu crio
em tal encontro temporário e inconsequente,
que nem no corpo irá permanecer!

TRISTE AMOR II

Um triste amor, amor de macaréu,
amor inveja do amor que já se teve,
amor de rua, que ao lar nunca se leve,
sem constituir um amor de solidéu,

toda emoção só no tule desse véu,
é um outro rosto que reluz em breve,
todo o calor disperso, em que não deve
Hermes sorrir, pois retira o caduceu.

É amor perdido, sem qualquer denodo,
que não se quer doravante recordar,
amor rotina, um amor de refeição,

amor de espanto nesse amor de lodo,
tão breve como a flor que vai murchar,
fruto de um só bater do coração!

TRISTE AMOR III

Amor de coito, sem o menor sentido,
com quem não amo e nem me ama ela,
mas que me abre em raio fúlgido a janela,
tal qual por vento apenas consumido;

e no entretanto, igual a amor perdido,
como consola, tal qual chama de vela,
brilho fulgente a desgastar-se nela,
alçado o êxtase, sem ser interrompido,

corpo no corpo, nesse ideal nutrido,
por curto instante o centro de meu mundo,
por um momento a ser o centro da donzela,

mas não eu mesmo, em mim nada profundo,
só de algum sonho dela outrora perseguido,
durando apenas o tempo da procela!

TRISTE AMOR IV

E não se trata sequer de amor venal,
pois no momento da entrega, é doação;
sem ser amor de mãe ou amor de irmão,
mas incluindo um incesto espiritual,

que na verdade, em si não traz o mal,
somente o alívio para amarga inquietação,
curta a tristeza que nos rasga o coração,
longa a saudade em seu pendor crucial;

e nem se trata de amor de fingimento,
por uns segundos sendo feito de carinho,
por uns momentos sendo feito de esperança,

por longas horas um desapontamento,
cada parceiro a seguir o seu caminho,
já desgastado pela arcana dança!

averbação 1 – 29 abril 2018

isto é inerente à natureza humana,
sempre ansiando por aquilo que não tem,
algo de novo a desejar também,
lavrada a vida em certidão insana!

essa fome pelo novo nos irmana;
sempre que a vida de tudo nos provém,
em cada instante da vida o seu porém,
nasce o desejo de conquista mais profana!

e quando tudo, afinal, foi alcançado,
registrada a certidão, tudo averbado,
de novo surge a inquietação imponderável,

revestida, afinal, de inconsequência,
tudo se tendo usufruído com potência,
mas como não se amar o inalcansável?



averbação 2

antes o fado nos lavrou o documento,
a descrever os bens que se possui,
as concessões com que, enfim, se anui,
nesse nanquim gelado de um assento

e o tempo gira, a devorar momento;
em retrospecto já não sei aonde fui,
no mais concreto minha certeza rui,
o ar nos sopra talvez padecimento

e a atmosfera, às vezes, se congela,
líquida e térrea, ígnea e aquática,
nessa gaiola que cada um constrói,

na plástica vitrine a ver-se vida bela,
nos exibindo a certeza matemática
que o vento espalha e a tempestade rói.

averbação 3

e num rasgão da pele uma centelha,
então se fura parede inexistente,
que só no imaginar se fez presente,
que o exterior só o lado interno espelha,

cortando a calma monótona do existente,
a perda que se avista só de esguelha,
toda corroída essa gaiola velha,
dilacerada sendo de forma permanente,

porque a parede era o próprio coração
e agora um novo precisamos enxertar
e o nosso antigo órgão registrar
na risca rubra de tal averbação,
sobre a margem do assento redigida,
qual incurável e mística ferida!

desafio 1 – 30 abril 2018
(Com um agradecimento a Alfred Alcorn)

“dentro de cada gordo,” há um ditado,
dizendo que “se esforça por sair
um homem magro” – ou então, para impedir
a uma mulher que tenha o corpo desejado...

esse dichote já deverás ter escutado
e reagido pelo esgar de algum sorrir;
talvez te vejas refletido nesse agir,
talvez de outrem tenhas debochado...

só que nunca é voluntária a obesidade;
sedentarismo e da gula seu pendor
impedem o homem magro de escapar;

e aqui adiciono com maliciosidade:
“de cada mulher magra no exterior,
há um homem gordo ansiando por entrar!...”

desafio 2

existem hoje em dia leis sociais
tornando obrigatória a construção
de elevadores ou rampas, na intenção
de atender necessidades bem reais

dos deficientes ou mutilados ou de maternais
dificuldades para a locomoção
com carrinhos de bebê; ou em atenção
a cadeirantes ou quiçá a quantos mais.

porém tenho igualmente observado
que ao portador de prótese atrapalham
tais rampas; ou a quem anda de bengala

ou nas ruas por andador sendo amparado,
que degraus do meio-fio melhor lhes calham
do que rampa em que a muleta lhes resvala.

desafio 3

não é mais correto, politicamente,
falar-se hoje de alguma deficiência,
um “desafio físico” a ter mais ingerência
na descrição de quem difere doutra gente,

vindo a ser hoje definido, com potência,
a quem tenha uma visão mais deficiente
portar “desafio visual” -- mais reverente,
a receber  nossa atenção e complacência;

mesmo eu, que sempre tive miopia,
posso chamar-me assim desafiado,
mas com óculos ou com lentes de contato

deixo de ser um portador de ambliopia,
o desafio por desafio contrariado,
sem exigir maior auxílio sem recato!

desafio 4

é incontestável a falta de audição
do portador de “desafio auditivo”
ou daquele a quem acidente deu motivo
para um “desafio de locomoção”...

porém o engorde  já tem outra razão;
mesmo sendo o exercitar proibitivo,
sempre o recurso tem, mais primitivo,
de limitar dos alimentos a ingestão.

e assim será que tenha igual direito
de requerer por especial assento
que só aos obesos seja destinado,

ao alegar  que deva ser aceito,
de forma singular, em todo evento,
“morfologicamente” por ser “desafiado”!?

CRIAÇÃO I – 1º de maio de 2018

Criadores, tanto quanto criaturas,
Somos nós todos que chamais de humanos;
O impulso da beleza, sem enganos,
Caracteriza não somente as almas puras,

Mas até mesmo as de visões mais duras
Daqueles que só buscam, soberanos,
Lucrar e enriquecer ou seus profanos
Desejos realizar sem mais lisuras,

Pois até mesmo na construção desses impérios
Existem um equilíbrio e uma harmonia
Que nos conotam uma forma de beleza

E os que proclamam seus interesses sérios
Na medicina ou na advocacia,
Não procuram a feiúra, com certeza!

CRIAÇÃO II

Pois há beleza na aplicação da lei,
Caso for justa e bem equilibrada
Ou numa intervenção bem adequada
A beleza da saúde encontrarei;

Na matemática da equação terei
Um contraponto à conclusão errada,
Mesmo a limpeza das ruas destinada
À perfeição do caminho em que andarei.

O sacerdote proclama, em sua doutrina,
A beleza do Ser e Sua igual sabedoria
E quem pode contestar ao arquiteto

Ou ao engenheiro na planta em que se inclina,
Essa tendência que a mente humana cria,
No edificar do mais humilde teto?

CRIAÇÃO III

Até no crime se encontra inspiração,
Para que seja o mais perfeito que possível
E da polícia a ação, mesmo imperceptível,
Enfim resulta em qualquer bela detenção!

De modo algum a limitar-se a criação
À obra de arte, ao livro consumível,
Ao teatro ou ao poema mais incrível,
Mas todo ato em que um humano aplique a mão.

Não por acaso “criação” se denominam
O cuidado pelo gado e a agricultura;
Há objetivos na caçada e em pescaria

E de igual modo que as jóias se refinam,
Amor se encontra em cada criatura
Que participe desta humana parceria.

CRIAÇÃO IV

Banal dizer que toda humana criatura
Seja dos pais o produto e a criação,
Pelo ambiente que lhe dá a educação,
Pela genética em que o Deeneá perdura,

Em que a raça a se apalpar depura
As deficiências de doenças sem razão
Ou essas falhas que na senescência são
Tão naturais em permanente agrura.

Pois nesse amparo da velhice há a intenção
De conservar por mais tempo a vida humana
Pelo sagrado que se achara na “criança”,

Não por acaso tendo igual conotação
Essa palavra que a todos nós irmana,
Por mais tragédia que se encontre na esperança.

CLIMA  I – 2  MAIO  18

Tantos se queixam das condições extremas
de frio e de calor, mas na verdade,
existe um mérito em tal extremidade,
que esses períodos recordamos  e as centenas

de dias comuns esquecemos nós, apenas;
nos dias extremos há memorabilidade,
nos dias medianos só a uniformidade,
por nós passando iguais em suas dezenas,

sem ser segredo que frequente  me queixei
desses dias absurdos de calor
e bem queria não os mais experimentar,

porém é certo que bem mais recordarei
dessa cálida umidade, em seu pavor
que do outro clima que me não veio incomodar!

CLIMA  II

Portanto, eu me desculpo, humildemente,
perante os dias de calor de estio,
se bem que, quando passam, me alivio,
mas dos quais eu me lembro intensamente!

E escuto alhures queixa bem potente
sobre a inclemência desses dias de frio,
sem que empatize com o manifesto brio
desses queixumes e clamor de tanta gente!

Só lhes indago se se esquecem desses dias,
após passado tudo o sofrimento
ou se lhes ficam latentes na memória,

ou mais recordam, com exatidão das vias
do bem-estar e do contentamento,
repetidas uma a uma sem história!...

CLIMA  III

Hão de dizer-me: a primavera é agradável
e há satisfação maior no outono,
mas de Estações seu relembrar é dono,
quem recorda como um dia memorável

esse em que nada sucedeu de mais notável,
salvo o bom tempo, com todo o seu abono,
igual ao de ontem e de amanhã, seu sono
a despertar  para outro dia mais viável,

mas sem qualquer alteração do clima;
talvez  recordem de alguma tempestade,
com geada e com granizo, porém não somente

dos dias monótonos sem expressão ferina,
por prazenteira que  lhes fora a amenidade,
mas  sem trazer-lhes lembrança  permanente!

CARDIOPATIA I – 3 MAIO 2018

SEMPRE TE DISSE QUE TE DEI MEU CORAÇÃO
E EM TROCA DIZES QUE ME DESTE O TEU TAMBÉM;
AMOR CARDÍACO É, PORTANTO, O QUE SE TEM,
SENDO TALVEZ NECESSÁRIA INTERVENÇÃO!

SE POR ACASO HOUVER TRANSPLANTAÇÃO,
QUANDO UM NOVO CORAÇÃO OUTRO PROVÉM,
QUAL É O AMOR QUE ESSES MÚSCULO CONTÉM,
JÁ QUE O ANTIGO SE PERDEU NA OPERAÇÃO?

MAS SE ACASO FORES TU A TRANSPLANTADA,
TEU ÓRGÃO MORTO GUARDAREI SEMPRE A MEU LADO,
SEM PERMITIR QUE O DESCARTEM NO FINAL,

POR ESSE AMOR QUE TENHO A TUAS AURÍCULAS,
POR ESSE AMOR DEVOTADO A TEUS VENTRÍCULOS,
POR TER PAIXÃO DE TUA VÁLVULA MITRAL!

CARDIOPATIA II

SE BEM QUE TIVE O POEMA EMBARALHADO,
AURÍCULA SENDO BEM DIFÍCIL DE RIMAR
E O VENTRÍCULO UM OUTRO ÓRGÃO A LEMBRAR,
PERMANECEU O CORAÇÃO APAIXONADO,

PRESO NA AORTA POR UM ZELO CONSAGRADO,
DO MIOCÁRDIO SEM SE PODER LIVRAR,
OXI-HEMOGLOBINA SEMPRE A ESTIMULAR,
BOMBA DE SANGUE ESTE ÓRGÃO ENCANTADO,

CADA LEUCÓCITO MEU AMOR A DEFENDER,
CADA PLAQUETA DEPRESSA A PREENCHER
AS FERIDAS DO CIÚME E DA SAUDADE!

CADA HEMÁCIA AQUECENDO MEU PULMÃO
COM O OXIGÊNIO QUE IMPULSIONA O CORAÇÃO
NA HERÓICA DANÇA DA VITALIDADE!

CARDIOPATIA III

A MINHA VÁLVULA TRICÚSPIDE É FIEL,
AMA-TE TANTO QUANTO A VÁLVULA MITRAL,
MEU CORAÇÃO JAMAIS TE FARÁ MAL,
MESMO A CARBO-HEMOGLOBINA NO SEU GEL!

COM MINHAS ARTÉRIAS TE FAREI O ANEL
DE UM MATRIMÔNIO PLURIDIMENSIONAL,
DOS CAPILARES MEU SANGUE NO CAUDAL,
SÓ REJEITADA A BILE DO MEU FEL!

MESMO QUE AGORA JÁ HÁ NOVA ESPERANÇA,
QUE UM NOVO CORAÇÃO POSSO IMPRIMIR
EM TRÊS-D, CASO O MEU VENHA A FALHAR!

TENDO CERTEZA DE QUE NO MOLDAR SE ALCANÇA
O MESMO AMOR QUE POR TI VEIO A NUTRIR
MEU CORAÇÃO EM SEU FREMENTE PALPITAR!

CÁLIDA MODORRA I – 4 MAIO 18

Sonhando assim, no sonhar quando se dorme,
não é desgaste do tempo de uma vida,
mas aos sonhos é preciso dar medida,
no devaneio que tua visão conforme,

que satisfaça o meu anseio tão disforme,
de nós afaste a perene despedida,
a degolar-nos a senda tão querida
ou que, afinal, o destino nos transforme,

pois não é só o devaneio que nos leva
a passear pelas nuvens fabulosas,
em que castelos tanta gente construiu;

sonhar, de fato, é o trigo que nos ceva,
em seus caules mil espigas portentosas
de uma insurgência que nunca em nós ruiu.

CÁLIDA MODORRA II

Sonhar melhor é sonhar quando se acorda,
no respirar da expiração alheia,
esse leve ronronar nos incendeia
e o coração com mais calor desborda;

sonhar melhor é trançar a nova corda,
que prende às nossas de nosso amor a veia,
na voluntária extensão de cada peia,
que jamais o destino corte ou morda;

sonhar melhor  é o proteger dessa ilusão
de que essa carne adormecida seja eterna
e que nunca amortecida seja a luz,

desses olhos, que se aguarda em emoção,
que se abram para nós em mágoa terna,
em que seu próprio bocejo nos seduz!

CÁLIDA MODORRA III

E por acaso há algo melhor do que sonhar,
nesses momentos sem ter compromisso,
quando o desejo do coração atiço
para a eclosão de um mais perfeito amar?

E que melhor existe que esperar
que a vida toda conserve o mesmo viço,
sabendo a insensatez que habita nisso,
mas decidindo o que é real ignorar?

E que melhor  se encontra que essa espera,
breve que seja, que longa nos parece,
nas pálpebras fechadas há uma prece,

que saudade antecipada já nos gera,
na atribuição de realidade a tal sonhar,
enquanto a vida nos devora a deslizar?

BERÇO DE SONHO I – 5 ABRIL 18

Caso tua alma não nutra qualquer sonho,
Como esperar que algum se realize?
Sonhar se deve até o solo que se pise,
Por mais pareça um tal ideal bisonho.

Caso tua alma enfrente só o medonho,
Como esperar que o belo nela gize?
Espinho e pedra que teu sonhar alise!
Toda esperança em tal vereda eu ponho...

E pouco importa que o sonho te limite,
Por que tu deves enfrentar o macaréu
Da vida, sem nutrir-lhe a bizarria?

E que o sonho igualmente te concite
A suportar dos alheios o escarcéu,
Seu fragor a suportar com a mente fria...

BERÇO DE SONHO II

A vida só a enfrentar com os pés no chão
Irá acrescentar a teu solo mais dureza,
Sem preparar-nos, afinal, para a incerteza
Que a cada ponto nos assalta o coração.

É necessário algum tesouro ter à mão,
Mesmo que seja da mais vulgar beleza,
Que o sonho sempre exista à nossa mesa
Nesses momentos em que nos falte o pão!

Isso porque, do sonho apenas se abster
Caminho certo te será do pessimismo,
Sempre é possível se dar um passo atrás,

Aonde ao sonho se possa pertencer,
Para os percalços enfrentar com otimismo,
Flechas de sonho mantendo no carcás!

BERÇO DE SONHO III

Somente assim enxergarás a maravilha
Que se esconde em cada canto do real
Cada pequeno milagre espectral,
Ocultado no dobrar de cada trilha!

Se contemplares só a tristeza que se empilha
Na concretudo do mais tradicional,
Nessa ausência pura e simples de um ideal,
Para quê um novo dia se perfilha?

Guarda teu sonho para a tua saúde
Nos teus piores momentos de doença,
Quando mais forte chegar desilusão!

Porque teu sonho é teu e não te ilude,
Conserva nele bem firme toda a crença,
Sem deixá-lo escapar do coração!


William Lagos
Tradutor e Poeta – lhwltg@alternet.com.br
Blog:
www.wltradutorepoeta.blogspot.com
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