domingo, 25 de setembro de 2022


 

 

NERECZINKA

Folklore da Eslovênia, Adaptação e Forma Poética

William Lagos

(Frances Gifford e Johnny Weissmüller, 

o primeiro casal Jane e Tarzan)

Nereczinka I – 9 fev 2022

 

Era uma vez uma pobre camponesa,

casada havia anos, mas vivendo na tristeza

de nunca poder ter gerado nenhum filho:

naquela época e lugar, grande vergonha,

diziam ser estéril, acusação que a ponha

entre as mulheres do mais inferior trilho.

Nunca culpavam o marido, realmente,

por mais que às vezes a situação pressente

que fosse ele que a não podia engravidar;

talvez do homem dela até troçassem,

mas as mulheres dela só zombassem:

era um defeito de que não poderia se livrar!

 

Assim a infeliz passava os dias

entre lágrimas, envolta em agonias,

pedindo a Deus que as faltas lhe perdoasse,

sem saber de que culpas se tratava,

de ser castigo tão somente suspeitava

que essa falta sobre seu ventre trouxesse!

Que lhe mostrasse a Sua misericórdia,

que para ela olhasse com concórdia

e permitisse que um filho enfim tivesse!

Por algum razão nem pensava ser menina;

seria um menino bem mais forte e de sua sina

poderia ser liberta se tal bênção lhe desse!

 

“Meu Deus,” pedia, “nem Lhe peço um filho belo,

mesmo o mais feio receberá o meu desvelo,

pequeno seja tal qual um pimentão!

Eu lhe darei proteção e o amor inteiro

e o abraçarei até o momento derradeiro,

com os mil carinhos que trago ao coração!”

Um dia, o Senhor de suas preces se cansou

ou quem sabe foi um anjo que a escutou

e ela notou que havia engravidado!

Tomou a seguir as maiores precauções,

sem se arriscar na menor das ocasiões:

chegou o menino, pequeno e bem formado!

 

Disse a parteira que era um “setemezinho”,

sendo normal que nascesse pequeninho,

que no seu ventre só ficara sete meses...

Mas era muito menor que o habitual;

para ela sem lhe causar o menor mal,

mesmo mais leve que um pimentão que peses!

O problema é que o menino só cresceu

uns dez centímetros, porém desenvolveu

igual criança normal, só que menor!

Passaram anos e foi apelidado “o Pimentão”

ou Nereczinka, no antigo idioma da região,

quase um boneco, mas criado com calor!

 

Nereczinka 2 – 10 fev 2022

 

Mesmo assim, não se perturbou a alegria

da pobre mãe; já o pai, ao ver que não crescia,

acreditou ser o produto de uma fada,

que de algum modo teria a mãe enganado

com um changeling, num instante desprezado:

tratava-o bem, mas não o amava em nada!

E mesmo a mãe, no perpassar dos anos,

vendo crescer os demais filhos dos humanos,

começou a tais suspeitas aceitar,

especialmente depois que, mesmo pequeno,

já os ajudava, com aspecto sereno,

sua força e robustez bem singular!

 

Não se atrevia para Deus ir reclamar,

mas da tristeza já não podia se livrar,

porque pedira mesmo que fosse um pimentão

e seu pedido fora atendido claramente,

sentindo em si um pecado repelente:

ao próprio filho causar tal degradação!

Mas certa noite, viu uma bela criatura,

de aparência muito bela e muito pura,

sem ter certeza se a dormir ou a meditar,

que lhe falou: “Mulher, não chores mais!

Maior teu filho será do que os demais,

tão logo a hora apropriada lhe chegar!”

 

E desse modo, se passaram quinze anos

e a tal visão pensou serem enganos

com que ela a si mesma consolava...

Enquanto isso, era o menino bem dotado,

em suas tarefas esperto e atarefado,

até na lida do campo ele ajudava!

Lavava a roupa e a estendia no varal,

subindo rápido pelo poste, num dedal

enfiando cada peça de roupa que lavava

e quando da corda ele atingia a ponta,

de volta ao tamanho natural logo reponta

aquela peça de roupa que levava!

 

Só não o fazia quando havia gente,

sem estar muito preocupado, mas ciente

de que poderiam chamar de bruxaria!

Também a louça ele lavava com cuidado,

sem um só prato por ele ser quebrado,

por mais difícil que esse peso lhe seria!

E na horta, igualmente ele plantava

e até o alto das árvores se alçava,

para jogar as frutas para o chão;

até de noite, quando o pai dormia,

realizar parte da ceifa conseguia,

meio escondido, temendo repreensão!

 


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