sábado, 29 de abril de 2023


 

 

A TERRA DA JUVENTUDE IX

(Tarasca) 

Então Baba Yaga para Wladimir se voltou:

“Esqueci de lhe dizer que nos trouxesse

a carcaça daquele monstro inteiramente.

Você irá dele precisar, como um presente

para a Tarasca, em troca de um espinho;

você não a poderá matar com a espada,

nem com fogo, com veneno, nem com nada:

quase imortal é tal monstro daninho!”

E Wladimir bem depressa retornou:

talvez o corpo nem mais encontrasse

ou que espantar carniceiros precisasse!

 

Mas teve sorte.  A ave morta ele amarrou,

com uma corda, na garupa do cavalo

e retornou outra vez até a margem.

Falou a maga: “À prova irá pôr a sua coragem

para enfrentar a sua terceira adversária,

que encontrará ao seguir a trilha central.

A Tarasca é um animal descomunal

e se alimenta com uma dieta vária:

quantos encontra, no passado devorou.

Para você será impossível enfrentá-lo,

mas lhe diga que fui eu a enviá-lo...”

 

“Nós duas temos um antigo entendimento:

diga-lhe que o mandei pedir um espinho,

dentre as centenas que traz na carapaça

e que tampouco o foi buscar de graça;

ela conversa tal qual uma pessoa

no idioma russo que fala do seu Tzar,

mas nem por isso deixe-se enganar,

pois ela é esperta e não tem nada de boa:

matar humanos é para ela um passatempo,

mas por mim desenvolveu certo carinho;

fale de longe e negocie com jeitinho...”

 

Mas Wladimir já se achava desconfiado:

“Por que motivo você está me ajudando?”

“Não por seus belos olhos, meu rapaz,

mas por garrafa de água que me traz:

a mesma água que quer para seu pai.

Por que se espanta?  Pensa que não sei?

Você é o filho mais jovem do seu rei

e para a Terra da Juventude você vai,

após ter tantas penúrias suportado,

porque o Tzar está aos poucos se finando

e só com a água irá a saúde recobrar...”

 

A TERRA DA JUVENTUDE X

 

Seguiu de novo Wladimir pelo caminho;

logo, à distância, ele enxergou um morro,

de espigões cheio na parte de cima;

mas para lá a sua senda se destina

e logo que era a Tarasca percebeu,

um bicho imenso, tal que nunca vira!

Porém do coração força retira...

Com um rugido o monstro o recebeu:

“Quem é você?” – falou, com escarninho.

“Quem se aproxima, quando a todos corro?

Vou devorá-lo igual que a um cachorro!”

 

“Baba Yaga enviou-me com um presente:

a carne trouxe desta ave estranha:

o Coquecigrou, que você tanto aprecia!”

“Percebo bem, pois o cheiro já sentia...

Mas o que quer, em troca desse dom?”

“Quero levar de suas costas um espinho...”

“Como se atreve a me trazer sem o focinho?”

indagou a Tarasca, em feroz tom.

“Meu velho pai encontra-se doente.

O mar de Gobi tem extensão tamanha:

pela dugongo é que exponho-me à sua sanha!”

 

“Você parece ser um príncipe sincero,”

disse a Tarasca, porém já chegando perto.

“Quer ir à fonte desse País da Juventude,

não é verdade?” – interpelou-o num tom rude.

“Certamente.  Só assim irei salvar meu pai.”

“Se a água beber, ele remoçará

e toda a esperança ao trono perderá...

Mesmo assim, levar-lhe a água você vai?

Vi que surpresa no seu rosto gero...”

“Não importa.  Vim de coração aberto

e por amor cruzei monte e deserto!...”

 

“Pois muito bem.  Então me dê a carcaça;

enquanto como, pode me cortar um espinho,

mas seja rápido, pois de sobreaviso,

com minha palavra de monstro já lhe aviso:

quando acabar, muita fome ainda terei

e não importa que tenha pena de você,

a minha boca devora o quanto vê;

se ainda estiver por perto, o comerei!

Tem três minutos e um segundo só de graça!”

Wladimir foi se achegando, bem pertinho,

e a ave lançou para o animal mesquinho!

sexta-feira, 28 de abril de 2023


 

 

RETIÁRIA UM  (lançadora de redes)  (25/10/2009)

(Jane Russell, 1943 -- ano em que nasci eu)

 

Tu foste para mim um sonho vão:

um sonho inútil foste, tão somente;

mas não que inútil fosse, inteiramente:

tantos poemas trouxeste à criação!...

 

Nem sequer sendo inútil ilusão:

jogaste bem tua rede, finalmente:

ora buscavas, ora indiferente,

silêncios longos, sem explicação...

 

Assim é que a mulher sempre governa:

como os deuses, retira com a mão

o que dera com a outra, sagazmente,

 

no velho jogo da artimanha eterna,

que tantas vezes vivi, sem compaixão,

antes que as malhas me prendessem totalmente.

 

RETIÁRIA DOIS

 

Inspiração se encontra em qualquer rosto,

mas não amor... Encantos são frequentes:

depois de um tempo são indiferentes

e não aquilo a que me sinto predisposto.

 

Pois muito amor é transitivo encosto,

não mais que corpos ao sexo complacentes:

são infiéis até ao estar presentes,

porque não amam senão ao rosto exposto,

 

sabendo que houve outros no passado

e tantas faces ao longo do futuro,

que este não é o amor do coração.

 

Mas que fazer, se o corpo atribulado

requer alívio nesse evento obscuro,

por mais que preferisse outra ilusão?

 

RETIÁRIA TRÊS – 26 abril 2023

 

Espero em ti que um dia me compreendas,

depois de ter sofrido o que eu sofri.

São teus os sentimentos que escrevi,

mesmo que não te conheça, nem me entendas.

 

As vidas acabadas são prebendas

e a cada instante conferido a ti,

mil outras vidas terminam de per si,

sem que sequer conheças suas contendas...

 

A cada vez que escolhes, tantas morrem

das vidas tuas, das vidas de quem amas

ou daqueles que tua escolha influencia.

 

As decisões por entre as mãos escorrem

e a cada amor por quem teu corpo inflamas,

há um outro amor de quem por ti morria.

 

RETIÁRIA QUATRO

 

Se eu já cansei de mim, por que motivo

o teu olhar de mim não cansaria?

Quando eu mesmo para mim não olharia,

o teu cansaço perceberia mais altivo...

 

Cansei de ti também, do redivivo

alçar de ombros.  Toda a melodia

se achava em mim.  Não mais que fantasia

foi esse amor que morre de inativo.

 

Pois só havia em mim pela mulher

que fosse para mim tão belo ideal

e, tudo bem pensado, no final,

 

nem eras tu quem eu queria sequer:

quem eu queria era a mulher em mim

e nunca encontrarei mulher assim.

 

RETIÁRIA CINCO

 

O tempo passa e não vejo a companheira,

tal qual sempre almejei.: o meu amparo

nas horas de tristeza, quando o faro

se agita em busca da hora derradeira.

 

Alguém que desejasse, em vez primeira,

ter a mim do seu lado, em dia claro

e de permeio à noite, sem reparo

nas falhas que demonstro à minha maneira.

 

Alguém que me quisesse porque eu sou

e não pelo carinho que demonstro,

nem por tudo quanto possa ter de mim.

 

E olhando para a vida, de onde estou,

bem sei que é estranho e quase amor de monstro

que alguém me possa apreciar a um ponto assim.

 

 RETIÁRIA SEIS – 27 abril 2023

 

O que me impede de sempre estar contigo

é o temor do ridículo.   Não quero

dar motivo de troça e nem espero

fazer-me novamente o alvo antigo,

 

quando riam de mim, sem ter motivo,

apenas a evitar sentirem-se inferiores:

sempre se cria um bobo e superiores

assim se sentem, submetendo ao crivo

 

do motejo e zombaria um pobre alvo.

Eu fui marcado assim pela exclusão

e não me agrada retomar um jogo igual.

 

Destarte, de me expor eu me ressalvo,

embora saiba mais ridícula a emoção

que assim rejeito contra um sabor real.

 

RETIÁRIA SETE

 

Não te pedi teu corpo, mas tua alma,

tua mente, teu espírito, tua vida;

que nos teus braços achara assim guarida

bem menos importava do que a palma

 

de ouro que reveste a mais querida

emoção, nos momentos de tal calma,

em que sua exalação meu peito embalma

e me reveste de placidez contida.

 

Pois já te disse antes ter apenas

a rosa de teu corpo amargo mel,

gotejando em minha mente e coração,

 

pois só desejo o ardor das açucenas,

teu sonho e teu anseio, um doce fel,

que me conserve acesa essa ilusão.

 

RETIÁRIA OITO

 

Não me parece que de fato nada existe

que justifique o meu amor por ti.

Só eu que sinto tal amor e é aqui,

no coração, que tal amor insiste.

 

Amor sentir por ti nunca pediste

e amor desses teus lábios nunca ouvi:

foi um amor que eu somente construí,

independente desse mundo triste.

 

Porque, de fato, exige o coração

ganhar amor, carinho, essa confiança,

de que possa depender minha esperança.

 

Tal amor é só meu, bela ilusão

que não descartarei, embora saiba

que tal amor em mulher alguma caiba. 

 

RETIÁRIA NOVE – 28 abril 2023

 

Na antiga Roma, havia gladiadores,

chamados Retiários, que só um tridente

e uma rede tinham por armas e frequente

vitória obtinham sobre outros gladiadores

 

melhor armados, que se achavam superiores

e se acercavam em tripudiar valente,

fácil combate a julgar cada imprudente,

por um tridente espetado em estertores,

 

pois a sua rede lançavam habilmente

e lhes toldavam todos os movimentos,

sem que suas malhas romper eles pudessem,

 

tal qual a amada, mais carinhosamente,

lança sua rede de brandos sentimentos

e os tridentes de seus dedos que me aquecem.

 

RETIÁRIA DEZ

 

Claro que existe jovenzinha inexperiente,

que ainda não aprendeu a lançar rede,

vê-se traída por ter do amor a sede

e ela mesma é perfurada por tridente,

 

manejado por outro combatente,

que seu amor melifluamente pede

e quando a tais apelos ela cede,

em breve vê seu amante indiferente

 

ou que então a treine para lançar a rede

sobre inocentes, a fim de a explorar,

sob o pretexto de dar-lhe proteção

 

e por perder o seu afeto ela receia

e assim se expõe a cada ato praticar,

por mais que lhe revolte o coração.

 

RETIÁRIA ONZE

 

Pensando bem, será que a rede eu lanço,

para obter de uma mulher a inspiração,

recrudescimento a animar minha emoção,

que em amor correspondido não alcanço?

 

Será que vejo dentro dalma o ranço

do sedutor sem a menor consideração,

que nem ao menos deseja um coração,

mas para a rejeição se mostra manso?

 

São sentimentos estranhos que contemplo,

neste meu jogo de poeta malquerido,

com ciúme em suprassumo destilado,

 

erguendo olhares para um interno templo,

a cada deusa um novo círio erguido,

nesta minha ânsia de ser desconsolado?

 

RETIÁRIA DOZE

 

E quantas teria tido assim, malignamente,

alimentando em mim fome malsã,

como uma febre que me consome de manhã

e me retorna à tarde e diuturnamente?

 

Mas não teriam buscado em mim igual nascente

do amor gentil como chuva temporã,

nesse nutrir de sua qualquer vaidade vã,

reforçando em mim o seu domínio indiferente?

 

Ah, retiárias, que marcham pela arena,

semidesnudas, vestindo apenas rede,

trazendo às costas a alma perigosa!

 

De soslaio a me espreitar, tocaia plena,

que com três dentes me beijassem nessa sede,

tais e quais os três espinhos de uma rosa!

quinta-feira, 27 de abril de 2023


 

 

PENDOR SEM PUDOR I – 23 ABRIL 2023

(SETE ATRIZES JUDIAS DO CINEMA MUDO)


VOLTADO PARA TI MEU CORPO INTEIRO

SE ESMAGA CONTRA A CARNE QUE ME ACEITA

NÃO É SOMENTE O VENTRE QUE SE AJEITA

SOU TODO EU QUANDO DE TI ME ABEIRO

DE FORMA ALGUMA UM ALMEJAR LIGEIRO

MAS TODO O SANGUE DO MOMENTO SE APROVEITA,

TODOS OS OSSOS EM COMUNHÃO PERFEITA,

CADA UM DOS NERVOS A PARTILHAR CERTEIRO

TODOS OS SENTIDOS CONTRA TI SE ACOLHEM

O OLHAR QUE TE PERCORRE ALVISSAREIRO

O PALADAR A QUE TEUS LÁBIOS MOLHEM

A PELE TODA MANIFESTADA EM TATO

O SOM DE TEUS SUSPIROS ALTANEIRO

E A ESCRAVIDÃO TOTAL DE MEU OLFATO

 

PENDOR SEM PUDOR II

MAS TUDO É CARNE E PODERIA SER CASUAL

OSSOS E SANGUE, RESPIRAÇÃO COMPLETA

À DIGESTÃO O AMOR TAMBÉM AFETA

E TODO O ENCÉFALO SE INCLUI NESSE TOTAL

FÍGADO E RINS A ARTICULAR EM CARNAVAL

A VESÍCULA E O BAÇO EM IGUAL SETA

TODO O PULMÃO NO ESFORÇO QUE PROJETA

O CORAÇÃO ATÉ SUA PAUSA TRIUNFAL

SE FOSSE APENAS ISSO, UM ANIMAL

DE SENSAÇÕES IGUAIS PARTILHARIA

MESMO SEM TER PENDOR INTELECTUAL

MAS SE ENGLOBA MUITO ALÉM DO QUE É SENSUAL

SEM QUE POSSA ACOIMAR DE FANTASIA

QUE SEJA O VERDADEIRO AMOR ESPIRITUAL

 

PENDOR SEM PUDOR III

EMOCIONAL É O RECORDAR DESSE MOMENTO

DESSAS MIL VEZES CUMPRIDO O AMOR CARNAL

DESSA REUNIÃO SÓ RECORDAMOS NO FINAL

POR MAIS INTENSO ORGASMO EM PENSAMENTO

SÓ RECORDAMOS DE FATO O SENTIMENTO

AS SENSAÇÕES SÃO DISPERSADAS AFINAL

SÓ NA PROCURA DE OUTRO ABRAÇO CONSENSUAL

ENTRE A MENTE E DA LEMBRANÇA O JULGAMENTO

NO FIM DAS CONTAS A SER MAIS INTELECTUAL

ESSA MEMÓRIA DOS MOMENTOS DO PASSADO

É NECESSÁRIO REIPAGINAR O MATERIAL

SÓ SE CONSEGUE PLENAMENTE RECORDAR

QUANDO DE NOVO CADA GESTO É COMPLETADO

POR NOVO ESPANTO QUE SE VENHA A PRATICAR

 

PUDOR SEM PENDOR I – 24 ABRIL 2023

COMO O DESTINO É BRINCALHÃO COMIGO

A CADA DIA QUE VEM ME FAZ PIRRAÇA

CADA PROMESSA TRANSMUTADA EM TRAÇA

CADA CERTEZA DILUÍDA NUM PERIGO

COMO O FADO É INFIEL AO TEMPO ANTIGO

A DESMANCHAR O PLANO QUE SE FAÇA

POSTA UM CUNHA CONTRA O AMOR QUE ABRAÇA

COMO GOTEIRA EM SEU MELHOR ABRIGO

TAL E COMO SE SEREIA SE APRESENTA

A NOS CANTAR DE UM SONHO DESLUMBRADO

A NOS FINGIR O SEU AMOR INDIFERENTE

POIS É SOMENTE SEU CANTAR QUE ALI SE ATENTA

SEM A DOÇURA DO AMOR MAIS DESEJADO

A NOS LANÇAR EM ZOMBARIA IMPENITENTE

 

PUDOR SEM PENDOR II

MAS TÃO LOGO ESSA LEMBRANÇA SE DESFAZ

POR ALGUM TEMPO A RECORDAR-SE A SENSAÇÃO

QUE VAI AOS POUCOS PERDENDO INSPIRAÇÃO

E EM NOSSA PELE SEU TATO NADA TRAZ

SEM REPETIR-SE O PRAZER NÃO SE REFAZ

SÓ A MEMÓRIA QUE SE TEM DESSA IMPRESSÃO

TÃO DIFÍCIL DE TRADUZIR ESSA EMOÇÃO

A DISSIPAR-SE QUAL EXPLOSÃO DE GÁS

E QUANDO AMOR FOI FEITO COM FREQUÊNCIA

NÃO SE RECORDA CADA AÇÃO PARTICULAR

EM SUA MISTURA DE ARDOR E IMPERTINÊNCIA

UM GRANDE NÍVEL DE ATOS DE IMPACIÊNCIA

CADA UM AOS OUTROS EM SI RÁPIDO MESCLAR

SÓ IMAGINADO O FRAGOR DE SUA POTÊNCIA

 

PUDOR SEM PENDOR III

MAS AFINAL O QUE EXISTE AQUI DE ESTRANHO

NÃO SE RECORDA DAS REFEIÇÕES A MAIORIA

MAS SOMENTE O SEU CONJUNTO PERSISTIA

TÃO DIFÍCIL SE LEMBRAR QUAL GOSTO GANHO

SOMENTE O OLFATO NOS DÁ MAIOR AMANHO

E NOS CONFUNDE ASSIM NESSA FOLIA

O PALADAR COM O PERFUME QUE ALI HAVIA

EM SUA MEMÓRIA A SUGERIR MAIOR TAMANHO

POR QUE ENTÃO SER DIVERSO DEVERIA

ESSE INVENTÁRIO DOS AMORES PRESENCIADOS

CADA ATO QUE ENTRE CEM OUTROS PERSISTIA

SENTAR PRAZER E VAZIO NO MESMO TRONO

SÓ OS SENTIMENTOS EM SONHO CONSERVADOS

IGUAIS QUE AS HORAS ESQUECIDAS DE TEU SONO

 

VENTOR E CHUVOR I – 25 ABRIL 2023

ENQUANTO O VENTO PINGA EM MINHA CABEÇA

E A CHUVA MANSA AGITA MEUS CABELOS

TODO O ÓDIO SE TRANSFORMA EM MIL DESVELOS

E A POLVADEIRA EM UMIDADE ME REGRESSA

MAS SE PAREÇO ABSURDO ENTÃO ESQUEÇA

MAIS ABSURDOS OS DESSES ASTROS BELOS

INVISÍVEIS DE DIA A OCULTAR ZELOS

MAS NOS QUAIS QUEREM QUE O DESTINO PERMANEÇA

QUE MUITO ESTRANHO É ESPERAR QUE ISSO ACONTEÇA

POIS SÓ PODEM REGER FADOS PELA NOITE

E MESMO ISSO SE NÃO ESTIVER NUBLADA

ENTÃO A VIA LÁCTEA ARGÊNTEA NOS REGRESSA

E DO ZODÍACO NOS REVELA SEU ACOITE

SEM QUE O SOL DESSA NOITE SIGA A ESTRADA

 

VENTOR E CHUVOR II

O SOM DO VENTO TRANSMITE SEUS APELOS

PARA QUE EU PARTA PARA O PONTO QUE DESEJA

MAS QUANTO A CHUVA SOBRE A TESTA BEIJA

ONDE ME ENCONTRO ME PRENDE COM SEUS SELOS

O VENTO PODE ME TRANSPORTAR AOS GELOS

MAS A CHUVA EM SEU LUGAR CALOR ENSEJA

FAZENDO O VENTO DEMONSTRAR INVEJA

DESSE LUGAR EM QUE DEPONHO OS ZELOS

E O SOL ME ESPIA ENQUANTO A CHUVA CAI

SALVO SE O VENTO PARA LONGE O TRANSPORTOU

UM CALOR MORNO SOMENTE A ME DEIXAR

MAS QUANDO LONGE O SEU FULGOR SE ESVAI

QUIÇÁ A CHUVA ENFIM ME DOMINOU

E SOBRE A LAMA COM FIRMEZA ENRAIZOU

 

VENTOR E CHUVOR III

O VENTO ENFIM ME PERTURBA O CORAÇÃO

QUAL SE PUDESSE CRUZAR PELAS COSTELAS

E RETIRAR DALI  LEMBRANÇAS BELAS

NO ESFORÇO DE INVESTIGAR CADA PULMÃO

ENQUANTO A CHUVA ME REFAZ CADA BOTÃO

DAS ESPERANÇAS EM QUE POSSA TÊ-LAS

NESSAS MEMÓRIAS QUE NEM POSSA VÊ-LAS

QUE NO ANTANHO SE AS BUSCAR NÃO SE ACHARÃO

PERCEBO A CHUVA ASSIM TÃO MALICIOSA

QUE SÓ ME LEVA A ENRAIZAR NO IMPOSSÍVEL

ENQUANTO A BRISA POR MAIS SEJA ASTUCIOSA

VEM-ME ARRASTAR AONDE MAIS LHE APROUVE

TÃO DISTANTE DE MINHA VIDA PERECÍVEL

QUE ME FAZ RECORDAR QUANTO NÃO HOUVE