SETE ESFERAS I – 13 ABRIL 24 (SHUKRA)
segundo afirmam alguns dos ocultistas,
cada planeta viaja no seu carro,
com rodas de metal, outras de barro,
do universo a cruzar as longas pistas
e que embora diferente do que insistas,
foi a Lua a Virgem-Mãe de nossa Terra,
essa progênie que a Lua então encerra,
sendo adotada por Vênus nessas listas
e que Ogdoada conduz esse pleneta,
com duas árdegas parelhas de cavalos
“nascidos da Terra”, em dons diversos
das alimárias que cada outro astro projeta,
o mundo astral em seus páramos alados,
de nosso mundo de ilusões puros reversos.
SETE ESFERAS II
também se afirma
que é Shukra esse planeta,
que não possuía
satélites e assim se enamorou
dessa filha
vibrante que também dele se agradou
muito mais que de
sua mãe, genitora mais secreta.
assim Shukra se
dirigiu a Shiva, a quem afeta
todo o domínio
dos planetas que criou
e com fervor a
proteção lhe suplicou
para os Asuras e
dos Daityas a luz dileta,
que a cada
Daitya-Deva desse sua proteção.
também dos carros
invisíveis aos corcéis,
Ogdoada dando a
Shukra o movimento,
esta que é a luz
de mais constante duração,
luz da manhã e
luz da tarde em seus flabéis
o “alter-sol” de
Pitágoras em seu assento.
SETE ESFERAS III
mas sendo assim a
fonte dessa luz,
brilhante Shukra
que adotou a nossa Terra,
que a viu crescer
com tudo que ela encerra,
tornou-se
Lúcifer, que a luz nos céus conduz;
esta esfera do
ser que sobre o céu reluz,
sendo
identificada por noção que aberra
com um espírito
do mal, mas como a luz descerra,
como pode ser a
treva oposta à cruz?
o regente Shukra
amando tanto a filha estranha,
que encarnou como
Ushunas e leis lhe deu,
que os
Paravatmas, ou Senhores do Ser
devem fazer
cumprir na luz que os banha,
os “Senhores da
Luz” ou Jivatmas quais reis,
quais hierarcas
em seu máximo poder.
SETE ESFERAS IV
talvez tudo seja
tão somente fantasia
em nosso mundo
astronômico e concreto
ou talvez no
mundo quântico secreto
lá estejam os
Protetores em plena galhardia;
não te pretendo
converter à luz do dia,
nem abalar dessa
tua fé o afeto,
nem ao Zodíaco do
Zohar dileto,
nem à Kaballah em
que escravo se iludia;
há tanta lenda e
versão gnosticista,
há tantos Logos
para o neoplatonista,
quem os Senhores
da Luz pode escolher?
quem do
cristianismo preferir seguir as pistas,
pode aceitar das
Patrística os copistas,
como contos de
fadas tão somente pretender.
FANTOCHE
ASTRAL I – 14 ABRIL 24
sei que
sou dela apenas marionete,
movido a
seu redor, lançado alhures,
só de
relance em seus ínvios desejares,
ou pelo
mundo a dispersar-me qual confete,
que todo
o impulso da vida me projete
(quiçá
um efeito tão só de imaginares)
talvez
apenas humildade ante os cantares
dessa
altivez que tanto a mim afete.
quer
seja isso não mais que fantasia,
ainda
pressinto que manejou os meus cordéis,
que a
mim levou tanto verso a redigir,
que a
inspiração inteira dela procedia,
meu
contribuir tão somente os ouropéis
em seu
reflexo marchetado de porvir.
FANTOCHE ASTRAL II
em meu orgulho, pretendi independência,
que meus grifos prendesse em calabouços,
que ali os privasse de quaisquer retoços,
somente em seu labor a ter leniência;
ou que me rebelasse em vezo de impaciência,
que de Dionysos recebesse meus esboços,
que em minha mente riscassem longos ossos
desses poetas de maior magnificência;
mas cada vez em que contemplo seu olhar
de extensíssima íris, sem negror,
arpoado eu me vejo em seu cristalino
e desse anzol não posso me furtar,
tudo que existe dentro em mim de esplendor
eu devo apenas ao seu manto de destino.
FANTOCHE ASTRAL III
por certo me conheço e até acredite,
ser criatura envolta em manto santo,
sem sequer minhas as lágrimas de pranto
que para seus próprios alvos me concite
mas me percebo por igual que nela habite,
como acordes e três claves de seu canto,
que dessa estrela me oculte o próprio manto,
tão esgarçado por reclamares que me agite
e então de novo me vem a convicção
que não foi só o inspirar
que ali bebi,
mas a água dessa fonte em brotação,
em que alimento minhas fomes de emoção,
nessa paixão desordenada em que vivi,
cada soneto a esfarelar-me o coração.
SETE
SUSPIROS I – 15 ABRIL 24
naquela
noite de azinhavre, do teu lado,
notei o
teu enjoo por qualquer razão perdida
e te
indaguei: “estás grávida, querida?”
“só se
for pela semente do diabo!”
bem
certamente me quedei desconcertado,
ainda
mais que só por mim foi revivida
essa
lembrança em sua alma mal contida,
suspiro
apenas em meu suspiro revelado.
sei que
essa noite jamais esquecerei,
há
décadas se foi e nunca esqueço,
mas por
que somente eu me lembro dela?
mas foi
real e dela sempre lembrarei,
porém
ela se olvidou e me estremeço:
quanto
de mim foi importante para ela?
SETE SUSPIROS II
esta ideia me é certp horripilante,
pois lembro dela cada momento fugidio
e acalanto dentre o peito um arrepio:
por que teria ela esquecido deste instante?
até que ponto guardo lembrança delirante,
presa em meu peito por sedoso fio,
sem me ligar a ela nesse cio,
sem que se lembre de nosso amor vibrante?
e quando troco com ela confidência,
há tantos anos fielmente do seu lado,
como me abala que se lembre de tão pouco!
tantos momentos queimantes da consciência,
estarão somente em mim, em pranto degredado,
sem lembrar-se de um suspiro ou grito rouco?
SETE SUSPIROS III
difícil é se recordar do sofrimento
de cada instante perdido no passado,
de cada amor que com frequência foi chamado,
da própria alma a se rasgar cada momento.
sei que fui alvo de meu próprio julgamento:
que me faria enfim sofrer fui avisado
e mesmo assim submeti-me a seu chamado,
parte de mim a ansiar suspiramento.
lembro os momentos de pena e de alegria,
todos bordados bem fundo no meu peito
e como dói saber que não os recorda!
se nem ao menos os contempla em nostalgia,
somente afirma que nem sequer tenho o direito
de ter por minha cada fímbria que ela borda!
SETE
MIRAGENS I –16 ABR 24
ela foi
minha rainha e foi sibila,
de deusa
antiga imortal sacerdotisa,
de nova
deusa fiel diaconisa,
de suas
preces a registrar a longa fila,
de meus
ideais antigos fez a esquila,
totalmente
segura do que visa,
deuses
queimados no solo por que pisa,
meus
sonhos esmagados feito argila!
porém
juntos a cruzar tantos portentos!
minha
vida plena foi ela que me deu,
seja por
beijos, fosse de lança em riste
e ainda
vejo inúteis meus lamentos:
depois
de tudo que nos aconteceu,
não
precisava me deixar tão triste!
SETE MIRAGENS II
tempo houve em que até acreditava
que tais palavras e seus gestos desabridos
eram voltados para mim e distribuídos
de modo tal que me atingissem esperava;
mas depois que percebi que me lembrava
de tantas coisas em meus sonhos malferidos,
tão pouco o efeito sobre si, logo esquecidos
que nem me ter feito sofrer se recordava!
ah, mulher minha, que amei e não perdi
mas que ainda hoje se assenta do meu lado,
como eu queria fosse sua maldade intensa!
que assim lembrasse o quanto já sofri,
até a certeza final ter-se instalado,
que me ferira em densa e pura indiferença!
SETE MIRAGENS III
mas quem sou eu neste instante de arrebol,
em que o sol nascente só me trouxe escuridão,
frágeis linhas a despregar sem ter noção,
somente escorrem para longe do farol;
rebrilha nalma o reflexo desse anzol,
foge a luz de meu fanal sem compaixão,
busco no escuro solar minha ilusão,
dedilho o rosário dos vazios deste meu rol
e no entretanto, quando o tempo calha
e ela me mostra um fragmento de sua alma,
sem o menor registro desse antanho,
penso em minha vida quais fios de maravalha,
enrolados pelo chão, sem dor nem calma,
enquanto ao som de sua voz ainda me assanho!