sábado, 13 de abril de 2024


 

 

A RAINHA DO MAR I

 

Era uma vez um país, em que existiu

Um rei entronizado com uma certa idade;

Vivera em guerras e no mundo inteiro viu

 

Bem mais feiura que beleza, na verdade,

E até então ainda não casara,

Pois fora duque durante a mocidade

 

E um centenar de mulheres namorara,

Mas sendo de seu pai o terceiro filho,

A ter um herdeiro nunca se obrigara...

 

Era chamado até Duque Andarilho;

Porém na guerra morreu o príncipe herdeiro,

O seu irmão mais velho...  E o mesmo trilho

 

Seguiu o segundo, chamando-se o terceiro

Quando o velho rei seu pai ficou enfermo,

Visto que agora ele era o filho derradeiro...

 

Logo a seguir, ocupou o trono paterno;

Apenas filhas haviam tido os seus irmãos,

Todas vivendo em algum país externo,

 

Com príncipes casadas e vastas ambições,

Cobiça extrema pelo trono do país,

Cada um deles a apresentar suas pretensões...

 

Havia chance de até correr um chafariz

De sangue em qualquer guerra civil,

Caso vagasse o trono por um triz...

 

Seria impossível a decisão servil

Do Conselho da Coroa por nenhum,

De outros a ofender a ambição vil...

 

Seria difícil firmar acordo algum

E deste modo, Dom João era a esperança

Da salvação do reino e o bem comum...

 

E pela lei que determinava a herança,

Teve o duque sua legítima ascensão,

Preparado, afinal, desde criança...

 

Mas duvidosa também sua sucessão,

Porque filho ele ainda não tivera,

Já dando margem a má especulação...

 

Caso morresse sem ter filho, era

Quase certo o estouro de uma guerra;

Viriam tropas aos portos, de galera

 

Cruzando outras as fronteiras pela serra

E pelos campos do país se chocariam,

Destruição a causar em toda a terra!...

 

Grandes cidades então destruiriam,

Ficando o reino em atroz devastação:

A derradeira coisa que queriam!...

 

A RAINHA DO MAR II

 

Destarte, logo após a coroação,

Dirigiu-se o Conselho ao novo rei,

Claramente a lhe expor a situação.

 

Disse Dom João que cumpriria a lei,

Mas sem casar por política somente:

“A minha esposa eu mesmo escolherei.”

 

“Não com qualquer que o Conselho me apresente,

Pensando apenas em formar uma aliança

Com outro reino, enquanto fico descontente...

 

“Minha experiência feminina longe alcança

E desgostei-me com essas jovens da nobreza,

Sempre tiveram de governar-me a esperança.

 

“Quero casar-me com a mulher de mais beleza

Que neste reino encontrar seja possível,

Seja ela citadina ou camponesa...

 

“Não me parece que estrangeira seja crível

Como linhagem favorável à sucessão;

De originar qualquer guerra é até possível,

 

“Como esse genro de meu primeiro irmão

Ou o que casou com minha outra sobrinha;

Prefiro alguém de minha própria nação.

 

“A mais bela de todas a minha rainha

Farei, desde que saiba com certeza

Que mais irmãos sua família continha

 

“Do que mulheres, questão de singeleza:

Que me dê como filho um bom rapaz

E não mais filhas, por maior beleza

 

“Que tal donzela de trazer seja capaz;

Continuaremos com problema semelhante,

Pois cada genro nova ambição me traz!...

 

“Ainda sou moço, posso esperar bastante,

Minha saúde é boa e sou bem forte...

Mas iniciem as buscas neste instante!...”

 

E é claro que iniciaram pela corte,

Mas examinando as donzelas casadouras

De imediato não lhes deu o rei suporte:

 

“Pouco me importa sejam morenas ou louras;

Nelas só busco a grande formosura;

Posso até examinar as jovens mouras...

 

“Somente insisto que essa bela seja pura

E tenha, ao menos, dois ou três irmãos,

De preferência sem irmãs, por mais doçura

 

Que apresentem os seus jovens corações;

Que me garanta essa linhagem masculina,

Sem longos anos de vãs expectações!...”

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário