segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

AMOR E SEXOR & SIC TRANSIT

                                         Nu Feminino – Arte de William Araújo


AMOR E SEXOR I 

Quando se ama, o corpo fica belo,
mais belo o corpo do que a luz do luar,
mais belo o corpo que a impressão do olhar,
o corpo é vida e luz em seu castelo.

Quando se ama, o corpo mais singelo
se reveste de esplendor quase sem par,
todo defeito faz-se dissipar,
porque é o amor que lhe atribui o selo

da pulcritude assim, em seu desvelo.
Não que lhe empreste beleza inexistente,
mas porque vê o que está subjacente.

Quando se ama, o feio entra em degelo,
só nos perfuma o desejo, com seus óleos,
se a própria alma é que reluz a nossos olhos.

AMOR E SEXOR II

Quando se ama o corpo, é só o belo
transitório do orgasmo de um momento:
passada a ânsia, o furor desse alimento,
bem diferente já se torna o zelo...

Quando se ama o corpo, seu capelo
é formatura transitória e sem alento:
graduou-se o sexo em gozo violento,
mas o amor se foi, sem mais desvelo...

Quando se ama o corpo, tudo acaba
e se veem logo defeitos, fealdade,
até onde, de fato, não existem...

Saciado esse sexor, se menoscaba
até mesmo a maior sinceridade
nas relações que em neblina só consistem.

AMOR E SEXOR III

Quando se ama o belo, o corpo vê-se
como pura expressão da raça humana;
o belo é belo quando se proclama
por nossos pares o amor que nos aquece.

Quando se ama o belo, então nos desce
a apreciação estética e dimana,
desde o espírito, essa pura chama,
a acalentar o corpo que perece.

Vê-se o belo na criança e em cada anciã,
vê-se o belo no cumpridor das leis
e vê-se o belo no fazedor do mal,

em que toda a diferença se faz vã:
se encontra o belo no mendigo e em reis,
pois tudo quanto é humano é natural.

AMOR E SEXOR IV

Quando se ama o sexo, pouco importa
qual seja o objeto do desejo:
é só questão de aproveitar o ensejo,
para esvaziar do sêmen a comporta.

Quando se ama o sexo, a retorta
em que fervilha o amor, em seu adejo,
é inconstante à luz de cada beijo:
o corpo é tudo e a gentileza é morta.

Qualquer parceiro ou parceira disponível,
desperta essa cobiça... por um pouco...
E qualquer um acaba desprezado.

Porque nenhuma paixão é inexaurível,
por mais que assanhe o ventre e o deixe louco,
passa o sexor e tudo é descartado.

AMOR E SEXOR V

Quando se ama apenas o momento
desse fulgor carmim de encantamento,
desse perfume vibrante de portento,
então vagueamos na luminosidade...

A alma toda em grilhão de liberdade,
a mente envolta em pura opacidade,
o coração perdulário em sua vaidade,
compartilhando o falso sentimento...

Quando se ama o próprio amor sentido
e não essa mulher que está lá fora,
mas tão somente sua expressão sensual,

nesse momento tudo é permitido,
feromonia que o corpo inteiro doura,
enovelada em amor de Carnaval...

AMOR E SEXOR VI

E quando se ama o amor, tão simplesmente
e se mastiga cada grão de aurora;
quando se bebe aos poucos cada hora
e a sensação se torna mais pungente;

se o amor se ama, também é indiferente
quem o objeto seja, muito embora
seja sombra fugaz em nosso outrora,
seja quimera que ao futuro se pressente

ou seja alguém com quem se corresponde,
mas sem ter visto ou nunca se encontrar
e em quem de se tocar nem há intenção;

ama-se o amor e pouco importa aonde,
no coração é que a visão se esconde:
nutrida a flama no sangue da ilusão.     

SIC TRANSIT I 

Muitos anos atrás, o grande ator,
Omar Sharif, esteve aqui em Bagé.
Não lhe fizeram grande rapapé,
só queria descansar de seu labor.

Não foi homenageado com calor.
Quem o viu pelas ruas pôde até
pensar que o homem a passear a pé
muito lembrava aquele sedutor...

E viajou de volta e não voltou,
mas quem Dr. Zhivago quis rever,
pôde apreciar aquela história séria.

O "Tema de Lara" muita gente já escutou,
embora eu, realmente, custe a crer
que floresçam laranjeiras na Sibéria...

SIC TRANSIT II

Na verdade, falando francamente,
já não é mais tão conhecido assim.
Foi um homem bonito e, outrossim,
como Zhivago se entrosou perfeitamente.

Mas que mais ele fez?  Foi coadjuvante
em Lawrence da Arábia, para mim
outro papel marcante; mas enfim,
não se tornou de fato um ator gigante.

Foi São Pedro há pouco tempo.  E mesmo dizem
que a Al-Qaeda o ameaçou de morte,
por ser um muçulmano convertido

e que essas atuações seus brios pisem;
porque esse filme, afinal sem grande porte,
uma traição ao islamismo teria sido.

SIC TRANSIT III

Talvez tenha até sido ameaçado,
porém mais por emitir a sua opinião
sobre "o absurdo" de cada religião
afirmar que o Paraíso é reservado

somente para o povo consagrado
à sua pura e exclusiva pregação,
enquanto todos os restantes vão
para algum tipo de inferno amaldiçoado...

Ele deve saber.  Nasceu no Egito,
de família ortodoxa e judia
e apaixonou-se por uma muçulmana,

Faten Hamama, do cinema um mito,
entre os egípcios.  Por esse amor que cria,
converteu-se ao Islã que Alá proclama.

SIC TRANSIT IV

Michel Dimitri Shalhoub, libanês
de origem e conforme o Islã requer,
trocou de nome, por amor de uma mulher,
para Omar El-Sharif.  Isto, talvez,

um grande bem à sua carreira fez.
Mas não deixou por isso de manter
as exigências do Islã; como qualquer
bom muçulmano, rejeitou a embriaguez,

rezava, dava esmolas, foi a Meca,
embora não tenha o "hajji" acrescentado
a seu nome.  Com Faten teve um só filho,

a quem chamou Tarek.  E em nada peca
por se ter dessa esposa divorciado,
dentro das normas do maometano trilho.

SIC TRANSIT V

Esse Tarek também participou
como o jovem Yuri... Foi o ator,
naquela cena, filmada com vigor,
do funeral da mãe.  Depois, deixou

o cinema de lado e dois filhos criou.
Foi um deles, afinal, o seguidor:
seu neto, Omar Sharif, sem temor
de usar o nome do famoso avô...

O velho ator participou de oitenta
filmes e séries, mas quem recorda agora?
Talvez seja lembrado como Hassan,

de O Viajante.  Ainda a lembrança atenta
em O Último Templário, muito embora
a Jethro interpretasse e a Genghis Khan...

SIC TRANSIT VI

Contudo, permanece como um mito
e mesmo que não tenha se casado
uma outra vez, depois de divorciado
e apesar de velho, ainda é descrito

como agraciado pelo amor bendito
de numerosas mulheres no passado.
Por Barbra Streisand, foi quase condenado
a perder cidadania, pelo agito

que ela promoveu por Israel...
Com Cyrina Abdelnour, a libanesa,
foi associado em caso mais recente.

Monsieur Ibrahim foi um bom papel,
mas hoje é mais lembrado, com certeza,
qual narrador ou coadjuvante competente.


Veja também minha "escrivaninha" em Recanto das Letras > Autores > W > Williamlagos e o site Brasilemversos > Brasilemversos-rs, em que coloco poemas meus e de muitos outros autores.
Edição e postagem: Andréia Macedo

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