SORRISO
ZODIACAL I – 22 FEV 22
(CELESTE HOLM, atriz da "Época de Ouro")
Em
teu sorriso luz estelar se agita:
como
as estrelas, sempre impermanente,
após
a noite, a abóbada descendente
cai
no horizonte, igual pano de chita.
O
teu sorriso o sonho meu concita:
busco
retê-lo contra o sol nascente,
mas
de manhã já não parece estar presente,
perdeu
fulgor essa alma que ele habita.
Igual
que estrelas perante o Sol maldoso,
talvez
do exílio da noite rancoroso,
o
teu sorriso me trai certa amargura.
O
meu próprio sorriso, tão pequeno,
em
vão te induz a um despertar ameno,
por
mais que tente te mesclar doçura.
SORRISO
ZODIACAL II
Não
que procure ver nada angelical
no
teu sorriso quando a noite desce;
bem
ao contrário, percebo que me aquece
e
me conduz a um esplendor carnal.
O
teu sorriso é bem mais que material:
não
é a centelha dessa estrela que padece,
nessa
distância que não cruza qualquer prece,
sorriso
alheio, não mais que sideral.
Porém
o teu sorriso é o meu fanal,
em
torno dele me transformo em mariposa,
sem
temor de que se torne o meu final.
Mas
como os astros, tem o seu piscar,
um
tanto amante, um outro tanto esposa,
na
intermitência em que me vou enovelar.
SORRISO
ZODIACAL III
Não
esperes que compare o teu sorriso
com
qualquer expressão mais corriqueira:
o
que me chega à mente, desde a beira,
são
as metáforas de meu próprio siso.
O
teu sorriso tem algo agreste e liso,
dominação
na sua expressão inteira,
condescendência,
ao se arquear ligeira
a
tua boca, com seu hálito de aviso.
Porque
logo se apaga de manhã,
o
teu sorriso igual que lua cheia,
cada
três quartos do mês se faz ausente;
na
lua nova o teu sorriso qual maçã,
só
em contorno ao redor se delineia:
minha
própria sombra se faz ali presente...
SORRISO
ZODIACAL IV
Ai,
teu sorriso! Como o posso descrever?
Consigo
apenas declarar que o amo,
nesses
escassos momentos de recamo,
contra
a saliva, meu rosto a se esbater.
Cada
manhã, um sorriso a se perder,
a
cada noite, já um novo te reclamo:
o
sorriso de teu nome, quando o chamo,
que
nele inteiro possa me esquecer...
O
teu sorriso, saboroso e zodiacal,
que
astrológico incita o meu presente,
mas
sempre incerto no seu ascendente.
Mais
do que horóscopo, eu o leio, triunfal,
pois
teu sorriso nenhum mago o descreveu,
mas
quando surge, é inteiramente meu!
GLÓRIA
TERRENAL I – 23 FEV 22
“Os
céus declaram a glória de Deus
e
o firmamento anuncia a obra de Suas Mãos”,
disse
o salmista há tantas gerações,
nos
velhos tempos do reino dos Hebreus.
Talvez
já nesse período os Saduceus,
que
não acreditavam em ressurreições,
pensassem
antes nas próprias intenções
e
se esforçassem tão só por lucros seus.
Já
os Fariseus, que nelas acreditavam,
só
pela letra da Lei as procuravam,
sem
qualquer crença na graça ou na bondade.
E
desse modo, uns e outros mais buscavam
sua
própria honra e sua trivialidade,
em
desespero, mais que por vaidade.
GLÓRIA
TERRENAL II
Em
grande parte, a glória que buscavam
não
era em absoluto a luz divina,
mas
qualquer luz visível que os fascina,
que
para eles só brilhar consideravam.
Os
céus assim aos homens declaravam
cada
tendência que sua própria vida inclina;
para
os Judeus, qual pecado se destina,
sem
sentir culpa, os demais povos os louvavam.
Eram
outros tantos deuses que temiam
e
aos quais ofereciam holocaustos,
de
que os deuses, em poderosos haustos,
respiravam
o “suave cheiro” e o apreciariam;
mesmo
na Bíblia se repete esta expressão,
tal
qual se Jeová apreciasse essa ilusão!
GLÓRIA
TERRENAL III
Mas
quando sacrifícios se enviavam,
era
uma forma de aos deuses dominar:
os
céus declaram o quanto podem desejar
e
suas volúpias distantes se acalmavam.
Em
seu primevo entender os enganavam
e
assim os céus poderiam controlar.
(Mesmo
Abraão julgou poder argumentar
com
Jeová e os dois que O acompanhavam!)
Assim
a glória terrena prosseguia,
ficando
os deuses só a cochilar,
os
seus pulmões satisfeitos da fumaça.
E
a negociata diariamente se fazia,
a
Terra dos homens a glória a declarar,
julgando
assim se afastar toda a desgraça.
GLÓRIA
TERRENAL IV
Foli
desse modo que surgiu a astrologia:
os
céus dos homens a declarar a glória,
o
seu destino, suas tristezas ou vitória,
consoante
a hora e a data em que nascia.
Cada
figura do Zodíaco mostraria
o
seu futuro já em registrada história,
nos
decanatos dominada e merencória
e
nem um deus transformá-la poderia!
O
firmamento à sua obra o prenderia;
assim
a glória humana manifesta!
(Sendo
um Deus Único mais fácil dominar!)
Ainda
mais que a Sua Lei já nos dizia,
enquanto à multidão que os céus empesta
era
preciso diariamente propiciar!...