terça-feira, 1 de fevereiro de 2022


  

SINCERO OUVINTE I – 28 JAN 2022

(Faith Domergue, da época de ouro de Hollywood)

 

Quando me falas, tens o que dizer

e sinto agrado só de te escutar;

 

mesmo diversa opinião a acalentar,

ainda assim, te escuto com prazer.

Talvez não possa mesmo te entender,

mas nem por isso me ergo do lugar;

 

não vou à praia para ver o mar,

porque prefiro teu rosto sempre ver,

a me contares qual seja a tua verdade;

por mais que esta da minha assim difira,

sei que não mentes e para ti é verdadeira:

assim te escuto com toda a boa-vontade,

 

por mais que um argumento até me fira,

mas só querendo te compreender inteira.

 

SINCERO OUVINTE II

 

Não me parece que ajas de igual modo,

a cada vez que te conto minha verdade.

 

Em teu olhar só vejo opacidade,

sem partilhares desse mesmo nodo.

Sem nem sequer me lançares um apodo,

com o qual contraries essa minha ansiedade.

 

Sem demonstrares para mim dualidade

e minhas palavras só se atolem nesse lodo,

em especial, depois que o celular

ocupa tanto de teu tempo ativo,

nos seus botões a digitar constante,

quando apenas às paredes vou falar.

 

Por mais meu drama pareça-me incisivo,

mas para ti pouco ou nada relevante.

 

SINCERO OUVINTE III

 

Mas nisso vejo certo teor angelical,

no indiferir com tal naturalidade.

 

Não que percebas em mim a falsidade,

somente abaixo de teu nível primordial;

e assim aguardo e o lábio mordo no final,

sem que intentasse a tua integridade

 

abalroar só por ter necessidade

da minha verdade, para bem ou para mal,

ser escutada, invadindo o teu limite;

e só me resta outro momento de escutar

a tua verdade, tão da minha diferente,

porém que é tua, por mais que isso me irrite.

 

Que só em ti mesma eu venha me centrar

e assim te queira com aceitação crescente...

 

HÁBIL CONTESTADOR I – 29 JAN 22

 

Mohandas Karamchand, esse famoso

Mahatma Gandhi, foi estudar direito

em uma faculdade britânica, sujeito

a um professor bastante rigoroso.

Certa ocasião, seu almoço saboroso

levou à mesa, em que sentou-se, safisfeito,

junto a seu professor, que por despeito,

lhe falou, em tom de voz bem orgulhoso:

 

“Senhor Gandhi, porcos e pássaros não comem

na mesma mesa, o senhor não sabia?”

“Desculpe, professor, já vou sair voando...”

Por pretencioso, de fato, não o tomem,

já que um insulto sem motivo recebia,

por ser Hindu, só da injúria se cobrando...

 

HÁBIL CONTESTADOR II

 

Mas não ficou a coisa desse jeito:

logo a seguir, desafiou-o o professor:

“Senhor Gandhi, por acaso, se o senhor

caminhasse pela rua e a seu proveito

encontrasse uma bolsa, com legítimo direito

de escolher qualquer que fosse o seu teor,

sabedoria ou dinheiro, a qual pendor

daria preferência, em grau perfeito?”

 

“Eu pegaria o dinheiro, certamente.”

“Em seu lugar, deveria ser a sabedoria!”

“Acontece, profssor,” Gandhi ressaltava,

“que cada um escolhe, claramente,

aquilo que não tem; o dinheiro escolheria

e a sabedoria para o senhor deixava!”

 

HÁBIL CONTESTADOR III

 

O professor buscava sua vingança,

mas Gandhi era estudioso e não errava

qualquer questão que em prova apresentava;

certo dia, por pura manigância,

escreveu em seu teste, sem bonança,

a palavra “Idiota!” e a entregava,

mas Gandhi também esta lhe ganhava:

“Professor,” cobrou ele, sem tardança,

 

“O senhor não colocou minha nota,

somente apôs a sua assinatura!...”

E como testemunhas ali havia,

o professor a corrigi-la se devota,

sem encontrar nela a menor rasura

e a nota assim de aprovação lhe conferia!

GUERRILIZAÇÃO I – 30 JAN 22

 

O que chamamos de “civilização”

é, na verdade, sucessão de guerras,

assolando desde praias até serras,

onde quer que haja humana habitação!

 

Parece haver entre nós a compulsão

de querer conquistar alhures terras;

muito lamento encontrar ditas encerras,

sempre que algo desperte uma ambição,

sem precisar de desbravar o trampolim

ou as riquezas que alguém reuniu assim.

 

Tudo o mais serve apenas de pretexto:

política, religião, qualquer ofensa,

pura desculpa para a inveja densa,

caso estudemos de nossa história o texto.

 

GUERRILIZAÇÃO II

 

A própria Bíblia a nos mostrar, constante,

a sucessão de guerras de conquista,

ou a intenção de interromper-se a pista

de um exército invasor em tal instante.

 

A história grega a revelar bastante:

cada cidade-estado ergue sua crista,

que o território alheio assim insista

em assolar, como em ciúme delirante;

após de Esparta a forte hegemonia

tendo durado por mais longos anos,

os envolveram em lutas de extermínio.

 

Como Plutarco tantas vezes nos diria,

que se não fossem embates tão insanos,

não sofreria a Grécia seu declínio!

 

GUERRILIZAÇÃO III

 

Longe de mim afirmar a inocência

dos animais, também movidos por cobiça,

mas que não reúnem suas tropas para a liça

e exercem apenas por breve tempo sua potência.

 

Também se veem as guerras sem clemência

de tribos de formigas, a quem atiça

lutar por território ou, por preguiça,

tomar da outra a econômica prudência;

E no entretanto, não serei por vez primeira

a afirmar que a guerra traz progresso,

que sem ela menos teríamos avançado.

 

Somente que a litigar ainda queira:

por que nosso proceder é tão espesso,

que prossigamos só depois de haver matado!

 

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