quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022


 

 

PERSEU E AS GÓRGONAS XIX – 06 nov 21 FINAL

(Perseu e Andrômeda -- Afresco de Pompéia)

 

Então surgiu um redemoinho e um turbilhão

e das ondas se ergueu o monstro imenso;

diante dele Perseu ergueu o surrão:

“Ceto, recua!” – ordenou, em grito intenso

e a fera o contemplou, em estupefação,

erguendo-se ainda mais sobre o mar denso:

“Como te atreves, ó mísero mortal

a desafiar a mim, ser de origem divinal...?”

 

“De divino nada tens, ó feroz Ceto;

se algum atributo possuis, é de infernal!

Diante de Atlas eu era como um inseto

e o transformei numa montanha mineral!...”

“Eu te conheço!” trovejou. “Truque secreto

contra minha filha empregaste, vil mortal!

Por tua culpa, nunca mais eu a verei!...”

“Não será assim!  Sua cara agora mostrarei!”

 

Abriu o surrão e a cabeça apresentou!

Ceto soltou um terrível rugido

e de suas mãos o surrão arrebatou!...

Mas já de morte achava-se ferido

e num vasto penhasco transmutou!...

Mas o alforje havia desaparecido:

No mar perdeu-se a cabeça de Medusa!

Ai daquele que algum dia com ela cruza!...

 

Mas Cassiopeia, para sua desgraça,

pensou na filha e em sua terrível sorte

e nos rochedos lançou beleza e graça,

alegremente acolhida pela morte...

Perseu e Andrômeda chegaram até a praça

quando o rei Kefros pranteava sua consorte;

porém seu luto de imediato se abrandou

ao ver Perseu e a filha que salvou!...

 

Em breve celebrou-se o casamento,

feliz união que muitos anos dura;

porém do rei chegou logo o passamento,

pela tristeza que o coração perfura,

deixando a vida em pressago sentimento,

na viuvez a prantear sua esposa pura...

E assim Perseu da Etiópia fez-se o rei,

junto de Andrômeda, conforme manda a lei...

 

EPÍLOGO

 

Os dois tiveram muitos filhos fortes;

deles descendem heróis gregos numerosos

que partilharam de boas e más sortes,

feitos descritos por poetas fervorosos;

Perseu fundou Micenas e suas cortes

e os reis da Pérsia, depois tão poderosos,

descendem deles... como os tronos reais

da antiga Hélade das lendas triunfais...

 

Artemísia deu a Athena Chrysaor,

a espada mágica que fora um dia gigante;

Posêidon do mar sondou o negror

e achou a cabeça de Medusa horripilante,

que a deusa pôs sobre seu elmo, sem temor;

não mais petrifica, mas produz som sibilante,

a despertar o terror da bruxaria,

embora Athena só nos dê a sabedoria...

 

Já muito velho, faleceu Perseu,

quando buscava um javali caçar;

mas Zeus lembrou-se desse filho seu,

para em constelação o transformar;

também a Cassiopeia acometeu

o destino de em estrela se virar,

porém Andrômeda teve a sorte mais formosa:

no espaço brilha como grande nebulosa!...

 

De fato, as Greias, filhas de Ceto e Córquis, portanto irmãs das Górgonas, possuíam nomes, segundo a narrativa de Ovídio: Dino ou Deino (Terror), Ênio (Horror) e Pênfredo (Alarme). Eram igualmente chamadas As Cinzentas e guardavam não apenas os caminhos, mas todas as fases dos destinos forjados pelas Parcas. 

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