terça-feira, 29 de março de 2022


 

 

O MENINO SEM CABEÇA IX – 10 dez 21

 

Assim que ficaram os dois sozinhos,

curioso, o médico indagou o seu segredo,

confessando até mesmo sentir medo,

porém Rudolf lhe respondeu, devagarinho:

“Eu só lhe conto depois de dois favores:

ponha de volta na posição correta;

me amarraram nesta porta, numa treta,

como se fosse maca, em seus temores!...”

 

“Quer que eu costure?”  “Não, não é preciso,

só encaixe bem no furo do pescoço

e por favor, me sirva um bom almoço,

que estou com muita fome, já lhe aviso!...”

Após tê-lo alimentado o suficiente,

o cirurgião começou a lhe explicar:

“O rei da terra se vê atormentar

por enxaqueca tão terrível quão frequente!” (*)

(*) Dor de cabeça, com luzes e dormências.

 

“Se eu pudesse, tirava a cabeça do rei

e a colocava nos ombros do vizir! (*)

Eu poderia, finalmente, conseguir

escapar das duras penas de sua lei!”

O nosso rei está furioso e ameaçou

que vai mandar-me na forca pendurar

caso eu não possa sua enxaqueca curar:

tentei de tudo, mas nada resultou!...”

(*) Primeiro-ministro.

 

“Mas o Grão-vizir não quererá ficar

com uma cabeça toda enxaquecada!”

“Mas se a operação puder ser realizada,

não poderá ao rei isso negar,

ainda mais que ele prometeu a recompensa

de dez mil táleres do mais fino ouro

a quem o aliviar deste desdouro,

mais um castelo soberbo de presença!”

 

“Então, eu mesmo lhe faço esse favor!”

disse Rudolf, “com o maior prazer!”

“Tua boa cabeça lhe queres conceder,

em troca dessa, que dói que é um horror?”

“Mas é claro, por tal soma de dinheiro!

Nem do castelo irei fazer questão!

É muito fácil fazer essa intervenção

e a recompensa eu ganharei ligeiro!...”

 

“Meu amigo, vou falar sinceramente,

nosso rei foi sempre justo e bom,

mas a enxaqueca lhe mudou o tom,

tornou-se mau, feroz e inclemente.

Na verdade, boa culpa é do vizir,

que o aconselha com total iniquidade

e em consequência de tanta impiedade

ninguém consegue mais em paz dormir!”

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