domingo, 1 de outubro de 2023


 

 

A FADA DO RIO XXI

 

Foi devagar e olhou pela janela.

Lindas mulheres na sala festejavam:

alegremente jogavam e brincavam,

à exceção, tão só, de uma donzela,

que num canto se assentava, entristecida...

E pressentiu então, num arrepio,

que todas eram as rusalki desse rio,

que tinham vindo lhe roubar a vida!...

 

Mas uma delas em corvo transformou-se

e saiu a perseguir, bem velozmente,

as outras jovens, a brincar alegremente...

Levko recuou, temendo mais expor-se...

Só foi notado pela jovem mais tristonha,

que se ergueu furtivamente de onde estava,

abriu a porta e do rapaz se aproximava,

e ao contemplá-lo, ficou toda risonha...

 

Subitamente, Levko dela se lembrou.

"Era Rusalka!  De que modo a esquecera?

Porém agora... a Ana se prendera!

O que farei?"  A si mesmo perguntou.

A jovem abraçou e quis beijá-la,

mas ela  bem depressa se afastou:

"Não, meu querido, seu coração mudou;

minha irmã o ama e não irei magoá-la!..."

 

A FADA DO RIO XXII

 

"Eu quero apenas a sua felicidade

e não me venha mais falar de amor.

Isso eu lhe peço como um último favor.

Seu coração é bem volúvel, na verdade...

Esta é a última vez que me verá,

porém de longe, eu sempre vigiarei

e fique certo de que o castigarei,

se minha Ana alguma vez se magoará..."

 

"Só vim aqui para dar-lhe um pergaminho,

que de meu pai irá mudar o pensamento.

Ele então consentirá no casamento,

portanto, trate minha mana com carinho!"

Pôs uma carta lacrada na sua mão,

voltou até a sala e assobiou...

No mesmo instante, o festejar cessou

e se apagaram as luzes do salão!...

 

Então Levko sobre a praia despertou,

as ideias já fugindo de sua mente,

pois tudo fora um sonho, certamente...

Para o moinho então se encaminhou

e percebeu em sua mão o pergaminho!...

Estava a Vássia claramente endereçado...

Vazio o moinho e tudo organizado,

cada objeto guardado em seu cantinho...

 

A FADA DO RIO XXIII

 

No outro dia, levantou-se bem cedinho:

era domingo e não trabalharia...

A carta sobre a mesa o atraía

e foi depressa entregar o pergaminho.

Com má vontade, Vássia o recebeu,

abriu a carta e arregalou os olhos!...

Então alisou lentamente seus refolhos...

O que dizia Levko nunca conheceu...

 

Mas Vássia o encarou, bem diferente

e declarou no casamento consentir,

com uma condição.  "Não vou permitir

que Ana more no moinho, novamente!...

Serás, portanto, o meu superintendente.

Ana de todos os meus bens é a herdeira:

quando chegar minha hora derradeira,

terás de tudo a posse permanente.

 

E foi assim.  Levko e Ana se casaram

e um ao outro amaram ternamente,

com um carinho constante e permanente

e a Vássia com seis netos alegraram...

Porém Rusalka continuou em solidão,

penteando seus cabelos sobre um galho

forte e robusto de um velho carvalho,

sem esquecer quem lhe partira o coração... 

 

EPÍLOGO

 

Mas certa feita, conta ainda esta canção,

cumprido o tempo de sua vida natural,

ergueu o olhar ao céu, numa estival

noite bem clara, já no meio do verão...

E viu descer longo raio de luar,

até formar-se diante dela uma donzela,

que lhe estendeu a mão: "Vem cá, minha bela!

Eu sou a Lua e vim hoje te buscar!...

 

 

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