quinta-feira, 16 de novembro de 2023


 

A FLAUTA MÁGICA – 17 nov 2015 (Jessye Norman)

(Sobre o libreto original de Immanuel Johann Josef Schikaneder, 1751-1812, musicado por Mozart, com conotações maçônicas.  Tanto Schikaneder como J. C. W. G. A. Mozart eram maçons.  Versão poética de William Lagos.)

 

A FLAUTA MÁGICA I

 

Era uma vez, quando aves e humanos

possuíam verdadeira semelhança,

seres haviam a que penas recobriam

ao invés de pelos, quais legítimos avianos

e mesmo crista nas cabeças lhes descansa,

mas por baixo tendo corpos como gente

e se vestiam também, alegremente,

em roupas simples que por igual os protegiam.

 

Um desses seres Papagueno se chamava

e tinha penas verdes, igual que papagaio,

bico amarelo e uma crista avermelhada;

mas igual que uma pessoa ele falava

e saltitava, alegre como um gaio,

servo obediente da Rainha das Estrelas,

que governava das noites as mais belas

por Rainha da Noite sendo também chamada.

 

Um certo príncipe, cujo nome era Tamino,

veio um dia a se perder numa caçada,

em um lugar a que nunca antes chegara,

homem forte e valente, porém fino

em suas maneiras e de educação cuidada;

que de repente deparou-se com dragão:

seu cavalo empinou, jogou-o ao chão

e dele a fera a seguir se aproximara!...

 

Bateu com a espada em vão contra as escamas

e ao respirar o seu bafo venenoso,

pediu socorro até perder a sua consciência...

Então surgiram três formosas Damas

que derrotaram o monstro pavoroso

com suas próprias armas encantadas

e a seguir se puseram de emboscadas,

para estudar suas reações à experiência...

 

A FLAUTA MÁGICA II

 

Ora, Pamino acabou por despertar

e surpreendeu-se com o cadáver do dragão;

olhou em torno, porém sem ver ninguém,

mas nesse instante escutou alguém cantar;

ainda confuso, ergueu-se desde o chão

e se espantou com o estranho Papagueno,

a saltitar e a cantar, calmo e sereno,

mas sem sentir qualquer temor dele, porém.

 

“Quem é você?” – indagou da criatura.

“Sou Papagueno e sirvo minha Rainha...

Quem é o senhor?...”  “Sou o príncipe Pamino

e me perdi nesta floresta escura...

Só me acordei quando escutei que vinha...

Foi você quem matou esse dragão?...”

Papagueno olhou o bicho e disse, então:

“Pois é, fui eu... Sou o servo do Destino...”

 

E começou a se gabar do seu poder...

“Sou caçador, está vendo minha gaiola?

Recolho pássaros para a minha Rainha...”

A gaiola era bem fácil de se ver

em suas costas, com pardais e pomba-rola...

“Mas como foi que derrubou esse dragão?”

“Foi muito fácil... Golpeei-o com a mão,

justo em ponto vulnerável que ele tinha...”

 

“Bem, Papagueno, devo então lhe agradecer,

Pois simplesmente me salvou a vida!...”

“Ah, não foi nada!...  Apenas, me respeite:

eu sou do bem, mas perigoso posso ser

contra o mal, que sempre levo de vencida!...”

E continuou assim a se gabar,

sem das Três Damas a presença ele notar:

“Papagueno, você nunca toma jeito!...”

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