sábado, 11 de novembro de 2023


 

NASREDDIN E A NOIVA XV – 30 JUL 2022

 

“Senhorita, podemos falar com o Sr. seu pai?”

“E qual será o objetivo da visita?”

“Tenho certeza de que bem receber-nos ele vai

e que a presença de meu companheiro não o irrita.”

“E como passa?” – indagou então o pastor.

“Passo bem, obrigada.  E o cavalheiro?”

“Muito melhor, depois que a vi primeiro,

mal esperava ter de novo esse favor...”

Foram os dois conduzidos ao salão.

Disse Vladek: “Deus te guarde, feliz pai!”

“Também a você, considerado irmão,

qual o motivo que à minha casa o atrai?

Seja bem-vindo e também seu companheiro,

que pelas roupas me parece ser pastor...”

“Eu o saúdo, meu caro senhor,

sou realmente um simples pegureiro...”

“Sou um pastor e de pobre indumentária,

mas isto em nada afeta a minha pretensão;

vim procurá-lo com a esperança necessária

para de sua filha Zalina pedir a doce mão.”

“Parece ao menos que aprendeu a falar...

Quer dizer que era este o pretendente

que sugeriu trazer-me anteriormente...

Ora, só Deus sabe aonde o foi buscar!”

Mas Nasreddin não se deixou intimidar:

“É bem certo que me visto pobremente,

não uso roupagens para pastorear,

acúleos e espinhos enfrentarei frequente,

mas não sou tão pobre como o senhor pensa,

tenho mil cabras e três mil ovelhas,

uma casinha limpa em que até espelhas

o teu semblante em sua vidraça densa...”

além disso, sou proprietário incontestável

de três vales junto à falda da montanha,

o leite que me dão é inumerável,

fabrico queijos em proporção tamanha

que preciso de guardá-los em um galpão,

aonde o vem buscar os comerciantes,

que pagam bem, em dracmas sonantes

e minha fortuna eu enfurno no porão!”

 

NASREDDIN E A NOIVA XVI – 31 JUL 2022

 

“Se tem tanta riqueza, então tudo está bem.”

“Não, não está.  Sem minha inteligência,

que como genro me acompanhará também,

pobre seria sem qualquer indulgência.”

“Bem, está certo.  Muitas vezes afirmei

que só aceitaria um genro bem esperto;

mas por enquanto, não chegou nem perto,

a interrogá-lo apenas comecei...”

“De qualquer forma, minha fortuna é um mal,

sempre é possível que queiram me assaltar;

e produzo um excesso de queijo no total,

boa parte dele, enfim, vai se estragar...”

“Sem dúvida, será um prejuízo lamentável...”

“Não obstante, também é um benefício,

todo esse queijo perdido em desperdício

enfim resulta num adubo admirável!...”

“Então o espalho pela pradaria

e a relva cresce ainda mais abundante;

comendo melhor, meu rebanho mais crescia

e é por isso que se tornou assim pujante!”

“Então é um bem, já que o sabe aproveitar...”

“Seria um bem, mas não evita roubos

E o rebanho ainda atrai grande número de lobos,

os quais preciso, com coragem, expulsar!”

“Lobos são mesmo criaturas perigosas!”

“Não para mim, já que sou um bom fundista;

na minha funda coloco pedras bem nodosas,

de seus focinhos depressa encontro a pista!...”

“Quer-me dizer que também é homem valente?”

“Não sou valente.  Cumpro só minha obrigação:

é meu dever defender minha criação

e o que é preciso, sempre o farei frequente!...”

“E por acaso, se algum urso aparecer?”

“Não é prejuízo, me resulta em bom pelego,

com suas peles eu posso me aquecer,

são tão bonitas que despertam meu apego!”

“O senhor tem sorte de ser tão bom caçador!”

“Não é bem assim, até chega a ser azar,

pois enquanto eu me ocupo a esfolar,

não dou ao rebanho o cuidado protetor!”

 

 

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