domingo, 27 de julho de 2014







A RAINHA DO MAR
(Folclore nordestino de origem portuguesa, recolhido por Silvio Romero e recontado por Monteiro Lobato, versão poética em estilo Terza Rima, popularizado por Dante Alighieri em A Divina Comédia, de William Lagos, 24/7/14)

A RAINHA DO MAR I

Era uma vez um país, em que existiu
Um rei entronizado com uma certa idade;
Vivera em guerras e no mundo inteiro viu

Bem mais feiura que beleza, na verdade,
E até então ainda não casara,
Pois fora duque durante a mocidade

E um centenar de mulheres namorara,
Mas sendo de seu pai o terceiro filho,
A ter um herdeiro nunca se obrigara...

Era chamado até Duque Andarilho;
Porém na guerra morreu o príncipe herdeiro,
O seu irmão mais velho...  E o mesmo trilho

Seguiu o segundo, chamando-se o terceiro
Quando o velho rei seu pai ficou enfermo,
Visto que agora ele era o filho derradeiro...

Logo a seguir, ocupou o trono paterno;
Apenas filhas haviam tido os seus irmãos,
Todas vivendo em algum país externo,

Com príncipes casadas e vastas ambições,
Cobiça extrema pelo trono do país,
Cada um deles a apresentar suas pretensões...

Havia chance de até correr um chafariz
De sangue em qualquer guerra civil,
Caso vagasse o trono por um triz...

Seria impossível a decisão servil
Do Conselho da Coroa por nenhum,
De outros a ofender a ambição vil...

Seria difícil firmar acordo algum
E deste modo, Dom João era a esperança
Da salvação do reino e o bem comum...

E pela lei que determinava a herança,
Teve o duque sua legítima ascensão,
Preparado, afinal, desde criança...

Mas duvidosa também sua sucessão,
Porque filho ele ainda não tivera,
Já dando margem a má especulação...

Caso morresse sem ter filho, era
Quase certo o estouro de uma guerra;
Viriam tropas aos portos, de galera

Cruzando outras as fronteiras pela serra
E pelos campos do país se chocariam,
Destruição a causar em toda a terra!...

Grandes cidades então destruiriam,
Ficando o reino em atroz devastação:
A derradeira coisa que queriam!...

A RAINHA DO MAR II

Destarte, logo após a coroação,
Dirigiu-se o Conselho ao novo rei,
Claramente a lhe expor a situação.

Disse Dom João que cumpriria a lei,
Mas sem casar por política somente:
“A minha esposa eu mesmo escolherei.”

“Não com qualquer que o Conselho me apresente,
Pensando apenas em formar uma aliança
Com outro reino, enquanto fico descontente...

“Minha experiência feminina longe alcança
E desgostei-me com essas jovens da nobreza,
Sempre tiveram de governar-me a esperança.

“Quero casar-me com a mulher de mais beleza
Que neste reino encontrar seja possível,
Seja ela citadina ou camponesa...

“Não me parece que estrangeira seja crível
Como linhagem favorável à sucessão;
De originar qualquer guerra é até possível,

“Como esse genro de meu primeiro irmão
Ou o que casou com minha outra sobrinha;
Prefiro alguém de minha própria nação.

“A mais bela de todas a minha rainha
Farei, desde que saiba com certeza
Que mais irmãos sua família continha

“Do que mulheres, questão de singeleza:
Que me dê como filho um bom rapaz
E não mais filhas, por maior beleza

“Que tal donzela de trazer seja capaz;
Continuaremos com problema semelhante,
Pois cada genro nova ambição me traz!...

“Ainda sou moço, posso esperar bastante,
Minha saúde é boa e sou bem forte...
Mas iniciem as buscas neste instante!...”

E é claro que iniciaram pela corte,
Mas examinando as donzelas casadouras
De imediato não lhes deu o rei suporte:

“Pouco me importa sejam morenas ou louras;
Nelas só busco a grande formosura;
Posso até examinar as jovens mouras...

“Somente insisto que essa bela seja pura
E tenha, ao menos, dois ou três irmãos,
De preferência sem irmãs, por mais doçura

Que apresentem os seus jovens corações;
Que me garanta essa linhagem masculina,
Sem longos anos de vãs expectações!...”

A RAINHA DO MAR III

Escolhidas as da corte, a pente fino,
Foram sendo ao soberano apresentadas,
Suas maquiagens favorecendo o feminino...

Mas por Dom João foram sendo descartadas,
Que a maioria não era bela o suficiente
Outras de irmãos eram mal aquinhoadas...

E das cidades procuraram entre a gente,
Mas nenhuma a Dom João satisfazia:
“Eu quero uma de beleza tão saliente

“Que minha escolha seja aceita em harmonia
Como sendo dentre todas a mais bela:
De forma alguma um motivo de ironia!...

“Que a mais bonita eu desejo e hei de tê-la
Ou ao menos, a mais formosa do país...
Tenho certeza de que acabarei por vê-la...”

Seus arautos cumpriram o que o rei quis
E casa a casa pelo reino esmiuçaram...
Mulheres belas qual a flor-de-lis

Aqui e ali os mensageiros encontraram,
Mas em famílias de muitas irmãs...
Bem menos belas facilmente acharam,

Com linhagens masculinas mais louçãs,
Mas nenhuma que a ambas condições
Satisfizesse suas longas buscas vãs...

Dom João avaliou bem as situações
E elaborou uma lista de “passáveis”,
Sempre as mais belas nessas ocasiões...

Das quais escolheria as mais afáveis,
Pois com alguma casaria, possivelmente,
Dessa lista das que lhe eram aceitáveis...

Mas não se achava satisfeito, realmente,
Pois se sentia como homem já maduro
Para casar-se assim, impensadamente...

Estavam as coisas nesse pé, quando no escuro
De uma igreja viram um jovem a chorar
Diante da santa de coração mais puro...

Chegou um padre para lhe perguntar
Qual o motivo de seu arrependimento:
No confessionário o poderia escutar...

“Mas eu não tenho pecado.  É o sofrimento.
Da casa de meus pais tenho saudade
E essa imagem despertou meu sentimento,

“Sem que eu tivesse cometido uma maldade...
É que essa imagem de Nossa Senhora
Lembra muito minha irmã, essa é a verdade!...

A RAINHA DO MAR IV

O padre recordou-se, nessa hora
Da bela noiva que buscavam para o rei,
De corpo e rosto tão perfeito quanto outrora

Fora Maria agraciada dentre a grei,
Para gerar do mundo o Salvador,
Logo pensando: “Ao bispo eu falarei!...”

Mas primeiro indagou: “Caro senhor,
Você é conterrâneo ou estrangeiro?”
E respondeu-lhe o rapaz, com grande ardor:

“Desta nação sou cidadão certeiro,
Igual meus pais e como foram meus avós;
O nosso lar é justo e hospitaleiro...”

“E quantos filhos eles têm, além de vós?”
“Ah, somos doze, mas só temos essa irmã...
Moramos no Escarpado, junto do rio a foz...

“A nossa terra é fértil, boa e chã,
Mas para morar lá somos demais
E à procura de emprego estou no afã...”

“De um jardineiro precisamos, ademais...”
Disse-lhe o padre.  “Fique esperando aqui,
Um bom emprego conseguir-te vais...”

E disse ao bispo: “Senhor, a noiva consegui
Que nosso rei ansioso está a buscar...
O irmão dela está na igreja, logo ali...”

Foi logo o bispo ao rapaz interrogar
E prometeu-lhe emprego e um bom quartinho,
Indo depressa ao rei se apresentar...

E o Conselho convocou o rapazinho,
Que novamente descreveu sua irmandade,
Da única irmã falando com carinho...

Mensageiros mandaram para a veracidade
Confirmarem do relato do rapaz,
Que a verificassem com sinceridade...

À casa de seu pai o irmão os traz,
Maravilhados ficando com a beldade,
Que os requisitos do rei bem satisfaz!...

Mas disse o pai da moça: “Na realidade,
A minha filha a vocês não entregarei,
Sem documento que garanta a idoneidade

“Do casamento assim proposto pelo rei;
Nunca antes de um escrito juramento
É que o desposará, segundo a lei...

“Só então eu lhe darei consentimento;
Inês criamos com demasiado amor
E só aceito um tal procedimento...

A RAINHA DO MAR V

Vendo um retrato feito por pintor
E escutando as descrições dos mensageiros,
Dom João assentiu com seu valor,

Pois de fato, os anos passam, bem ligeiros
E já cansara de escolher mulher
Que o satisfizesse e também aos estrangeiros...

Sendo aquela a mais formosa que puder
Encontrar de seu reino nos rincões,
Jurou casar-se, sem a ver sequer...

Foi uma esquadra a confirmar suas intenções,
Levando a carta, com a promessa escrita,
Esclarecendo totalmente as posições

E vendo o pai ser verdadeira a dita,
Concordou que a levassem, afinal,
Dando a seu rei a filha tão bonita...

Levou consigo seu minúsculo enxoval,
Tecido às pressas por sua mãe e amigas...
Mas devido à sua pobreza natural

Tinha a família só roupas muito antigas,
Desgastadas pelo uso e bem grosseiras,
Que na corte provocariam troça e figas...

Rendia pouco o produto de suas jeiras
E eram tantos os que delas comiam!...
Monte Escarpado localizado nas fronteiras

Entre a nação e outros reinos que existiam.
E assim Inês partiu, só acompanhada
Por três aias, que da capital lhe enviam...

Era uma jovem gentil, bem educada,
Mas não conhecia as maneiras cortesãs;
De ensiná-las cada aia encarregada...

Mas as precauções acabaram sendo vãs,
Porque encontraram  uma forte tempestade,
Que persistiu por três noites e manhãs...

As caravelas, das ondas à vontade,
Umas das outras, aos poucos, se afastaram
E a de Inês, para maior infelicidade,

Com violência as vagas naufragaram,
Saindo em botes tripulantes e soldados
E Inês em outro, mas as aias se afastaram!

Chegou o bote à praia, em alcantilados
Rochedos, trazendo Inês e uns marinheiros
E nos penhascos ficaram isolados!

No outro dia, chegaram uns montanheiros,
Que os alçaram para além dos montes
E os acomodaram nas casas de chacreiros...

A RAINHA DO MAR VI

Foi Dona Inês por uma velha recebida,
Que lhe emprestou umas roupas a trocar;
Mas ao saber que essa jovem acolhida

Era a noiva do rei, sua inveja a dominar,
Logo  a levou para conhecer a horta,
Para num poço fundo a empurrar!...

Com as mesmas roupas ajeitou sua filha torta,
Mais feia e nariguda que o pecado,
Calculando que Inês já estava morta!...

Com um véu grosso seu rosto bem tapado
E sem nada falar, sob o pretexto
De que ficara com o rosto todo inchado

E por uns tempos, só falaria por gesto...
E num barco diferente essa impostora
Embarcou, nesse truque desonesto...

Depois que foram, chegou a malfeitora
Até a boca do poço; e descobriu
Viver ainda Dona Inês, gelada embora!

Para evitar ser descoberta, decidiu
Puxá-la bem depressa para fora;
E como estava desmaiada, desferiu

Com as longas unhas, dois golpes nessa hora,
Ambos os olhos da pobrezinha perfurando!
E a cabeça lhe raspou, sem mais demora!

Logo a seguir, braços e pernas amarrando,
Ela a encerrou dentro de um caixão,
Sobre a beira do precipício o derrubando!

Sem ter por ela mercê nem compaixão,
Porém querendo assim só garantir
Da própria filha a feliz coroação!...

Mas as ondas do mar, no seu bulir,
O ataúde inteiramente transportaram
Até a capital do reino ele atingir!...

Depois, dois pescadores o puxaram
Para seu barco e, na maior surpresa,
A pobre moça cega ali encontraram!...

Enquanto isso, a esquadra já chegara
E a pouco e pouco, junto ao porto se reuniu;
Tão somente um dos navios que naufragara...

O almirante, em desespero, a não cumprir
A missão de que seu rei o incumbira,
A culpa inteira do sinistro a assumir...

Mas lentamente, toda a gente se reunira
E nem um único marinheiro perecera,
Coisa bem rara quando a tormenta gira!...

A RAINHA DO MAR VII

Feliz de novo o almirante, pois recebera
A jovem noiva do rei, carga preciosa,
Mas cujo véu, realmente, não entendera...

Quando indagou, ela respondeu-lhe, ansiosa:
“Bati com o rosto quando naufraguei,
Estou inchada, cheia de manchas, horrorosa!

“Pior ainda, perna e braço ainda quebrei
E nesses meses, sem ter um tratamento,
Soldaram mal...  Acho até que me aleijei...”

Porque sua mãe lhe dera um bom ensinamento
Para explicar o horror de sua feiura,
Sem que pudesse haver contestamento...

Graças a tal desculpa sem lisura,
Foi a mentirosa até a real presença,
Fingindo ser inocente, boa e pura...

O almirante desculpou-se, com veemência:
“Majestade, aceito a culpa, inteiramente:
Não calculei uma borrasca assim tão densa...

“Se a pobre jovem se feriu, aceito totalmente
A culpa inteira desta infelicidade:
Dê-me o castigo que achar mais conveniente!”

Porém Dom João, com magnanimidade,
Que ninguém fora culpado declarou:
“Foi tudo apenas uma fatalidade...

“Que a pobre jovem torpemente lastimou,
Ficando assim tão feia em consequência...
Mas cumprirei o que meu pacto firmou...

“Portanto, casarei.  Creio que a Providência
Decidiu-se a castigar a minha vaidade
E à palavra dada não negarei valência!...

Foram as bodas marcadas, na realidade,
Para daí a três meses, que haveria
Tempo bastante para a grande quantidade

De roupas que o enxoval demandaria
E além disso, curaria alguns estragos
No rosto e ossos, com uma boa cirurgia...

Mas o rei não conseguia dar afagos
A essa noiva de aparência tão estranha
De rosto feio e de equilíbrios vagos...

Também o tempo suficiente assim se ganha
Para trazer-lhe os pais e seus irmãos:
Dinheiro envia para lhes aliviar tamanha

Pobreza, mais roupas e boas embarcações:
“Quero que todos da boda participem,
Confirmando minha nobreza de intenções...”

A RAINHA DO MAR VIII

A falsa Inês, antes que o enxoval equipem,
Insistia para a boda antecipar,
Afirmando não precisar de cada item;

A cirurgia também a recusar
E as três aias já estavam desconfiadas,
O seu temor indo ao Conselho denunciar...

Mas as promessas do rei estavam dadas
E ele afirmou não poder voltar atrás;
Possibilidades de herdeiro já esperadas...

“Tantos irmãos a condição me satisfaz;
Que seja feia é uma pena, realmente,
Mas tendo um filho, finalmente terei paz!”

Mas apressar o casamento não consente.
“São necessários, ao menos, os proclamas,
Ou a dispensa papal, naturalmente...

“Com esta mais tempo, no final, ainda conclamas;
Então espere, Inês, os cirurgiões:
Seu rosto ao menos consertar como reclamas!

“Virão em breve seus pais e seus irmãos
E deste modo, poderás matar saudades!”
Sem ter a intrujona as menores ilusões,

Exceto de sua mãe nas habilidades:
Qualquer feitiço ou malvada bruxaria
Atenderia às suas necessidades!

Prometeu a velha que logo chegaria
Na capital, ainda na mesma noite,
Só assim ninguém sua vinda assistiria

E a seus dois grifos daria algum acoite
Nas redondezas, em qualquer gruta secreta,
Depois chegando a pé, sem mais afoite!...

E como aos ventos a bruxa má afeta,
Nova borrasca veloz conclamaria,
Para o barco afundar em negra treta!

Toda a família de Inês se afogaria,
Sem que sua filha acabasse desmentida
E o casamento, afinal, se realizaria!

Estava a situação assim mantida,
Quando o ataúde encontraram os pescadores,
Vendo a moça achar-se viva, de saída

Persignaram-se, cheios de terrores,
Mas viram um crucifixo no seu peito,
Tranquilizados assim os seus temores...

Era a jovem cega e careca, mas defeito
Nenhum acharam em seu corpo e face:
“Foi resultado de maligno malfeito!...”

A RAINHA DO MAR IX

E o mais velho, temendo o seu trespasse,
Levou a jovem para seu próprio lar,
Pedindo à esposa que então dela cuidasse...

Esforçou-se a boa mulher para a curar
E muito em breve, a saúde recobrou:
Mas sem cabelos e sem nada enxergar!...

Porém toda a sua história ela contou
E na cidade, já cheia de boatos,
Depressa o povo nela acreditou!...

Mas encarando com cuidado os fatos,
Não se atreveu a mulher do pescador,
Meio por medo e meio por recatos

A levar a pobre ao castelo do senhor:
“Nosso rei já marcou seu casamento
Com a tal donzela feia que é um horror!

“Para nós, pobres, o melhor procedimento
É ir à igreja, para uma graça suplicar!”
E decidiram ir à missa em tal momento...

E quando Inês se aproximou daquele altar,
Em cuja santa suas feições reconhecera
O seu irmão, ajoelhou-se a suplicar...

A congregação reunida percebera
Que a pobre cega queria ver de novo!
E muita gente por ela intercedera...

Então ali, em frente a todo o povo,
Duas cascas caíram de seus olhos,
A sua visão retornando num renovo!

As suas lágrimas carregando como espólios
Essas feridas que lhe fizera a feiticeira,
Desprendendo-as, qual se fossem dois antolhos!

Foi comentada a notícia alvissareira
Por praça e rua, em toda a capital,
Até o palácio chegando, derradeira!

Quis o Conselho ver o milagre, é natural
E a bela Inês ao palácio convocaram,
Pobremente vestida, porém sem qualquer mal!

Nesses três meses, seus cabelos encompridaram,
A cabeleira já batia em seu pescoço,
Madeixas louras que a todos deslumbraram!

Ao rei chamaram, com grande alvoroço,
Que reconheceu a imagem do retrato,
Com seu rosto perfeito e o rosto moço!...

Esclareceu-se logo o estranho fato
E o rei mandou prender a impostora,
A Inês mandando vestir com mais recato...

A RAINHA DO MAR X

E aconteceu que a feiticeira aliciadora
Foi ao chegar logo reconhecida,
Antes de ser da tempestade a condutora...

Foi a bruxa algemada e conduzida
À presença do rei, negando a filha:
“Nunca vi uma tal feiura na minha vida!...”

Furiosa porque a mãe não a perfilha,
A falsa Inês tudo contou na acareação,
Uma à outra jogando na armadilha!...

Logo a seguir, chegou a embarcação,
Trazendo ilesa de Dona Inês a parentela:
Reconheceram-se, cheios de emoção!...

“Faça-se o mesmo que foi feito a ela!”
Decretou o rei, entre furioso e aliviado
Por ter agora esposa assim tão bela!...

E cada um dos dois caixões foi atirado
Desse penhasco de que caíra Inês,
Mas nos rochedos sendo espatifado!

Contra as malvadas justiça assim se fez
E logo após foi celebrado o casamento,
O povo inteiro feliz por tais mercês!...

Pois o Arcebispo não pôs impedimento,
Já que os proclamas antes anunciados
Eram os de Inês e tudo achou a contento!...

Os seus cabelos já longos e penteados,
Com um vestido de pérolas bordado,
Sapatinhos de camurça e fios dourados!

Nenhum casamento tão belo celebrado,
Nem antes, nem depois, naquela terra,
Nem outro par igualmente apaixonado!...

Um dos irmãos voltou para sua serra
Para na granja continuar a trabalhar,
Como os avós, cujos ossos ela encerra,

Porém os outros preferiram se casar
Com moças da nobreza e se alistaram
Na marinha ou no exército, para lutar

Pelo reino, quando inimigos ali chegaram,
Todos sendo facilmente derrotados
E de atacar finalmente se cansaram...

Dom João e Inês continuando enamorados,
Diversos filhos trazendo à dinastia,
Todos rapazes muito bem apessoados...

Anos passados, o povo ainda dizia,
Como sendo a maior realidade,
Que Inês da santa de algum modo descendia!

EPÍLOGO

Recompensados os dois bons pescadores,
Deram títulos de nobreza aos doze irmãos,
Porém seu pai a tudo recusou
E para a velha granja retornou...
A linda história ficou anos a contar
O povo inteiro, à luz de seus fogões
E recordando as peripécias que passou,
Sempre a chamavam os muitos narradores
Como “A Rainha que Saiu do Mar”!...



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