sexta-feira, 21 de janeiro de 2022


 

 

JOALHEIRO 1 – 19 JAN 2021

(Yma Sumac, cantora folk peruana)


Eu te porei na tiara a luz da lua

E a chama do sol em cada meigo olhar;

Vejo um colar de estrelas a brilhar

Quando o sorriso tua boca deixa nua,

Nessa amplitude em que amor estua,

Eco deixando nas brasas de meu lar;

Não brilha igual a chama a desmanchar

Minha substância que em carvão flutua.

 

Mas o anel que te darei, essa aliança,

Não será nem de ferro e nem de ouro,

Mas a órbita prateada de Saturno,

Que nem sentirá falta, pois descansa

Envolto em mil volutas, sem desdouro,

Enquanto amor é destino de um só turno.

 

JOALHEIRO 2

Essa tiara tua testa envolverá

Como a vincha de um poeta e seresteiro,

Gravando marca de compromisso derradeiro,

Que te afastar de mim não deixará.

E a luz do Sol, que te acompanhará,

Teu coração para mim hospitaleiro,

Mais cálido fará, em dom ligeiro

E voluntário a mim só buscará.

 

Não saberei se de uma estrela o brilho

Poderá trazer mais luz a teu olhar:

Talvez, enfim, seja tolice te afirmar,

Mas tuas pestanas demarcam esse trilho

Que se puder, percorrerei constante,

Até termine o porvir de meu instante.

 

JOALHEIRO 3

Será que, inverso a tanta pretensão,

Seja minha testa que me coroarás

E o pajador cansado aliviarás

Com irrequieta e límpida ilusão;

Sei bem que amor é coisa de emoção

E nada novo em meu verso encontrarás,

Mas em meus lábios de novo soprarás

Significado à desbotada sensação.

 

Contudo, que me iluda deixa agora,

Que te possa qualquer dote te ofertar,

Como disfarce de minha ineficiência,

Quando percebo que desde nosso outrora

Fui enriquecido tão só por teu olhar,

Promessas tolas dourando com paciência.

 

CRONISTA 1 – 20 JAN 2021

Narra Plutarco que dois futuros generais,

Pelópidas e Epaminondas, iniciaram sua amizade

No campo de batalha, nessa rivalidade

Nos costumes da Hélade habituais.

Quem estudou história, antes dos currículos atuais,

Ao menos sabe que os Tebanos, nessa idade

Hegemonia impuseram sobre a veleidade

De Esparta e Atenas e muitos povos mais.

 

Infelizmente, tais fratricidas guerras

Acabaram originando horrível peste,

Segundo dizem, por mil corpos insepultos

E do Peloponeso as férteis terras,

Em que a mortandade assim investe,

Nunca mais recobraram iguais vultos.

 

CRONISTA 2

Essa batalha nem é muito conhecida,

Quando as cidades da Arcádia se ligaram

E contra o domínio de Tebas se lançaram;

Por mais que os Tebanos combatessem na renhida

Disputa, foi a ala esquerda repelida,

Em que Pelópidas e Epaminondas se encontraram;

Viram a fuga dos demais, mas não recuaram,

“Travaram os escudos”, prosseguindo a lida.

 

Após ter recebido sete ferimentos,

Pelópidas caiu entre os tombados,

Epaminondas ainda seu corpo a proteger,

Sendo ferido duas vezes em tormentos,

Até que Agesípolis, com tropa de soldados

O viesse finalmente defender.

 

CRONISTA 3

Repelidos os ferozes Arcadianos,

Epaminondas descobriu que seu amigo

Estava vivo, apesar de tal perigo;

Mesmo ferido, em esforços quase insanos,

O carregou para a retaguarda, com os planos

De o curar ou de o levar para o jazigo;

Mas Pelópidas viveu e o inimigo

Foi repelido, graças a estes dois Tebanos.

 

Contudo Plutarco em sua obra se lamenta

Que no seu tempo, já no século segundo,

Estivesse toda a Grécia em decadência,

Todo o país nem sequer arregimenta

Três mil soldados de valor profundo,

Tão diminuída estava então a sua potência!

 

CRONISTA 4

Depois de tantas lutas fratricidas,

Foi a Hélade pela Macedônia conquistada,

Grande parte de suas tropas convocada

Por Alexandre, em suas conquistas compelidas.

Roma a seguir, suas legiões ainda incontidas,

Levou milhares para a Itália escravizados

E outros tantos para lá como emigrados,

Suas perspectivas na Grécia já perdidas.

 

E em suas guerras civis, esses Romanos

Foram batalhas travar em grego solo,

Outros milhares colonizaram a Ásia Menor

Onde hoje é a Turquia, e muitos Tebanos

Se fizeram mercenários, para lutar com dolo,

Deixando a Grécia em situação ainda pior.

 

CRONISTA 5

De fato, Lúculo e depois dele, Pompeu

Exploraram vorazmente a Grécia inteira

E depois a Ásia Menor, até a derradeira

Moeda de ouro, estátua ou caduceu;

Centenas de milhares como escravos se perdeu,

Bem disputados na venda, em cada feira,

Por serem instruídos, ou pela mão certeira

Em arte e artesanato, pelo conhecimento seu.

 

Durante séculos ficou a Hélade empobrecida,

Somente aos poucos é que se recuperou,

Com a construção da capital do Oriente,

Constantinopla, onde Byzantium fora erguida,

Que o Imperador com cuidado reequipou,

Mas só província foi essa Grécia renascente.

 

CRONISTA 6

Só imagino o que teria sucedido

Sem suas perpétuas, nocivas rivalidades,

Caso Atenas tivesse reunido essas cidades

Num grande reino de poder provido;

Teria Felipe, o Macedônio decidido,

Que forçou esses estados em igualdades,

Muito além de suas patrioticidades

De algum modo a Grécia submetido?

 

Talvez Alexandre não tivesse conquistado

Quase todo o mundo dele conhecido,

Até os confins da Sogdiana e Bactriana

E o Helenismo jamais fora implantado,

O Império Romano jamais sendo constituído,

Caso algum Grego obtivesse eterna fama!

 

         ELEITOR 1 – 21 JAN 21

Se por acaso algum político me ler

Ou alguém que apóie muito um candidato,

Por plataforma recomendo um real fato

E não apenas aos adversários responder:

O que o Brasil precisa agora ter

É um programa de emprego de bom tato

Desses milhões que estão em desacato

E não apenas em esmolas dispender.

 

Por mais que o Congresso nisso insista,

Com intenções eleitoreiras descaradas,

A provocar inflacionárias consequências,

Já o Presidente Roosevelt abriu a pista,

Com o New Deal de mil obras realizadas,

A dignidade a promover em suas valências.

 

ELEITOR 2

Distribuição não resolve de dinheiro,

Deve haver um plano de compensação,

Estradas e hospitais em construção,

Escolas, hidrovias, aeroportos, bem certeiro,

Desenvolver portos de mar e derradeiro

Restaurar as ferrovias que aí estão;

Grande tolice foi abandoná-las então,

Rodovias gastam combustível mais ligeiro!

 

Eu temo, no entratanto, que tal plataforma

Não deixarão afinal se pôr em prática,

Por mais que seja a boa-vontade dos eleitos:

Nem o Congresso, nem o Supremo tal reforma

Permitirão se execute em forma fática,

Às iniciativas hão de botar defeitos!

 

ELEITOR 3

O que é preciso é mudar a mentalidade,

Coisa difícil de fazer-se no Brasil;

Não há políticos de cunho varonil,

Só buscam suas vantagens, sem piedade;

Se um partido tiver mais popularidade,

Os demais o combaterão de forma vil,

Para depois declarar, cem vezes mil,

Que suas promessas não cumprem em realidade.

 

Infelizmente, o povo é sempre escada,

Que se derruba com o pé após subir,

Que mais ninguém consiga ali ascender;

Contudo aqui minha sugestão está lançada:

Não sou político e a eles nada vou pedir,

Salvo que pensem, antes de se corromper!

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