terça-feira, 26 de abril de 2022


 

 

CLEPTOURNAS I – 16 abr 2022

 

A cada vez que lançares o teu voto,

por uma urna eletrônica engolido,

o teu desejo também será perdido:

mais um imposto no teu bolso roto!

 

Antigamente, eram votos de papel

e apenas escrevias ou marcavas.

Antes ainda, as cédulas lançavas

de cartolina caixa servia de quartel...

 

Hoje não basta que os políticos afetem

a falsa honestidade em suas ações,

para espoliar-te de forma bem selvagem...

 

Mas essas novas urnas te refletem:

tens de tocá-las, para acionar botões,

assim te roubam uma parte de tua imagem!

 

CLEPTOURNAS II

 

Não se contentam em tomar parte da imagem,

no reflexo contida e proveniente do solar:

teus próprios dedos podem então copiar,

de forma a formar futura e igual miragem.

 

Nunca acreditei, sem sombra de visagem,

que esse voto eletrônico pudesse revelar

a verdadeira intenção do teu votar

ou que de fato ele aceite a tua mensagem.

 

E não somente hoje acredito ser possivel

alguma fraude de cunho eleitoreiro,

como alimento um temor bem mais profundo,

 

que de algum modo possa fazer algo de incrível:

imprimir em tua mente prazer bem sorrateiro

de votar nesse que antes tinhas por imundo!

 

CLEPTOURNAS III

 

Que de algum modo, quando vais tocar

esses botões, então te roubam digitais

e em seu lugar te transmitem algo mais,

qual candidato em que deverás votar.

 

Assim as tuas opiniões te vão roubar,

mediante toques de aparência naturais:

pelos teus dedos subirão os seu sinais,

tua própria ideia conseguindo transformar.

 

Ainda que fosse tão só o que se perde!

Mas temos de aceitar furto maior:

que nossa alma se perfure nesse instante

 

e tudo quanto nossa inteligência herde

seja manchado por esse transmissor,

para tornar-te em seu escravo delirante!

 

CLEPTOURNAS IV – 17 ABR 22

 

É bem possivel que, copiada a digital,

possa ser reproduzida mais adiante,

que alguém mais de forma vote bem confiante,

mas não registrem o seu dedo natural,

 

bem ao contrário, de forma artificial,

tua digital se superponha à dominante,

surja outra vez o mesmo voto delirante

que não querias e para o outro é irreal!

 

Ou que o oposto ocorra facilmente:

sobrepõem outra à marca de teus dedos

e novamente a fraude tem repetição;

 

o favorito do golpe, inteiramente,

é abençoado por tais caprichos e segredos

e ao invés de perder, ganha a eleição!

 

CLEPTOURNAS V

 

Mas não se pense que acuso esse sistema,

que pode ser funcionalmente honesto,

mas acredito que qualquer mágico – presto!

possa acessá-lo sem demasiada pena.

 

Continumente, os resultados dessa gema

são demonstrados – dizem – fortes como asbesto

e nada encontram que confirme o gesto

de que algo foi fraudado nessa cena.

 

Mas é questão de se aferir o procedimento:

em que lugares qualquer artista ‘hackeroso’

consiga introduzir seu ideal maldoso,

 

pois quantos são os sistemas de portento

que já foram invadidos por ladrões,

algumas vezes tão só por sensações...?

 

CLEPTOURNAS VI

 

Mas de outras tantas, por razões de ganho,

mesmo aqueles considerados os mais seguros,

tão controlados por especialistas puros,

que acima se julgam de qualquer amanho,

 

tanto que governos, já sem maior acanho,

contratar chegam aos atrevidos mais maduros,

para que passem a defender de quaisquer furos

seus muitos dados de um futuro lanho!

 

Portanto, não me afirmem os doutores

que atacar nosso sistema eleitoral

seja o mesmo que atacar a democracia,

 

quando, de fato, só expresso meus temores

de que o sistema seja bem mais artificial

que qualquer defensor seu admitir podia!

 

CLEPTODATAS I  -- 18 ABR 22

 

Espera-se que eu fale, num soneto,

sobre o Dia das Mães, já consagrado

por tantas gerações, desde o passado,

na gratidão forçada em dom secreto.

 

Que seja a carne enfiada num espeto,

para fazer churrasco para as mães,

segundo dizem prepotentes capitães,

cujo curso devamos seguir reto.

 

Mas ao darmos presentes, uns bem caros,

a maioria modestos, nessa hora,

para cumprir o ritual assim cobrado,

 

não é o amor que inspira preitos raros,

nem são as mães que neles se honra agora,

mas sim o lucro e a glória do mercado.

 

CLEPTODATAS II

 

A vida traz lampejos de ocasionais lembranças,

nos momentos fugazes, em que a mente desconecta

por um instante apenas e logo se intercepta

o manto cortical, deletando as esperanças.

 

São borrifos apenas, trazidos do passado,

que pingam num segundo, sem razão, sem nada,

e, num piscar de olhos, tal memória é ejetada,

por mais que deveria ser vista com cuidado.

 

Porque essas, afinal, são memórias uterinas,

trazidas desse meigo, profundo e escuro asilo,

ou que assim devia ser, se bem que falhe, às vezes.

 

Que nem todas as mães são perfeitas ou divinas:

há mães de toda espécie e de diverso estilo,

ainda que suportem seu fardo em nove meses.

 

CLEPTODATAS III

 

A sociedade nos rouba, diariamente,

da independência, nosso maior pendor;

somos forçado a desmonstrar calor

ante uma data para nós indiferente...

 

Espera-se cumprimento bem contente,

roubado assim de nós, com desfavor

e se recebe assim o aumento desse horror

dos impostos, sem que retorno se apresente.

 

Esperam-se de nós contribuições

para ONGs, igrejas, outras instituições

e gorjetas nos exigem os garções,

 

Por iluminação das ruas pagamento,

conservação das calçadas a contento,

breve virá o imposto sobre as respirações!...

 

CLEPTODATAS IV

 

Que já existe em numerosas cidades,

efeito direto de sua poluição;

mas não é somente esta reclamação:

somos cleptados em mais profundidades.

 

Nestas datas não só impõem-nos suas vontades,

mas em nós causam certa modificação;

quem é roubado de uma parte da razão

é convencido de suas necessidades.

 

E nesse manuseio sobre as mentes,

algo no fundo vai sendo deixado

no lugar das que foram retiradas;

 

por tais cleptodatas tão frequentes,

será nosso proceder condicionado

e até julguemos ser tais coisas aprovadas.

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