segunda-feira, 14 de novembro de 2022


 

 

O ENIGMA DO ESCALER I – 9 NOV 2022

(Arthur Pendragon Excalibur O'Camelot)

 

Quando um amor se faz muito comprido

será preciso podar-lhe algumas cunhas;

talvez se empregue um cortador de unhas,

que contra o peito seja comprimido;

mas cada farpa cortada, aonde a punhas?

Todas são farpas de um amor descontraído,

sendo em excesso tal amor desenvolvido,

verás que existem muitas mais do que supunhas!

Que não se pense, porém, seja absurdo

que amor possa destarte ser podado,

com o tempo, amor se torna calejado

e a cada apelo de conter-se faz-se surdo,

que um grande amor não pode ser cerceado,

quando se expande, é o corpo inteiro dominado!

 

O ENIGMA DO ESCALER II

 

Bem gostaria de, em escaler de espuma,

achar caminho para teu coração;

perigo existe, porém, na situação,

seria uma bolha de ar que ao alvo ruma!

Nem há certeza de que tal destino assuma

meu escaler de tão frágil feição,

talvez se perca no sendeiro do pulmão

e em expiração bem facilmente suma!

Estas imagens ou metáforas que invento

bem poderão ser gentilmente interpretadas,

são ideias de carinho em quase-nadas,

que brotam tolas sem qualquer impedimento,

mas cujas flores não quero ver podadas,

nem que sossobre o escaler no sentimento.

 

O ENIGMA DO ESCALER III

 

Imaginar que o coração seja podado

pela exclusão parcial de um sentimento

não é metáfora de meu próprio julgamento,

sempre alguém mais a terá antes usado

e imaginar que ao coração, nalgum momento,

um escaler de espuma possa ali ser ancorado,

tampouco é algo totalmente desusado,

embora à imagem dê um novo tratamento,

porém o ritmo de meu braço se acha lento,

meu ombro direito há dias eu lesei,

quem sabe o cérebro igualmente lesarei?

Melhor então registrar meu pensamento

enquanto a mente pilota esse escaler,

sem dela se aparar farpa sequer!

 

O ENIGMA DOS CÍRCULOS I – 10 NOV 22

 

Esperar é algo intangível.  Qualquer dia,

embora possa nos seus desenganos

aparentar a duração de anos,

na afetação de uma longa nostalgia,

também nos pode, em instante de agonia,

durar horas apenas, quando os panos

da mortalha que nos envolve com seus danos

parecem apagar-se em luz vazia,

mas a espera é inominável na elegia,

se nos conduz a um paraíso feio,

em que o bem que se descobre é bem alheio

ou em que o mal que era de outrem nos vigia,

enquanto o tempo escorre de permeio

e o espaço preguiçoso nos espia...

 

O ENIGMA DOS CÍRCULOS II

 

Tudo na vida são círculos concêntricos

que se espalham e não voltam nunca mais;

ainda refluem parcialmente dos beirais,

mas o que volta são sulcos mais excêntricos,

que de leve nos abalam, tectocêntricos,

esses tremores eticosos ou morais,

quando deformam para mais inaturais

os nossos círculos mais antropocêntricos

e assim o que dizemos ou fazemos,

que nosso entorno deveria influenciar,

é muito mais por ele influenciado;

e quando temos o que mais queremos,

vemos que o mundo acabou de o deformar

e só nos deu um arremedo do esperado.

 

O ENIGMA DOS CÍRCULOS III

 

Assim é o amor pelo ser que mais queremos

por igual feito de altos e de baixos,

tempos se encontram de atração em cachos,

existem dias de atração somenos,

tal como pedra que em lagoa lancemos,

concêntricos círculos fortes ou mais lassos,

a distribuir alternativas por espaços

e a crista da onda onde era o fundo vemos,

que amor é qual pedrinha assim lançada,

parece às vezes em seu auge estar,

porém chega o nadir e ocupa o seu lugar,

cada clímax com sua fase desmaiada,

cada desânimo em entusiasmo a se tornar,

enquanto a pedrinha do amor marca o lugar.

 

O ENIGMA DO GATOTÓRIO I – 11 NOV 2022

 

Havia dois gatos em minha casa, persa a raça,

a fêmea tinha pelo longo e acinzentado;

já o macho, pobrezinho, foi castrado,

tornou-se grande e forte, que pirraça!...

Os dois moviam-se em bamboleante graça,

ele tinha o pelame bem mesclado,

na gradação entre o branco e o acastanhado,

mas chegada a primavera, que desgraça!

Pois iniciavam a sua mudança anual,

a casa inteira inundada com seu pelo,

à empregada deixando em desacato!

Mas para mim era o esparramo natural,

pois soltava mechas ao aparar o meu cabelo

e depois a culpa punha em qualquer gato!

 

O ENIGMA DO GATOTÓRIO II

 

O tempo foi passando e foi Saphira

carregada por errôneo tratamento;

fôra o correto, talvez seu passamento

por vários anos não se permitira.

Mas uma caixa que por correio gira,

trazendo livros para meu ensinamento

ou discos para o encanto de um momento,

em ataúde de papelão se vira...

O jardineiro ergueu algumas leivas

de um canteiro, as flores com raízes,

e lá foi depositado o recipiente,

provavelmente alimentando as seivas

das mesmas flores afrontando as crises,

sem que jamais miassem, certamente!

 

O ENIGMA DO GATOTÓRIO III

 

Porém Arthur, que parecia um lorde inglês,

ainda por bom tempo perdurou;

nos degraus da escada frequente me atacou,

mais atenção a querer de cada vez!

Ou então subia ao escritório em que me vês,

de certa feita dois copos me quebrou,

quando na prateleira de baixo penetrou,

curioso sempre, como tu que ora me lês!

Enfim chegou sua vez, pobre bichano,

parecia o seu final estar prevendo,

por uma semana não saía de meu lado,

julgo partiu para o seu pago arcano,

que almas felinas possa estar contendo,

por gato algum depois dele a ser amado!

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