quarta-feira, 4 de janeiro de 2023


 

 

A APOTEOSE DE HÉRCULES V – 8 junho 2022

 

Dejanira estava em conforto instalada,

numa mansão da Trácia, se bem que desgostosa

pelo hábito de seu marido se amasiar

com dezenas de mulheres em viagem,

mas sua injúria foi amplamente despertada

pela chegada de Iole, após a tenebrosa

matança de sua família que fora então realizar

o bravo Hércules em um ato de voragem,

porque Iole não lhe quisera pertencer

e a história inteira lhe fora dada a conhecer...

Embora Hércules apenas lhe enviasse

Iole com outro grupo de cativas,

abertamente para ser sua escrava,

Dejanira desconfiou de outra intenção:

que a beleza de Iole ainda o tentasse

e a seduzisse tal qual outras convivas

e no seu próprio lar não tolerava

que o infiel marido realizasse a sedução,

confiado agora em sua posição de amo,

que a pobre princesa atendesse a seu reclamo.

Se bem que Iole claramente lhe afirmasse

que preferia a morte a se submeter,

Dejanira já deixara para trás a juventude

e a beleza fatal que Iole então possuía

seria razão para que as duas comparasse

e o astuto Hércules daria um jeito de a obter,

fosse por bem, fosse de forma rude:

se ela cedesse, talvez mesmo a trocaria!

E realmente não poderia isso aceitar,

e o filtro de Nessos decidiu-se então a usar!

Se realmente fosse um encanto poderoso,

conservaria para si toda a afeição

de seu marido corajoso, mas volúvel.

Deste modo, já tendo anteriormente,

qual um presente a seu marido vitorioso,

uma túnica de linho adequada à ocasião

de seu retorno, o filtro irretorquível

retirou do esconderijo finalmente.

É de pensar por que antes não o usara?

De seu poder quem sabe desconfiara?

 

A APOTEOSE DE HÉRCULES VI – 9 junho 2022

Mas certamente que fosse veneno não julgou,

talvez pensasse que não teria o efeito

já esperado e que se desapontaria,

 guardado e oculto, lhe dava uma esperança;

ou quem sabe, no contrário até pensou:

que o malicioso centauro o tivesse feito

para garantir que Hércules sempre a trairia,

pois não pudera obtê-la, tramara sua vingança...

Mas de que modo lhe cruzaria a cabeça

um tal efeito que a si mesma enlouqueça?

Deste modo, quando Likas ali chegara,

com o pedido por Hércules enviado,

recordando de imediato a profecia

de vida de paz e de tranquilidade,

que o prazo do Oráculo em breve terminara,

por um impulso foi o frasco então buscado,

quando um pedaço de lã empaparia,

para na túnica esfregá-lo com vontade,

de algum modo sem ser mesmo afetada,

alguma ardência sentida descartada!

Talvez a lã a tivesse protegido

e era por sorte o líquido incolor,

sem no tecido deixar mancha qualquer

ou sua mão não produziu calor bastante;

em uma caixa foi o trajo então contido,

que ela fechada entregou ao portador,

que na sombra se esforçasse por manter,

sem a expor ao sol um só instante

e nem deixar que recebesse algum calor:

“É um trajo fino, pode enrugar-se com o ardor!”

“A caixa só pode ser aberta nesse evento

em que o senhor Hércules realiza o sacrifício,

que chegue intacta para a liturgia!...”

E como Hércules o enviara a toda pressa,

retornou Likas já no próximo momento,

sua biga a provocar poeira e bulício.

Mas só então Dejanira percebia

que o tecido jogado ao chão da peça

fora tocado por um raio de sol

e começara a arder como um farol!

 

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