sexta-feira, 6 de janeiro de 2023


 

 

A APOTEOSE DE HÉRCULES VII – 10 junho 2022

Sofrera o pano tão rápida combustão

que em instantes já se fizera em poeira!

E mesmo as pedras desse calçamento

estavam sendo em parte corroídas,

com uma fumaça vermelha em brotação!

Mandou um correio na urgência mais certeira,

atrás de Likas, para avisá-lo do portento,

grande distância entre as duas bigas!...

Dejanira sua ingenuidade amaldiçoou,

morresse Hércules, morrer também jurou!

O correio, porém, chegou tarde demais,

Hércules já envergara a túnica maldita,

até o momento sem causar efeito algum;

ele já havia sacrificado doze touros,

com o pelo imaculado, ofertas sacrificiais,

em agradecimento por vitória tao bonita

e no conjunto, não poupara nenhum

dos cem animais a marchar para desdouros,

mas então tomou uma tigela de vinho

e incenso custoso, que aspergiu devagarinho.

Sobre o altar, parecendo tudo bem,

mas de repente, soltou rápido grito,

como se uma cobra o tivesse mordido,

que o calor do altar enfim havia derretido

o sangue da Hidra, que misturara também

ao próprio sangue o centauro, com o fito

de se vingar após por ele ser ferido,

para impedir o seu delito pretendido;

e o veneno por todo o corpo se espalhou,

em fogo e lava as suas veias dominou!

Logo a dor se tornara insuportável:

da influência da túnica o herói suspeitou

e em desespero de seu corpo a arrancou,

mas era tarde demais, pois se grudara

em sua pele de forma inabalável!...

Cada farrapo que de si retirou,

largo pedaço de sua carne levou,

expondo os ossos de forma ignara:

seu sangue começara já a chiar

e pelas veias fervia sem parar!

 

A APOTEOSE DE HÉRCULES VIII – 11 junho 2022

Tal qual a água, quando nela se mergulha

uma espada, no fragor da ferraria;

o infeliz Hércules se lançou diretamente

no mais próximo regato que encontrou,

mas com o veneno a própria água borbulha,

que até o presente ainda quente restaria,

sendo chamada de Termópilas fervente,

o “riacho quente”, em que mais tarde ocorreria

a batalha que Leônidas com os Persas travaria!

Então Hércules pôs-se a correr pela montanha,

arrancando árvores ao longo do caminho,

até encontrar Likas, que horrorizado,

se havia entre rochas escondido;

em vão Likas tentou fugir-lhe à sanha,

gemendo escusas por seu ato mesquinho,

na inocência de ter o veneno transportado;

Hércules as pedras arremessou, mesmo ferido

e ergueu Likas no alto, além de sua cabeça,

três voltas dando em violenta pressa!

Logo a seguir, contra o mar o arrojou,

onde os deuses dele se apiedaram

e o transformaram em grande penhasco,

com aparência de cabeça e corpo humanos;

cada marujo que por ali depois passou

lançou oferendas e ao rochedo chamaram

de Likas, mostrando sempre o maior asco,

porque acreditam que está vivo e sofre danos

e até então ainda sofria e só alcançava

algum alívio se de sangue humano se molhava!

O exército todo de longe a observar,

em alta voz a emitir lamentações,

mas ninguém se atrevia, em seu horror

a chegar perto do infeliz guerreiro!

A retorcer-se em agonia foi Hércules chamar

seu filho Hylos, que sob as proteções

de panos grossos, afastando seu temor

de se queimar ao tocar seu corpo inteiro,

o colocou sobre um carro de boi,

que até o Monte Eta, já na Trácia, foi.

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