terça-feira, 20 de abril de 2021


 

 

A SERPENTE DE MOISÉS 1 – 19 ABR 21

 

Outro aspecto a causar um certo enigma

foi a serpente de bronze levantada

por Moisés no deserto e destinada

a curar as feridas dessa esfigma; (*)

há na doutrina cristã certo querigma (+)

dessa serpente ser previsão alçada

da vinda do Messias proclamada,

quando uma imagem a outra se consigna.

Há mesmo exemplos na iconografia

com a serpente de um lado e em seu oposto

a cruz futura ou de Jesus o rosto

a contemplar a tragédia que ali havia,

particularmente na pentecostal doutrina,

em que a serpente como símbolo se ensina.

(*) pressão, intensidade (+) doutrina

 

A SERPENTE DE MOISÉS 2

 

O que se acha no Pentateuco claramente

é que a serpente não foi então adorada;

contudo foi em santuário conservada

e depois reverenciada pela gente;

só um milênio depois fez-se presente

ao Rei Ezequias que era idolatrada

e o soberano a ordenou despedaçada,

fundida então para qualquer uso premente,

embora o bronze, aos olhos dos judeus,

representasse teimosia e obstinação,

só que adorar o invisível, realmente,

é bem difícil para a massa dos sandeus,

que imagens querem para focalização

e para isso Moisés ergueu serpente.

 

A SERPENTE DE MOISÉS 3

 

No ser humano é natural a idolatria,

nem todos podem conversar no coração

com esse Deus invisível, de onde estão

e uma imagem às igrejas chamaria,

como um foco que à prece serviria,

mesmo que seja uma real contradição;

ninguém me insista ser só veneração,

são mais imagens que o povo adoraria

e assim quando surgiram as cerastas,

cuja mordida é descrita como ardente,

afirmou ser um castigo o bom Moisés,

que para combater essas nefastas,

mandou fundir sua própria ênia serpente, (*)

como um foco que cristalizasse as fés.

(*) de bronze

 

A SERPENTE DE MOISÉS 4

 

Não que de fato tivesse forças curativas,

se alguém tinha algum poder era o profeta

e a Neushtan forma apenas indireta

de fazer crer que as picadas das nocivas

fossem curadas por suas preces tão ativas;

mas a serpente outra noção ainda completa,

pois nahash à adivinhação conecta

e de nachash chamam víboras esquivas.

Assim não é que no tempo de Ezequias

a serpente de fato se adorasse,

mas era tida igual que pitonisa

e algum esperto interpretava nesses dias,

como se Jeová por tal víbora falasse,

essa “cerasta na vereda” em que se pise...

 

A SERPENTE DE MOISÉS 5

 

Mas o nome Neushtan só quer dizer

“pedaço de bronze” em tom de desprezo

e não um nome que de Moisés trouxesse apreço,

dificilmente esse povo o iria dizer,

se bem que tudo é possível de se crer,

há quem de fato atribua oposto peso

a palavras que refiram “o adubo teso”,

usando o termo para algo que se quer,

algumas drogas referidas desta forma,

por quem delas se acostuma a utilizar;

talvez o povo quisesse a cobra desprezar,

na antonomásia da verdadeira norma

e tal qual uma serpente iludiu Eva,

outra serpente a combater do mal a treva...

 

A SERPENTE DE MOISÉS 6

 

Mas a inconografia é bem suspeita,

 por mais que traga sincera inspiração:

fazem Moisés enroscar nesse pendão

a tal serpente, qual em cruz sujeita;

mas ocorre ser a cruz em geral feita

no formato de T ou Tau nessa ocasião,

bem mais fácil de garantir-se a punição,

sem um lugar em que a cabeça deita

e assim ver na serpente ali enroscada

talvez lembrasse bem mais da Medicina:

para Esculápio ou Asclépio é que se inclina,

com seu símbolo de um grego caduceu...

E quem nos diz que Moisés, o sábio hebreu

não conhecesse tal imagem consagrada?

 

SONETOS MONSTRUOSOS XII

O HOMEM-BOMBA  I – 20 ABR 21

 

Minha vida não tem qualquer significado

senão aquele que me dá a religião;

sei que os explosivos despedaçarão

este corpo com que estou acostumado,

mas se eu puder levar junto a meu lado

os inimigos do sacrossanto Islão,

terá minha morte sua justificação

e após ela sei serem recompensado!

 

E mesmo que não haja um Paraíso,

(Setenta virgens de que me servirão?

Mais prazer me daria uma sharmuta) (*)

pela senda da jihad eu firme piso,

pois sei que muitos comigo morrerão

e por seus gritos ali estarei à escuta!

(*) prostituta

 

O HOMEM-BOMBA  II

 

Não tenho medo, pois sei que sou herói

e no martírio encontrarei a recompensa,

mas ao contrário do que muita gente pensa,

não é o ódio que no meu peito rói,

mas um amor tão profundo que até dói

pela sacra religião da antiga crença,

quando percebo a idolatria tão densa,

fazer preciso a obra que a destrói!...

 

esses ímpios para o inferno seguirão

e que me importa que morra uma criança

ou as mulheres que vão comprar comida

nessa feira populosa em que estarão,

quando eu morrer num grito de esperança,

tendo a certeza de minha futura vida?

 

O HOMEM-BOMBA  III

 

Não sei bem até que ponto minha Shariya (*)

corresponde, de fato, ao Alcorão;

os mandamentos de Maomé indicarão

que os inimigos do Islam se enfrentaria,

mas onde achei esse verso que dizia

pouco importar se crianças morrerão

ou as pessoas inocentes que ali estão,

quando a explosão a tantas mataria?

(*) Interpretação da lei islâmica

 

Porém confiança deponho em meu imã

ou no grão-mufti de Jerusalém,

sei que minha morte em nada será vã!

Pequena dúvida, contudo, se insinua:

se é obra meritória, então, também,

devia o imã despedaçar-se nessa rua!...

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