sexta-feira, 23 de abril de 2021


 

 

Os Leões de Daniel 1 – 22 abril 2021

 

Por uma questão de princípio eu acredito

Em cada narrativa do Velho Testamento,

Não ponho em dúvida a existência do portento,

Nem com a ciência percebo haver conflito;

O relato da Criação tal qual descrito,

Nesses seis dias de proclamado assento,

Confirma a geologia em cada evento,

Na mesma ordem em que ocorre o que foi dito.

 

E os milagres do Êxodo, envolvendo

As pragas do Egito e esses quarenta anos

Que os Hebreus passaram no deserto,

Resultado das erupções de Santorini sendo,

Essas colunas de fumaça e fogo arcanos

Perfeitamente explicáveis neste acerto.

 

Os Leões de Daniel 2

 

Assim foi Daniel lançado à cova dos leões,

Malignamente mantidos esfomeados,

Acreditando que sobre ele seriam lançados,

Nessa impiedade dos Babilônios corações;

Porém diverso de muitas outras ocasiões,

Permaneceram os leões bem sossegados;

Em pé Daniel, as feras de outros lados,

Sem lhe tocarem em quaisquer agitações.

 

Isso é explicável. Se Daniel ficou parado,

Envolto em largas e longas vestimentas,

Os leões não o consideraram alimento,

Pois o Profeta rezava descansado,

Sem emitir cheiro de medo em tal momento,

Nem excitar das alimárias as suas ventas...

 

Os Leões de Daniel 3

 

Mas quando ali lançaram seus acusadores,

O seu terrível temor foi revelado

Logo o apetite das feras atiçado,

O odor de medo a brotar de seus temores...

Já o caso dos Mancebos, que louvores

Recusaram aos deuses não é explicado

E até hoje conserva-me intrigado

Sua resistência da fornalha a seus calores...

 

Eram os três Ananias, Mizael e Azarias,

Em babilônio Shadrach, Mezech e Abed-Nego,

Mantendo pura a sua alimentação,

As carnes a recusar e outras iguarias

Sacrificadas aos deuses, qual sacrílego

Procedimento a contrariar sua devoção

 

Os Leões de Daniel 4

 

A sua sentença foi então bem mais cruel,

Sendo lançados no ardor dessa fornalha,

Fogos de óleo e de madeira e não de palha,

Mas uma espécie de bolha, como anel,

Cercou os três contra a fúria de Azrael,

De nem um só de seus trajos queimou malha

E ainda apareceu um quarto ali que os agasalha,

Cantando hinos tão suaves quanto o mel.

 

Em geral dizem que seria um arcanjo,

Quando a força de sua fé os protegeu,

Mas é tão só a religiosa explicação;

Como astronauta também surgiu arranjo...

Eu acredito que isto de fato sucedeu,

Mas só por fé, em oposto da razão.

 

Os Leões de Daniel 5

 

Tirando a sugestão desses teóricos

Que proclamam astronautas deuses serem

Ou explicações no Talmude a se conterem

Ou quaisquer controvérsias de retóricos,

Ou dos fundamentalistas mais eufóricos,

Que a cada verso literal querem se aterem

E só um milagre neste fato verem,

Ou argumentos até mais paregóricos...

 

Não consegui dar forma racional

A este evento tão sobrenatural,

Que falando francamente, me incomoda!

O meu único obstáculo, afinal,

A uma leitura perfeitamente natural...

Como explicar a ainda mais estranha coda?

 

Os Leões de Daniel 6

 

Porque o rei arrependeu-se do castigo

E de Daniel o conselho então seguiu,

A retirada dos condenados permitiu,

Mas encontraram os algozes tal perigo,

Que nas chamas morreram sem abrigo;

O quarto vulto logo a seguir sumiu

E os três desceram do fogo que rugiu,

Sem sequer fuligem a trazer consigo...

 

E novamente, foram seus acusadores,

Para a fornalha por lanças empurrados,

Não querendo chegar mais perto os soldados,

Naturalmente morrendo em estertores...

A minha dúvida porém permaneceu,

Pois não entendo como isto aconteceu.

 

SONETOS MONSTRUOSOS XIV

O HINO DOS MONSTROS  I – 22 ABR 21

 

Por ti passamos invisíveis pelas ruas,

que nossos crimes não se vêem na cara;

fossem visíveis, quem não disparara,

ao contemplar tais crueldades nuas...?

Já fomos vítimas, porém tais falcatruas

nós cometemos,  em crueza impura e rara:

torturamos e matamos à luz clara,

após nascermos sob nefandas luas!...

 

Nas multidões marchamos sempre a sós,

respirando para todos malefícios,

nosso prazer tão só a perversidade;

pois é isso que fizemos todos nós,

trazendo outros para nossos vícios,

os Treze Apóstolos da Malignidade!...

 

O HINO DOS MONSTROS  II

 

Muito embora ainda temamos punição,

temos orgulho daquilo que fazemos,

dominadores dos humanos mais pequenos,

cuja morte nos faz bem ao coração!

E quanto mais nossos malfeitos se exporão,

mais seguidores nós encontraremos,

ainda agora que os celulares temos

como veículos para tal propagação!

 

Quando a imprensa expõe, alacremente,

os nossos crimes e lhes dá publicidade,

não nos dá condenação, na realidade...

Mas por ali influenciamos tanta gente

a praticar símiles atos de maldade,

sua natureza desde o berço já inclemente!

 

O HINO DOS MONSTROS  III

 

E não me venham dizer que a tentação

de qualquer criatura apavorante

desses monstros a moral levou por diante:

são só exemplos da humana gestação;

sobrenatural não se busque explicação,

que o ser humano é bem capaz de delirante

maldade cometer e este descante

de nossos próprios gens traz a noção!

 

Porque assistimos, através da história,

tantos massacres de nossos irmãos,

de Judeus, Cátaros, Protestantes, pelas mãos

de quem justificou tal sede inglória,

por religião, por política ou estética,

mesmo hoje a ver-se exemplos dessa ética!

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