quarta-feira, 16 de agosto de 2023


A FADA DO RIO (30 jun 11)

    (Conto popular eslavo, recontado por William Lagos.)

 

A FADA DO RIO I

 

Às margens do Dnieper, um moleiro

por nome Vássia, vivia há muitos anos.

Ele expandira de seu pai os planos,

moía trigo e ganhou muito dinheiro.

Tinha uma filha, a quem, por brincadeira,

chamara de Rusalka, uma bravata

de quem as lendas do povo não acata,

que lhe custou má sorte bem certeira...

 

Pouco depois, sua esposa faleceu,

após ter dado à luz outra menina.

Já ressabiado de brincar com a sina,

o nome simples de Ana então lhe deu.

Tentou então concentrar-se no trabalho

e tinha amas cuidando das crianças.

Pôs em novo casamento as esperanças

e se casou, no descuido de ato falho.

 

Porque Natasha, a sua nova esposa,

não pertencia realmente à raça humana.

Não era bruxa, mas condição arcana

tornava, às vezes, a sua pele rosa

em um couro peludo, quando a Lua

no céu brilhava. na época da Cheia...

Não era loba, como se receia,

mas as roupas tirava, ficando toda nua...

 

A FADA DO RIO II

 

Ela encolhia e perdia a cabeleira;

uma cauda entre as pernas lhe crescia

e transformada em gata, ela fugia

por duas noites, só voltando na terceira.

Assim a Vássia ela sempre dizia

que prometera, ao menos uma vez,

quando chegasse o final de cada mês,

ir visitar sua mãe... E não mentia.

 

Porque Nadezhda, sua mãe, era outra gata

e assim as duas subiam nos telhados,

cantando à Lua, em dueto de miados,

alimentando-se com os pássaros da mata.

E quando a Lua deixava o apogeu,

as duas retomavam a forma humana.

O pelo lhes caía, como escama,

nesse capricho que o Fado assim lhes deu.

 

Natasha então da mãe se despedia

e voltava de novo a seu moinho...

Tratava Vássia com o maior carinho:

que era a madrasta, dizer ninguém podia,

pois a Rusalka e a Ana demonstrava,

em mil cuidados, um perfeito amor.

Educava as duas meninas sem rancor,

limpava a casa, tecia e cozinhava.  

 

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