quarta-feira, 30 de agosto de 2023


 

 

PLURIPOLIPSISMO I – 22 AGOSTO 2023

(Germaine Greer, a grande dama  do feminismo, 

autora de  O  Eunuco Feminino).

 

Há uma teoria em que às vezes eu medito:

que o mundo era mais simples no passado,

mas que por alguns homens foi pensado

e a partir de então assumiu maior conflito,

que algum artista imaginou algo bonito,

que logo a seguir se tornou realizado,

que o mundo fosse algo mais idealizado,

sem se pensar em qualquer sonho mais aflito.

 

É o pensamento que alcança um novo nexo

e assim torna o Universo inteiro mais complexo,

num ato quase de plurisolipsismo,

que muita gente não pode acompanhar,

que me parece uma ideia milenar,

uma contradição ao antigo maniqueísmo. (*)

(*) Oposição entre entidades do Bem e do Mal.

 

PLURIPOLIPSISMO II

 

Eu recordo que quando era adolescente,

em minha simplicidade até julgava

que amor apenas sonetos inspirava,

que nada houvesse em poesia mais potente.

Mas pouco a pouco, sem ser nada de repente,

minha opinião bem diversa se tornava,

em quantidade novos temas encontrava,

que outros usavam em estrofe diferente.

 

Crença encontrava neste sentido, sobretudo,

que o soneto era uma forma superada,

que tão somente ao amor era votada,

que outro formato deveria ser usado,

porém deveria algo novo a ser criado,

por mim, ao menos, recusado após estudo.

 

PLURIPOLIPSISMO III

 

Mas se de fato foi minha imaginação,

que reconheço ser às vezes desvairada,

que transformou o soneto em revoada,

usando temas de mais ampla aplicação?

Foi Rutherford o autor da criação

do modelo do átomo, ou apenas encontrada

esta noção por matemática aplicada

e depois dele, Einstein e Niels Bohr em discussão?

 

Que ampliaram  tal modelo matemático,

de fato criando um pluriverso mais complexo

e outros teóricos de impulso tétrico

tornaram a noção cada vez mais intrincada?

Será que cada físico adiciona um novo nexo

e o torna real após a ideia publicada?

 

PLURIPOLIPSISMO IV – 23 agosto 2023

 

Existe um pensamento muitas vezes retomado

por certos filósofos de caráter incomum.

Segundo estes, não existe ser algum,

apenas eles, por quem tudo foi criado.

Mesmo que o mundo lhes seja atribulado,

por percalços e doenças, não há mais nenhum,

seu inconsciente a contrariar o senso comum,

para admitir que também o tenham realizado.

 

Sem dúvida, seu julgamento é contrariado

para que o mundo lhes pareça mais real,

criado por deuses ou por seres quaisquer,

mas na verdade tudo aquilo experimentado

derive de si mesmo, qual castigo natural,

e que a tristeza seja um desejo que se quer.

 

PLURIPOLIPSISMO V

 

É costumeiro denominar solipsismo

a esse desajustado sentimento,

que tudo existe pelo seu portento,

modificado consoante o seu modismo.

E novamente vemos o maniqueísmo,

Imaginar que algum mal de seu passado

o possa escravizar de modo inesperado,

criando nele um tal negativismo.

 

Também se encontra em potencial no marxismo,

que busca a humanidade inteira dominar

e até se arroga o direito de a criar

e assim Guevara, no seu romantismo,

queria o inteiro continente transformar,

na inteira forma de seu criacionismo.

 

PLURIPOLIPSISMO VI

 

Mas o solipsismo é posição contraditória.

Por que criar-se um mundo assim perverso?

Por que aceitar-se um fado sempre adverso,

que não lhe dê possibilidade de vitória?

Contudo, se a situação é meritória,

tal sentimento pode mesmo ser reverso,

se tudo é bom, por mim que foi converso,

sem mim a vida seria em extremo inglória!

 

Porém é certo que esse posicionamento

sempre haverá de encontrar impedimento,

caso deseje alguma coisa transformar

e nesse caso surge estranho julgamento,

será um erro que criou nesse momento

ou de outro modo o próprio mal quis desejar.

 

PLURIPOLIPSISMO VII – 24 agosto 23

 

Há duas décadas lançaram um filme para nós,

chamado de Matrix, em que todas as pessoas,

não importa sendo maléficas ou ao invés boas,

estavam ligadas a um mecanismo atroz

e de seus próprios sonhos a viver empós;

se mostraste a devoção em muitas loas

ou em tristeza, tais imagens então doas

para o alimento dessa entidade algoz.

 

Todos os sonhos em só corrente elos e nós

por estas células do monstro gigantesco,

por soro e vitaminas sustentadas,

sem perceber jamais se acharem sós,

mas de algum modo felizes no grotesco,

todas as mentes totalmente escravizadas.

 

PLURIPOLIPSISMO VIII

 

Seria este então o grão-solipsista,

que assim criara seu próprio universo,

partes de si em cada ser disperso

nas células que formavam sua conquista?

Eu, pessoalmente, não esposei tal vista,

nem de inteligência onisciente em pluriverso,

nem de um humano ter sido assim converso

em tal suprassumo de ideário comunista,

 

em que tudo pertencesse unicamente,

não à comunidade, mas sim a seu senhor,

que a vida inteira conservava a seu redor,

contudo em outro aspecto sou crente:

que universos criaram escritores,

desde Milton a Alighieri em seus horrores.

 

PLURIPOLIPSISMO IX

 

Cada qual a conceber sua humanidade,

os seus mistérios e recônditas paisagens,

a repetir seus próprios personagens,

que só em sua mente existiam de verdade,

 Asimov, Heinlein, Bradbury em relialidade,

quantos romances e novelas de passagens

deixaram para trás em suas viagens,

temporárias que fossem na inverdade?

 

Penso destarte na Comédia Humana,

em Ponson de Terrail e Rocambole,

nas tantas vidas de Jules Verne e Maupassant,

cuja obra contínua nos reclama

para um universo que tudo o mais engole

e assim nos prende em sua imensa criação!

 

PLURIPOLIPSISMO X – 25 Agosto 2023

 

Grandes poetas, como Neruda e Luiz Delphino,

que nos deixaram tão vasta criação,

solipsistas seriam em seu próprio coração,

sem escutar da inspiração o sino?

Eu pessoalmente renego tal destino,

vezes sem conta já expressei minha opinião

de quanto escrevo eu o fiz por doação,

sonhos soprados por qualquer alheio tino.

 

Sei ser apenas um honesto lavrador,

que sempre planta a semente que recebe,

tanto o que quer, como aquilo que não pede;

se alheio solipsismo é de mim o criador,

que então se manifeste no mais puro ardor,

que a seu espírito o meu favor não mede.

 

PLURIPOLIPSISMO XI

 

Porém voltando a nosso tema principal,

sempre confiei no inconsciente coletivo:

quanto mais seres humanos, mais ativo

e mais influencia este mundo natural.

Mas há um solipsismo em tal ponto geral:

que eu seja parte do instante redivivo

e de meus antepassados seja o crivo,

grande Ouroboros que dura até o final. (*)

(*) Serpente a morder a própria cauda na eterna recorrência.

 

Enquanto eu em breve não serei,

apenas ossos, se não for cremado,

como expressei meu desejo firmemente,

mas esta vasta herança deixarei,

por mais que bens não tenha acumulado

e que minhas cinzas se vão ao sol poente.

 

PLURIPOLIPSISMO XII

 

Existirá solipsismo em Dionyso

ou, quem sabe, solipsista foi Apollo?

As Nove Musas que nos deu para consolo

não eram mais que fragmentos de seu viso?

Perante os grandes mestres não me aliso,

não sou Muslim, porém me prostro ao solo,

nem sou padre, estirado sem ter dolo,

à espera da ordenação de puro aviso.

 

Somente sei que por Alguém fui abençoado

com este Dom de Línguas consagrado

e que, portanto, a mim nada pertence,

somente espero que sobre um resultado,

porque esta obra minha própria morte vence,

que de minha raça a real cultura adense.

 

PLURIPOLIPSISMO XIII – 26 Agosto 2023

 

Será que enfim a humanidade tão somente

descreva as coisas que ali sempre estiveram,

que ancestrais até mesmo conheceram,

mas sem serem reconhecidos pela gente?

O fato é que em período bem recente

tantas coisas os cientistas recolheram

de velhos fragmentos que a esmo se perderam,

em papiros ou em pergaminho mais potente.

 

Não fomos nós, então, que isso criamos:

Demócrito o átomo há muito conheceu,

Rutherford novamente o concebeu

e Einstein e Bohr repetiram dos Romanos

e dos Helenos o que fora já esquecido,

quando o tempo certo foi de novo adquirido?

 

PLURIPOLIPSISMO XIV

 

Sei que esperavam sonetos mais de amor,

pois tenho amor por todas as mulheres,

por homens também e pelos pequenos seres

que aqui prosseguirão quando eu me for

e assim espero de todo o seu vigor

novos progressos ao cumprirem seus deveres,

que não se gastem em falsos prazeres,

a vida a desperdiçar em tal horror.

 

Mas acredito que o inconsciente coletivo,

que Brahma, Júpiter, Jeová ou Alá,

o único Ser com razão solipsista,

aconselhar saiba cada seu filho adotivo

e a humanidade ao progresso levará

a tomar as decisões na melhor pista.

 

PLURIPOLIPSISMO XV

 

E se acaso for o dom da humanidade

tudo criar que exista a seu redor,

concebido o Multiverso em complexo maior,

foi assim que a criou a Divindade.

Não tenho dúvidas sobre essa Imensidade,

que nos forjou para seu próprio louvor,

mil avatares assumindo em seu amor,

conforme a humana de então capacidade.

 

Não acredito em um final apocalipse,

como o interpretam tantos convencidos;

será o Pralaya apenas uma elipse

e um novo Mahakalpa haverá de retornar, (*)

em novos sonhos felizes ou sofridos,

num Pluriverso que certamente há de voltar.

(*) O Sono de Brahma entre duas Grandes Criações.

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