sábado, 17 de fevereiro de 2024


 

 

Descrição: C:\Users\Windows7\Documents\ANNA SOPHIA BERGLUND 17A.jpg

 

NOVELETTE 1 – 4 FEVEREIRO 2024

(ANNA  SOPHIA  BERGLUND, atriz islandesa)

 

Em minhas paixões por quem eu nunca tive,

As rédeas soltas sempre dou à imaginação,

Especialmente se experimento a sensação

Que não as tive porque apenas me contive;

E quando penso naquelas com quem estive,

Os critérios consulto de meu tolo coração

E então eu penso que tão curta duração

Só amargurou a ilusão que não obtive.

 

E então me indago como tanto romantismo

Sobreviveu ao contatar da realidade:

Curtido o beijo, desfeita essa vontade,

Só na lembrança recordo esse modismo,

Que me leva a sentir tanta saudade

Dessas que tive sem ter queremismo.

 

NOVELETTE 2

 

Então me indago: será mesmo que as queria

Ou não queria e assim mesmo tive

Ou então queria para sempre e não obtive

Tal resultado dessa ânsia que nutria?

Beijos são beijos, por mais que algum se esquive,

Talvez os que obtive quando amor me perseguia

Tenham sido perdidos por alguém que os esquecia

No côncavo de um rosto em que a lembrança vive.

 

Talvez os que mais tive foram só os imaginados,

Os beijos verdadeiros sem receber jamais,

Mas furtados de sonhos e à saudade condenados,

Beijos perdidos permeio a fios dourados,

Por sobre a comissura dos lábios consensuais,

Contidos em si mesmos, mas buscando ser beijados.

 

NOVELETTE 3

 

Porém de tantos beijos, quais são os verdadeiros?

Esses gravados nas películas mais ardentes,

Que nos sonhos se conservam mais como entrementes

E a carne só arrepiam num orvalho seresteiro?

São os beijos mais reais que recebi primeiro,

Mas que logo coagularam em degustar frequente,

Em hemoptises breves de amor subjacentes,

Ao passado pertencentes de que não mais me abeiro?

 

Mas os beijos dos senhos, quer sejam de terceiros,

Casados de algum modo nos cantos de minha mente

Ou sonhados só por mim em cantochões arteiros,

Renovam-se, afinal, a cada vez que os sonho,

Enquanto esses reais se evolaram totalmente,

Deixando só um sabor nos versos que proponho.

 

INSISTÊNCIA 1 – 5 fevereiro 24

 

Já lá se vão talvez uns trinta anos,

Em que compus diariamente uns três sonetos,

Esculpidos por minha fé nos desenganos...

Ou quatro ou seis na esteira dos afetos.

São tantos que escrevi de amores incompletos

Ou de amores nutridos na multidão dos danos

Que a mim mesmo causei, julgando ser diletos,

Ou que causei a outrem, satisfeitos meus afanos.

 

O certo é que os esqueci e quando algum releio,

Não consigo encontrar o motivo para o pranto

Ou para a exultação que neles descrevi,

Ao serem beijos agrestes nas flores de algum seio,

Ou no umbigo da vida, em seu eterno canto,

Em vitórias e derrotas que nunca mereci.

 

INSISTÊNCIA 2

 

E nem ao menos sei o tempo que encontrei

Para os datilografar na máquina de escrever,

Enquanto traduzia o quanto pude ler,

Nos intervalos perdidos que assim lhes dediquei.

Nem reconheço como meus centenas que mandei,

A maioria de fato a deixarem-se esquecer,

Talvez porque tão rápido deixassem-se fazer

Esses retalhos da mente que apenas arranquei.

 

Tempo houve para a escrita, mas não para a lembrança,

Dois minutos em média, sem nada corrigir,

Esses versos de luar que o Sol logo queimava

E que se foram lançar nas vagas da esperança,

Jamais recordados seus instantes de sentir,

Que as asas se escaparam enquanto as enviava.

 

INSISTÊNCIA 3

 

Por isso, tantas vezes eu afirmo que são teus,

Se assim os recolheste em plena madrugada,

Cada estrofe tiritante assim abandonada,

Perdida para a vida por meus atos saduceus.

Mas tanta gente conheço de humores fariseus,

Que junta os próprios versos tal qual alma penada,

Para vê-los impressos veloz em revoada...

Mas se acaso os imprimir se tornarão em meus?

 

De qualquer modo é certo que tempo não me sobra,

Para reler mil páginas de estrofes completadas,

Satisfeirtas consigo em auas verves limitadas,

Indolentes de orgulho por tão pequena obra,

Tantas vezes relida, memórias segregadas

Nesses egos vertidas em tanta água salobra!

 

AMOR ORBITAL 1 – 6 FEVEREIRO 24

 

Quando ofuscado de amor eu me encontrava,

Inadequado satélite de tua luminescência,

Rondava a teu redor à luz de minha impaciência,

Mas de tua translação o ritmo me escapava,

Porém tua rotação constante me chamava,

Cada hora outra face me incitava a ardência,

Tua libração, contudo, possuía igual potência,

Em cometa me mostrava, mas nunca te alcançava!

 

E assim te acompanhei ao longo de três anos,

Três meses e três dias, buscando teus sorrisos,

Com apertos de mão, conversações gentis,

Em minha insensatez mostrando mais insanos

Os meus desejos, só encontrando risos,

Sem insistir demais, só insinuações sutis.

 

AMOR ORBITAL 2

 

Como em canção de gesta, os anos se passaram,

Até 333, o número místico, nos chegar,

Somente então teu amor poder provar

E nesse abraço, corpo e alma calcinaram.

Não sei se te fiz bem, os anos continuaram,

Sem ser mais um satélite a teu redor andar,

Depois que realizei meu sonho milenar:

Talvez quais meteoros dois corpos se juntaram.

 

Se meteoro eu fui, que grande cataclismo

Causei na superfície de tão meigo estelar,

Um astro e um cometa assim a se mesclar

E ainda desconfio, na vastidão do abismo,

Que número afinal eu pude completar:

Seria 666 no acoplar-se desse par?

 

AMOR ORBITAL 3

 

Para mim, pelo menos, foi algo apocalíptico;

Nunca mais sendo o mesmo após te contemplar,

Meu amor apaixonado sempre a revelar

Senti-me transformado de individual em díptico,

Porém tanto insisti na força desse tríptico,

Pensando em minha soberba poder te completar,

Em minha razão egoísta julgando ser teu umbílico.

 

Talvez devera enfim, ter-te deixado só,

Porém me diluí no oceano de teu beijo

E assim te persegui tal qual um maremoto,

A desconfiar às vezes que foi bem mais por dó

Que enfim condescendeste ao ardor de meu desejo,

Mesmo temendo em mim perigos ignotos...

 

AMOR ORBITAL 4

 

Contudo, em mim por certo tu foste um terremoto,

Pois quando um meteoro invade alguma estrela,

Sugado no fulgor de sua estranheza bela,

Se afunda integralmente em qualquer ponto secreto

E se esfarela no forte choque in toto,

Cinza e poeira a distribuir ao derredor qual vela,

A estrela a recobrir nesse termo de prccela,

Tal qual coroa de flores deposta como ex-voto.

 

Assim que me incluí em ti sem mais perdão,

Mas penetrei bem fundo até teu coração,

Nada sobrando que em ti ficasse de intocado

E se mal eu te causei após essa implosão,

Recorda apenas como foste o meu ideal amado

E que é dentro de teu peito que me encontro sepultado!

 

INVASORES 1 – 7 fevereiro 2024

 

Temo que os javalis um dia invadam minha cidade

E me encontrem passeando ao redor do cemitério,

Entrando em multidão qual pleno despautério,

Que eu fuja às pressas de sua ferocidade!

Por enquanto só imagino a sua atividade;

Até o presente apenas compus o meu saltério,

Escavando o imaginar de um arcano eremitério,

Para o implantar em turfa de feraz fertilidade.

 

De fato, até o presente jamais os encontrei,

Exceto em sonho, quiçá, mas nunca em pesadelo,

Mas sei que o pampa devastam em tal  tenacidade;

Alguma vara javalina nos jornais somente achei

E os agricultores deter não podem tal flagelo

Devido a leis injustas, nem diminuir sua quantidade!

 

INVASORES 2

 

Porém não há motivos, são de algures importados,

Para variar um pouco o sabor de seus churrascos,

Pelos suínos mansos demonstrando certos ascos,

Sem conseguirem de fato mantê-los confinados!

Muitos nobres na história já foram massacrados,

Durante essas caçadas, pisados pelos cascos,

Mordidos pelas presas e seus colmilhos vascos,

Que foram buscar lã e enfim foram tosquiados!

 

Porém na antiga Europa, frequente era a escassez,

Era a caça necessária para a mesa abastecer

E as colheitas e hortas igualmente proteger,

Porque fuçam o solo na maior desfaçatez;

Porém carne de ovelha não falta para nós,

Por que importar assim tropilha tão atroz?

 

INVASORES 3

 

Ocorre que as pocilgas vêm sendo devastadas,

Quando um macho javali vem as porcas conquistar

E se o marrão resiste, fácil o podem massacrar,

As crias mostrarão os fenótipos passados,

Antes que os porcos fossem por nós domesticados;

E esses javalis não se deixam limitar

Pelo cio das porquinhas, quais humanos a forçar:

Suas próprias javalinas com crias já ocupadas.,,

 

Por que então não posso hoje imaginar

Que uma vara de javalis invadisse minha cidade

E humanos atacassem na maior ferocidade?

Até o presente, que eu saiba, não o foram realizar,

Mas se as plantações e hortas destruirem sem parar,

Só posso imaginar tal infeliz possibilidade!

 

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