segunda-feira, 8 de janeiro de 2018





A REDENÇÃO PELO PECADO
NOVAS SÉRIES DE WILLIAM LAGOS -- 9-13/10/17

A REDENÇÃO PELO PECADO -- 9 OUT 17
ESVAIMENTO - 10 OUT 17
SINGULARIDADE - 11 OUT 17
CONGREGAÇÃO -- 12 OUT 17
RARIDADE -- 13 OUT 17
SONETOS EM INGLÊS
rarity -- mar 31, 2006
APRIL FOOL -- april the first, 2006
ASHFLAKES -- april the first, 2006
GIVEUPPANCE -- apr 2, 2006
FREE BOON -- apr 2, 2006
HINTING -- apr 7, 2006

(GRIGORI RASPUTIN, ESPOSA E FILHA, CIRCA 1911)

A REDENÇÃO PELO PECADO i -- 9 OUT 2017

Segundo afirmam, o monge Rasputin
descria do Pecado Original,
certeira, a salvação espiritual
só pela Graça se alcançaria assim.

Mas sem haver um pecado carmesim,
não haveria da Graça o bom caudal;
era preciso dar-lhe forma material
para alcançar de Deus tal Graça, enfim.

O monge russo assim interpretou
de Paulo Epístolas no Novo Testamento:
sem ter pecado que a Graça não se achasse!

E às seguidoras então recomendou
que acumulassem até o arrependimento
esse tesouro em que o pecado se tornasse!

A REDENÇÃO PELO PECADO II

Era contrário a seu temperamento
de a seu próximo qualquer coisa furtar
e sem motivo não poderia matar,
contra a mentira sentindo impedimento.

Como vivia no mais total comedimento,
não estava em sua natureza cobiçar,
sendo um bom russo, a mãe iria respeitar
a seu pai obedecendo em algum momento.

Em um só Deus ele cria realmente,
sem adorar imagens de escultura
e sem de Bog tomar o Nome em vão! (*)
(*) "Deus", em russo.

Para pecar, o que fazer, então?
De um mandamento apenas a ordem pura:
dedicando-se a infringi-lo com paixão!

A REDENÇÃO PELO PECADO III

Sobrava assim tão só um julgamento,
o "Não Adulterarás", ou seja, o sexo
fora do matrimônio, cujo nexo
aceitaria sem maior impedimento...

Com as discípulas praticava a bom contento
a velha arte do amoroso amplexo,
que na verdade nada tinha de complexo:
tantos praticam sem precisar de tal assento!

E convenhamos ser bastante conveniente
acumular-se uma dívida com a Graça
tanto mais vezes quando mais se abraça!

Mas com os homens ele era indiferente:
o que apreciava mesmo era a mulher,
sempre com elas mais Graça a requerer!

A REDENÇÃO PELO PECADO IV

Qual Rasputin, existe tanta gente
que destarte justifica o seu desejo
de gozar com frequência de algum beijo,
sem compromisso qualquer com a lei vigente!

Mas poucos têm um porte assim valente
e muitas vezes deparam mau ensejo,
que algum marido irá cobrar seu pejo,
provocado pela ação desse insolente!

Não é preciso haver pecado original
e nem ao menos quebrar os Mandamentos
para que o Espírito sobre nós derrame a Graça!

Porém em nós há a tendência natural
de condenar-nos pelos próprios julgamentos,
na amarga culpa que o peito nos perpassa!

A REDENÇÃO PELO PECADO V

No extremo oposto estão os confessores,
que passam garimpando algum pecado
para depois absolver o confessado
que antes nele nem notara tais pendores!

Mas de seus púlpitos espalham os terrores
de um inferno de sofrer atribulado,
de um purgatório que deva ser atravessado
antes que o Cristo distribua Seus favores!

Foi tal doutrina que conduziu às indulgências,
comprada assim alguma salvação,
bastando para isso a excelsa mão

de sacerdotes flexíveis de consciências,
com o pretexto de dispor de algum tesouro
para perdoar Cristão, Judeu ou Mouro!...

A REDENÇÃO PELO PECADO Vi

E ainda existem os místicos sinceros
que se atormentam em cilício e no jejum,
em suas consciências encontrando sempre um
pecado a expiar em gestos feros!...

Alguns deles se demonstram muito austeros
e realmente se convencem ter algum
pecadilho de orgulho; e, sem nenhum,
cobram de si os menores lero-leros!...

Mas nisso tudo contrariam as Escrituras,
que nos declaram somente haver um sacrifício,
pelo qual sobre os humanos desce a Graça;

basta aceitar essa doutrina sem pirraça,
sem penitência para o próprio benefício,
de São Paulo a seguir doutrinas puras!

ESVAIMENTO I -- 30/3/2006

eu vi Teu vulto a se escoar aos poucos,
iluminado em forma intermitente
por luz que se filtrava; indiferente
fulgor, que a meu olhar ouvidos moucos

fazia, enquanto a sombra de alguns tocos
de árvores cruéis, malevolente,
recobria Teu busto, competente
e Teus quadris somente esgares loucos

podiam divisar...  até o instante
em que Te foste enfim e, de meu peito,
saiu largo suspiro temerário,

daquela queixa o arauto palpitante:
por que dormes sozinha no Teu leito,
enquanto eu durmo em leito solitário?...

ESVAIMENTO II -- 10 OUT 2017

que infausta coisa é Teu afastamento!
Tu que já foste tão grande para mim,
ir encolhendo, a diminuir, enfim,
guardada a proporção de meu lamento...

que estranha coisa o calmo movimento,
em que Teus braços, aroma de jasmim,
foram girando e Teus quadris, assim,
um pouco a balançar em manso alento...

e vais ficando cada vez menor,
ainda que sempre guardada a proporção,
só meu lamento é que nunca diminui!

perdida toda a proporção, se faz maior,
de Tua longa ausência em expectação,
enquanto toda a esperança ao redor rui!...

ESVAIMENTO III

posso afirmar tão só que, enquanto vejo
Teu corpo diminuindo até sumir,
contigo a transportar todo o desejo
para a incerteza que não há de diminuir,

dentro da mente não se pode diluir
reminiscência sutil de um simples beijo,
expandido, em solidão a se imiscuir,
loucamente a reviver o antigo ensejo.

vais-Te escoando ao longo da calçada
e quando esperava Te ver, mesmo pequena,
sem ter mais pena, dobras uma esquina,

minha visão a tornar despedaçada,
na amargurada coesão da mágoa extrema,
pois mesmo a sombra nos ladrilhos já se fina...

ESVAIMENTO IV

não sei dizer se Te percebo qual menina
ou no constante suspeitar de um manequim,
se nem a sombra mais acena para mim
e só imagino o vago odor que me fascina.

como lamento não seguir parelha sina,
casca de amor em botões de gergelim,
casas rasgando das veias no jardim:
para fechá-las eu corro e dobro a esquina...

e Te persigo, mas não mais estás na rua,
entraste em alguma porta e não me vês,
em minhas pupilas Te concebo toda nua,

mas é somente um vulto esquivo de fumaça,
sem que outro beijo solitário ainda me dês,
rude fantasma, que me assassina e passa!

SINGULARIDADE I -- 31/3/2006

Sempre uma sorte de amor,
Porém nunca amor sem sorte,
Pequeno ardor sem fragor,
Porém vasto ardor de porte,

Amor de ardor de valor,
Lançado em árduo reporte,
Singelo em seu destemor,
Audaz em seu vasto esporte

De compreensão só mental,
De afago ter racional
Amigo amor nesta hora

Gera espanto e exultação,
Na espera da avaliação
De quanto amor nos devora.

SINGULARIDADE II -- 11 out 17

Amor brisa tão ligeira,
Em umidade no ar,
Costura tão singular
Quando do peito se abeira

Fechando a ferida inteira,
Mas permanente a ficar,
Passageiro a se escoar
Nessa ausência verdadeira

Doce amor que a mente rói
E ocupa o espaço vago,
Amor que nos olhos trago,

Amor que meus ossos rói,
Que ocupa veia e tutano,
Fraturar de cada ano.

SINGULARIDADE III

Amor sendo singular
Quando plural se queria,
Amor sentido imortal,
Quando morto se fazia.

Amor doce que iludia
Em redondilha fetal,
Que em poema se dizia,
Eivado de bem e mal.

Amor de um amor sem sorte,
Mas que sorte sempre o é,
Por mais se julgue ser má.

Melhor amor ter que a morte,
Morta sorte sendo até
O amor que comigo está.

SINGULARIDADE IV

Amor que não se perdia,
Que não surge nunca mais,
Amor feito de jamais,
Em dourada nostalgia...

Amor da melancolia
De sonhos feitos carnais
Em mil ausências mortais
De um parto que não viria...

Amor singularidade,
Tal qual explode universo,
Até hoje a se expandir,

Esse amor sem caridade
Que se acorda no meu verso
E depois não vai dormir.

CONGREGAÇÃO I - Wm. Lagos, 21 OUT 03

Se duvidas de Deus, contempla as flores:
Elas existem, belas e concretas.
Não precisam de ti, pois são completas,
Nem compartilham tuas fomes, teus temores.

Se duvidas de Deus, contempla as flores:
Elas existem, meigas e perfeitas,
Mas não escutam tuas preces contrafeitas
Nem se comovem ao peso de tuas dores.

Elas existem, em plena natureza,
Perfumam teu olfato, com certeza
Agradam teu olhar e até murmuram

Ao farfalhar do vento; até pensas, para ti...
No pensamento e coração perduram.
Elas existem... mas vivem para si.

CONGREGAÇÃO II -- 12 OUT 17

Se duvidas de Deus, pensa em estrelas,
Na plenitude da luz sempre invisíveis,
Na escuridão a se mostrar inexauríveis:
Para o mundo do vazio abrem janelas...

Se duvidas de Deus, pensa em donzelas,
Convertidas por amores indizíveis
Nessas purezas de prata, imperecíveis:
Nesse manto da noite as mil fivelas...

Elas existem, por mais que a luz da Lua
As possa esmaecer durante a noite
E que a canícula, em todo o seu açoite

Não te permita vê-las de tua rua,
Mas ainda brilham nos seus mil cantinhos,
Porém não brilham para os teus caminhos.

CONGREGAÇÃO III

Se duvidas de Deus, pensa no espaço,
O qual percorres, porém sem poder vê-lo,
Somente o vento aliciando o teu desvelo
E até imaginas receber dele um abraço.

Se duvidas de Deus, contempla o passo
Do zéfiro nas moitas, pelo gelo,
A sacudir sem ter mãos, com forte zelo,
Mil folhas farfalhando em peri passo... (*)
(*) Simultâneas.

Que todo o espaço percorres sem o ver,
Mas consegues duvidar que exista o ar?
E como podes percorrê-lo sem o ver?

Ou quando alguém se aproxime, a bom correr,
A sua minúscula aragem a agitar...?
O espaço existe, sem ser teu para o prender...

CONGREGAÇÃO IV

Se duvidas de Deus, pensa no amor,
Essa bênção total, mas intangível,
Pelas palmas de tuas mãos nunca preensível;
Sentes no peito tão só algum calor.

Se duvidas de Deus, lembra da dor,
Que dentro ao coração é inatingivel,
Por mais que queiras descartar essa insensível,
Mesmo que afirmes ter só hormonal valor.

Existirá algo tão certo mas abstrato
Como esse amor de força tão total
Que já habitou em teus antepassados?

Que amor existe, vibrante e sem recato,
Mas não o tocas, nem Deus vês, afinal,
Transformado teu futuro em mil passados.

RARITY --  March 31, 2006

Let you ever bear no doubt
On the shape of my infatuation,
On the splendor of my attention,
Or on the emotions lying about,

For no one shall love you as much,
Had you a hundred years to live,
You shall never a love achieve
In song as great as my touch.

Cannot then you perceive
To which degree are filled
Of you the tears I shed?

To which point you conceive:
The measureless love you instilled
From this single sight I had?

abaixo a versão original em português:

RARIDADE I -- ?

Não tenhas dúvidas nunca
Da forma do meu desvelo,
Do esplendor deste meu zelo,
Das emoções que te junca,

Que ninguém te amará tanto,
Quer vivas cem anos mais,
Não terás amor jamais,
Parelho amor a meu canto.

Pois então, tu não percebes
Até que ponto estão cheias
Minhas lágrimas de ti?

Até que ponto concebes:
Com teu olhar me incendeias
De amor qual nunca eu senti?

RARIDADE II -- 13 OUT 2017

Não tenhas dúvida nunca
Que o amor é bem maior
Que as batidas do órgão-mór,
Que a emoção que ali junca.

Amor de garra que adunca
E rasga todo o interior,
Nunca prendes tal amor,
Requestado em sempre-nunca.

Amor que é igual sempre-viva,
Já morta e sem umidade,
Porém sem jamais murchar,

Amor qual sépala esquiva,
Triste talo sem vaidade,
Por seu poder de lanhar.

RARIDADE III

Não tenhas dúvida, então,
Que essa coisa tão rara,
Que te parece tão cara:
O que restou da paixão,

Tem fibras de coração,
Cortante em sua luz amara,
Luz monótona e preclara,
Qual hemácia em borbotão.

Que eu te dei com vastidão,
Esvaziando todo o peito,
Sem para mim guardar nada,

Que nem poderia, então,
Reservar qualquer direito
Para outra prenda encontrada.

RARIDADE IV

Não tenhas dúvida, assim,
Sem guardar para ninguém,
O amor que do peito vem,
Pois te dei tudo de mim.

Porém que chegou ao fim,
Sem buscar flores além,
Nem aceitar as que vêm,
Sem beijar qualquer jasmim.

Com teu olhar me incendiaste
De amor que nunca senti:
Dei-te o meu, sem acabar,

Pois quanto mais me tiraste,
Mais no meu peito fervi,
Para mais poder-te dar!...

APRIL FOOL -- April the 1st., 2006

A fisherman draggin' ashore his empty net,
That's what I am, after hours travailin',
My heart tried, my body is all a-wet
Of sorrows thousand and hopeless a'waitin'.

Yeah, a fisherman, after years castin'
And rowin' abroad for the ransom that
My life would change, anglin' and baitin'
Until my hands bled; and then i'd squat

On that empty beach spanned by empty eyes,
All hope broken shells, yet nought a fish,
A crab, a lobster, not even the smallest

Shrimp to chew on, for all my sighs;
And realize then ---- that for a conquest,
Spilt salty blood after an empty wish...


ASH FLAKES -- 1/4/2006

Now I am to write about love achieved
And yet unfulfilled, for the target, somehow,
Tarnished when obtained, a closed show
After so much was promised and little viewed.

For sonnets accepted but as a tribute,
As well they were to be, but set aside
Without a further look, and then abide
As brackish water, like chimney's soot.

They were forgotten, poems turned flinders
By daily chores and tasks unromantic,
As prose can be, as pages only flicked

In a contract, sounding as pedantic
As faculty speeches --- and yet were licked
Black by fire and eaten into cinders.

GIVEUPPANCE -- 2/4/2006

now every time i see You i feel Dismayed.
it's like i've bled, Exhilaration
no longer to be found, all Infatuation
spent... as if  never ever 'twas Assayed.

now every time i think of You there's Emptiness.
i expect no more, all hope is Gone,
feel again as before, to Spurn prone,
on reality thrown back and wrapt in Numbness.

now every time i reach for You, i found Nothing,
nor shadow, nor substance, only the Laughter
of a white swan, trying away Her wings...

and yet, how beautifully She swings
among the clouds, while i remain the Sifter
of dried sand and watch my life's withering...

FREE BOON -- 2/4/2006

Once I gave her a flower of blue
To plant within her breast and let grow,
And well she did; her sorrow did allow
Space for the flower to chase away her rue.

And it took root and spread anew
Her buds and her twigs, and a bow
Was raised to protect; and a low
Kindly scent to her life was due.

At last, it was a tree and bore fruit,
But very strange indeed, not a sweet
Plum or a cherry, not a wan

Fig or a berry.   It wore a suit
Of feathers, for the sun to greet
To take proudly flight as a blue swan.

   HINTING -- April 7, 2006

She swept recklessly a goblet of wine
with the back of her hand -- and it broke.
It was an old goblet, no gift of mine
but a heirloom of yore a casual poke

sent rolling down the tablecloth to soak
of red spilled wine  -- a bloody line
and then a clink -- like a deathly joke
the brim fell out as does a petal fine

of a wilted rose.   With a wry smile,
she tossed away the shards and said no way
there was for keeping broken glass as token

of past memories from a lost while.
And such is a love, that, once broken,
no longer can be kept, but 's thrown away.

William Lagos
Tradutor e Poeta – lhwltg@alternet.com.br
Blog:
www.wltradutorepoeta.blogspot.com
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