sexta-feira, 12 de janeiro de 2018




OS HOMENS VAZIOS — T. S. ELIOT (1925) — tradução William Lagos, 2006
(Homens Ocos não soa bem ao meu ouvido).



(THE HOLLOW MEN -- ILUSTRAÇÃO DE ELLSPETH ANNIE MACRAE)

Epígrafes: O Seu Kurtz — tá morto. (O Coração das Trevas, de Joseph Conrad).
            Um centavo para o velhote (canção infantil para o Guy Fawkes Day).

I
Nós somos os homens vazios / Nós somos homens estufados / Apoiados uns nos outros /
Cabeças cheias de palha. Ai de nós! / Nossas vozes secas, quando / Sussurramos juntos /
São tranqüilas e sem sentido / Como o vento no capim seco /
Ou patas de ratos sobre cacos de vidro / Em nosso porão seco /
Vultos sem forma, sombras sem cor, / força paralisada, gesto sem movimento; /
Aqueles que atravessaram / Com olhares fixos, para o outro Reino da morte /
Lembrai-vos de nós — se lembrardes — não como perdidas / Almas violentas, mas somente / Como os homens vazios / Os homens estufados. /

II 
Olhos que não ouso contemplar em sonhos / No reino onírico da morte / Estes não aparecem: / Lá, os olhos são / A luz do sol em uma coluna partida /
Lá, uma árvore se balança / E as vozes estão / No canto do vento /
Mais distantes e mais solenes / Que uma estrela, quando empalidece /
Que eu não chegue mais perto / Do reino onírico da morte /
Que eu também me revista / De disfarces tão deliberados / Pele de rato, penas de corvo, bastões cruzados / Em um campo /
Comportando-me como o vento se comporta /
Não chegar mais perto... / Não daquele encontro final / No reino do crepúsculo /

III 
Esta é a terra morta / Esta é a terra dos cactos / Aqui imagens de pedra /
São erguidas, aqui elas recebem / As súplicas da mão de um homem morto /
Sob a centelha de uma estrela pálida. /
É assim que acontece / No outro reino da morte / Caminhando sozinhos / Na hora em que estamos / Tremendo de ternura /
Lábios que queriam beijar / Erguem preces para pedras partidas. / 

IV 
Os olhos não se acham aqui / Não existem olhos aqui / Neste vale de estrelas moribundas /
Neste vale oco / Esta mandíbula quebrada de nossos reinos perdidos /
Neste lugar dos encontros derradeiros / Tateamos juntos / E evitamos falar /
Reunidos na margem de um rio encapelado /
Sem visão, a não ser que / Os olhos reapareçam / Como a estrela perpétua / A rosa multifólia / Do reino crepuscular da morte / A única esperança / Dos homens vazios. / 

V
E aqui rodamos ao redor da opúncia espinhenta / Opúncia espinhosa, pêra espinhenta /
E aqui rodamos ao redor da opúncia espinhenta / Às cinco da madrugada. /
Entre a idéia / E a realidade / Entre o movimento / E o ato /
Cai a Sombra / Pois Teu é o Reino
Entre a concepção / E a criação / Entre a emoção / E a resposta /
Cai a Sombra / A vida é muito longa /
Entre o desejo / E o espasmo / Entre a potência / E a existência /
Entre a essência / E a queda / Tomba a Sombra / Pois Teu é o Reino /
Pois Teu é / A vida é / Pois tua é a /
Esta é a maneira como o mundo acaba / Esta é a maneira como o mundo acaba /

Esta é a maneira como o mundo acaba / Não em uma explosão, mas com um gemido.

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