sexta-feira, 6 de novembro de 2020


 

            AS NOVE MUSAS DANÇANDO COM SEU PAI APOLLO - BALDASSARE PERUZZI


 

AIODIA I [canto poético] – 16 jun 07

(Aiode,  Melene e Mnema eram três irmãs, mães das musas por

intervenção de Apollo.  Aiodia é um termo grego para a ode dedicada

a Aiode, mãe das musas da poesia; as três  chamadas Camenas pelos romanos.

Os termos Melenia e Mnemia foram usados muito raramente.)

 

Tornei-me aedo, não por vontade própria

quis ser          quis ter

não ser           não ter

esse talento, que em vate me tornou;

mas se algum deus assim me aquinhoou,

vou ter             vou ser

não ter             não ser

obrigação de voltar-me para a imprópria

vida de quem vaticamente age;

pena de quem aedamente reage.

O que eu tenho, recebi da Providência:

     não sou          não tenho

                                eu sou          eu tenho

o gênio do poeta; sou maldito

com o dever que para outros é bendito  

                              pois escrever          é meu dever

        sem antever          o que escrever

o quanto os homens trazem na consciência,

porque sou vate:

por ser aedo.

 

AIODIA II (10 SET 15)

 

Mas não posso afirmar que não queria

não de fato          simples fato

                                    até brinquei          e versejei

e assim abri esse cofre de Pandora,

cujos sonhos me acometem nesta hora:

só a esperança          só a esperança

e a irmã bonança          e a irmã bonança

permaneceram no cofre do tesouro.

assim causei em mim mesmo tal borrasca

que a ponta de meus dedos hoje masca.

O quanto tenho, ganhei do atrevimento

                                         Epimeteu          titã e ateu     (*)

  o sonho meu          é que me deu

minha cisma perpétua de martírio,

despetalando diariamente o lírio

em frases          sem crases

em fases          sem bases

e foi assim que me tornei no que sou hoje

numa poética

feita de estética.

(*) Epimeteu, irmão de Prometeu, convenceu Pandora a abrir o cofre.

 

AIODIA III

 

O que eu escrevo vem violentamente

abre caminho          caminho abre

                          com faca e espinho          com espinho e faca

a ode aos ais que já não cabe em mim,

ara terrestre em sacrifício assim

   a meus irmãos          que humanos são

                           que humanos são          os meus irmãos

e só a eles se destina esta enxurrada.

e não à busca de dinheiro, glória ou fama:

é um sacrifício que o dia a dia proclama.

Em que não busco afirmar só o que acredito,

   porém dizer          sem nem saber

                                sem mal saber          o que dizer

o quanto o espírito dentro de mim denota:

se me recuso, sofrerei uma derrota

e novamente          o som ardente

faz-se aparente          canto frequente

e se espalha pelo mundo, em majestade,

na cibernética

que não tem ética.

 

AIODIA IV

 

Mas nesse meio que tanta coisa aceita

a vida canto          e louvo tanto

o triste pranto          e o salmo santo

tendo esperança de algum bem fazer ao mundo

em contraposição ao fado imundo

que hoje poreja          e a mente aleija,

                            o verso adeja          e a vida beija

uma mensagem trazendo a cada mente.

e se preciso escrever o que não sinto,

à mente que o precisa unguento pinto.

E a cada alma pingarei minha aiodia:

algo de frio          algo de cio

algo de brio          algo de rio

e a cada um que nela enxerga o que acredita

não se destina a palavra a ser bonita

nem a ofender          nem convencer

                               porém a ler          para viver

pois para isso, enfim, tenho missão

sou picareta

da arca secreta


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