sexta-feira, 6 de novembro de 2020


 

                                        (ESTÁTUA DE MARILYN MONROE EM CHICAGO)


 

MANÔMETRO I – 21 AGO 19

 

É lugar

É tempo de contar segredos:

É morte

Se odiei

Se amei, enfim, é tudo irrelevante

Se indiferi

Se vivi

Se guardei no coração os meus degredos

Se acolhi

Não são

Tudo é apenas a sombra de um instante

Talvez

Desejo

Reivindico de ti a névoa de um momento

Suplico

Confiante

Assustado do amor de uma donzela

Indeciso

Somente

Não apenas com suspiro me contento

Infeliz

Não sou

Eu sou quem mais persegue esta gazela...

Sou eu?

Esquiva

Temerosa de mim, mulher tão bela

Anelante

Quanto jamais

Quanto sempre esperei achar um dia

Quão talvez

Para aquecer-me

Para esfriar-me de novo o coração.

Para amornar-me

Ela chegou

Mas não veio integralmente a minha estrela...

Só me espera

Ainda aguarda

Só se entrega depois de outra salmodia

Se recusa

Para negar

Por revelar quão grande é sua emoção...

Por nem saber.

 

MANÔMETRO II

 

Porém hoje

É tempo de medir o sentimento,

Em seu alento

Ou desalento

Quantas batidas dá o coração,

No remanso

Do descanso

Desatinado no instante da emoção,

No arrepio

Do calafrio

Completamente dominado o pensamento,

Nessa vertente

Toda inclemente

O consciente colhido em espavento,

No maelstrom

De vasto som

Incapaz de calcular qual a razão

Na saga astuta

Silvo na gruta

Que essa furtiva e violenta sensação

De espalhafato

E então recato

Se transformou em turbilhão de vento.

Toda incontida

Por mais sofrida

Afinal, se a emoção é bem parelha,

Toda esfuziante,

Toda escaldante

Qual armadilha esconde a hesitação,

Ideia arguta

Nada impoluta

Qual a fera a espreitar por tal centelha,

Rangendo as presas

Nas incertezas

Por que razão ela chega e então se enconde

Em esquivança

Sem ter bonança

Nessas barreiras sem explicação

Ali um conflito

Na gesta aflito

E quando o faz, ela se esconde aonde...

Será que sabe?

 

MANÔMETRO III

 

E quem calcula

Qual o ritmo que a emoção demonstra

Plena de anelo

No seu desvelo

E que o manômetro procura calcular,

Mas não consegue

Por mais se apegue

Por que há dias de tal dissimular.

Existe sanha

Nessa artimanha

Quem sabe então um metrônomo se encontra

Na sinfonia

Da nostalgia

Que a ajude a calcular o pró e o contra

Qual validade

Traz a saudade

Das mutações que nem pode explicar

Que nem atinge

Ou apenas finge

Para si mesma, no rogo do hesitar,

Toda acirrada

ensimesmada

Onde ela guarda do vacilar a montra.

Será uma arca

Que o peito abarca

Mede o manômetro a força da emoção,

Que não se afeita

Nunca sujeita

Mede o metrônomo o ritmo do beijo,

Em vasto adejo

Ou só em bocejo

Mede o odômetro o número dos passos,

Na velha dança

Que não descansa

Mas que de fato encompassa o coração

Na melodia

Que não se ouvia

Salvo no ritmo e tormento do desejo,

Entrega cega

Quando se apega

Quando se deixa envolver pelos meus braços...

E permanece?

 

ÊXODO I – 22 AGO 2019

 

não é que Euterpe me tenha Abandonado,

está sempre comigo e me Espicaça

a música escrever, em plena Graça,

da inspiração inteiro Consagrado.

 

podia compor de novo, mesmo Agora:

quando quiser, a musa me Alicia,

tem poder sobre mim, tem Harmonia

para me dar a toda e qualquer Hora...

 

mas eu cansei de compor mais, Entendes?

é demorado escrever, nota por Nota,

nos pentagramas deitar linha por Linha.

 

depois, se escrevo versos, me Compreendes,

enquanto permanece morta e Ignota

a voz da melodia que foi Minha.

 

ÊXODO II

 

por muitos anos já música Escrevo,

esquecidas tais centenas de Canções,

não são do apreço de vastas Multidões,

nenhum cantor famoso eu Conheci.

 

foram letras bem formosas que Escolhi

para inspirar-me em tais Composições,

raramente a empregar minhas Redações,

sobre poemas de outrem as Concebi.

 

não obstante, com alcance Limitado,

alguns poucos conhecidos as Cantaram,

diversas vezes ao palco até Subi,

 

mas como eu tudo eu sou Exagerado,

novas canções  a seguir se Apresentaram

e nem eu mesmo as anteriores Repeti.

 

ÊXODO III

 

 também escrevi suites e Sonatas

para piano, violoncello e Violino,

ainda compus toccatas e algum Hino,

para corais igualmente fiz Cantatas,

 

as partituras bem claras, bem Exatas

eu redigi, quais impressas seu Destino,

mas redundando em sonho Pequenino,

por mais que impressas parecessem Natas.

 

a maioria se perdeu quando Incendiou

a casa em que morei; restam Trezentas,

que numa estante empilhadas têm Guaridas,

 

mas não importa o quanto se Guardou,

sem que alguém leia e toque aos quatro Ventos,

não são mais que melodias Falecidas... 

 

MITOSE I – 23 agosto 2019

 

                        (almejei

de há muito pressenti que bem metade

                        receei)

              (vagueava

de mim faltava, idônea companheira,

               sobrava)

                       (meiga

que sempre amante fosse e alvissareira

                       honesta)

                          (de nós

se orgulhasse de mim pela cidade...

                           sem pejo)

               (mostrasse,

que me ostentasse, com felicidade,

               revelasse)

        (enriquecesse

que completasse o quanto me faltava

          iluminasse)

               (amparasse

que me ajudasse a achar o que buscava

                indicasse)

           (parelha

e que suave fosse, e sem maldade...

           segura)

              (beberia

porque preciso desse apoio, tanto!...

              dependo)

            (vender

poder confiar a alguém o coração

            iludir)

         (certeza            

sem temor de gracejo ou zombaria..

          desaponto)

          (rara vez

que tanta vez me fez brotar o pranto

        alguma vez)

      (no presente,

no passado, nas fauces da traição

      no futuro)

                (fiel

de quem leal a mim só deveria...

                doar-se.)

 

MITOSE II

 

             (chamei

em vão busquei quem realmente completasse

             procurei)

                  (de nós

essa parte de mim que está faltando,

                  de dois)

                         (azafamasse

alguém que se esforçasse me ajudando,

                         derramasse)

                           (bem rápido

que minha vida, aos poucos, ampliasse,

                           às pressas)

  (alimentar

sem que a me acompanhar se limitasse,

                         satisfazer)

                  (outros

mas que a novos horizontes alcançando,

                  simples)

          (abranger

fosse espalhar esta obra de meu mando,

            semear)

               (desprezada

sem que olvidada em seu total ficasse;

               ignorada)

                 (protestar

não devo me queixar, pois companhia

                 reclamar)

 (deixou

não me faltou e foi mesmo assaz frequente,

             abandonou)

              (muita vez

o amor, às vezes, até mesmo surpreendente,

              chi lo sà?)

           (fantástica

nessa agridoce seara de alegria,

           temporária)

                       (encantei

porém nunca encontrei quem difundisse

                      mesmerizei)

                             (no antanho

as melodias que anteriormente eu redigisse...

                             para nada).

MITOSE III

                                  (ocorreu

dessa forma, nunca houve a divisão

                                  se gerou)

                (esforço

que meu trabalho assim reproduzisse,

                orgulho)

                              (breves instantes                    

elas afirmam, em seus acessos de meiguice,

                              insistências)

                             (não mais que

que quanto faço, é feito à perfeição,

                             sempre atinge)

                              (foi semear

mas nunca uma a apresentou à multidão,

                               propalou)

                                 (bem firme

sempre a meu lado existindo quem sorrisse

                                 permanecendo)

(consolo desse

e me apoiasse em meus dias de tolice,

e me abraçasse)

      (seus ventres

em seus filhos a me dar reprodução,

      seus óvulos)

                   (compartilhar

para assim se difundir meu deeneá,

                    se renovar)

                        (vaidade

nessa obra de carinho e feromônio,

                        escolha)

                       (conhece

mas ninguém ouve as melodias que escrevi

                       se importa)

                             (presumo

e hoje em dia até acredito que nem há

                             descuro)

                                   (protender

alguém que venha a deiscender o hormônio

                                  serpentinar)

       (versos

dos cantos mortos em que algum dia eu cri...

                    sem grande ardor).

 

APENAS I -- 24 ago 19

 

se for por amor, sim... por gratidão?

não estou te comprando e nem eu quero;

por muito que deseje, eu desespero

de teu amplexo, num beijo de amplidão.

e se amor queres fazer, por seres grata,

nada me deves, exceto o teu carinho,

gratuito e voluntário, em comezinho

fremir de beijo, em beijo que contata

e nesse beijo, enfim, carne se agita

e a simples carne torna-se bonita,

na exaltação total, quando se quer

um corpo de homem, só por deleitoso,

um corpo de homem, feito mais fogoso,

na exultação de um corpo de mulher!

 

APENAS II

 

nesses jogos de amor tanto se troca,

nessas trocas de amor tanto se joga,

nesses jogos de amor tanto se emboca,

nessas bocas de amor tanto se aloja!

nessas lojas de amor tanto se vende,

nessas vendas de amor tanto se canta,

nesses cantos de amor tanto se encanta,

nesses encantos de amor tanto se mente!

nas mentiras de amor tanta verdade,

nas verdades de amor tanta mentira,

nas solidões de amor tanta fraqueza,

em fraquezas de amor tanta saudade,

em saudades de amor, tanto se gira,

em tais giros de amor... tanta tristeza!

 

APENAS III

 

e hoje que o beijo encontra outros destinos

é até arcaico se falar de amor

que um par oposto sejá apenas cumpridor,

alvo exclusivo dos pequenos desatinos;

hoje que a vida gera sonhos pequeninos

e tantos buscam mesmo mais calor

com quem possam partilhar do mesmo ardor,

mesmo que os pares tanjam os mesmos sinos,

talvez seja realmente ultrapassado

que em mim proclame amor só pelo oposto

e só amizade e respeito ao semelhante...

porém o peito só me dói descompassado

quando dos lábios de mulher percebo o gosto,

quando a percebo fremir no mesmo instante!

 

 

LAÇARIA I – 25 ago 19

 

Não quero mais ser eu, quero ser nós:

Que seja um corpo só, que seja apenas

Uma alma a habitar entre açucenas

De amor compartilhado; e viva empós

 

Recíproca lealdade em duplo ilhós

Uma alma completa e sem empenas,

Gêmea com gêmeo, em permanentes cenas

Colado o sonho um dia cortado por algoz.

 

É isso que desejo, união de corpo e alma,

Que me efervesça a alma e ao corpo me dê calma,

Ao ver que és tu que exalas o ar que então respiro.

 

Que seja assim, então: um tal amor egrégio,

Que possa garantir-me sem fim o privilégio

De viver e então morrer em teu suspiro.

 

LAÇARIA II

 

Que nos enlace assim igual arreio,

Que em mim te assentes como sendo a sela,

Que em ti me assente, igual postura bela,

Nessa correia firme e sem meneio;

 

Que se afaste de nós qualquer receio,

Que sempre haja segurança na procela,

Tendo a meu lado a tua face bela,

Longe de mim a solidão que odeio;

 

Que não haja fissuras nesse laço,

Cortado em fino e impoluto couro,

Uma ponta seguras, a outra eu pego,

 

Pelas cinturas a confirmar o abraço,

Cada volta dobrada em fio de ouro,

Cada nó desse laço um novo apego.

 

LAÇARIA III

 

Que se desfaça em nós o corte antigo,

Que em carne e carne se abra uma ferida

E cicatrize a seguir numa só vida,

Um duplo corpo atrelado à mesma biga,

 

Para um só lado contrariando intriga,

Na mesma senda de um só amor se lida

Única e só direção por nós querida,

Empós o alvo final que nos abriga

 

E que assim seja qual em velha saga,

No mesmo empenho dessa mesma questa

Que essas pegadas do passado apaga

 

E só demarca as passadas do futuro,

Ao ar lançando o som da antiga gesta,

Que jamais pode entoar qualquer perjuro.


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