quarta-feira, 11 de novembro de 2020



EXULTAÇÃO EM AZUL


                                                          (A DREAM ON TURQUOISE)

EXULTAÇÃO I – 16 SET 19

 

a vida é feita de Flores Incolores,

notas sem som, Martírios Indolores,

gelo candente de Esplendor Frequente,

cheiros sem sal, Sabores Multicores.

 

a vida é feita de Mortes Redivivas,

de escolhas por Escolhos, de Furtivas

eructações do Espírito Indolente,

na expectativa de mais Ações Esquivas...

 

a vida é um perpassar de Idéias Mortas,

de um nunca vir a ser, Falsas Comportas,

que, quando abertas, não Produzem Água.

 

são pouco mais que Sudários da Esperança,

evola-se a volúpia, a Vida Cansa,

sem deixar empós de si Sequer a Mágoa...

 

EXULTAÇÃO II

 

porém nos mostra igual suas Flores Coloridos,

instantes de alegria em mil Notas Sonoras,

gelo no estio, calor nas Frias Horas,

traz no alimento Sabores Comprimidos.

 

morrer dos ontens traz Hojes Renascidos,

escolhos dormem nas Marés de Emboras,

surgem no espírito Eructações de Agoras,

de cada ação esquiva, são Alvos Concebidos

 

e quando acaba a hora, Outra a Substitui,

comportas não se fecham na Límpida Memória,

a eclusa modifica, a Tristeza se Dilui,

 

cada sudário a Corrupção Afasta,

cada cansaço encontra Paz Peremptória,

 recolhe a lida e a Mágoa nos Afasta.

 

EXULTAÇÃO III

 

seja o que for que a Mágoa Fortaleça,

deixa após si Ressaibo bem Diverso:

toda a tristeza se Recolhe em Verso,

mais que a alegria que o Coração Aqueça.

 

há exultação em que essa Mágoa Cresça,

mesmo resulte de Imaginar Disperso,

raro o alegrar-se é em Poema Converso,

mais a elegia que sobre a Alma Desça,

 

que assim ecoa sobre as Almas Oprimidas,

o alegrar-se até Causa Desconfiança,

talvez agrade descrever Paisagem Bela,

 

porém sabemos que Vitórias Conseguidas

empalidecem qual o Mundo da Criança,

perdem a graça e toda a Glória se Cancela.

 

EXULTAÇÃO IV

 

em vão se tenta Reconstituir a Sensação

de uma vitória, quer Grande, quer Pequena;

muitos detalhes Lembramos dessa Cena,

mas diluiu-se por Completo a sua Emoção.

 

de modo igual, Escoa-se a Ilusão

de uma derrota do Antanho que Envenena;

só recordamos Consequências dessa Pena,

não se refaz toda a Dor dessa Ocasião,

 

pois são esses Mecanismos que Preservam

na orla da Tristeza, a Integridade,

na margem da Alegria, uma Saudade

 

e as novas Emoções assim Conservam

seus elementos de mais Ampla Afirmação

da nostalgia ou Quiçá da Exultação.

 

CARISMA I – 17 SET 2019

 

O teu odor tremeluziu nas trevas,

Nas trevas teu olor se cristaliza;

Dentro em minhalma, enfim, se cicatriza

Golfada de suspiro, em tantas levas...

 

E permanece feroz, adstringente,

Um cheiro inapagável e tangível,

Um faro de mulher; incompreensível

Porque tanto em minhas narinas permanente

 

É essa agreste e triste redolência

De uma mulher antes do banho, natural,

Na ausência de artifícios, afinal,

 

Um perfume sadio, que vem do centro,

Em que a mulher é mais mulher, de dentro

E se conserva em plena incandescência...

 

CARISMA II

 

Não se imagine que a higiene aqui combato;

Sou é contrário à indústria dos cosméticos,

Para odores corporais puros eméticos,

É pelo natural que aqui me embato!

 

Não convido a abandonar, que triste fato!

Lavar os dentes, qual zombariam os céticos;

Seus olhos e ouvidos seriam tétricos,

Sem serem limpos, constituiriam desacato!

 

O que combato é essa tremenda tirania,

Com motivos totalmente comerciais,

Toda mulher a embrulhar em artificiais

 

Odores de farmácia, em real aleivosia

De se tornarem assim mais atraentes,

Antiecológicos tais produtos são frequentes!

 

CARISMA III

 

Pois não menciono o feromônio apenas,

Porque a pele da mulher conduz magia;

Não fosse assim, nossa raça acabaria

Muito antes dos perfumes com que acenas.

 

E algumas vezes, sinto veras penas,

Quando ultrapasso mulher que se envolvia

Em onda tal de acessórios que perdia

Dos odores feminis as puras gemas.

 

Mas nelas vejo esse real carisma,

Contracenando e mesmo desbotado

Por tanta água de cheiro involucrado...

 

E dentro dalma me rebrota o cisma:

Sei muito bem que não se enfeitam para mim,

Mas é só modismo que as faz agir assim?

 

FAXINA I – 18 setembro 2019

 

Um dia meu corpo divórcio pedirá

de minhalma, por motivos de adultério.

 

Caso isto ocorra, peço ao cemitério

não seja conduzido, pois será

em ração de baratas transformado.

 

Não, meus amigos, enterrem-me no chão,

que seja a terra a comer meu coração;

melhor ainda, que torne a ser cremado,

como foram meus restos no passado,

quando um Heleno eu fui ou fui Romano,

quando em Celta encarnei, quando Germano

eu faleci, nos bosques encerrado.

 

Eu só quero um sepulcro Indo-europeu

para este invólucro que já me pertenceu.

 

FAXINA II

 

Esse temor que alguns têm da cremação

tem a ver com corporal ressurreição.

 

Desfeito em cinzas, como ressuscitarão

tais fragmentos ao vento assim lançados?

Na verdade, os costumes são formados

 

muito mais pela paisagem em que estão

essas pessoas que os adotarão,

que os justifica falsamente a religião.

Lá no Egito, permeio a um mar de areia,

é natural se adotar sepultamento,

artificial sendo o embalsamamento

e entre os judeus o costume se permeia...

 

ou entre os árabes, cuja vegetação

nunca daria vencimento à cremação!...

 

FAXINA III

 

Mas quando fomos examinar os europeus

ou nossos primos afastados, os hindus,

 

logo um novo entendimento vos propuz:

há madeira de sobra para os seus

ritos finais de passagem para os céus...

 

Em cada pira há sacrossanta luz,

depois as cinzas ao Ganges se conduz;

na Europa urnas consagram para um deus,

porque, afinal, São Paulo nos ensina:

“Aqui semeamos um corpo material,

mas ressuscita um corpo espiritual.”

Por que motivo, senão superstição

 

tanta terra de pastagem se destina,

deixando aos vermes acesso a teu caixão?

 

ENQUANTO  I – 19 set 19

 

Por um breve momento, me terás;

Carpe Diem! -- que nada dura sempre;

Disposto para ti me encontrarás,

presente e voluntário me acharás,

mas isso não significa que te queira,

em nossa relação de fato quem pre-  (*)

cisa és tu, até que a derradeira

gota de sonho se esvaia, verdadeira,

para uma realidade avassalante.

Carpe Diem! -- agora estou por perto,

porém de ti, meu coração deserto

já se tornou; findou-se a delirante

ânsia de ti; e nisso sou sincero,

que já te quis bem mais que agora quero.

 (*) Emprego da Sinafia.

ENQUANTO  II

 

pouco a pouco, nossas ânsias evoluem;

as asperezas diárias cortam tiras,

não são iguais os olhos com que miras,

os maiores sentimentos se diluem,

os mais férvidos desejos enfim ruem

e as palavras de desdém com que me firas

o esvanecer denotam em que giras,

nesses novos interesses que te imbuem,

pois em ti vejo lento retraimento,

cada vez mais teus olhos só contemplam

teu interior e para mim se embaçam;

e quando me aproximo, me contento

com a calma aquiescência que retemplam

a catedral de amor de que se esgarçam.

 

ENQUANTO  III

 

assim confesso que foi só por reação

que as palavras do enquanto te escrevi

e então percebo que te quero sempre

com a mesma intensidade de emoção,

por mais que sinta qualquer desilusão

ao ver teus olhos de ausência, como vi;

em nossa relação de fato quem pre-

cisa de ti sou eu, não há aqui denegação;

e embora me acompanhes, passo a passo

e ainda me concedas beijo e abraço,

são muito menos do que um dia eu tive;

mas permaneço constante em meu desvelo,

sofrendo ainda do singular anelo

de um dia me encontrar onde já estive.

 

AGUAZIS I – 20 set 2019 (*)

(*) Antigos governadores ou oficiais de polícia.

 

dos mortos é costume não falar

senão o bem, por medo ou por respeito;

conquistaram pela morte tal direito

e os vivos se abstém de mencionar

 

os seus defeitos, seus traços mais humanos,

tornam-se santos até os criminosos,

foram gentis, amantes, atenciosos,

seus atos mais cruéis foram enganos.

 

e a memória dos crimes morre à míngua,

somente com virtudes nos exemplam,

quem sobrevive perdão lhes dá profundo.

 

porque os mortos, afinal, não têm mais língua:

apenas olhos grandes nos contemplam,

a rebrilhar de suas órbitas no fundo.

 

AGUAZIS II

 

cá no rio grande hoje se comemora

o deflagar de nossa revolução,

“decênio heróico”, como a chamarão

os tradicionalistas desta hora.

 

que se registre aqui, sem mais demora,

que sou gaúcho no meu coração

e que venero os heróis do chimarrão,

que muitos foram; há alguns, embora,

 

que vêm sendo criticados com maldade,

como no caso do massacre dos lanceiros

negros, já que o duque de caxias

 

se recusava a dar-lhes liberdade,

não que aprovasse de fato os vis negreiros,

mas por o mundo encarar por outras vias.

 

AGUAZIS III

 

embora fossem mais republicanos

esses guerreiros de cunhos liberais,

a revolução fora instaurada mais

em reação aos regentes desumanos

 

e quando o imperador reviu seus danos,

havia razões bem menos materiais

para seguir combatendo as capitais

desse império, que duraria muitos anos.

 

mas caxias contemplava o paraguay,

temendo muito seu desenvolvimento,

em especial na área militar

 

e desse modo, paz honrosa vai

propor aos riograndenses no momento

em que suas forças já se estavam a esgotar.

 

AGUAZIS IV

 

não condenemos, portanto, ao marechal,

nem canabarro, acusado assaz frequente;

por mais horrível tenha sido esse incidente,

um empecilho removeram, afinal.

 

há mais razão para o respeito triunfal

por esses negros de coração ardente,

talvez traídos de forma contundente,

já cem anos transcorridos; no total

 

cento e setenta e quatro; eles nos olham,

caso exista qualquer sobrevivência,

ou nos olham bem de perto os descendentes;

 

que do reconciliar frutos se colham

e que os possamos usufruir com indulgência,

filhos da herança que nos deixaram tais valentes. 

 

SLUICE GATE

 

Feel I'm running ahead of myself:

Cannot reach me; I sprint too fast,

All those poems a-springing steadfast,

Scarcely can be afforded by the pelf

 

Of time that my fingers can handle.

There are too many, cannot broadcast

To those that are willing to repast

Upon the sorrows' dark and gleeful candle.

 

So I keep showing off soul and brain,

Arteries open, suicidal hemorrhage,

No coagulation such flow could contain.

 

The sole relief is that you read me:

My pain the look on your eyes assuage,

And by trapping my soul, you set me free.

 

MARY JANE

 

for that's what i am now -- a junkhead

for verse --- soon as a poem has ended

another has started, all my feelings blended

into fiery words of encompassing spread.

 

for that's what i'm now -- i endorphin

while poems roll out, ceaselessly bleeding.

this vice of mine, to my squirting leading,

'tis like a poison, a venom, a toxin...

 

and yet... i had this vicarious love

curbed before, taken up full control,

instead of its controlling me up to accrue

 

day after day its unstoppable move.

and still i wish the flow to forestall,

for me a junkie still be, though just for You.

 


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