quarta-feira, 21 de dezembro de 2022


 

 

A PATINHA DE CINDERELLA I – 18 DEZ 2022

 

Essa história do Sapatinho de Cristal

de Cinderella está muito mal contada:

por minúscula que fosse a sua pisada,

não seria coisa assim tão original!...

Qualquer pré-adolescente deslavada

poderia até se maquiar, para afinal

calçar o sapatinho sem sentir-se mal

ou mesmo criança a querer ser namorada

daquele príncipe garboso e encantador,

quem sabe mesmo alguma pobre camponesa,

que a abóbora em sua horta cultivara!

Ainda que a prova existisse de valor,

porque a Gata Borralheira com certeza

o outro pé entre suas cinzas já guardara!

 

A PATINHA DE CINDERELLA II

 

Mas é estranho que sobrasse esse cristal,

ao invés de tamancos estar calçando,

os seus farrapos afinal lhe retornando,

por que o sapato conservaria afinal?

Algo enganoso aqui ocorreu cabal!

Só no sapato o encanto se guardando,

quando o par na escadaria foi deixando,

por que seu transformar foi só parcial?

A pobre, afinal, nem sequer tinha um quartinho:

como seu nome diz, vivia no borralho,

ou seja, nas cinzas que sobravam na lareira.

Cinderella entre cinders tinha o ninho,

essas cinzas resultando do trabalho

que deixara de completar a arrumadeira!

 

A PATINHA DE CINDERELLA III

 

Deste modo, eu sou levado a acreditar

que esse sapato em que só seu pé cabia

não era minúsculo como se contaria:

dezenas de outras o poderiam calçar!

Sem qualquer das irmãs postiças precisar,

dentro da ânsia que tudo permitia,

tomando faca da cozinha em sua folia,

um dedão do pé ou o calcanhar cortar!

Não, meus amigos, o contrário é a verdade:

Cinderella tinha um pé monumental,

de tamanho Cinquenta e Um ou até maior!

Nenhum outro pé encheria em totalidade

esse tremendíssimo sapato de cristal,

salvo a pata de um gigantesco caçador!

 

OLHOS DIASTÓLICOS I – 19 DEZ 2022

 

A minha amada tem olhos castanhos,

mas não são castos, antes blandiciosos,

contra minha tranquilidade sediciosos,

sempre conscientes de poderes ter tamanhos

que meus olhos capturam das lágrimas nos banhos:

talvez possam me afogar, são perigosos,

mesmo que os sinta para mim bondosos,

são altaneiros e assim me causam lanhos.

Às vezes me lembram seus olhos pau-brasil,

com seu leve toque sanguíneo de encarnado,

por eles já de uma vez fui conquistado

e ainda me prendem na tocaia mais sutil,

olhos velados a esconder sensualidade,

por sob as córneas de leveza e opacidade.

 

OLHOS DIASTÓLICOS II

 

Já muitas vezes mencionei, por certo,

a minha loucura de neles me afogar,

mas na realidade desejo só banhar

minhas próprias lágrimas nesse céu aberto,

olhos castanhos, em seu vigor deserto,

que minha imagem também queiram afagar

sob suas pestanas e ali me encarcerar,

afastando meu porvir bastante incerto.

Jamais busquei nesses olhos castidade,

mas que seus cílios me anunciassem beijo

e permanecessem para mim só exclusivos,

suas comissuras nos risos mais lascivos,

olhos de fada em sua lubricidade,

olhos mortiços na senda de um desejo.

 

OLHOS DIASTÓLICOS  III

 

A minha amada não tem olhos de esmeralda,

nem sequer de topázio ou de rubi,

mas rebrilhantes de carinho os surpreendi,

quando me esforço por lhes galgar a falda;

em suas pupilas o meu sonho se rescalda,

queria tê-los confiantes sempre aqui,

não obstante vezes que no antanho os percebi

velados por dantesca e estranha balda.

Neles me espelho para eventual ensejo,

mas raramente espelham-se nos meus,

sempre se abrindo um certo abismo de distância,

a sua certeza a mesclar com desconfiança,

mesmo no instante de um acirrado beijo,

segredos tendo que serão apenas seus.

 

A DIMENSÃO DA PRECE I – 20 DEZ 2022

 

Em toda substância encontro Deus,

que possa subsistir perante o sol

e além dele nesse múltiplo farol

que é o universo visivel para os seus,

sem limitar-se aos perceptíveis céus,

nem diluir-se em cada por-do-sol,

nem se irradiar em ainda pálido arrebol,

de seus poderes só fantasmas são os meus.

Entre espírito e matéria não há dicotomia,

alma e espírito sem mostrar dualidade,

a carne e o sangue em breve sintonia,

até o momento final do dissolver,

sobe o invisível em sua volatilidade,

desce o visível para à terra pertencer.

 

A DIMENSÃO DA PRECE II

 

Mas o Onthos está acima e muito além

de qualquer céu que o humano imaginou,

sua realidade jamais se consumou,

ultrapassa o real e o imaginar também;

mas é preciso entender-se muito bem

que o material que alguma vez criou

e em criação continuada conservou,

não é em absoluto oposto ao Sumo-Bem,

porque um Ser infinito tudo engloba,

toda a matéria dentro Dele está,

ali estou eu e não posso me afastar;

quem despreza a matéria então lhe rouba

um fragmento que do que lhe pertencerá

no seio imenso em que buscar se abriga.

 

A DIMENSÃO DA PRECE III

 

E desta forma, não me julgo dividido,

qualquer que seja o espaço-tempo relativo,

nem por fenômeno quântico no crivo,

cada ponto das Cordas ali abrangido,

em nove dimensões que seja concebido,

em qualquer pluriverso sempre ativo,

por mais a nosso entender mostrar-se esquivo,

tudo foi feito e está tudo concluído,

e muito além de qualquer percepção,

tudo o que existe células sendo siderais,

da imensidade totalmente ilimitada,

que nem sequer se jungiu à criação

de um grande estrondo das forças iniciais

sem por retorno algum ser completada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário