domingo, 18 de dezembro de 2022


 

 

EM CERTEZA IMPONDERÁVEL I – 15 DEZ 22

(A atriz australiana Cate Blanchett)

 

Quando se zanga, com olhar de aço

ela me fita, sem mostrar-me complacência;

de certo modo, regressa à adolescência,

nessa primeira recusa de um abraço

e todo o esforço que por ela faço

é esquecido num momento de impaciência,

só vê uma falha pequena e sem potência,

que contemplada, lhe preenche todo o espaço.

Será inútil esperar que me perdoe

pelo pecado que sei não cometi,

é necessário que o aço se derreta

e novamente seu coração me doe

e veja apenas o amor que trago aqui,

em novo ciclo que seu amor completa!

 

EM CERTEZA IMPONDERÁVEL II

 

Muita vez, até sei não ser comigo

isso que a faz, num desplante, transmudar,

salvo nas vezes em que se sente contrariar

e por momentos me vê como inimigo,

mas em tantas outras vezes, nem consigo

entender qual a razão do seu zangar,

seus olhos perdem o seu gentil cobrear,

olhos castanhos em que monto meu abrigo.

 

Contudo, o aço duro dessa espada

jamais feroz me perfura o coração,

nem o lanho de seu gume é permanente,

em véu de bronze eu me curvo à minha amada,

de um novo amor aguardando a gestação,

que brote claro e me encare gentilmente.

 

EM CERTEZA IMPONDERÁVEL III

 

Passaram-se anos nessa oscilação:

décadas passam, no fundo é só menina,

desconforme com frequência de sua sina,

por que me responsabiliza em ocasião;

mas quando foi lançada essa emoção

dentro da forja e ao soprar se inclina

do fole de um amor de funda mina,

então me envolve em nova compreensão.

 

E de repente, percorro todo o espaço

que dela me separa, a fim de mergulhar

nessa córnea de novo transparente,

até o fundo de sua mente num abraço,

na esperança de não mais cessar

esse amor frágil, mas que sei ser permanente!

 

A TORRE DE PIXELS I – 16 DEZ 22

 

Antigamente, a uma torre de cristal

diziam recolher-se algum cientista,

obsedado em só seguir a pista

que o conduzisse a descoberta sideral,

para ele perfeitamente natural,

que de seu empreendimento não desista,

por maior a distância em que o avista,

sem que ninguém o perturbe em seu ideal.

 

Mas hoje em dia, o cristal é reservado

para copos e taças, vasos e espelhos,

não sobra nada para torres construir

e deste modo tão diverso do passado,

pobres cientistas, mesmo os mais velhos,

não encontram nelas nem lugar para dormir!

 

A TORRE DE PIXELS II

 

Podem dizer que os laboratórios do presente,

construídos com parede envidraçada,

poderiam mesmo à tal torre desejada,

ser comparados de forma equivalente,

mas é de fato na torre de sua mente,

que busca o sábio manter indevassada,

que melhor comparação é encontrada,

dos cristais de seus olhos componente.

 

Já que ao invés do naturalista antigo,

fica o estudioso mais ou menos isolado,

enquanto seu trabalho realiza,

por pouco tempo irá pisar nalgum jazigo,

em que elemento novo possa ser achado,

que complemente o teor de sua pesquisa.

 

A TORRE DE PIXELS III

 

Contudo, esses magos de escritório

hoje dependem mais de seu computador,

cuja tela lhes confira igual pendor:

é uma torre de cristal seu incensorio,

muito embora seu destino mais inglório,

pois fora dele fica o pesquisador,

bem mais aberto para o mundo em derredor,

de sua privacidade o celebrante do velório.

 

Toda mantida por um código binário,

as imagens que mostra variegadas

são de pixels a correr constantemente,

fez-se em torre inexistente o seu sacrário,

informações indiferentes e assexuadas,

no simulacro de uma torre transparente!

 

EN PADI PANTE THEOS I – 17 DEZ 22

 

EM TODAS AS COISAS DEUS ESTÁ

E DENTRO DELE TODAS ESTARÃO,

ALI TE ENCONTRAS TU E TEU IRMÃO,

POIS NADA EXISTE QUE NÃO OCUPARÁ;

A AUSÊNCIA DE DEUS NÃO HAVERÁ,

POR MAIS ÁRIDO QUE ESTEJA O CORAÇÃO,

TODAS AS COISAS PENDEM DE SUA MÃO,

FORA DELE COISA ALGUMA EXISTIRÁ.

 

“NELE VIVEMOS, NOS MOVEMOS E EXISTIMOS”,

QUE DO UNIVERSO INTEIRO É O CRIADOR,

EMBORA DE TUDO SE ENCONTRE MAIS ALÉM;

EM CADA PEDRA, FLOR E ESTRELA O VIMOS,

POR INCOMPREENSÍVEL FÔRA O SEU AMOR,

SOMENTE DEUS EXISTE E É O SUMO-BEM.

 

EN PADI PANTE THEOS II

 

“DE TODAS AS COISAS VISÍVEIS E INVISÍVEIS”

ELE É O SUPREMO CRIADOR E SEU SENHOR,

AS GALÁXIAS CINTILANTES DE ESPLENDOR

DENTRO DE SI SE ENCONTRAM COMPREENSÍVEIS,

MAS SEUS LIMITES SÃO INEXAURÍVEIS

E O PLURIVERSO DE CIENTÍFICO TEOR,

OS MIL FRACTAIS E O QUÂNTICO VIGOR

SUBMETIDOS AOS PODERES INCOGNOSCÍVEIS.

 

QUE ALÉM DE TUDO EXPANDE O PRÓPRIO SER,

A LUZ ABRANGE E IGUAL A MATÉRIA ESCURA,

CADA NÊUTRON, CADA ELÉTRON DESGARRADO,

A MATÉRIA E A ENERGIA A CONCEBER

E TODO O VÁCUO QUE A SEU REDOR PERDURA,

POR SEU FAVOR SUPREMO CONTROLADO.

 

EN PADI PANTE THEOS III

 

JAMAIS SERÁS ENTÃO ABANDONADA,

ÉS UMA MÔNADA DESSE COSMO IMENSO,

ÉS UM BROCHE EM SEU MANTO SUSPENSO,

UMA GOTA CÓSMICA NA VASTIDÃO LANÇADA,

AONDE FORES SE ENCONTRA A LUZ ALÇADA,

EM EL-SHADDAI  ÉS UM PERFUME INTENSO,

EM ADONAI PARTE DO FUMO DE UM INCENSO,

EM JEHOVAH SIMPLES CÉLULA SAGRADA.

 

TAMBÉM DE BRAHMA NO FERVILHANTE OCEANO,

TAMBÉM DE ALLAH UM GRÃO DO PARAÍSO,

DE ZEUS E DE MARDUK FLOR PRECIOSA,

SEMPRE INCLUÍDA NO CELESTE ARCANO,

ALÉM DO TEMPO E FORA DO JUÍZO,

TÃO IMPORTANTE QUANTO PÉTALA DE ROSA.

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