sábado, 19 de dezembro de 2020


 

 

TEILHARD DE CHARDIN I – 6 FEV 2020

 

O Padre Teilhard de Chardin, francês,

que também foi cientista e paleontólogo,

além de ser filósofo e teólogo,

um desses gênios que raramente vês,

desafiou muitas coisas em que crês

por dogma eclesiástico ou de biólogo,

condenado também por psicólogo,

para os medíocres genial demais talvez...

 

Ele esforçou-se por conciliar a ciência

com a religião e ao “original pecado”

pôs em dúvida engenhosa com tratado,

reconhecendo que a científica experiência

e a narrativa do Gênesis coincidiam:

não é de admirar que o perseguiam!...

 

TEILHARD DE CHARDIN II

 

Foi então Chardin exilado para a China

pela cúpula jesuíta, destinado à pregação,

mas logo se envolveu na escavação,

da descoberta de fósseis teve a sina

e como paleontólogo, se inclina

a apoiar a darwiniana evolução,

com um viés voltado à mutação

que DeVries, sem discordar, assina.

 

E justamente foi esta coincidência,

tendo certeza de que nenhum plágio houvera,

mas que Wallace também a fora conceber

de forma independente; e com paciência

pôs-se a pensar em como a ideia neles gera,

sem o trabalho uns dos outros conhecer...

 

TEILHARD DE CHARDIN III

 

Assim surgiu a sua maior contribuição,

a Noosfera, uma troca exponencial

do pensamento de nós todos, afinal,

que envolve todos em concentração,

a atividade do Nous: a criação

só é possível de forma espiritual,

porque baseada no vasta manancial

das ideias que do passado chegarão.

 

“Os ombros de gigantes”, mencionados

por mais de um cientista inovador,

pois afirmaram estar neles sentados,

do mesmo modo que o pensamento atual

que repentino surge algures com fervor,

ao mesmo tempo, em cientista original.

 

TEILHARD DE CHARDIN IV

 

Assim se explicam as grandes invenções,

das quais é a melhor sempre adotada,

cada qual das demais só mencionada

como surgida em simultâneas ocasiões,

mas sem de plágio existirem suspeições,

uma ocorrência comum e inexplicada;

dizem que surge ao estar já preparada

a humanidade para tais aceitações...

 

E mais ainda, o pensamento coletivo

é como a vida, uma esfera bem real,

a qual pode acessar o subconsciente,

para clara inspirar cérebro ativo,

toda a ciência e tecnologia material

e toda a arte que nos surge diariamente.

 


VLADIMIR VENADSKY I – 7 FEV 20

 

Teve Teilhard de Chardin um precursor,

que com Mendelejeff quando jovem estudou,

Vladimir Venadsky qualquer coisa imaginou,

do termo “noosfera” talvez sendo o criador,

na Terra havendo sistema auto-regulador

e esférico em sua forma, ele afirmou,

mas em uma força geológica pensou,

que ao orbe inteiro dará o seu pendor.

 

Assim a vida transformou o mar

e a vegetação a terra inteira

e os animais, como força derradeira,

cada ponto do planeta a influenciar,

se para bem ou para mal é indiferente,

extrema a atividade assim potente.

 

VLADIMIR VENADSKY II

 

Porém sua obra finalmente publicou

sob um nome diverso, a Biosfera,

uma ideia que Edvard Suess já tivera,

de que o reconhecimento assim facilitou;

sendo um geólogo, Suess afirmou

que em torno do planeta então houvera

uma camada semelhante a esfera,

depois que a vida todo o globo dominou.

 

Surgindo então o mundo das ideias

para Venadsky, Tecnosfera temporária,

uma espécie de Cerebral Galáctica,

mais que o planeta a abranger tais odisseias;

seria a Era Psicozóica, a que contrária

segue a ciência, em oposição enfática...

 

VLADIMIR VENADSKY III

 

Seria esta do Tempo uma Função,

desenvolvida apenas lentamente,

na medida do multiplicar da gente

e de seus voos de imaginação;

eventualmente seus seguidores até são

inclinados a consequência mais premente,

que a Terra fosse assim moldada totalmente,

na medida em que suas crenças mudarão.

 

Que tempo houve em que a Terra plana fora

e que a cobria um céu de estrelas presas,

para depois se a imaginar como redonda

e que essa Tecnosfera, desde o outrora,

foi dando origem a mais vitais certezas,

pela maré de tal humana onda!...

 

VLADIMIR VENADSKY IV

 

Mesmo afastada de nós tal fantasia,

Yves Chavallard imaginou a Transposição

Didática, indo ao aluno da intelecção

Do professor, que assim o instruiria;

mesmo a Teoria dos Números envolvia

de Ludvik Fleck nova suposição,

a Teoria do Fato Científico, em que estão

incluídos todo dogma e heresia...

 

E Mocatino, também recentemente,

imaginou a Lógica da Probabilidade

e das Hipóteses com o Princípio da Incerteza,

que inclui o universal subconsciente

e em cada mente criaria com firmeza

a Noosfera ideal mais permanente...

 

A PENA DA PENA I – 8 FEV 20

 

Peço perdoem-me qualquer inexatidão,

Métrica e Ritmo mais importam na poesia

e a alguma Rima lugar sempre deixaria,

dando à Cesura sua verdadeira posição,

mas os fatos essenciais aí estão,

ninguém a crer na Noosfera obrigaria,

grata que seja à minha fantasia,

de tantos versos a dar explicação.

 

Se como de Venadsky sugerem seguidores,

acessá-la para mim é bem possível,

talvez dormindo... ou então, é o contrário,

saem dessa Noosfera os meus pendores,

que a mim acessam com vigor irresistível

e me forçam a transmitir esplendor vário.

 

A PENA DA PENA II

 

Ou talvez, para mim seja a Onirosfera, (*)

em que penetro plenamente voluntário

e nela gozo de seu encanto multifário

que tanta vez já mencionei em antiga esclera;

quantos sonhos de prazer que nalma gera

esse acesso a tal mundo tributário...

Como posso esperar que algo tão vário

contido esteja na cerebral esfera...?

(*) Esfera dos Sonhos, oposta à Esfera dos Pensamentos.

 

Porém não sei quanto do onírico haverá

na Noosfera de tantos pensamentos

que do passado surgem permanentes,

quando filósofos e historiadores se lerá:

há muito mais do que simples sentimentos

nesses poemas a brotar impertinentes...

 

A PENA DA PENA III

 

Assim só posso me referir à compulsão

que não parece brotar-me do interior;

bem lá de fora então se encontra o provedor,

rascunhos da nuvem a brotar sem compaixão

são que compelem os músculos da mão,

de seu intenso caligrafar senhor,

de outras tendências feroz afastador,

quando lança sobre mim a obrigação.

 

A pena assim percorre o seu castigo,

em cada verso a se cumprir a pena,

pena não tendo de mim o estranho amigo,

seja quem for, que controla o meu perigo

e me protege solitário sobre a cena,

nesse labor que completar jamais consigo!...

 

ESPOLIADORA I – 9 FEV 20

 

Roubaste meu fantasma e ando sem sombra

nos meandros do mundo.  Saio à noite

por mais que seja frio do vento o açoite,

os dias permaneço no abrigo de minha alfombra.

 

Não quero que me vejam quando alumbra

a clara luz do dia em que me afoite,

só mesclado de outras sombras meu acoite,

tanto menor sendo o escândalo que assombra,

 

porque é dificil viver sem ter imagem,

sequer meu corpo reflete a luz do sol,

mas tão somente a das lâmpadas elétricas;

 

por pura sorte não me pensam ser miragem

pois para muito poucos sou farol

e nem percebem de meu rosto as faces tétricas.

 

ESPOLIADORA II

 

Muito mais sorte teve aquele personagem

que Von Chamisso esculpiu com seu buril

na “Estranha História de Peter Schlemihl”,

o pobre idiota que sofreu por tal bobagem,

 

vendendo a sombra ao diabo, com coragem,

que em absoluto não o fez por preço vil,

mas a alma recusou-lhe, num ato senhoril:

“Só quero sombras nesta minha passagem.”

 

E lhe repassou certa bolsa de dinheiro,

repleta sempre com ouro verdadeiro,

não esse “ouro de fadas” sorrateiro,

 

mas semelhante à cornucópia da abundância;

ao enfiar-lhe a mão, em cada instância,

moedas nobres retirava em real constância.

 

ESPOLIADORA III

 

Em caso algum esse dinheiro recusaram,

sabe-se lá como o repunha o diabo,

de que tesouro, de qual túmulo nababo,

de quais almas que com ele traficaram.

 

Não foi de forma comum que o castigaram.

só se escondia esse Schlemihl que agora gabo,

mas dessa lenda se afirmava ao cabo

que numa caverna do Egito o encontraram.

 

Mas eu, senhora, não tive prata ou ouro

nem pela sombra, nem em troca do fantasma,

sequer a luz solar daí em diante me abrigou.

 

Ela se foi e foi com ela o meu tesouro...

Por mim a sombra até levasse... O que me pasma

é que de fato ela partiu e não voltou...

 

NEGAÇÃO I – 10 FEV 2020

 

Já não me serve sequer de paliativo

esse minúsculo laivo de esperança,

que tive um dia, miasma de bonança,

que apenas visitou-me sem motivo.

 

Não foi fantasma sequer, nem lenitivo,

sendo mais pueril desejo de criança,

querendo o mundo ter em sua pujança,

até crescer e perceber como é passivo

todo o desejo de possuir a carne e o sol,

que prediletos têm as circunstâncias

e a tais elevam num triunfo aleatório.

 

Esse teu rosto foi dilúculo em arrebol,

que perdi no tribunal dessas instâncias

que prolataram por um outro peditório...

 

NEGAÇÃO II

 

Em tempo hábil não apresentei a queixa,

nem denunciei quem a sombra me roubara;

ao perceber que para mim não retornara,

fiz a denúncia após decurso dessa endeixa...

 

Como prova apresentando só madeixa

de minha sombra que nas mãos deixara,

apertadas por mim de forma ignara,

que era apenas barregã, jamais a gueixa

com que havia sonhado e que zombara

de que algum preço pela sombra me pagara

e muito menos por meu pobre fantasma...

 

que prova eu tinha, além de haver perdido,

que ela tivesse o meu bem tão mal havido,

senão um vídeo no cerebral quiasma?

 

NEGAÇÃO III

 

Nem então, nem hoje, se aceitaria como prova,

nem no presente há impressora em 4D,

que o passado em gravação nos dê...

Salvo em abrir-me na testa funda cova,

 

em que do cérebro meu quiasma se remova,

e retirassem essa parte em que se vê,

gravada a imagem nas redes qual tevê,

que diariamente se gera e se renova...

assim perdi a questão em toda a linha

e mesmo comprovando o que ela tinha

contra mim feito, como o iria recobrar?

 

De que maneira embrulharia esse fantasma,

qual recipiente para a sombra pasma,

se eu só queria era vê-la retornar...?


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