quinta-feira, 17 de dezembro de 2020


 

 

UM LONGO BEIJO

 

Um casal de velhinhos foi à roça,

onde se haviam conhecido no passado.

Ela pediu um beijo, bem ao lado

da cerca em que se haviam encontrado.

 

Deram-se o beijo, como ninguém possa

dar-se hoje em dia, de tanto demorado.

Um caipira passou e ficou assombrado

com o amor que assim via demonstrado.

 

"Mas vocês não conseguem se largarem!

Como eram então, aos vinte anos?"

E a velhinha respondeu desesperada:

 

"É que quando antigamente nos beijamos,

esta cerca não estava eletrificada!...

Por favor, peça para desligarem!..."

 

 

VÍCIOS E FIGURAS – 30/4/2008

(para Ada Guimarães )  

 

Esforço-me nos versos, pleonástico,

elíptico, siléptico, fiel ao anacoluto...

As reticências, sem cessar, escuto

e devo imaginar um quê bombástico.

 

Metalinguagem de sabor fantástico,

levando à finitude o absoluto...

E pela boa sentença, ponho luto,

em mercurial anseio sorumbático.

 

Que eu jogue com palavras, jogo agora

com o jogo de palavras feito outrora,

porque é meu jogo e assim tenho direito

 

de zombar dele, qual zomba de mim:

metaperíodos, metameta, assim,

somente um exercício sem proveito.

 

EUTELOGIA – 30 JUN 79

 

Eu te desejo, eu te anseio, eu te bendigo,

Eu te amo, eu te quero, eu te adoro,

Eu te beijo, eu te abraço, eu te imploro,

Eu te lastimo, eu te cerco, eu te persigo.

 

Eu te possuo, eu te vazo, eu te destino,

Eu te enlouqueço, eu te amparo, eu te digo,

Eu te perco, eu te busco, eu te consigo,

Eu te escuto, eu te vejo, eu te domino. 

 

Eu temia, eu testemunho, eu terrível,

Eu teria, eu tentava, eu te confesso,

Eu templário, eu temerário, eu temível,

 

Eu, Teodoro, eu temendo, eu te endereço,

Eu, Tereza, eu textual, eu termino:

Eu te abandono, eu te deixo, eu te assassino!

 

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