sexta-feira, 6 de agosto de 2021

 

 

BOLHAS DE CHALEIRA I – 1º AGO 21

 

Muito se fala sobre bolhas de sabão,

mas quem recorda as bolhas da chaleira?

Ali anunciam a fervedura inteira

para quem sinta algum frio no coração.

Eu diria ser muito mais hospitaleira

essa bolha de ar longe do chão,

que se arrebenta sob a proteção

de uma tampa bem mais corriqueira!

 

A bolha de sabão pequeno arco-íris,

a bolha da chaleira em transparência,

que abrange apenas a água do interior;

no ar flutuam algumas quais suspires,

as outras presas no calor em impotência:

ambas explodem em gotas de vapor!

 

BOLHAS DE CHALEIRA II

 

Foram as bolhas na chaleira mal fechada,

sobre a força da pressão a saltitar

que a James Watt conseguiram inspirar

a Industrial Revolução ali iniciada!

Não que por ele fosse romantizada

essa breve irrupção prendendo o ar;

não achou belas as bolhas a pular,

sendo prático, só sua força aproveitada!

 

Mas que seria de nós sem o vapor

que tantas fábricas por séculos animou,

sem o transporte que Stephenson revolucionou

e sem sequer nas casas o calor,

nem dos campos teria crescido a produção,

sequer das Américas a colonização!

 

BOLHAS DE CHALEIRA III

 

Mas as bolhas de sabão são reluzentes

a flutuar quais duendes ou fadinhas,

mas de pequenas vidas tão mesquinhas,

logo perdidas nas explosões frequentes;

nada há de admirar que as apresentes

em tantos versos ou histórias pequeninhas,

que as compares a estelares lampadinhas,

pois que do sopro da criança as alimentes...

 

Quem não se deixa por tais íris convencer,

em especial por sua transitoriedade?

Algum poeta louvou bolhas de fogões?

Por mais que estas nos doem seu poder,

na permanência de sua furtividade,

fazendo máquinas bater quais corações?

 

BOLHAS DE ENGANOS I – 2 AGO 2021

 

Não quero ser jamais como os Ludditas,

que iam às fábricas para as máquinas quebrar,

por seus empregos braçais a conservar:

do tecnológico não me furto às ditas;

jamais pensei serem as máquinas malditas,

que a civilização vieram abençoar,

mesmo os hospitais chegando a reformar,

porém reclamam do carvão as negras fitas,

 

acreditando que por haver eletricidade

ficou o vapor já deixado para trás...

Mas o que põe as turbinas a girar?

Qualquer que seja o combustível na verdade,

ainda é o vapor que seu poder nos traz,

parte até mesmo da energia nuclear!...

 

BOLHAS DE ENGANOS II

 

Já muitas vezes declarei não buscar fama.

Por que escrevo, então?  Porque estou velho

e ainda desejo registrar algum conselho

que lá do fundo da alma me reclama,

quando à noite estendo-me na cama,

vêm pensamentos tal qual escaravelho

a picar-me o devaneio e nesse espelho

surge o poema e a ideia que o recama.

 

Vejo ao redor as opiniões desavisadas

e me surpreendo que possam perdurar,

mesmo contrárias à ciência ou à razão;

e então me ergo em horas tresloucadas,

pobres protestos insistindo a registrar,

mesmo a saber rara a mudança de opinião.

 

BOLHAS DE ENGANOS III

 

Não obstante, como é fácil a tecnologia

ser desvirtuada pelos erros de opinião

ou mais ainda por interesses de ocasião

ou por modismos que cada qual seguia;

assim encaro isso que hoje se dizia

serem “redes sociais”, cuja real função

seria atender à emergência ou proteção

e não o campo em se dizer o quanto queria.

 

A mim parece que esse tipo de pessoa,

tem postura  semelhante à dos Ludditas

e assim se opõe ao avanço do progresso,

pois desperdiçar com tanta coisa a toa

essa energia ou o tempo  em que repitas

continuamente a tua vaidade feita gesso?

 

BOLHAS DE ABALOS I – 3 AGO 21

 

Certo verão salvou meus terremotos,

Quando as fendas em abismos se racharam,

Quando as areias pelos ares de espalharam

Por motivos para os outros ignotos;

Esse verão de tantos maremotos,

Que singulares orgasmos me alcançaram,

Todas as frestas do organismo me abalaram

E me lavou em inexplicáveis psicomotos.

 

Mas tal verão soergueu os meus destroços,

Depositados no fundo dos abismos,

Depauperados por antiga e mansa calma

E foi assim que me desfiz em mil esboços,

As mil pegadas demarcadas pelos sismos

Desses gigantes rebelados em minhalma!

 

BOLHAS DE ABALOS II

 

E não me digas que terremotos não te abalam

E o que chão sentes bem firme sob os pés,

Que nenhuns tsunamis em tuas praias vês,

Que as vozes alheias para ti se calam,

Que celulares em zumbidos não te malham

Com as constantes exigências dos atés,

Suas propagandas, as ofertas de más-fés,

As frases tolas que o tempo tanto esgalham.

 

Não será assim, porque no tempo atual

Sob assaltos te vês continuamente,

Teus dados sujeitos a invasão frequente.

Notícias falsas, que te fazem tanto mal

E a constante repetição de ideologias,

Que enfim repetes, sem notar quanto mentias?

 

BOLHAS DE ABALOS III

 

Talvez não seja exatamente uma verdade,

Mas é difícil me deixar influenciar

E até hoje sequer comprei um celular,

Talvez o último habitante da cidade

Que meios tenha para adquiri-los à vontade,

Mas se recuse por não ter o que falar

Nessas mensagens tão curtas do aliciar.

Computador adquiri, não por vaidade

 

Mas em função dessa pressão interna

De qualquer verso que me assalte a repetir

E que me sinta na obrigação de redigir,

Nessa tola esperança de atenção, que alterna

Entre as mensagens e os anúncios sem valor

E se disponha até as ler com certo amor!...


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