sábado, 28 de agosto de 2021


 

 

NO  ENFADO  D O  FADO  1 – 17 AG0  2021

(Na ilustração, a atriz clássica, Jennifer Jones).

 

Foi breve encontro, quase sem sentido,

Só bem no fundo uma leve indicação

De que o Destino mostrsse ali sua mão,

Que por motivo qualquer os havia reunido.

Não que aguardasse o homem envolvido

Futuro algum em tão casual reunião,

Nem que a mulher suspeitasse de paixão,

Que nem sequer amizade haviam nutrido.

 

Mas lá no fundo assoviava a inquietação,

Qualquer coisa que pudesse até arrepiar

Os cabelos de suas nucas levemente...

O que causara essa breve comoção?

Só indagação sexual a se insinuar,

Algo de leve, sem nada de potente?

 

NO  ENFADO  D O  FADO  2

 

O fato é que o encontro era casual,

No meio de um festejo comedido;

Em vernissage nada seria concebido,

Sequer encontro a marcar-se mais sexual.,

Sem que ocasionasse uma atração fatal,

Tão só intelectualismo ali nutrido;

Talvez por trás do comentário proferido

Já espiasse algum fator emocional.

 

Esse mais sendo um suspiro que suspeita

Do que o fado para os dois trouxera,

Se lhes trouxera mais apego que vaidade,

Sempre autoestima no coração se aleita,

Qualquer admiração sempre se espera,

Olhos abertos para qualquer fatalidade.

 

NO  ENFADO  D O  FADO  3

 

Mas se de fato alguma coisa houvesse,

A bala vinda do arcabuz do fado,

Se um novo mundo palpitando de seu lado

Se abrisse agora, caso algo se  fizesse?

Novo universo quem sabe enlouquecesse

Os parâmetros de um amor ainda ansiado,

Os remorsos de um tormento compensado,

Tudo envolvendo em sua ardilosa prece?

 

Porém as vidas que haviam organizado

Em seus muitos fatores circundantes,

Ferozmente contra o enlevo protestaram,

Em um aperto de mão bem comportado,

Olhos nos olhos não mais do que hesitantes,

Nessa aventura que nem ao menos começaram.

 

NO ARCO-ÍRIS  DAS  ÍRIS  1 – 18 AGO 21

 

O meu arco-íris encontrei no seu olhar

E me envolvi sem saber qual fosse a cor,

Qual a nuance permanente de um amor?

Como o peito se transmuda em palpitar?

Onde se encontra o fervor desse luar

No vago mundo de olhos claros de calor,

O sangue ali no fundo em seu rubor,

Sob as pálpebras em seu tímido mirar?

 

Haverá círculos sob as pestanas a espiar,

Estranhos olhos do mais estranho ardor,

Por que os arco-íris para mim piscavam,

Sem qualquer cor realmente se firmar?

Por que o arco-íris é tão tênue ao meu redor,

Seu pote de ouro sorrateiro a me mostrar?

 

NO ARCO-ÍRIS  DAS  ÍRIS  2

 

O arco-íris para antigos era a ponte

Que conduzia aos salões do paraíso,

Seu guarda austero, sem sinal de riso,

Sua alabarda a demarcar-me o horizonte,

Porque as lágrimas são cristalina fonte,

Uma dúzia de chafarizes sem motivo,

Em horário sem razão, mas redivivo,

Quando esse arco-íris dormita atrás do monte.

 

Pois o arco-íris que entrevi nos olhos dela

Era translúcido como soem ser mentiras,

Muito mais transparentes que verdades;

Tem apanágio natural qualquer donzela,

Seus sentimentos vertiginosas giras,

Na inconstância de suas veracidades.

 

NO ARCO-ÍRIS  DAS  ÍRIS  3

 

E cada vez que me dão algum arco-íris,

Já de antemão eu sei que é impermanente,

Por mais real que seja em seu fulgente

Momento de interpretar os seus sentires;

E lá se vão as cores para Osíris,

Pois que morre o sentimento mais frequente

Do aque a carne que ali está subjacente,

Se ao redor do coração não os aspires.

 

Que seja o arco-íris feito em sete luas,

Como satélites de só e único amor,

Sete donzelas em suas cores nuas,

Sete alegrias trazendo em breve hora,

Nesses seus trajos de rútilo esplendor,

Iguais a nuvens no despertar da aurora.

 

NO  GIRO  DO  SUSPIRO  1 – 19 AGO 21

 

Amor é um suspiro que somente alguém escuta:

Ninguém o ouve, mesmo estando ao derredor.

Amor é um beijo que se sopra sem temor,

Tantos sopros enfrentando nessa luta.

Infelizmente, quando é férrea essa disputa,

O amor soprado não se escuta em seu teor,

Outros se ouve, de quiçá menor valor,

Mas cuja expiração tem força bruta.

 

Amor se sopra para um alvo  destinado

E então se espera que atinja o seu ouvido,

Mas quão frequente se faz amor aflito!

Por outro ouvido foi antes captado,

Que não se quer, mas não aceita o olvido

E fica assim a rebater-se no infinito!

 

NO  GIRO  DO  SUSPIRO  2

 

Amor se expira para que atinja o alvo,

Para quem foi esse suspiro destinado;

Por que em suspiro se deveria limitado,

Quando nem sempre poderá ser salvo?

Sendo suspiro, todo amor é calvo

E não tem como prender-se ao alvo amado,

Salvo se este o aceita e é inspirado,

Integralmente e sem qualquer ressalvo.

 

Amor se sopra na espera que atingisse

Somente o alvo para o qual foi assobiado,

Mas com frequência nos será interceptado;

E que fazer quando esse amor se visse

Por outro ouvido firme captado,

Que em seu soprar de amor nos insistisse?

 

NO  GIRO  DO  SUSPIRO  3

 

E é tão comum fazer-se esse suspiro

De outro ouvido firme prisioneiro,

A devolver-nos seu amor inteiro,

Igual que dardo de zarabatana em giro?

Amor então a se perder nesse respiro;

Sempre é possível recusar-se a um terceiro,

Mas que fazer quando um suspiro verdadeiro

Nós captamos firme em seu reviro?

 

Como é comum culpar-se ao tal anjinho

Por lançar setas na maior casualidade,

Quando de fato somos nós que as assopramos!

Um tal suspiro a se  enraizar devagarinho,

Até prender-nos em total inermidade

Em alguém anteriormente não buscamos?

 

MAIORIDADE  PELA  MORTE  1 – 20 AGO 21

 

Entre os Masai a ninguém chamavam homem

Se não matasse primeiro algum leão;

Faltando um macho, para alguns aceitarão

Uma leoa, desde que com lança a tomem.

Sempre se pensa que a alguns os leões comem,

Mas em geral não vão caçar em solidão,

Que companheiros atrás dele se porão

E caso erre, outras lanças as feras domem.

 

Contudo, ele terá de retornar,

Para acertar na seguinte tentativa,

Ou corajoso, perecer tentando;

O governo de Kenya diz não aprovar

A tradição que disfarçada segue viva,

Esses felinos muito menos a apreciando!

 

MAIORIDADE  PELA  MORTE  2

 

Em certas tribos das ilhas de Bornéu

Só era homem quem cortasse uma cabeça

E a conservasse em sua choça, nessa

Demonstração do masculino poder seu.

E numa ilha do Pacífico ocorreu

Que na infância constante permaneça

Qualquer um de cujo pai a vida não cessa:

Por quarenta anos algum menino assim viveu!

 

Foi diferente entre os indo-europeus

E de forma semelhante entre os semitas,

Cerimoniais sempre a marcar iniciação,

Os pais no orgulho desses filhos seus,

Adolescentes a memorizar as longas fitas

De antepassados desde arcana geração.

 

MAIORIDADE  PELA  MORTE  3

 

Contudo Freud um dia em Édipo pensou

E afirmou ser um instinto permanente

Matar o pai para ser proeminente

E como esposa a sua mãe se conformou.

O triste Édipo o destino é que marcou,

Laio o atacou por motivo inconsequente,

Matando a Esfinge tornou-se o pretendente

Ao trono de Tebas e o casamento celebrou.

 

Na verdade, era costume adonisíaco,

Rei escolher pela extensão de um ano,

Que seria no final sacrificado;

Pela rainha era o trono afrodisíaco,

Édipo inocente só a tornar-se o soberano,

Após o rei anterior ter derrotado!...

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