domingo, 5 de junho de 2022


 

 

A FADA ARANHA I – Revisado 11 jan 22

 

Era uma vez, em um país distante,

uma pobre mulher, que nem sabia

se era casada ou ficara viúva;

de seu marido só recebera a luva

de ferro, que era então chamada “guante”,

e fora achada no campo de batalha...

Com grande brio ao inimigo espalha

perante o si o garboso Leothar,

o exército do rei a comandar,

numa vitória que ao reino salvaria!...

 

Diziam alguns que Leothar era prisioneiro;

outros falavam que, sendo canibais

seus inimigos, fora preso e devorado;

mas o certo é que não fora achado;

e por ter raiva dele, o tesoureiro

suspendera o seu soldo, por despeito

e à viúva negara qualquer direito:

não merecia o soldo por lutar

e nem pensão por um vivo iria pagar,

amparado em certas leis imemoriais...

 

O próprio rei por Leothar nutria inveja,

pois entre as tropas era muito popular;

e algumas vezes, até perdia o sono

pelo temor que lhe tomasse o trono,

já que seu próprio avô, como se enseja,

tomara o trono a seu rei anterior;

e Leothar, com todo esse valor,

descendia da antiga dinastia

em linha direta, como se dizia,

e se quisesse, o poderia derrubar!...

 

Isto ocorreu, de fato, em muito império

e assim Belezzar apoiou seu tesoureiro,

embora muita gente intercedesse

que à esposa e à filha concedesse

alguma soma como um refrigério:

para Leora e sua filha, Leodiceia,

até que fosse concluída essa epopeia;

mas disse o rei que só depois de sete anos,

se o general não voltasse, eram seus planos

declará-la viúva e lhe pagar o soldo inteiro.

 

A FADA ARANHA II – Revisado 12 jan 22

 

Secretamente, com o tesoureiro combinou

que espalhasse pelo reino uns espiões

e se acaso o guerreiro retornasse,

traiçoeiramente qualquer deles o matasse

e que seu corpo lhe enterrassem ordenou;

Leora, afinal, era apenas a sua mulher

e não teria pretensão sequer;

porém incômoda seria Leodiceia,

da dinastia descendente, ao que se creia:

para matá-la precisaria de boas razões...

 

Contudo Leora conseguiu uma audiência

com a rainha Belegilde e a comoveu,

que deu-lhe emprego, por pura caridade:

não mais do que servente, na verdade,

mas garantia de sua subsistência;

entre os criados teve alojamento,

para si e a filha a certeza do alimento;

e Belezzar com a esposa concordou,

e desta forma a rival inocente conservou

sob suas vistas, depois que a recebeu.

 

Partiu Leora então para o castelo,

a carregar as poucas coisas que possuía

em duas trouxas, incluindo o guante,

levando a filha pela mão adiante,

longa alameda subindo nesse zelo;

de ambos os lados bandeiras drapejavam

e como símbolo heráldico mostravam,

vista de costas, grande aranha vermelha,

sobre campo amarelo qual centelha,

“goles” e “jalde”, conforme se dizia.

 

Leodiceia foi indagando pela estrada:

“Por que essas aranhas, mamãezinha?”

“São os símbolos do reino, minha querida:

a aranha em goles a vitória garantida,

o campo em jalde a riqueza acumulada.”

“Mas nunca vi qualquer aranha vermelha...

Tenho até medo dessa aranha velha!”

“Vou-lhe contar então grande segredo,

mas nunca fale a ninguém, por maior medo,

especialmente nem ao rei, nem à rainha...”

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