segunda-feira, 25 de março de 2024


 

 

AMOR CONFESSO I – 22 MARÇO 2024

(MYLÈNE DEMONGEOT, apogeu francês)

 

Sempre entendi para mim que uma mulher

quisesse dar e receber carinho,

que um ‘Eu te amo!’ seria um rosmaninho

na boca desse alguém que ela mais quer,

que amor não é uma flor de malmequer,

despetalada com um medo pequeninho,

qual profecias guardasse no seu ninho

de pétalas que se arranca, sem sequer

imaginar o mal feito a essa planta,

deixando apenas seu régio meristema,

depois jogado ao solo casualmente,

qualquer que fosse o resultado com que imanta

a nossa alma tão egoísta e tão pequena,

com seu número assim casual e indiferente...

 

AMOR CONFESSO II

 

Sempre entendi que amor é demonstrado

por palavras e ações e não presentes,

que ‘eu te amos’ proferidos tão frequentes

só aumentariam do amor seu véu alado,

que mesmo amor que se encontre desbotado,

ao ser assim manifestado em diariamentes,

realmente novo ardor nos subjacentes

sentimentos faria amor mais acentuado

e que esse amor às claras repetido

teria as pétalas e as raízes restaurado,

igual que água em sangue transformado

ou como a flor nesse chispar contido

reverdescesse e o caule levantasse,

erguendo ao sol a corola que ostentasse.

 

AMOR CONFESSO III

 

Mesmo em desânimo, sempre reafirmei,

ainda perante aparente indiferença,

meus ‘eu te amos’ na expressão mais densa

e de seus olhos a expressão roubei;

múltiplas vezes tal fervor não encontrei,

perdida a íris na esclerótica da descrença,

para a expressão de amor, por mais intensa

ser respondida simplesmente por ‘eu sei’!

E ao investigar meu desapontamento,

eu persisti o meu amor a demonstrar,

mesmo sem ver que seu amor fortificava

e descobri, sem maior surpreendimento,

o quão era importante isso afirmar,

pois meu amor, seguro e terno, confirmava!

 

AMOR NÃO MANIFESTO I – 23 MAR 24

 

“‘Eu te amo!’” – me dizem – “que coisa mais batida!”

“Foi empregado de forma tão variada,

que de sentido se tornou toda esvaziada,

por que se usar expressão tão repetida?

Nesse ‘eu te amo’ a emoção não está contida,

é em sua demonstração mais conservada,

a intimidade assim sendo preservada,

como se a nota ao se tocar fosse perdida.”

Seria assim um amor tão diluído

nessas diárias mazelas de uma vida,

no marchetar inserido em tais matizes,

que se afirmar um amor tão desabrido

nos afastasse de sua emoção contida

e algo se perdesse em tais deslizes...?

 

AMOR NÃO MANIFESTO II

 

Mas amor não se perde ao proclamar,

qual não se gasta em demonstrar carinho,

não resulta em coração mais pequeninho,

nem menos denso é esse amor a revelar;

até julguei que no fundo desse olhar

haja um temor de perder-se no caminho,

por emitir frases de amor tão comezinho

e que da boca o mais terno palpitar,

frase após frase a enfim fosse enrugar,

como se fazem as rugas de expressão

e que ‘eu te amo’ melhor fora evitar,

conservando por mais tempo a juventude,

cada ‘eu te amo’ um desgaste da paixão

por mais sincera em sensação bem rude...

 

AMOR NÃO MANIFESTO III

 

Se fosse assim, eu não me importaria,

caso ‘eu te amo’ sugasse o meu vigor

e repetiria com o máximo estridor:

dizer ‘eu te amo’ amor não gastaria,

por dizer ‘eu te amo’ amor não perderia,

não está na frase o verdadeiro ardor,

porém na alma que inveja o seu sabor,

que mais forte ficará com tal surpresa,

tal qual  o fôlego se renova tão frequente

para o pulmão – e dessa frase o seu frescor

 diariamente irá ampliar a minha certeza...

 

COLHEITA DE AMOR I – 24 MAR 24

 

Eu vejo a rosa sentada no jardim

e de possuí-la me encho de desejo,

mas seus espinhos igualmente vejo:

é perigoso tentar colhê-la assim!

O que haverá caso estenda a mão enfim

para essa haste no mais egoísta beijo?

Enquanto isso, qual beija-flor adejo,

batendo as asas num duvidar de querubim,

pois afinal, a rosa rubra e cintilante

conserva o seu vigor presa no pé,

se for quebrá-la, em breve murchará

e para onde levarei sua cor flamante,

mesmo sabendo que há de murchar até

e sobre o solo enfim despencará...?

 

COLHEITA DE AMOR II

 

Possui um tempo de vida a meiga rosa,

não a colhi quando era um só botão,

passei de largo, sem cuidar sua brotação,

sem perceber até que ponto era formosa...

E se a tocasse, teria sido dadivosa?

Nas suas pétalas da primeira floração

ainda não crescera em seu pendão...

Até que ponto seria minha tão viçosa?

De qualquer modo, ao passar pelo canteiro,

vi finalmente dessa rosa o esplendor,

mesmo perdido seu inicial frescor,

a me saudar em tom alvissareiro...

Mas foi a visão, enfim, que me aceitou

e de meu caule finalmente me apartou...

 

COLHEITA DE AMOR III

 

O que acontece, se a tomar nos dedos,

neste momento de final aceitação,

por quanto tempo guardará sua floração,

antes que as pétalas percam seus segredos?

Que me haverá à luz de tantos medos,

por que meus braços sentem tanta retração

e só se elança para ela o coração?...

Os seus perfumes já não são mais ledos?

Mas nela vejo o suprassumo da mulher,

mesmo que não se encolha nos meus braços:

também o tempo marcou o jardineiro...

mas se em redoma se replantar quiser,

eu cuidarei prestimoso de seus traços,

só lastimando não a ter visto primeiro!

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