sábado, 23 de março de 2024


  

LA FERRARIA VII – 19 mar 24

JANE  RUSSELL, auge de Hollywood

 

Mas afinal, em todo o autoritarismo,

mais se queria proteger a autoridade;

quanto ao Papado em sua catolicidade,

defender-se em total exclusivismo.

 

E desta forma, foi perseguido o arianismo

e dominado por toda a Cristandade,

grecolatinos a combater com ansiedade

povos germânicos com seu unitarismo.

 

Foi um pretexto, somente.  Ora, a Espanha

fora por Vândalos e Visigodos conquistada,

convertidos a esse ariano cristianismo,

 

que o Papado combateu com grande sanha,

para manter sua hegemonia incontestada,

na investidura divina do papismo.

 

LA FERRARIA VIII

 

Hoje em dia, uma tolice nos parece

que se combata por motivos tais,

mas foram as qustiúculas fatais

sobre a maneira de se dirigir a prece,

 

cuja importância hoje em dia até se esquece,

que permitiram os avanços triunfais

das tropas de Tarik, que jamais

diplomacia com suas teias tece.

 

Nunca o poder simplesmente militar

explicaria esse tão breve espaço;

na realidade somente um curto passo

 

separava o cristão monoteísmo,

iconoclasta em sua doutrina singular,

de uma pronta conversão ao islamismo.

 

LA FERRARIA IX

 

E tendo as coisas esse sabor estranho,

quando se pensa que a religião antiga

dos povos indoeuropeus afinal siga

uma trindade sempre em seu amanho,

 

quando semita é a ideia de um rebanho

com um único pastor por seu auriga,

foi muito singular que assim consiga

esse ideário monoteísta tanto ganho

 

entre os germânicos, senão na oposição

ao poder de seus rivais, que sobre Roma

se haviam instalado com firmeza,

 

porque, no fundo, não era a religião

senão um pretexto que a história toma,

para atribuir a tais embates mais nobreza...

 

LA FERRARIA X – 20 mar 24

 

De qualquer forma, tornou-se incontestável

o domínio do mouro sobre a Espanha,

reprimindo a resistência que se assanha,

que aqui e ali se demonstra insustentável.

 

Em Al-Andaluz a unidade instável

das tribos visigodas logo acanha

a força de sua tropa, por tacanha

rivalidade entre os reis, tão condenável.

 

Porém é certo que reforços logo vieram,

com mais mil homens, talvez, consolidando

o domínio de Tarik em califado

 

e por sete séculos ainda ali estiveram,

a Espanha inteira quase dominando,

a despeito do espírito na Espanha hoje encontrado.

 

LA FERRARIA XI

 

Foram os mouros só lentamente deslocados:

libertou-se inicialmente a Catalunha,

terra dos godos, Gotalunya que se impunha

a pouco e pouco nos territórios recobrados.

 

Castela e Aragão foram a seguir formados,

com a ajuda de franceses, que supunha

uma cruzada na ampliação da cunha

da fé católica nos territórios conquistados.

 

A combater os desígnios de Mafoma,

qual chamavam a Maomé.  Dois cavaleiros

casaram com princesas de Aragão,

 

segundo a aprovação vinda de Roma,

dois feudos a receber os cavaleiros

e Portugal assim tornou-se uma nação!

 

LA FERRARIA XII

 

Contudo os mouros construíram fortalezas,

os alcáceres, que longo tempo resistiram,

o Alhambra com seus tesouros erigiram,

grandes mesquitas a proclamar as suas certezas.

 

Os Abencerrages finalmente foram presas

de Fernando e Isabel e desistiram

de seu poder e seus templos transformaram,

feitas igrejas em suas mouriscas belezas.

 

La Ferraria se ergue ainda em Zaragoza,

a arcana fortaleza em seus torreões,

hoje um museu aberto às multidões,

 

restaurando-se tudo quanto ainda se possa,

mas entre essas poucas relíquias e tesouros,

 se escutam os passos dos fantasmas mouros.

 

PASSOS SEM  CALMA I – 21 MARÇO 2024

 

Enquanto amor não chega, amor se espera,

amor presente no interior do coração,

que mais não seja, no usufruto da visão,

mesmo mesclada de indiferença mera;

enquanto amor não chega, a dor mais fera

vem-nos rodear velozmente ou em lentidão,

ardem artérias nessa súbita emoção

e o corpo inteiro nesse ardor se altera.

 

Assim te espero eu, sobre meu leito,

espero em vão que batas à minha porta,

bater à tua sei não ter direito;

e dessa solidão feita em despeito,

o sono morre, a tranquilidade entorta

e sempre à fome de ti estou sujeito...

 

PASSOS SEM CALMA II

 

Amor não chega, talvez, no material,

mas está completo em meu coração,

eu te desejo no cambiante da emoção

e te possuo em conúbio espiritual,

enquanto a espera espero chegue a seu final,

mesmo julgando tenha perpétua duração,

eu te maldigo, sem esperar perdão,

maldição fraca, sem causar-te qualquer mal...

 

As horas correm em tal longa vigília,

mil pensamentos a correr sem ter glamor,

fica a saudade de tua ausência filha,

só no final da noite aguardo a calma,

pois como posso esperar por teu amor,

se inteiro o guardo dentro de minhalma?

 

PASSOS SEM CALMA III

 

                            Se amor não chega, a espera desse amor

sempre me envolve, qual carícia nova,

logo a espera por amor já se renova,

não me traz consolação, traz mais vigor.

Enquanto espero que espere o teu calor,

minha espera toda a transmutar-se em trova,

lanço a tristeza à mais profunda cova

e me envolvo do imaginário no frescor.

 

Assim espero em vão que me procures

e que a meu lado permanente dures,

sei que estás longe, embora estando perto,

porém preenches meu coração deserto,

mesmo no amor que me vem da solidão,

enquanto gozo de tua espera o galardão.

                                                         

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