sábado, 16 de março de 2024


 

 

VLADKO E LODNISSA V – 13 jan 2023

 

Quando a princesa voltou a seu castelo

os reis gostaram também do leitãozinho.

”Mas é uma pena que vá ficar sozinho,

pode adoecer e assim vamos perdê-lo!”

“O pastor tem outros mais, logo irei vê-lo

e comprarei um segundo bacorinho.”

Não se lembrou de contar do presentinho

que dera em troca desse animal que achara belo.

 

Deste modo, ninguém no castelo suspeitou

tivesse havido qualquer possibilidade

de que o pastor tivesse avistado a estrela

que por tantos anos se ocultou,

até tornar-se um símbolo de vaidade

para a conquista dessa mão tão bela!...

Assim, no dia seguinte, Lodnissa caminhou

tranquilamente pela verde pradaria,

algumas moedas consigo então trazia,

para a segunda compra assim se preparou.

O som da flauta pertinho já escutou

e a porca junto ao pastor já percebia,

ao qual continuar tocando ela pedia

e o som da flauta novamente a encantou.

 

Mas após algum tempo, de novo ela pediu:

“Caro pastor, me venda outro leitão!”

“Senhora princesa, vou dar-lhe de presente!”

Mas em fazer um pagamento ela insistiu.

“Senhora princesa, já que faz questão,

dê-me essa fita, que sua blusa prende rente.”

Lodnissa concordou, sem discutir,

sem perceber que sua blusa afrouxaria

e o esperto pastor então lhe sugeria:

“Escolha a senhora o leitão que preferir...”

Ela inclinou-se, para se melhor servir,

sem notar que sua blusa se abriria,

mostrando o colo e o sinal que ali escondia:

Vladko viu o sol, sem nada mais pedir.

 

Voltou a princesa para o castelo bem contente,

mas mais contente deixou o seu pastor,

que a seguir todo o rebanho convocou

e quando chegou em casa, finalmente,

seu pai logo estranhou, com boa razão:

“O segundo leitão, onde foi que o deixou?”

“Ora, senhor pai, também vendi para a princesa.”

Quis o pai que a quantia lhe entregasse.

“Pedi que ela que sua fita me alcançasse.”

“Trocou por fita!  É um prejuízo, com certeza!”

“Não, senhor pai, é uma fita da nobreza,

feita de ouro em que esmeralda se incrustrasse.”

O velho a examinou, para que bem a avaliasse.

“Tens razão, realizaste outra proeza!”

 

“Mas agora vá tirar água do poço,

o suficiente para tantos animais,

toma teu banho e vem para jantar.”

Está saindo esperto este meu moço.

Logo a porca nos trará suas crias mais,

e com essas trocas bem pude lucrar!

 

VLADKO E LODNISSA VI – 14 jan 2023

 

Já no dia seguinte a princesa retornou

e viu Vladko sentado junto à margem,

cabras e ovelhas ao longo da paisagem,

mas nem porca nem leitão ela avistou.

Enquanto ele tocava, primeiro ela escutou

e então indagou, com certa malandragem:

“Hoje não trouxe a porca até a pastagem?”

“Trouxe, sim, lá do outro lado,” ele falou.

 

“Ah, eu gostaria do terceiro leitãozinho,

não me queres vender esse também?”

“Eu lhe darei de presente, minha princesa,

mas teremos de cruzar este riozinho...”

“Para mim é um rio, correndo bem...”

“Mas não é fundo e leve é a correnteza...”

“Vamos lá, eu passarei na frente

e o caminho do vau lhe mostrarei...”

“Quem sabe uma das damas mandarei...”

Mas cada uma mostrou-se descontente.

“Não se preocupe, princesa, facilmente,

se for preciso, eu a segurarei...”

E Lodnissa, mesma a ser filha de rei,

não se importou de passar pela corrente...

 

De fato, até uma forma de namoriscar

com Vladko, que achara até atraente,

sem temer que nos lisos calhaus caia,

tirou as sandálias para atravessar,

mas ao chegar no meio da torrente,

para não molhar, ergueu a barra da saia.

Vladko prestou ali toda a atenção

e distinguiu o sinal lembrando a lua,

que ela ostentava sobre a coxa nua,

mas nada disse, aproveitando a situação;

logo a princesa segurou o outro leitão,

a porca a comer trufas nem se amua;

ela indagou qual o preço que ele atua:

disse Vladko: “É presente de paixão...”

 

“Não, meu pastor, não banque o atrevido,

eu lhe darei uma moeda de ouro.”

“Eu preferia a sua liga, na verdade...”

Lodnissa pagou o preço pedido

e voltou para o outro lado sem desdouro,

mas já sentindo maior dificuldade.

Então Vladko segurou-a pelo braço

e a levou pela passagem boa,

das damas a escutar risos e loa,

mas a princesa não recusou o seu abraço.

Chamou as ovelhas e cabras nesse passo,

com certo esforço convenceu a mãe leitoa,

prendeu a liga na testa qual coroa,

mas seu pai não achou graça nesse traço.

 

Mas ao mostrar-lhe a liga da princesa,

com rendilhado da seda mais fina,

novamente o seu pai ficou orgulhoso,

mas não quis admitir com gentileza,

mandou-o executar as tarefas que destina

e guardou a liga, bastante cuidadoso.

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