VLADKO E LODNISSA III – 11 jan 2023

 

Havia um rapaz que morava numa aldeia,

sua família para a época até abastada,

tinha pomares e mesmo terra cultivada,

pequenos rebanhos a criar sob sua teia;

esse Vladko com a beleza então se enleia

dessa princesa algumas vezes avistada,

mas igual sabendo da dificuldade apresentada,

de sua própria condição não se arreceia.

 

“Eu sou plebeu, mas sei disse a princesa

que se casaria com quem lhe adivinhasse

o formato dos sinais que ela trazia.”

Foi consultar até um curandeiro com presteza,

que lhe disse caso a resposta ele encontrasse,

a mão da princesa ele mesmo pediria...

Ora, Vladko trabalhava de pastor

e suas ovelhas e cabras protegia

e quando a porca que possuíam dera cria,

levou-a ao pasto para aumentar o seu vigor.

Só três bacorinhos tivera em seu fervor

e o pai achou que se ao campo a levaria,

talvez mais leitões de outra vez teria

e o rapaz a conduziu com certo amor.

 

Então sentou-se à margem de um rio,

bem ao longe a contemplar o passeio

da princesa com suas damas de honor

e em sua flauta foi tocar com brio,

bem desejoso de avistar-lhe o seio,

que ela cobria em casto pundonor.

Ao escutar a flauta do pastor

Lodnissa chegou-se à beira-rio,

as damas a segui-la em alegre brio,

que a protegessem em todo o seu pudor;

Vladko ergueu-se, bem respeitador:

“Por favor, não corte da melodia o fio,

de longe o escutava em passadio,

volte a tocar para nós, faça o favor!”

 

Assim Vladko em sua pedra se assentou

e a flauta recomeçou logo a dedilhar,

trazia na memórias umas quantas melodias

e a princesa perto dele se instalou,

rodeada pelas damas a escutar,

mas cochichando bobagens sem valias.

Contudo as moças logo se aborreciam,

somente Lodnissa a escutar com atenção

e começaram a aproveitar essa ocasião

para atividades que mais preferiam,

umas às outras os cabelos penteariam,

outras mostrando bastante aplicação

em algum bordado, com cuidadosa ação

e a melodia pouco ou nada ouviam.

 

Mas começaram umas às outras sussurrar

como achavam bonito esse pastor,

que prefeririam beijar em vez de ouvir...

Mas Lodnissa a seguir as fez calar:

“Quero escutar a flauta, por favor!”

Logo as fofocas fazendo se extinguir!

 

VLADKO E LODNISSA IV – 12 jan 2023

 

Mas a seguir uma os leitões observou

e se ergueu da grama bem depressa;

a acariciar os bichinhos já não cessa

e um deles à princesa ela mostrou.

Lodnissa de imediato se encantou

e nas carícis de imediato ingressa,

para depois indagar com certa pressa:

“Quer-me vender o bichinho?” – perguntou.

 

“Ora, Princesa, eu lhe darei de presente!”

“Não pode ser assim, vou te explorar,

sei que tu és pobre e que falta irá causar.”

“Não quero dinheiro, então me dê o pente

que conserva os seus cabelos no lugar.

Para mim será mais que suficiente...”

Pois a princesa não pensou duas vezes:

afastou o lenço de seda, descuidada,

pelo qual sua cabeleira era guardada

e o pente retirou de seus arnezes;

mas caso as consequências já não peses,

alguma coisa poderá ser perturbada,

a estrela de sua testa a ser mostrada,

de tal forma que o segredo antigo leses...

 

Colocou o lenço de volta no lugar

e carregou em seus braços o bacorinho,

sem se dar conta do que havia feito,

nem a atenção de suas damas despertar;

seguiu de volta pelo seu caminho,

Vladko senhor do segredo deste jeito!

Ergueu-se humilde para a despedida

e Lodnissa partiu com o leitãozinho;

após contemplá-la durante parte do caminho,

Vladko reuniu as cabras de sua lida

e com a flauta proclamou a recolhida

para as ovelhas, que vieram de mansinho,

acostumadas a obedecer ao pastorzinho,

todas levando para a sua guarida.

 

Mas foi a porca com apenas dois leitões

que seu pai deu falta imediatamente:

“Você perdeu nosso terceiro animal?”

“Não, senhor pai, são outras as razões.

A Princesa Lodnissa me deu em pagamento

este pente como um dote senhorial.”

“Você trocou o meu leitão só por um pente?”

Falou o pai, a mostrar-se bem zangado.

“Senhor pai, como poderia ter negado?

Para a filha do rei até daria de presente,

mas ela preferiu me pagar incontinenti:

olhe bem por que pente foi trocado!”

Era de prata, com um toque delicado

de pequenas pedras valiosas realmente.

 

O pai se imediato se acalmou:

“Desculpe, Vladko, teve toda a razão,

este pente vale muito mais do que o leitão!

Um bom negócio dessa forma se fechou!

Agora guarde os bichos no galpão,

tome seu banho e venha fazer sua refeição.”